sábado, agosto 27, 2011

O capitalismo do desastre lança-se sobre a Líbia


por Pepe Escobar [*]
Cartoon de Victor Nieto. Pense da nova Líbia como o capítulo mais recente da série "Capitalismo do desastre". Ao invés de armas de destruição em massa, temos a R2P ("responsibility to protect"). Ao invés de neoconservadores, temos imperialistas humanitários.


Mas o objectivo é o mesmo: mudança de regime. E o projecto é o mesmo: desmantelar e privatizar completamente uma nação que não estava integrada no turbo-capitalismo; abrir uma outra (lucrativa) terra de oportunidade para o neoliberalismo com turbo-propulsor. A coisa toda é especialmente conveniente porque é um empurrão em meio a uma recessão quase global.


Levará algum tempo; o petróleo líbio não retornará totalmente ao mercado nos próximos 18 meses. Mas há a reconstrução de tudo o que a NATO bombardeou (bem, não muito do que o Pentágono bombardeou em 2003 foi reconstruído no Iraque...)


Seja como for – desde o petróleo à reconstrução – em tese assomam oportunidades de negócio sumarentas. O neo-napoleonico Nicolas Sarkozy, da França, e o britânico David da Arábia Cameron acreditam que estarão especialmente bem posicionados para lucrar com a vitória da NATO. Mas não há garantia que a nova fonte de riqueza líbia seja suficiente para erguer as duas antigas potências coloniais (neo-coloniais?) acima da recessão.


O presidente Sarkozy em particular extrairá as oportunidades de negócios para companhias francesas por tudo que elas valem – parte da sua ambiciosa agenda de "reposicionamento estratégico" da França no mundo árabe. Os complacentes media franceses exultantes dizem que esta foi a "sua" guerra – fiando-se em que ele decidiu armas os rebeldes no terreno com armamento francês, em estreita cooperação com o Qatar, incluindo uma unidade de comando chave rebelde que foi [enviada] por mar de Misrata para Tripoli no sábado passado, no princípio da "Operação Sirene".


Bem, ele certamente viu a oportunidade quando o chefe do protocolo de Muamar Kadafi desertou para Paris em Outubro de 2010. Foi quando o drama da mudança total de regime começou a ser incubado.


Bombas por petróleo


Como observado anteriormente (ver Welcome to Libya's 'democracy' , Asia Times Online, August 24) os abutres já estão a circular sobre Tripoli para agarrar (e monopolizar) os despojos. E, sim, a maior parte da acção tem a ver com negócios de petróleo, como se verifica nesta clara afirmação de Abdeljalil Mayouf, gestor de informação na "rebelde" Arabian Gulf Oil Company: "Nós não temos problemas com países ocidentais como as companhias italianas, francesas e britânicas. Mas podemos ter algumas questões políticas com a Rússia, a China e o Brasil".


Estes três acontece serem membros cruciais do grupo BRICS de economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), as quais estão realmente a crescer enquanto as economias atlantistas que fazem os bombardeamentos da NATO estão ou encravadas na estagnação ou em recessão. Acontece que os quatro principais BRICS também se abstiveram de aprovar a resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU, a fraude da zona de interdição de voo (no-fly) que se metamorfoseou na mudança de regime conduzida pela NATO. Eles viram correctamente desde o princípio.


Para tornar as coisas piores (para eles), apenas três dias antes de o Africom do Pentágono lançava seus primeiros 150 Tomahawks sobre a Líbia, o coronel Kadafi deu uma entrevista à TV alemã enfatizando que se o país fosse atacado, todos os contratos de energia seriam transferidos para companhias russas, indianas e chinesas.


Assim, os vencedores da mina petrolífera já estão designados: membros da NATO mais monarquias árabes. Dentre as companhias envolvidas, a British Petroleum (BP), a Total da França e a companhia nacional de petróleo do Qatar. Para o Qatar – o qual despachou caças a jacto e recrutadores para as linhas de frente, treinou "rebeldes" em técnicas de combate exaustivas e já administra vendas de petróleo na Líbia oriental – a guerra revelar-se-á uma decisão de investimento muito sábia.


Antes dos longos meses de crise que agora está na sua etapa final com os rebeldes na capital, Tripoli, a Líbia estava a produzir 1,6 milhão de barris por dia. Uma vez retomada a produção os novos dominadores de Tripoli colheriam uns US$50 mil milhões por ano. A maior parte das estimativas estabelece as reservas de petróleo da Líbia em 46,4 mil milhões de barris.


Os "rebeldes" da nova Líbia é melhor não se meterem com a China. Cinco meses atrás, a política oficial da China já era apelar a um cessar-fogo. Se isto tivesse acontecido, Kadafi ainda controlaria mais da metade da Líbia. Mas Pequim – que nunca foi adepta de mudanças de regime violentas – por enquanto está a exercer extrema contenção.


WenZhongliang, o vice-ministro do Comércio, observou deliberadamente: "A Líbia continuará a proteger os interesses e direitos de investidores chineses e esperamos continuar o investimento e a cooperação económica". Numerosas declarações oficiais estão a enfatizar a "cooperação económica mútua".


Na semana passada, Abdel Hafiz Ghoga, vice-presidente do duvidoso Conselho Nacional de Transição (CNT), disse à [agência] Xinhua que todos os negócios e contratos efectuados com o regime Kadafi seriam honrados – mas Pequim não quer correr riscos.


A Líbia forneceu mais de 3% das importações de petróleo da China em 2010. Angola é um fornecedor muito mais crucial. Mas a China ainda é o principal cliente da Líbia na Ásia. Além disso, a China poderia ser muito útil quanto à reconstrução da infraestrutura, o na exportação de tecnologia – não menos de 75 companhias chinesas com 36 mil empregados estavam já no terreno antes de estalar a guerra tribal/civil, rapidamente evacuados em menos de três dias.


Os russos – da Gazprom à Tafnet – tinham milhares de milhões de dólares investidos em projectos líbios, a petrolífera gigante brasileira Petrobrás e a companhia de construção Odebrecht também têm interesses ali. Ainda não está claro que lhes acontecerá. O director-geral do Russia-Libya Business Council, Aram Shegunts, está extremamente preocupado: "Nossas companhias perderão tudo porque a NATO as impedirá de fazerem negócios na Líbia".


A Itália parece ter aprovado a versão "rebelde" do "você ou está connosco ou sem nós". O gigante da energia ENI aparentemente não será afectado, pois o primeiro-ministro Silvio "Bunga Bunga" Berlusconi pragmaticamente jogou fora o seu anterior relacionamento muito estreito com Kadfi, no princípio da profusão de bombardeamentos Africom/NATO.


Directores da ENI estão confiantes em que os fluxos de petróleo e gás da Líbia para o Sul da Itália serão retomados antes do Inverno. E o embaixador líbio na Itália, Hafed Gaddur, reassegurou Roma de que todos os contratos da era Kadafi serão honrados. Por via das dúvidas, Berlusconi encontrará o primeiro-ministro do CNT, Mahmoud Jibril, nesta quinta-feira em Milão.


Bin Laden


O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Ahmet Davutoglu – da conhecida política "zero problemas com nossos vizinhos" – também tem estado a louvar os antigos "rebeldes" transformados em detentores do poder. Observando também as possibilidades de negócios pós Kadafi, Ancara – como flanco oriental da NATO – acabou por ajudar a impor um bloqueio naval ao regime de Kadafi, cultivou cuidadosamente o CNT e em Julho reconheceu-o formalmente como o governo da Líbia. Os "prémios" do negócio assomam.


E há ainda a questão crucial: como a Casa dos Saud vai lucrar por ter sido instrumental em estabelecer um regime amistoso na Líbia, possivelmente apimentado com notáveis Salafi. Uma das razões chave para o violento ataque saudita – o qual incluiu um voto falsificado na Liga Árabe – foi o rancor extremo entre Kadafi e o rei Abdullah desde os preparativos para guerra ao Iraque em 2002.


