quinta-feira, setembro 11, 2008

ESCALADA GOLPISTA

Evo Morales denuncia tentativa de golpe e envia tropas para proteger gasodutos

Governo boliviano acusa governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e outras lideranças da oposição de promover "uma violência fascista com o objetivo de acabar com a democracia". Opositores explodem trecho de gasoduto no sul do país e afetam exportações de gás para Brasil e Argentina. Evo Morales envia tropas para defender instalações e sindicatos camponeses anunciam cerco a Santa Cruz.

O governo da Bolívia denunciou que os distúrbios ocorridos terça-feira (9), organizados por opositores do presidente Evo Morales no departamento de Santa Cruz, são o início de uma tentativa de golpe de Estado. Numa entrevista coletiva, o ministro do Interior, Alfredo Rada, acusou o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, e o líder direitista Branco Marincovik, de promoverem uma violência fascista com o objetivo de acabar com a democracia.

Na terça, grupos ligados ao governo de Santa Cruz atacaram a Polícia Militar, agrediram as forças de segurança, incendiaram e saquearam repartições públicas. Um dos prédios atacados foi o da Empresa Nacional de Telecomunicações (Entel), nacionalizada em maio deste ano por Evo Morales. O governo desmentiu rumores de que o fornecimento de gás para o Brasil a partir de uma usina em Villamontes teria sido interrompido por opositores.

“Este é o início de um golpe de Estado contra a unidade do país e contra a democracia”, disseram os ministros Alfredo Rada e Walker San Miguel (Defesa), ao falar sobre as manifestações de Santa Cruz. Encarregado da direção da polícia, Rada disse que o governo não cairá em provocações fascistas. “Vamos agir com serenidade, mas também com firmeza democrática, legal e constitucional”.

Falando em nome do governo, o ministro do Interior convocou a população a defender a democracia boliviana e a unidade nacional. Já o ministro da Defesa assegurou que “os fascistas não passarão”, assinalando que os protestos em Santa Cruz foram capitaneados por um grupo de 600 pessoas, diante de uma população de um milhão de habitantes que não aderiu ao movimento. San Miguel garantiu que o governo não adotará o estado de sítio na região.

Escalada de violência
Os protestos em Santa Cruz representam uma escalada de violência da oposição contra Evo Morales. Os líderes opositores dos departamentos de Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija e Chuquisaca rejeitam a nova Constituição e exigem que o governo devolva às províncias cerca de 166 milhões de dólares em royalties do petróleo e gás relocados para a área da Previdência Social.

Grupos de jovens de setores da classe média branca, que não escondem seus sentimentos racistas em relação a Evo Morales, lideraram as manifestações de terça. Capitaneados pela União Juvenil Cruzense (UJC), os manifestantes invadiram o prédio da empresa estatal de telecomunicação para “entregá-la à administração do governador Rubén Costas”, de Santa Cruz. Na Televisión Boliviana–Canal 7, eles saquearam o escritório, destruíram computadores e fizeram uma fogueira na entrada do prédio.

Camponeses anunciam cerco a Santa Cruz
Em resposta a estas ações, os sindicatos de camponeses que apóiam o presidente Evo Morales anunciaram que iniciariam ainda nesta quarta-feira um bloqueio de estradas e um cerco à cidade de Santa Cruz, principal núcleo dos protestos contra o governo.

Segundo a agência de notícias EFE, da Espanha, o dirigente do sindicato dos produtores de coca, Julio Salazar, disse que os movimentos sociais não têm mais paciência com as ações dos grupos de oposição a Evo Morales e promoverão um cerco para defender a democracia e a unidade do país. Eles também acusam os opositores de tentar implementar um golpe de Estado.

Numa tentativa de acalmar os ânimos, representantes da Igreja Católica e da Defensoria Pública fizeram um apelo ao diálogo. “É melhor conversar agora do que depois, no fim do ano, com uns cem mortos”, apelou o defensor público Waldo Albarracin.

Atentado em gasoduto
Mas os acontecimentos mais recentes indicam que a tendência é de radicalização, principalmente por parte da oposição que decidiu boicotar estruturas produtivas do país. Nesta quarta-feira, o governo responsabilizou a oposição pela explosão de um gasoduto no sul do país.

Segundo o governo, um trecho do gasoduto explodiu em um atentado terrorista, após opositores terem ocupado um campo petrolífero e uma estação de gás natural. A explosão prejudicará a exportação de gás natural para o Brasil. Segundo as primeiras estimativas, o envio de gás ao Brasil será reduzido a três milhões de metros cúbicos/dia (10% dos atuais 30 milhões de metros cúbicos/dia). A Bolívia fornece atualmente 50% do gás natural consumido pelo Brasil.

A empresa estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) afirmou que os oposicionistas fecharam uma válvula na estação ocupada, o que aumentou a pressão e provocou a explosão.

O corte de abastecimento afeta também a Argentina. Segundo informação do jornal argentino Ámbito Financiero, grupos opositores ao presidente Evo Morales cortaram o fornecimento de gás natural para o país. Os manifestantes ocuparam a indústria petrolífera da empresa Chaco e fecharam as válvulas de bombeamento, informou a empresa.

Em resposta, o governo ordenou o envio de tropas para os departamentos do leste do país para proteger as instalações de petróleo e gás tomadas pelos opositores. A Superintendência de Hidrocarbonetos da Bolívia garantiu o abastecimento de combustíveis e de gás natural para todo o Ocidente do país (região onde está localizada a capital La Paz) e pediu à população que evite longas filas na busca por combustíveis.
Carta Maior

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