sábado, outubro 18, 2008

Luís Costa escreve Carta Aberta ao Avaliador

Prezado Colega,

Não são poucos os que, neste deplorável momento que a Escola atravessa, têm optado pela colagem ao lado mais prepotente, desprezando as legitíssimas razões que levam os seus colegas à praça, esquecendo que são — sobretudo e antes de tudo — professores. Não são poucos os que apanharam gripes com os espirros da senhora ministra, inundando as suas escolas de autoritarismo, ordens, reuniões, papéis e verborreia que tresanda a subserviência, a miséria ética, mental e profissional. Não são poucos os que — apesar de a consciência lhes dizer que tudo isto está errado e inquinado desde o início — não conseguiram ainda força para resistirem, para se erguerem, para serem aqueles homens e mulheres que os seus alunos, os pais e a sociedade em geral gostariam que fossem. Por isso te escrevo, prezado colega, pois sei que pertences a este último grupo e não te sentes em paz com a tua consciência: sabes que estás a ser instrumentalizado; sabes que estás a contribuir, com o teu punho, para o ataque mais mordaz, mais infame e mais cobarde contra a classe docente e contra a escola pública; sabes que vais colaborar num processo injusto — para todos — mas não recuas, porque tens medo da mão tirana que está a puxar os cordelinhos de toda esta mísera tragédia de fantoches. Sei que és científica e pedagogicamente competente para ensinar e avaliar os teus alunos, contudo, — sabes bem — avaliar professores não é a mesma coisa! Presta, pois, atenção às seguintes perguntas que te faço. Depois, está nas tuas mãos a decisão que tomarás, de acordo com a tua consciência. O medo não te poderá servir de álibi!

- Quando aceitaste ser avaliador, deram-te conhecimento mínimo do processo subsequente, das inerências desse cargo e da natureza da avaliação a realizar?
- Achas correcto que tal decisão te tenha sido exigida no preâmbulo de todo este processo?
- Se tal decisão te fosse exigida neste momento — com os conhecimentos e experiência que tens — aceitarias o cargo?
- Tens o exigido conhecimento teórico e prático das diferentes correntes pedagógicas e metodológicas de ensino?
- Dominas suficientemente os conceitos, parâmetros e critérios que estruturam as grelhas de avaliação que vais utilizar?
- Consideras ter a distância afectiva exigida para tal situação?
- Caso um colega avaliado te questione relativamente a estes itens, estás preparado para o esclarecer de forma consciente, segura e relevante?
- Consideras esses instrumentos de avaliação justos, equilibrados e exequíveis?
- Foram testados, na tua escola?
- Consideras que a formação que te foi proporcionada te habilita para avaliar professores?
- Sentes-te científica e pedagogicamente competente para avaliar os teus colegas?

Agora é contigo, prezado colega!

Lembra-te de quem és!


Lembra-te de que, caso não te sintas preparado, o PEDIDO DE SUSPENSÃO DE FUNÇÕES não é uma fuga, é um imperativo moral e profissional!

Lembra-te de que, embora não pareça, ainda vivemos numa sociedade de direito e que há instituições, que ainda vão funcionando, para fazer justiça!


Um abraço do colega
Luís Costa
ProfAvaliação

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