Nunca é demais enfatizar a hipocrisia cósmica de uma monarquia/teocracia medieval – a qual invadiu o Bahrain e reprimiu seus xiitas nativos – que saúda o que podia ser interpretado como um movimento pró-democracia na África do Norte.


Seja como for, é tempo de festa. Aguarda-se o Saudi Bin Laden Group para reconstruir tudo por toda a Líbia – eventualmente transformando o (saqueado) Bab al-Aziziyah num monstruoso e luxuoso Centro Comercial Tripolitania.
[*] Autor de 21 O Século Da Ásia (Nimble Books, 2009), Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War (Nimble Books, 2007) e Red Zone Blues: a snapshot of Baghdad during the surge . Seu último livro é Obama does Globalistan (Nimble Books, 2009). Email: pepeasia@yahoo.com . Para acompanhar o seu artigos sobre a Grande Revolta Árabe, clique aqui .

O original encontra-se em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/MH25Ak02.html


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Matando a verdade
Mahdi Nazemroaya ameaçado pelos rebeldes ao serviço da NATO


por Michel Chossudovsky
Mahdi Darius Nazemroaya. Mahdi Darius Nazemroaya, juntamente com Thierry Meyssan estão agora isolados no centro de media do hotel Rixos, em Tripoli, em meio do combate do combate pesado que se verifica em torno.


Pedimos aos nossos leitores para reflectir sobre o que Mahdi estava a tentar conseguir no centro de media do Rixos: reportagem factual honesta, com preocupação pela vida humana, em solidariedade com os homens, mulheres e crianças líbios que perderam suas vidas em raids de bombardeamento sobre áreas residenciais, escolas e hospitais.


A vida de Mahdi está ameaçada por nos contar a verdade, por revelar crimes de guerra da NATO.


A "construção da democracia" na Líbia, dizem-nos, exige o bombardeamento extensivo de todo o país, sob o "Responsability to Protect" (R2P) da NATO.


Mas Mahdi questiona tal conceito. Ele desafia os próprios fundamentos da guerra de propaganda, a qual apoia um acto de guerra como esforço de pacificação.


Durante os últimos dias, todo o nosso tempo e energia tem sido dedicado a garantir a segurança de Mahdi, Thierry e vários outros jornalistas independentes aprisionados no Rixos Hotel.


A atmosfera dentro do centro de media do Rixos Hotel, em Tripoli, deve ser entendida.


Os media de referência (mainstream), incluindo a CNN e a BBC, têm ligações directas à NATO, ao Conselho de Transição e às forças rebeldes. Eles estão a servir os interesses da NATO de um modo directo através da maciça distorção dos media.


Ao mesmo tempo, aqueles no Centro de Media do Rixos que estão comprometidos com a verdade são o objecto de ameaças veladas. No caso de Mahdi, as ameaças foram muito explícitas.


Aqueles que dizem a verdade são ameaçados.


Aqueles que mentem e aceitam o consenso da NATO terão as suas vidas protegidas. As forças especiais da NATO a operarem dentro das fileiras rebeldes garantirão a sua segurança.


Neste ambiente repulsivo, romperam-se ligações pessoais. Os jornalistas dos media independentes, bem como aqueles de países não-NATO incluindo China, Irão, América Latina, são considerados "persona non grata" pelos grupos dos media de referência dentro do hotel.


Mahdi diz a verdade. Ele desafia directamente as mentiras dos media de referência.


As reportagens de Mahdi ameaçam o consenso dos media da NATO.


O que ele está a descrever é a destruição de todo um país, das suas instituições, da sua infraestrutura.


Esta matança e destruição, dizem-nos, é necessária para instaurar "democracia" sob a bandeira colonial do rei Idris.


Mentem-nos do modo mais desprezível. As vítimas da agressão da NATO são designadas como "criminosos de guerra", ao passo que os perpetradores da guerra são saudados como Libertadores.


A mentira tornou-se a verdade e é por isso que a vida de Mahdi está ameaçada.


A guerra torna-se paz, de acordo com o consenso da NATO.


A "comunidade internacional" carimbou a campanha de bombardeamento da NATO dizendo que Kadafi é um ditador.


Repetido ad nauseam, as pessoas finalmente aceitam o consenso. A matança é um esforço de pacificação.


Como poderia ser de outra forma: Todos os media, todos os noticiários, por toda a terra, gente no governo, intelectuais, todos aceitaram este consenso.


Realidades são voltadas de pernas para o ar. Pessoas já não são mais capazes de pensar.


Elas aceitam o consenso porque ele emana de uma autoridade superior a qual não ousam questionar.


Isto é de facto a própria base de uma doutrina inquisitorial.


Os suportes "humanitários" da "Responsability do Protect", contudo, superam em muito a Inquisição Espanhola.


O que estamos a tratar é de um dogma que ninguém pode questionar.


Mahdi Nazemroaya desafiou este consenso ao revelar as mentiras dos media de referência.


Uma vez rompido o consenso da NATO, a legitimidade instigadores da guerra entra em colapso como um castelo de cartas.


E é por isso que a vida de Mahdi Nazemroaya está ameaçada.


Isto é uma guerra do século XXI. É uma guerra que afirma não ser guerra.


Todos os protocolos e convenções referentes à guerra deixam de ser aplicados.


O Comité Internacional da Cruz Vermelha não se encontra no terreno. Eles não têm mandato porque oficialmente isto não é uma guerra.


Esta é a mais desprezível e imoral guerra da história, na medida em que mesmo activistas anti-guerra, políticos de esquerda e os chamados progressistas aplaudem-na. "Kadafi é o ditador, ele deve ir".


É uma blitzkrieg com os mais avançados sistemas de armas. Vinte mil raids desde 31 de Março, segundo estatísticas da NATO, cerca de 8000 raids de ataques.


Cada raid de ataque inclui vários alvos, a maior parte dos quais são civis.


Comparar isto com os bombardeamentos da II Guerra Mundial ou do Vietname...


Nossa determinação é trazer Mahdi de volta ao Canadá, garantir o seu retorno seguro.


Divulguem por toda a parte.
24/Agosto/2011/12.22am EDT
VIDEO

Programa da CBC News acerca de Mahdi Nazemroaya difundido hoje, terça-feira, 23 de Agosto de 2011:
http://www.cbc.ca/video/#/Shows/1221254309/ID=2103783289

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26164


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Carnificina da NATO em Trípoli

por Thierry Meyssan
Sábado, 20 de Agosto, às 20 horas, ou seja, aquando do Iftar, o rompimento do jejum do Ramadan, a Aliança Atlântica lançou a "Operação Sirene".

As Sirenes são os alto-falantes das mesquitas que foram utilizados para lançar um apelo da Al Qaeda à revolta. Imediatamente células adormecidas de rebeldes entraram em acção. Tratava-se de pequenos grupos muito móveis, que multiplicaram os ataques. Os combates da noite fizeram 350 mortos e 3000 feridos.

A situação estabilizou-se na jornada de domingo.

Um barco da NATO atracou ao lado de Trípoli, entregando armas pesadas e desembarcando jihadistas da Al Qaeda, enquadrados por oficiais da Aliança.

Os combates reiniciaram-se à noite. Eles atingiram uma rara violência. Os drones e os aviões da NATO bombardeiam todos os azimutes. Os helicópteros metralham as pessoas nas ruas para abrir o caminho aos jihadistas.

À noite, um comboio de viaturas oficiais transportando personalidades de primeiro plano foi atacado. Ele refugiou-se no Hotel Rixos ou se hospeda a imprensa estrangeira. A NATO não ousou bombardeá-lo para não matar seus jornalistas. O hotel, no qual me encontro, está acossado sob tiro contínuo.

Às 23h30 o Ministério da Saúde não podia senão constatar que os hospitais estão saturados. Contavam-se neste princípio de noite 1300 mortos suplementares e 5000 feridos.

