sábado, abril 26, 2008

A Crise que aí vêm... (II) Porque sobem os preços alimentares?

Porque é que o preço dos bens alimentares está a atingir recordes?
Aumentos de preços provocam tumultos e lutas por aumentos salariais

Per-Åke Westerlund, Offensiv, (CIT Suécia)

Os preços mundiais de bens alimentares estão ao seu mais alto nível. A Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas, FAO, avisou da possibilidade de séria agitação social e escassez alimentar. Porque é que estes preços estão a subir? E quais serão as consequências?
O índice dos preços de bens alimentares da revista The Economist está ao seu mais alto nível desde a sua criação em 1845! A FAO também alerta para o potencial de escassez alimentar, pela primeira vez desde os anos 70, devido aos aumentos dos preços.
O preço dos produtos alimentares tornou-se um dos mais importantes na maioria dos países. A China assistiu ao maior aumento de preços de bens alimentares no ano passado (18% até Novembro), mas os ovos e a carne viram os preços aumentarem quase 50%. No Sri Lanka os aumentos dos preços dos bens alimentares foi de 17%, no Paquistão e na Indonésia, 16%, na Rússia e América latina mais de 10%. Contudo, não for as intervenções governamentais e os preços teriam crescido ainda mais.

Mortos em Protesto
Na China, três pessoas morreram esmagadas quando um supermercado colocou à venda óleo alimentar barato. A escala de preços dos bens alimentares também provocou tumultos e protestos de massas no México, no Iémen no Bengldesh, na Índia, no Burkina Faso e no Senegal. Em Marrocos, 50 pessoas foram feridas pela polícia num protesto contra o aumento dos preços alimentares.
Esta nova crise alimentar está a desenrolar-se ao mesmo tempo que 854 milhões de pessoas, um sexto da população mundial, já não tem alimentos suficientes. No meio da globalização capitalista e com um forte crescimento da economia mundial nos mais recentes anos, mais quatro milhões de pessoas por ano engrossam as fileiras dos famintos e subnutridos.
Os países pobres que importam uma grande parcela dos seus alimentos foram ainda mais atingidos no ano passado. Por exemplo, a Mauritania onde o preço dos alimentos importados duplicou no último ano. Neste país, uma pessoa morreu e 17 foram feridas em tumultos, no passado mês de Novembro. Globalmente, o preço de bens alimentares importados cresceu 21% no ano passado. Outros países com grade parte dos bens alimentares importados são o Nepal, o Bangladesh, a Bolívia, a Jamaica e a região Sub-Saharaniana de África. De todos esses países aumentam os relatos do perigo do aumento da fome entre a população.
O maior e mais espectacular aumento de preços foi nos cerais. De Maio a Setembro de 2007 o preço mundial do trigo duplicou, de 200 dólares por tonelada para 400. No ano passado, o preço do milho cresceu 50%, o arroz subiu 20% para o seu preço mais alto desde sempre, e a soja custa mais 20%. O preço de produtos de consumo diário também está a crescer, em 10% em muitos países europeus.

