quinta-feira, abril 14, 2011

PS, à esquerda?... Só no teleponto Versão para impressão

No congresso do PS realizado este último fim-de-semana com o lema Defender Portugal, fomos bombardeados com as mais variadas loas ao 'querido líder' e estórias sobre a forma como na sua visão, a oposição provocou a crise política, que segundo o referido personagem, tirou o tapete ao País e, por consequência, o levou a pedir a intervenção do FMI.

Este continuado jogo de passa-culpas, procura fazer esquecer aos portugueses as políticas anti-sociais que o governo PS, nos Orçamentos de Estado e PEC atrás de PEC levou a cabo com a prestimosa colaboração do PSD e o 'deixa passar' do CDS.

Não se ouviu uma palavra crítica aos Bancos e Banqueiros portugueses por limitarem a concessão de crédito ao Estado (seguindo instruções do BCE!?), o mesmo Estado que os salvou com o dinheiro de todos nós.

Não nos espantamos quando ouvimos Francisco Assis dizer que o PS “tem propostas e ideias para o País e temos orgulho no trabalho dos últimos anos”.

Nem quando Sócrates afirma no seu discurso de encerramento que o PS está  “do lado de quem quer favorecer a flexibilidade e a adaptabilidade das empresas e combater os factores de rigidez no mercado de trabalho”.

Só quem não se lembra, do  Acordo Tripartido para a Competitividade e o Emprego feito pelo Governo, as confederações patronais e a UGT em sede de concertação social que entre outras malfeitorias, reduz as indemnizações por despedimento e fragiliza mais a contratação colectiva, é que poderia ficar espantado com tais afirmações.

Não nos podemos deixar ir em cantigas, temos de reagir e denunciar a enorme hipocrisia e o puro eleitoralismo quando Sócrates diz ir 'combater a evasão fiscal' e ir 'garantir que os que têm mais rendimentos paguem mais com os seus impostos para o esforço que o país precisa de fazer'.
O Povo diz que a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima.

E a verdade é que este PS está rendido à burguesia austeritária e não procura dinamizar a economia nem criar emprego, quando declara que a base das negociações entre Portugal e a troika composta pela Comissão Europeia, BCE e FMI é o seu famigerado PEC IV.

Todos nos lembramos bem do conteúdo do PEC IV, no que toca à privatização de mais 18 empresas do SEE, o que gera défices maiores no futuro e fragiliza serviços públicos; ao aumento dos impostos; ao congelamento das pensões e demais apoios sociais como o subsídio de desemprego e o abono de família; ao aumento dos preços dos transportes e energia, não esquecendo os cortes na Educação e Saúde.

Este é o caminho das políticas de direita para desmantelar o Estado Social e levar ao empobrecimento dos trabalhadores. Não é o caminho do Bloco de Esquerda, e por isso apresentamos e temos alternativas concretas para que haja justiça social e se viva com dignidade.

Quanto ao Plano de Resgate que aí vem, não precisamos de ir saber o que se passa na Irlanda após a intervenção do FMI, onde milhares de pessoas já não podem pagar as casas aos bancos, nem à Grécia onde os rendimentos dos trabalhadores caíram entre 20 a 30% e o desemprego atinge taxas de 15%.

Pelas nossas próprias experiências de 1978 e 1983 com o FMI, sabemos que o ajuste estrutural de 1983, foi uma brutal transferência de rendimentos do Trabalho para o Capital, basta lembrar que a perda dos salários foi de 20% ou seja 3 meses num ano.

O rolo compressor do FMI leva à destruição dos salários e ao aumento dos impostos acrescido do disparar do desemprego. Esta “ cura de recuperação “ arrasta-nos para um ciclo vicioso de recessão que nos leva a viver pior e conduz a um maior autoritarismo político e social.

Preparam-se arranjinhos entre os partidos do arco da crise, a mando do Ecofin e da Comissão Europeia, de modo a que nas eleições de 5 de Junho os cidadãos vão “ votar livremente “, mas o resultado final, seria que a austeridade imposta pelo FMI estivesse desde já garantida, independente da escolha dos eleitores.

Contra esta artimanha e desrespeito pelos eleitores, só os votos à esquerda que desejamos massivos no Bloco de Esquerda, são verdadeiramente úteis e farão a diferença ao dizer que “ não pagamos a crise deles “.

Dizemos não à chantagem financeira e política que os Bancos, PS, PSD e CDS nos querem impor com o argumento de que a austeridade é inevitável e se assim não for é o caos e cairemos no abismo.

Nada mais falso, e é claramente desmentido pela dura realidade como as pessoas estão a ser sacrificadas no altar da “ santa “ austeridade na Grécia e Irlanda.

Ao ataque da UE contra as economias periféricas como as já referidas a que se juntam agora Portugal e depois Espanha, Itália, Bélgica, etc., é preciso responder com a exigência da articulação entre o plano europeu e o nacional, sendo que a alternativa passa entre outras medidas, pela substituição do Pacto de Estabilidade por um Acordo para o Emprego. Torna-se urgente levantar de novo a coesão e convergência social na Europa.

A agudização das lutas sociais e laborais que têm sido travadas em Portugal nos últimos tempos, demonstram que é tempo de mudança e está na hora de perguntar aos cidadãos “quem paga a dívida? “.

O combate eleitoral que vamos travar até 5 de Junho têm de estar centrado na resposta a essa pergunta. O confronto é ideológico e também político contra aqueles que causaram a crise e pretendem que sejam os trabalhadores a pagar a crise que é deles.

O Bloco de Esquerda afirma que está na hora da crise começar a ser paga pelos seus causadores. A banca, as grandes fortunas, os especuladores, os oportunistas que enriquecem em off-shores, o grande capital rentista que nada produz. São estes que devem pagar.

Vamos nesta campanha para as eleições legislativas, dar combate e confrontar os partidos da crise para que fique claro aos olhos do povo, que os seus projectos embora com matizes diferentes são profundamente anti-sociais e procuram garantir a qualquer custo a exploração dos que vivem do trabalho.

Vamos nesta campanha lutar por ganhar o espaço político que a manifestação de 12 de Março mostrou ser possível ocupar e disputar a maioria social com vista à recomposição da esquerda, tornando visível e credível aos milhões de portugueses que recusam as políticas de direita, que é possível uma política de esquerda para um governo de esquerda.

Todos e cada um de nós contam nesta batalha de juntar forças na esquerda.
Francisco Alves, dirigente sindical

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