A NATO havia recebido do Conselho de Segurança a missão de proteger os civis. Na realidade, a França e o Reino Unido vêm reatar os massacres coloniais.

01h00 Khamis Kadafi vem pessoalmente trazer armas para defender o hotel. Ele partiu. Os combates em torno são muito duros.
22/Agosto/2011/00h35/Tripoli
O original encontra-se em http://www.voltairenet.org/Carnage-de-l-OTAN-a-Tripoli

Esta notícia encontra-se em http://resistir.info/ .

É a NATO que faz todo o trabalho militar, não os rebeldes

por Thierry Meyssan
Entrevistado por Silvia Cattori
Silvia Cattori: Aqui tem-se o sentimento de que Tripoli está em vias de colapso. Qual é a vossa opinião?

Thierry Meyssan: Estamos encerrados no Hotel Rixos. Não se pode dizer se tudo vai afundar ou não. Mas a situação é muito tensa. Ontem à noite, no momento da oração, várias mesquitas foram trancadas. De repente, alto-falantes lançaram o apelo à insurreição. Neste momento grupos armados começaram a percorrer a cidade e a atirar para todo lado. Soubemos que a NATO trouxe um barco até as proximidades de Tripoli, do qual foram desembarcadas armas e forças especiais. Desde então as coisas vão cada vez pior.

Silvia Cattori: Trata-se de "forças especiais" estrangeiras?

Thierry Meyssan: Pode-se supor, mas não estou em condições de verificar. Mesmo que estas "forças especiais" sejam formadas por líbios todo o seu enquadramento é estrangeiro.

Silvia Cattori: Qual é a nacionalidade destas "forças especiais"?

Thierry Meyssan: São franceses e britânicos! Desde o princípio, são eles que fazem tudo.

Silvia Cattori: Como é que tudo ruiu subitamente?

Thierry Meyssan: Em 21 de Agosto, no fim do dia, um comboio de viaturas com oficiais foi atacado subitamente. Para se porem ao abrigo dos bombardeamentos os membros deste cortejo refugiaram-se no hotel Rixos, onde reside a imprensa internacional e onde por acaso me encontro eu.

No Hotel Rixos. A partir deste momento o hotel Rixos está cercado. Toda a gente veste colete anti-balas e capacetes. Ouve-se atirar em todos os sentido em torno do hotel.

As forças entradas em Tripoli desde ontem não tomaram nenhum edifício em particular; elas atacaram alvos em certos lugares ao deslocarem-se. Neste momento não há nenhum edifício ocupado. A NATO bombardeia de maneira aleatória para aterrorizar sempre mais. É difícil dizer se o perigo é tão importante quanto parece. As ruas da cidade estão vazias. Toda a gente permanece encerrada na sua casa.

Estamos prisioneiros no hotel. Dito isto, há electricidade e água, não nos estamos a queixar. Os líbios sim. Agora há tiros em redor, uma batalha intensa; já há numerosos mortos e feridos em algumas horas. Mas nós somos preservados. Estamos todos reagrupados na mesquita do hotel. Você ouve tiros neste momento.

Silvia Cattori: Quantos assaltantes cercam vosso hotel neste momento?

Thierry Meyssan: Sou incapaz de dizer. É um perímetro bastante grande porque há um parque em torno do hotel. Penso que se não houvesse senão os assaltantes não seria tão simples tomar Tripoli. Mas se há outras tropas da NATO com eles sim, isso muda tudo, o perigo torna-se grande.

Silvia Cattori: Nas imagens difundidas pelas televisões daqui vê-se que ao longo destes seis meses são excitados que atiram para o ar e que não parecem profissionais...

Thierry Meyssan: Viu-se com efeito bandos que se agitam e que não são formados militarmente. É pura encenação, não é realidade. A realidade é que todos os combates são travados pela NATO; e quando seu objectivo é atingido as tropas da NATO retiram-se. Então chegam pequenos grupos – vê-se de cada vez uma vintena de pessoas – mas na realidade nunca são vistos em acção. A acção são as forças da NATO.

Foi assim que se passou sempre nas cidades que foram tomadas, perdias, retomadas, reperdidas, etc... E cada ocasião são as forças da NATO que chegam em helicópteros Apaches e metralham todo o mundo. Ninguém pode resistir, no terreno, face a helicópteros Apaches que bombardeiam; é impossível. Portanto não são os rebeldes que fazem o trabalho militar, isso é anedota! É a NATO que faz tudo. Depois de eles se retirarem, então vêm "os rebeldes" fazer a figuração. É isso que você vê difundido nas cadeias de TV.

Silvia Cattori: Sabe-se quantos "rebeldes" em armas entraram em Tripoli esta noite? E se células dormentes já estavam lá?

Thierry Meyssan: Sim, com certeza, há células dormentes em Tripoli; é uma cidade com um milhão e meio de habitantes. Que haja células combatentes no interior e perfeitamente provável. Quanto aos assaltantes, mais uma vez, não sei qual é a proporção do enquadramento pelas forças da NATO. A verdadeira questão é saber quantas forças especiais já foram colocadas.

Há agora forças militares do coronel Kadafi na cidade. Elas chegaram bastante tardiamente do exterior. Os assaltantes cercam o hotel. Penso que é impossível esta noite tentarem um assalto contra o hotel.

Silvia Cattori: Houve pânico entre as pessoas que residem no hotel?

Thierry Meyssan: Sim, jornalistas residentes aqui no hotel Rixos entraram completamente em pânico. É um pânico geral.

Silvia Cattori: E você como se sente?

Thierry Meyssan: Eu tento permanecer zen nestas situações!

Silvia Cattori: Quantos jornalistas estrangeiros estão entrincheirados no hotel?

Thierry Meyssan: Eu diria entre 40 e 50.

Silvia Cattori: As pessoas ignoram que onde há jornalistas que cobrem a guerra há sempre um bom número deles que faz informação, que são agentes duplos, espiões...

Thierry Meyssan: Há espiões por toda a parte; mas penso que eles não sabem tudo.

Silvia Cattori: Diz-se aqui que o plano para evacuar os estrangeiros está pronto. Eles vão poder sair...

Thierry Meyssan: A Organização de Emigração Internacional tem um barco que está prestes a atracar no porto de Tripoli para evacuar os estrangeiros, nomeadamente a imprensa, prioritárias neste caso.

Silvia Cattori: E você o que pensa fazer?

Thierry Meyssan: Por enquanto o barco está ao largo; ele não entrou no porto. É a NATO que o impede de atracar. Quando a NATO o autorizar será feita a evacuação.

Silvia Cattori: Esta evolução vos surpreende?

Thierry Meyssan: As coisas aceleraram-se quando chegou o barco da NATO. São combatentes pertencentes às forças especiais da NATO que estão aqui no terreno e é evidente que tudo pode cair rapidamente...

Silvia Cattori: Os citadinos estão todos munidos de fuzis se diz?

Thierry Meyssan: O governo distribuiu quase dois milhões de kalachnikovs no país para assegurar a defesa frente a uma invasão estrangeira. Em Tripoli, todos os cidadãos adultos receberam uma arma e munições. Houve um treino nestes últimos meses.

Silvia Cattori: Os líbios que quisessem não estão em condições de sair para manifestarem-se contra as forças da NATO?

Thierry Meyssan: As pessoas estão paralisadas pelo medo; atira-se de toda a parte; e além disso bombardeia-se.

Silvia Cattori: Vossa posição não é fácil. Entre os jornalistas você deve ter inimigos que querem a vossa pelo por ter contraditado suas versões dos factos!

Thierry Meyssan: Sim. Já fui ameaçado por jornalistas estado-unidenses que disserem que querem matar-me. Mas a seguir apresentaram as suas desculpas... Não tenho dúvida nenhuma sobre suas intenções.