Há várias e coincidentes razões para esta escalada de preços.
Em primeiro, o bio-diesel. Um terço da colheita do milho do ano passado nos EUA, que é o maior exportador mundial de alimentos, foi para a produção de bio-diesel em vez de ir para a alimentação. Segundo o Banco Mundial, um tanque cheio de etanol de um veículo militar SUV usa o equivalente de milho que produziria pão e outra comida durante um ano para uma pessoa. Isto sublinha que o capitalismo vide da produção para o lucro e não para as necessidades humanas.
Segundo, a crise climática. Inundações catastróficas atingiram 57 países em 2007. A seca e fogos reduziram as áreas cerealíferas em alguns países, como a Austrália e partes do Brasil. Prevê-se que a seca e o aumento dos desertos reduzirá em metade os campos de cultivo nos próximos 12 anos, com o pior impacto na Africa. As promessas vazias feitas pelos governos, que na verdade estão no bolso do grande capital, não irão resolver esta gigantesca crise.
Terceiro, o preço do petróleo disparou, crescente aumento do preço do petróleo está a fectar o preço da produção alimentar, dos transportes e dos fertilizantes.
O quarto factor é a crescente procura, particularmente na China e na Índia. Durante uma série de anos o preço baixo das mercadoras da China fez baixar os preços mundiais e manteve a inflação em baixa (algo que erradamente alguns atribuíram à acção dos bancos centrais). Agora, a a forte procura de China está a fazer aumentar os preços mundiais, incluído a alimentação. O consumo de carne na China, segundo o The Economist, aumentou de 20 kg per capita por ano em 1985 para 50 kg em 2007.
Os governos não têm resposta
O descontentamento causado pelo aumento da alimentação provocou tumultos e protestos, e a exigência do aumento salarial e da demissão de governos. Na Rússia, o aumento de produtos alimentares esteve proibido durante o período eleitoral, de Novembro a Janeiro, para ajudar a campanha eleitoral de Putin. Na Venezuela, as companhias do sector privado alimentar causaram deliberadamente a escassez de alimentos no período que antecedeu o referendo presidencial em Dezembro e esse foi um dos factores que levou a que Chavéz não alcança-se a maioria.
Os governos são impotentes para imporem restrições aos preços enquanto as multinacionais continuarem a controlar a produção, o comércio e os preços. No Zimbabué, a tentativa do presidente Mugabe de para a inflação de 3 dígitos por decreto, falhou redondamente – o resultado foram prateleiras vazias nas lojas. Mesmo o governo chinês foi forçado a aumentar o preço dos combustíveis como resultado de uma campanha de sabotagem promovida pelas empresas estatais de combustíveis.
Em muitos países, os governos têm vindo a usar as suas reservas alimentares que estão agora ao seu nível mais baixo dos últimos 35 anos. Essas medidas só terão impacto a curto prazo, refreando os aumentos de preços por um período de tempo limitado enquanto que a o esvaziamento das reservas significará que os governos enfrentarão mais problemas tentando enfrentar futuras crises.
O neoliberalismo deu ainda maior poderes às grandes multinacionais. Em muitas artes do mundo as empresas de produção alimentar foram encerradas e os países pobres que costumavam exportar bens alimentares tornaram-se importantes importadores. Os investimentos da produção alimentar caiu. Tal como na industria farmacêutica, os pobres que não podem pagar são deixados sem esses bens durante toda a sua vida. A alimentação tornou-se outra mercadoria para os super ricos especular e fazerem enormes lucros, enquanto que milhões morrem de fome.
O aumento dos produtos alimentares é um factor importante por detrás do aumento mundial da inflação.
A inflação dos bens alimentares na zona euro foi de 4.3% em Novembro, e nos EUA foi de 4.8%. Com o crescente receio de um crash financeiro e uma forte queda no valor do dólar, os bancos centrais enfrentam agora um dilema. Os bancos e especuladores (‘investidores’) exigem taxas de juros mais baixas para reduzir o custo dos seus empréstimos. Contudo, isso aumenta ainda mais o risco de inflação. O que quer que os bancos centrais decidam fazer, iremos assistir a crises nos próximos tempos durante as quais os governos por todo o mundo irão por o custo sobre os ombros da classe operárias e restantes trabalhadores e dos pobres. Tal como no aquecimento global, é o próprio sistema capitalista que é responsável pelo aumento do preço dos alimentos e da sua escassez.

A resposta dos trabalhadores
O controlo do preço e o fornecimento de bens alimentares requer um planeamento democrático. Isso apenas pode ter lugar se as multinacionais do sector alimentar foram propriedade pública. Então, os recursos poderão ser distribuídos de forma a que cada um possa ter acesso a uma alimentação nutriente e saudável a preço acessível e o ambiente não seja destruído pelos métodos de produção e distribuição das multinacionais agro-alimentares ávidas de lucros. Os trabalhadores em todos os países enfrentam assuntos e desafios similares – necessitamos de uma luta global contra o capitalismo, por uma genuína democracia socialista. Têm de ser criados novos partidos de trabalhadores e organizações democráticas das massas trabalhadoras para formar um movimento de base mundial pelo planeamento democrático e socialista. As lutas de hoje contra o aumento dos preços da alimentação – greves, marchas de fome, e revoltas politica – faz parte da luta para construção do movimento
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Alternativa Socialista

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