Silvia Cattori: Eles proferiram esta ameaça diante de testemunha?

Thierry Meyssan: Sim, na presença de (...)
Entrevista realizada a partir de Tripoli em 21/Agosto/2011/23h00.

Ver também: TRIPOLI - Témoignage : les journalistes "non alignés" sont menacés de mort (Russia Today)

O original encontra-se em http://www.silviacattori.net/article1829.html


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A falsificação nos media iniciada pela Al Jazeera:
Cenas de regozijo e euforia na Praça Verde foram fabricadas

por Metro Gael
Clique a imagem para ampliar. Ultrapassando anteriores falsificações dos mass media, tanto em escala como em descaramento, a encenação da manhã de ontem da Al Jazeera certamente ficará na história como uma das mais cínicas burlas cometidas pelos media corporativos desde as fotos manipuladas de iraquianos a derrubarem a estátua de Saddam Hussein após a invasão estado-unidense de 2003.

Na manhã de 22 de Agosto de 2011, a Al Jazeera divulgou uma reportagem "ao vivo" da Praça Verde em Tripoli, a qual afirmava mostrar a tomada da capital líbia pelas forças rebeldes. Cenas de regozijo e euforia envolviam a repórter da Al Jazeera, Zeina Khodr, quando ela declarou: "A Líbia está nas mãos da oposição".

As imagens foram reproduzidas imediatamente através do complexo dos media globais, com manchetes a trombetearem o "fim do regime Kadafi" e editoriais nos media corporativos do mundo especulando acerca do futuro da Líbia pós Kadafi.

Disseram que os filhos de Kadafi haviam sido presos e mais deserções foram anunciadas. A capital líbia agora estava, disseram-nos, nas mãos das forças rebeldes. Para muitos, parecia um facto consumado.

De facto, as fotos da Al Jazeera da Praça Verde foram uma falsificação elaborada e criminosa. A reportagem foi pré-fabricada num estúdio em Doha, Qatar. Esta informação foi passada à inteligência líbia e o povo líbio já fora advertido acerca da operação psicológica (psyops) qatariana um par de dias antes, na televisão estatal Rayysse.

A falsificação da Al Jazeera tencionava criar a impressão de que Tripoli havia caído de modo a:

(1) Romper a resistência líbia através da criação de pânico e caos na capital.

(2) Proporcionar cobertura para os massacres de civis que ocorreriam nos dias seguintes à declaração da vitória rebelde.

Por outras palavras, os media proporcionariam cobertura para os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade que são necessários a fim de subjugar a Jamhahirya Líbia aos interesses corporativos ocidentais.

Logo depois de as fotos da Al Jazeera terem sido divulgadas, este autor contactou a repórter independente Lizzie Phelan, em Tripoli. Miss Phelan foi capaz de confirmar a partir do que descreveu como fontes confiáveis que as fotos da Al Jazeera eram falsas.

No fim do dia, soube-se que todas as mentiras do twitter provenientes dos criminosos no Conselho Nacional de Transição também eram, não surpreendentemente, falsas. Os filhos de Kadafi não foram presos e os rebeldes não estavam com o controle da cidade.

Nesse meio tempo, Lizzie Phelan, Mahdi Darius Nazemroaya e Thierry Meyssan receberam ameaças de morte veladas dos media ocidentais que permaneciam no Rixos Hotel, em Tripoli. Após a chegada de milhares de terroristas da NATO/Al Qaeda, um breve período de caos apoderou-se da cidade.

Quando muitos dos repórteres dos medias de referência abandonaram o Rixos Hotel, autoridades líbias descobriram que a maior parte deles eram agentes da CIA e do MI6 a trabalharem sob a cobertura de jornalistas.

No momento, Mahdi Darius Nazemroaya, Thierry Meysan e outros jornalistas reais permanecem presos no Rixos Hotel. Nazemroaya levou um tiro de um atirador da NATO/rebelde quando tentava colocar um sinal de imprensa no topo do Rixos Hotel a fim de proteger o edifício do bombardeamento da NATO.

A repórter Lizzi Phelan contactou um amigo ontem para dizer que fora ameaçada pelo pessoal da CNN e havia sido impedida de utilizar facebook e email.

Abaixo, pode ver a advertência dada ao povo líbio pelos media do estado quanto à operação psicológica da Al Jazeera em preparação. O apresentador conta aos telespectadores que a Al Jazeera produziu uma simulação da Praça Verde de Tripoli e que eles estão em vias de utilizar isto para produzir uma gigantesca ficção de Líbia "libertada".

A foto acima prova que os produtores da falsificação da Al Jazeera não são mestres pintores, pois as gritantes discrepâncias entre a Praça Verde real em Tripoli e a versão da Al Jazeera são claramente óbvias. As diferenças entre a arquitectura na Praça Verde em Tripoli e as fotos mostradas na Al Jazeera estão bem documentadas no vídeo abaixo.

Enquanto a encenação da Al Jazeera vai entretendo, a actriz principal Zeina Khodr provavelmente não vai receber prémios pelo seu desempenho particularmente fraco. Ela disse as suas linhas de um modo mecânico, como alguém que não estava particularmente encantado com o script, ou talvez fosse o aspecto forçado de toda a cena que a aborreceu.

Esta falsificação dos media é outro exemplo pungente do desespero da NATO, a qual tem implacavelmente bombardeado uma nação soberana durante seis meses e até agora fracassou em efectuar a mudança de regime. Ela também prova, mais uma vez, o papel dos medida corporativo na desinformação e na guerra.
23/Agosto/2011
O original encontra-se em metrogael.blogspot.com/... e em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26155


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Líbia: a intervenção dita "humanitária" da NATO

por Viktor Dedaj
Enviar pirómanos para extinguir um incêndio, queimar a floresta para salvar as árvores, bombardear a população para poupar civis, lançar campanhas de terror em nome do combate contra o terrorismo, promover a democracia apoiando ditadores, monarquias, terroristas e outros gangsters de toda espécie... a lógica dos dirigentes ocidentais é imparável.

Durante este tempo, a organização dos media de massa bombardeia as consciências até obter a sua rendição. E é assim que você acorda um dia com o sentimento de que sempre foi favorável às privatizações. Com a crença de que os Taliban sempre foram nossos inimigos. Que esta Europa é a única que vale a pena. Que você compreende muito bem que não se poderá pagar vossa aposentadoria. E que a NATO é uma espécie de serviço internacional de ambulâncias.

Hoje, 21 de Agosto, a última notícia: "os rebeldes entraram em Tripoli". Depois de semanas de "os rebeldes líbios avançam", "os rebeldes controlam a cidade de...", os "rebeldes anunciam...". É cómico como o actor principal destes acontecimentos, a NATO, consegue tornar-se discreta nos noticiários.

Para ver a dificuldade que estes rebeldes tiveram para avançar num país plano, pouco povoado, onde os seus mestres tinham e têm o domínio total do céu – condições ideais para uma tal campanha – e onde (vantagem suprema) o povo seria "apoiante da sua causa", é evidente e claro que os "rebeldes líbios" jamais representaram grande coisa, chegando até a matarem-se entre si e a eliminar o seu próprio comandante em chefe (e isto nas condições "ideais").

Dito isso, a menos que haja um golpe de teatro, eles "ganharão", cedo ou tarde, isto é certo. E como poderia ser de outra maneira? Quando o bastão redondo da propaganda não entra no buraco quadrado da realidade, a NATO encarrega-se de arredondar os ângulos.

Apostamos que não faltarão nessa altura algumas sombras embrutecidas para chafurdarem nos nossos écrans a gritarem "ganhámos"! E dizer que há alguns meses eles mal sabiam pronunciar o nome do país. Mas a verdade é que a história já provou que eles haviam errado, que eles erram, e a questão do "combate" não mudará isso.

Tripoli resistirá? Quanto tempo? Horas, dias? E subitamente as apostas são abertas e eis-nos projectados na lotaria local. Eles falarão sem dúvida de "partidários de Kadafi" (um certo número) e nunca "dos líbios opostos à intervenção imperialista" (provavelmente mais numerosos). Eles nos mostrarão algumas imagens de multidões em regozijo. Utilizarão eles imagem tomadas outrora em Bagdad? Encontrarão eles finalmente os 6000 líbios assassinados "pelo regime" ou mudarão de assunto, como no caso das armas de destruição maciça?

Portanto, "se irá ganhar". A questão que me intriga é saber quem é o "se" e o que é que terá sido "ganho". É louco como se esquiva sistematicamente esta questão interessante. Eu sei que este "se" não sou eu, nem tão pouco você (qualquer que seja a vossa opinião sobre esta operação da NATO). Sei também que não é a imensa maioria da população líbia que certamente tinha uma outra ideia da Primavera árabe.

Esta manha (21 de Agosto), a imprensa nos explica que uma brigada rebelde de elite está impaciente às portas de Tripoli. Ela nos explica sem pestanejar que alguns dos 600 homens têm a "dupla nacionalidade americana e líbia"... que o seu chefe fala "com uma forte pronúncia irlandesa", um "atirador de elite" que "passou a maior parte da sua vida em Dublim", que está "em contacto permanente com as forças da NATO". E eu me digo: "aí está, nem um líbio para dirigir a brigada de elite da rebelião?". E também: "se não se trata de mercenários, eles parecem furiosamente". Mas a ideia não perambula no meu espírito pois o lugar já estava ocupado por esta outra ideia recentemente martelada pelos media: é Kadafi que emprega mercenários ("negros e drogados").

Sim, doravante temos a indicação de que "se" ganhou: um líbio puro, como já não há nas tribos. Ele usa Ray Ban, masca chewing-gum, fala com uma forte pronúncia irlandesa e o seu passaporte líbio é provavelmente muito belo, inteiramente novo e ainda deve cheirar a tinta fresca. E tenho o sentimento confuso que se lhe perguntasse "e Bagdad, como era?", ele responderia "no comment".

Então, após meses de bombardeamentos de toda espécie, tenho de me render... à evidência. E dizer que deixei de duvidar desta história de intervenção humanitária.

PS: último minuto, na categoria do "eles ousam tudo". Um porta-voz da NATO declara que a missão da Aliança é proteger a população civil e não tomar partido por um dos dois campos. Orwell, tu é um amador.
21/Agosto/2011
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

Os "rebeldes" das forças especiais da NATO, agora em Tripoli

por Manlio Dinucci
A embaixada do Qatar em Tripoli – segundo um vídeo, http://www.youtube.com/user/ZZ7L?ob=5#p/a/u/0/PybQX__fLWQ – foi reaberta há três dias (2ª feira, 22/Agosto/2011) por homens armados que, uma vez entrados no edifício danificado, ali imediatamente hastearam a bandeira qatariana. Fica-se assim informado da presença na Líbia de forças especiais qataris. Forças especiais da Grã-Bretanha, França e Qatar, escreve o New York Times (23/Agosto/2011), estão em vias de fornecer apoio táctico às forças rebeldes e conselheiros da CIA ajudam o governo de Bengazi a organizar-se. Comandos britânicos e franceses, confirma um oficial superior d NATO, estão sobre o terreno com os rebeldes em Tripoli. E à pergunta de saber se agentes da CIA também estão ali, o oficial responde que certamente estão.

E também é assim que é desmentida a NATO que até o presente dizia não ter "boots on the ground", ou seja, militares sobre o terreno na Líbia. As forças especiais britânicas – indicam as investigações do Guardian e do Telegraph – desempenharam um papel chave no ataque a Tripoli. Este ataque foi preparado em Bengazi pelos serviços secretos britânicos MI6, que predispuseram depósitos de armas e de aparelhos de comunicação em torno da capital, na qual infiltraram seus agentes para guiar os ataques aéreos. A ofensiva começou quando, na noite de sábado, Tornados Gr4 da RAF (Royal Air Force), que haviam partido da Itália, atacaram, com bombas de precisão Paveway IV, um centro de telecomunicações e outros objectivos chaves na capital. Segundo uma investigação relatada pelo France Soir, pelo menos 500 comandos britânicos operam na Líbia, aos quais acrescentam-se centenas de franceses. Estes últimos são transportados na Líbia por helicópteros do Alat (Aviation légère de l'armée de terre), embarcados no navio de ataque anfíbio Tonnerre.

Também é importante o papel que o Qatar, um dos aliados mais próximos dos EUA, desempenha na Líbia: gastou mais de mil milhões de dólares para potencializar a base aérea de Al-Udeid em função das exigências do Pentágono, que a utiliza para a guerra no Afeganistão e como posição avançada do Comando central. Nada de espantoso portanto que Washington tenha confiado a esta monarquia do Golfo a missão de confiança de infiltrar comandos na Líbia que, treinados e armados pelo Pentágono, podem melhor se camuflar como rebeldes líbios graças à sua língua e ao seu aspecto. O Qatar tem também a tarefa de aprovisionar os rebeldes: um dos seus aviões foi visto recentemente em Misrata, para transportou um grande carregamento de armas.

Há indicações de fontes fiáveis de que, juntamente com as do Qatar, também operam na Líbia forças especiais jordanas e provavelmente também de outros países árabes. Recordar-se-á que nos Emirados Árabes Unidos está em vias de ser criado um exército secreto que pode ser empregado também em outros países árabes do Médio Oriente e da África do Norte (cf. il manifesto de 18/Maio [1] ).

Enquanto a NATO prossegue seus ataques aéreos para aplainar o caminho para os rebeldes, ela efectua no terreno uma guerra secreta para assegurar que, na Líbia pós Kadafi, o poder real ficaria nas mãos das potências ocidentais, ladeadas pelas monarquias do Golfo. Neste caso as forças especiais içarão a bandeira da peacekeeping ("manutenção da paz") e utilizarão capacetes azuis.
25/Agosto/2011
(1) Nascimento nos Emirados de exército secreto para o Médio Oriente e a África, www.voltairenet.org/Formation-aux-Emirats-d-une-armee ou www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=24848

O original encontra-se em www.ilmanifesto.it/... e a versão em francês em www.legrandsoir.info/...


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

É a NATO que está à conquista de Tripoli

por Manlio Dinucci
Uma foto publicada pelo New York Times conta, mais do que muitas palavras, o que está em vias de acontecer na Líbia: ela mostra o corpo carbonizado de um soldado do exército governamental, ao lado dos restos de um veículo queimado, com três rebeldes em torno que o olham com curiosidade. São eles que testemunham que o soldado foi morto por um raid da NATO. Em menos de cinco meses, informa o Comando conjunto aliado de Nápoles, a NATO efectuou mais de 20 mil raids aéreos, dos quais 8 mil com ataques por bombas e mísseis. Esta acção, declaram ao New York Times altos funcionários estado-unidenses e da NATO, foi decisiva para apertar o cerco em torno de Tripoli.

Os ataques tornaram-se cada vez mais precisos, destruindo as infraestruturas líbias e impedindo assim o comando de Tripoli de controlar e aprovisionar suas forças. Aos caça-bombardeiros que lançam bombas guiadas por laser de uma tonelada, cujas cabeças penetrantes com urânio empobrecido e tungsténio podem destruir edifícios reforçados, juntaram-se os helicópteros de combate, dotados de sistemas dos sistemas de armamentos mais modernos. Dentre eles, o míssil guiado por laser Hellfire, que é lançado a 8 quilómetros do objectivo, utilizado também na Líbia pelos aviões telecomandados estado-unidenses Predator / Reaper.

Os objectivos são localizados não só pelos aviões radar Awacs, que decolam de Trapani (costa Sudoeste da Sicília) e pelos Predator italianos que decolam de Amendola (Foggia, província de Puglia), sobrevoando a Líbia 24/24 horas. Eles também são assinalado – indicam ao New York Times os funcionários da NATO – pelos rebeldes. Estes, embora "mal treinados e mal organizados", estão em condições, "graças a tecnologias fornecidas por países da NATO", de transmitir importantes informações à "equipe NATO na Itália, que escolhe os objectivos a atingir". Além disso, relatam os funcionários, "a Grã-Bretanha, a França e outros países instalaram forças especiais sobre o terreno líbio". Oficialmente para treinar e armar os rebeldes, na realidade sobretudo para tarefas operacionais.

Assim, vê-se emergir o quadro real. Se os rebeldes chegaram a Tripoli isso deve-se não à sua capacidade combate, mas ao facto de que os caça-bombardeiros, os helicópteros e os Predator da NATO lhes abrem o caminho, praticando a terra queimada. No sentido literal do termo, como mostra o corpo do soldado líbio carbonizado pelo raid da NATO. Por outras palavras, criou-se para a utilização dos media a imagem de uma resistência com uma força capaz de bater um exército profissional. Mesmo que rebeldes morram nas confrontações, como é natural, não são eles que estão em vias de se apoderar de Tripoli. É a NATO que, graças a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, está em vias de demolir um Estado a fim de defender os civis. Evidentemente, desde que há um século as tropas italianas desembarcaram em Tripoli, a arte da guerra colonial deu grandes passos em frente.
23/Agosto/2011
O original encontra-se em il manifesto e a versão em francês em
www.legrandsoir.info/...


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

NÃO HÁ ALEGRIA E SIM TERROR
NÃO HÁ LIBERDADE E SIM OCUPAÇÃO ESTRANGEIRA

A agressão imperialista contra a Líbia consumou-se com a tomada de Tripoli.
Os bandos de "rebeldes" do Conselho Nacional de Transição, arvorando a bandeira da defunta monarquia líbia, serviram apenas como encobrimento da intervenção activa da NATO. Os seus bombardeamentos selvagens contra alvos civis e os seus helicópteros artilhados é que decidiram esta guerra não declarada.
Milhares de líbios morreram sob a agressão da NATO, mandatada pela ONU para "salvar vidas". Registe-se a bravura e coragem do governo Kadafi, que aguentou durante seis meses uma guerra impiedosa promovida pelas maiores potências do planeta. A ficção de que se tratava de uma guerra "civil" foi completamente desmentida pelos factos. Foram precisos 8000 raids de caças-bombardeiros da NATO para decidir esta guerra neocolonial.
O futuro próximo da Líbia é negro. As suas reservas monetárias e financeiras – depositadas em bancos ocidentais – foram roubadas pelas potências imperiais (tal como aconteceu com as do Iraque). E os abutres vão agora à caça dos despojos, à repartição do botim, aos contratos polpudos. Os bandos do CNT, uma vez findo o enquadramento de mercenários, podem começar digladiar-se entre si.
A desinformação sobre a Líbia foi e é gritante em todos os media ditos "de referência". Eles foram coniventes activos da agressão imperialista contra o povo líbio. Hoje, a generalidade dos media já não serve para o esclarecimento e sim para o encobrimento e a mistificação.


A NOVA LÍBIA DAS POTÊNCIAS IMPERIAIS
In Resistir.info

Que ricos Ricos que nós temos


Depois do Bilionário Warren Buffett ter afirmado que o Estado não devia continuar a isentar os mais ricos de pagar impostos e que estes deveriam ser aumentados foi agora a vez de Milionários franceses, detentores das dezasseis maiores fortunas do país, instaram o Governo a aplicar uma taxa especial sobre os rendimentos dos mais ricos para ajudar a debelar os problemas financeiros do país.

Quando li notícias como esta imaginei logo os milionários portugeses a fazerem fila à porta do Ministério das Finanças para também eles exigirem pagar impostos mais elevados. Mentira, não imaginei nada e o Américo Amorim, o homem mais rico de Portugal já afirmou, "eu não me considero rico". "Sou trabalhador", contrapôs. E pronto, conversa acabada. Para a matéria em apreço, o cognominado "rei" da cortiça garante que não passa de um simples assalariado.
Até me vieram as lágrimas aos olhos só de pensar nas dificuldades porque deve passar o pobre assalariado.

Bloco propõe imposto sobre património das grandes fortunas

Para corrigir "o défice fiscal dos mais abastados", Luís Fazenda apresentou um projecto de lei para a criação de um “imposto de solidariedade sobre as grandes fortunas”, para taxar o património global acima de dois milhões de euros. O PSD reagiu à proposta e diz que é preciso "parar para pensar".
A proposta do Bloco incide sobre o património do detentor da fortuna, em vez do rendimento que hoje é taxado em IRS.
A proposta do Bloco incide sobre o património do detentor da fortuna, em vez do rendimento que hoje é taxado em IRS. Foto Exotic Car Life/Flickr
Este imposto sobre o património das grandes fortunas tem uma taxa progressiva que vai de 1,5% a 2,5% do valor global apurado.  O líder parlamentar bloquista diz que esta é apenas uma das medidas que devem ser combinadas para que haja uma “relativa equidade fiscal” em Portugal, a par da taxação das mais-valias em bolsa ou o combate à "evasão fiscal organizada" do sector financeiro.
“Tudo isso em conjunto é que poderá, finalmente, trazer uma relativa equidade fiscal: a combinação da existência de um imposto sobre as grandes fortunas, taxas adequadas de IRS, o englobamento para efeitos de IRS de todos os rendimentos, eliminando taxas liberatórias, e o imposto sobre as mais-valias bolsistas para as empresas e SGPS”, afirmou Luís Fazenda esta sexta-feira em conferência de imprensa, onde deixou a promessa de voltar a incluir estas propostas no debate do Orçamento de Estado.
Do lado do PSD, a reacção não se fez esperar e veio pela voz do deputado Luís Menezes. Este é um tema que galgou muito rapidamente para as primeiras linhas da frente mediática, mas isso não faz com que devamos não parar para pensar e começar a legislar de supetão”, afirmou o deputado laranja à Lusa. "Há uma série de detalhes técnicos daquilo que já pudemos saber do projecto de lei que nos suscitam dúvidas. Em primeiro lugar, não sabemos qual é o montante que o Bloco de Esquerda prevê arrecadar", acrescentou Luís Menezes.
“É preciso começar, o sinal político é começar”, defendeu Luís Fazenda, que considera este imposto “prudente”. A proposta que será discutida pelos deputados “não afecta nada daquilo que poderia eventualmente cair na alçada da acusação de um excesso fiscal ou de um confisco sobre grandes fortunas”, argumentou Fazenda. Sobre o efeito do imposto nas receitas fiscais, o deputado do Bloco disse ser impossível de prever porque “não há experiência em Portugal de avaliação de património”.
“Vamos ver ao longo de vários exercícios como é que pode avaliar-se realmente junto do património imobiliário e mobiliário que está sediado em Portugal, de residentes e de não residentes, a partir de dois milhões de euros”, afirmou o deputado bloquista.

quarta-feira, agosto 24, 2011

A Europa está a chegar à loucura? Versão para impressão
loucura
A loucura não percorreu apenas as ruas de Londres, a que atravessa os mercados da especulação é imensamente mais grave, os incendiários são muitos mais, ateiam muitos mais fogos e provocam imensamente mais prejuízos a muitos milhões de pessoas. Os tumultos de Londres, que condeno absolutamente, parecem “brincadeiras de criança” perante os loucos que dirigem os Estados e a economia da Europa.
Como se não bastasse o criminoso fogo ateado na Grécia pelos financeiros vêm agora a Finlândia, Holanda, Áustria, Eslovénia e Eslováquia exigir acordos bilaterais extraordinários à Grécia para que dê garantias reforçadas de reembolso a estes países pela sua participação no empréstimo.
Claro que a Moody’s não perdeu a oportunidade e avisou  de que antecipará a descida do rating grego para o nível de incumprimento caso este país não faça os acordos bilaterais.
Como se a loucura incendiária não bastasse, hoje mesmo, dia 23 de Agosto, segundo notícia da Lusa, a CDU de Angela Merkel veio defender que os países que “beneficiam de financiamentos de resgate do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), deveriam dar as reservas de ouro e as participações estatais no capital social de empresas como garantias para os empréstimos”.
A superação do neoliberalismo clássico pela financeirização do capitalismo está a levar a loucura a níveis nunca antes atingidos. A pressão a que estão a ser submetidos os Estados mais endividados, com particular destaque para a Grécia, é absolutamente criminosa.
Alguns economistas de esquerda tinham apresentado a proposta de um pacto, ou pelo menos de uma acção comum, dos países da periferia da Europa para enfrentar os mercados, as agências de rating e as posições do eixo franco-alemão. Estes novos dados mostram como a brutalidade pode avançar até níveis nunca antes alcançados sem que daí resulte uma palavrinha solidária de outros países em dificuldades. Cada um desses países tenta demonstrar que o seu caso não tem nada a ver com o outro e numa sucessão de casos semelhantes ao dominó, país atrás de país, vai caindo aos pés da chantagem da sua troika.
Por este caminho já faltará pouco até que a Grécia seja expulsa do euro. Na linha das sequências anteriores Irlanda e Portugal seguem na calha.
As dificuldades que estão a ser impostas à população começam a ser visíveis em notícias como a falta de medicamentos para doentes oncológicos. Tal como nos outros países as restrições orçamentais e a retirada de serviços públicos de saúde levarão a uma diminuição da esperança de vida. O século XIX passou a referenciar o projecto burguês europeu, impor a brutalidade é a palavra de ordem.
A população parece acatar passivamente, mas isso pode ser uma ilusão. Ao longo da história do país tem acontecido que de repente acontecem explosões. Façamos por elas – antes que nos incendeiem a vida.
Victor Franco
A Comuna

Ainda há combates em Trípoli e Khadafi desapareceu

Tropas do Conselho Nacional de Transição dizem controlar 90% de Tripoli e afirmam desconhecer o paradeiro do coronel que se intitulava “o líder da revolução”. EUA e países europeus reconhecem a legitimidade do CNT, bem como a Autoridade Palestiniana, o Hamas e a Liga Árabe.
Multidão em Bengazi comemora a entrada das tropas do CNT em Tripoli. Foto de Lusa/EPA/STR
As tropas que respondem ao Conselho Nacional de Transição, que coordena a oposição ao regime do coronel Khadafi, afirmam que já controlam 90% de Tripoli e que o que resta de tropas do regime está concentrado, com tanques, no quartel general de Khadafi, em Bab al-Azizia.
O regime de Khadafi parece ter entrado em colapso quando as tropas do CNT, na madrugada de segunda-feira, entraram na cidade, diante da rendição de parte das tropas do regime. Foi nessa altura que a Praça Verde foi tomada e a população da capital pôde finalmente comemorar a queda da ditadura.
A oposição diz não saber onde está o coronel que oficialmente não tinha qualquer cargo no governo, a não ser o título de “líder da revolução”. Mas afirma ter capturado três filhos de Khadafi, incluindo Saif al-Islam, que assumira o comando militar da capital. A notícia foi posteriormente desmentida pelo próprio, que apareceu aos jornalistas a dizer que a luta vai prosseguir.
A TV líbia, que já está sob controlo do CNT, diz que forças pró-Khadafi estão a “bombardear indiscriminadamente” áreas vizinhas ao quartel-general do regime.
Mustafa Abdel Jalil, líder do Conselho Nacional de Transição, disse que os insurgentes só declararão vitória quando Khadafi for encontrado. “Não sabemos se ele ainda está (em seu complexo, em Trípoli), nem se está dentro ou fora da Líbia”, disse. O líder do CNT, que já foi ministro da Justiça de Khadafi, manifestou a preocupação com a existência de acções de vingança por parte dos novos senhores da capital: "O meu receio é hoje sobre certas acções fora da lei, levadas a cabo fora do quadro e das ordens dos dirigentes dos revolucionários, em particular actos de vingança". E acrescentou: "Oponho-me firmemente a qualquer execução extra-judicial".
Reacções internacionais
A China disse que respeitará o desejo da população líbia e a Rússia declarou-se neutra em relação ao avanço da oposição em Trípoli. O vizinho Egipto tornou-se o mais recente de uma série de países a reconhecer o Conselho de Transição como o governo legítimo da Líbia.
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse que “o regime de Khadafi está no fim e que o futuro da Líbia está nas mãos do povo”.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que Khadafi deve evitar mais sofrimento inútil ao seu povo, abandonando o que resta do seu poder e chamando de imediato as forças que lhe permanecem leais, para fazerem um cessar-fogo e largar armas.”
Para David Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, “Khadafi cometeu crimes pavorosos contra o povo da Líbia e tem de renunciar, para evitar mais sofrimentos para o seu próprio povo.”
A Autoridade Palestiniana e o governo de Gaza, do Hamas, reconheceram também o CNT como governo legítimo da Líbia, felicitando-se pelo derrube de Khadafi.
A Liga Árabe fez votos para que o CNT "consiga levar a bom termo uma nova era e preservar a integridade regional da Líbia, bem como a sua soberania e a sua independência". A Liga Árabe tinha apoiado a criação de uma zona de exclusão aérea em Março, mas criticara os bombardeamentos da NATO.
Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da NATO, disse que “este é o momento para criar uma nova Líbia”, e que a NATO “está preparada para trabalhar com o povo líbio e com o Conselho Nacional de Transição, sobre quem recai uma grande responsabilidade.”

segunda-feira, agosto 22, 2011


ESTE É TEMPO DE PROTESTO!
NÃO É DE SILÊNCIO OU RESIGNAÇAO!


Líbia: rebeldes tomaram a Praça Verde em Trípoli

A celebração da queda do regime já acontece em várias cidades líbias e nalguns distritos da capital, Trípoli, tomados pelos rebeldes. A imprensa internacional anuncia que o regime líbio está à beira do fim, esperando-se a rendição de Kadafi. Dois dos seus filhos já foram presos.
Líbia: rebeldes tomaram a Praça Verde em Trípoli
Em várias cidades líbias, como Benghazi, celebra-se já o fim do regime de Kadafi. Foi nesta cidade, no Leste do país, que a 17 de Fevereiro os combatentes iniciaram a revolta contra o ditador.
Os rebeldes líbios anunciaram a detenção de dois filhos do líder Kadafi, Seif el Islam e Saadi, noticia a televisão Al-Jazeera. A detenção terá ocorrido depois de os rebeldes terem tomado uma das principais praças do país, a Praça Verde, donde chegam imagens de festejos pela libertação da Líbia do regime autoritário que durava há 41 anos.
Várias cidades estão já em celebração e espera-se a rendição do líder líbio Muammar Kadafi que em 24h dirigiu três apelos aos líbios, no sentido de defenderem a capital. O último apelo foi feito numa mensagem áudio transmitida pela televisão líbia há umas horas. Os cidadãos de Trípoli "devem sair agora para limpar a capital", declarou o coronel Kadafi, afirmando que "não há lugar para os agentes do colonialismo em Trípoli e na Líbia".
Os rebeldes controlam já a maior parte dos bairros de Trípoli, garante o porta-voz das forças que lutam contra o regime de Kadafi, excepto o complexo de Bab al-Aziziya, a principal base do coronel. “Estamos a celebrar a vitória! Este é o fim do regime de Kadafi”, afirma um residente de Trípoli, Hakeem Guja, em declarações à BBC.
“Deus é grande!” e “Estamos livres!” são os cânticos que se ouvem nas ruas de Trípoli, de acordo com um correspondente do canal de televisão britânico no terreno. “Mas há também muita incerteza, porque as pessoas pensam que está tudo a acontecer de forma demasiado fácil”, acrescenta.
Entretanto, a ligação à Internet foi restabelecida na capital líbia pela primeira vez em seis meses, noticia a AFP, citando habitantes de Trípoli.
Os rebeldes líbios ganharam posições a caminho da capital durante a tarde deste domingo, enquanto os bombardeamentos da NATO atingiram o aeroporto e o quartel-general de Kadafi. A Liga Árabe condenou a ingerência externa e apelou ao ditador para abandonar o poder.
Esquerda.net

sexta-feira, agosto 19, 2011

Krugman: “Grécia, Irlanda e Portugal serão palco de uma reestruturação de dívida”

Nobel da Economia defende que Portugal faz parte dos países “estão, provavelmente, insolventes e onde terá de haver uma reestruturação da dívida”. Krugman defende a emissão de obrigações europeias que permitam que os países não sejam sujeitos a “ataques especulativos”.
Para o Nobel da Economia, é necessária uma “operação centralizada” a nível europeu para responder à crise, sendo que a emissão de obrigações europeias evitaria que os países que recorrem a empréstimos fossem “ sujeitos a ataques especulativos”. Foto de Center for American Progress.
Para o Nobel da Economia, é necessária uma “operação centralizada” a nível europeu para responder à crise, sendo que a emissão de obrigações europeias evitaria que os países que recorrem a empréstimos fossem “ sujeitos a ataques especulativos”. Foto de Center for American Progress.
Em entrevista à Bloomberg, Paul Krugman sustentou que "há países que provavelmente podem sobreviver à crise, mesmo que vivam tempos muito difíceis, desde que não haja pânico”, referindo-se a Espanha e a Itália, e que “depois há aqueles que estão, provavelmente, insolventes e onde terá de haver uma reestruturação da dívida - casos de Grécia, Portugal, Irlanda."
Para o Nobel da Economia, é necessária uma “operação centralizada” a nível europeu para responder à crise, sendo que a emissão de obrigações europeias evitaria que os países que recorrem a empréstimos fossem “ sujeitos a ataques especulativos”.
Krugman defende que o BCE precisa de uma política monetária "muito mais expansionista", na medida em que o risco de uma recessão global é já "superior a um em três", sublinhando que "mesmo os ‘players' alegadamente fortes estão a abrandar", citando os casos francês, alemão, norte-americano e chinês.
O Nobel da Economia não descarta a possibilidade de a Itália ter de sair do euro, sendo que essa hipótese “assustadora” tem probabilidade de acontecer de 10%. No caso grego, a probabilidade dispara para mais de 50%.
Esquerda.net

quinta-feira, agosto 18, 2011

A canga da troika e a tanga dos troica-tintas

António Iria Revez
A quem aproveita esta crise que grassa um pouco por todo o lado? Olhando para a situação em Portugal, é inegável que esta crise já fez mais rombos no casco dos direitos laborais do que os mais de 30 anos de políticas de direita.

O milionário norte-americano Warren Buffet fez há tempos uma declaração que não deve ser esquecida e muito menos deixada passar como uma simples «boutade». «Existe uma guerra de classes, é verdade, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está a fazer a guerra e nós estamos a ganhá-la», disse ele. Já tempos antes, Óscar Niemeyer, homem que observa o mundo com particular lucidez, tinha concluído: «Antigamente os pobres estavam contra os ricos. Agora são os ricos que estão contra os pobres».
Da leitura insistente que fiz durante a minha juventude de romances policiais (coisa que não faço há muito tempo, e confesso, tenho saudades), ficou-me esta regra básica que Arthur Conan Doyle explorou na sua vasta bibliografia – «a quem aproveita o crime, aí está o criminoso». Elementar, meu caro Watson. Todavia, isto não é mais do que aquele velho axioma do Direito romano: «Is fecit cui prodest» – isto fê-lo a quem o acto aproveita. Retirando-lhe, obviamente, qualquer espírito dogmático, a verdade é que não se lhe pode negar cabimento. Então, vejamos.
A quem aproveita esta crise que grassa um pouco por todo o lado? Quem a provocou, com práticas suicidárias na aparência, destituídas do mais elementar bom senso, na perspectiva do comum dos mortais? Não me custa crer que tenha sido um acto deliberado de grande envergadura, perfeitamente calculado, e que está a dar excelentes resultados. Ouçamos quem está por dentro e fala por experiência própria, o antigo ministro britânico da Defesa, Dennis Healy: «Os acontecimentos mundiais não acontecem por acaso, são arquitectados, quer tenham a ver com questões nacionais, quer com o comércio, e a maioria deles é encenada e organizada por aqueles que abrem os cordões à bolsa».
Olhando para a situação em Portugal, é inegável que esta crise já fez mais rombos no casco dos direitos laborais do que os mais de 30 anos de políticas de direita, não obstante os denodados esforços feitos nesse sentido por todos os governos depois de 76. Tudo aquilo que foi conquistado com sacrifício, passo a passo, ao longo dos terríveis anos do antes e em plena ditadura fascista, com actos heróicos de resistência, dos confrontos das praças de jorna, das greves «ilegais», das prisões, das torturas, dos assassinatos e mais o que foi conquistado durante o período revolucionário de Abril, tende a esboroar-se. Regressamos aos níveis do século XIX, graças a uma crise que, para a classe dominante, mais parece caída do céu. Bendita crise! Está criada uma situação limite, para cuja possibilidade tenho vindo recorrentemente a chamar a atenção, contribuindo assim, embora modestamente, para a compreensão do fenómeno. No livro de Daniel Estulin «Toda a verdade sobre o clube Bilderberg», que contém material suficiente capaz de perturbar qualquer consciência, encontrei palavras que sintetizam o que tenho pretendido dizer. É aquilo que o autor designa por «estado de desequilíbrio perpétuo»: «Ao orquestrarem artificialmente crises que sujeitam as pessoas a dificuldades contínuas – física, mental e emocionalmente – é possível mantê-las num estado de desequilíbrio perpétuo. Demasiado cansadas e perturbadas (e assustadas face ao futuro próximo, acrescento eu) para decidirem do seu destino». Fala também na «sociedade crescimento zero»: «Num período pós-industrial, será necessário crescimento zero para destruir quaisquer vestígios de prosperidade. Quando há prosperidade, há progresso. A prosperidade e o progresso impossibilitam a implementação da repressão, e é preciso repressão quando se espera dividir a sociedade em donos e escravos». A propósito, cita JimTucker: «Deus pode ter criado o universo, mas no que toca ao planeta Terra, a mensagem do clube Bilderberg para Deus foi simplesmente isto – “Obrigadinho, mas nós agora continuamos”».
*
Outro tema que recorrentemente tenho vindo a tratar é o problema da censura intelectual e informativa. Essa censura é tanto mais odiosa quanto mais escondida e disfarçada. O controlo das mentalidades faz parte do plano tendente ao domínio planetário e da implementação daquilo que a rapaziada de Bilderberg, mais os da Comissão Trilateral e arredores, adoram denominar «nova ordem mundial», que Jim Marrs chama de «IV Reich», e que Istvan Meszaros designa simplesmente por «barbárie». Não obstante estarem integrados no sistema, alguns, um pouco menos hipócritas ou por considerarem que o jogo já está ganho, são directos e falam claramente – «o nosso trabalho é dar ao povo não o que ele quer, mas sim o que decidimos que ele deve ter» (Richard Salant, ex-presidente da CBS News).
Os donos do mundo, que são simultaneamente os donos dos principais meios de comunicação, decidem o que passa na TV, o que se escreve nos jornais, o que ouvimos na Rádio, as revistas e os livros que devem ser publicados. Milhares e milhares de euros são investidos para sustentar redacções, orientar jornalistas e definir o conteúdo dos artigos dos jornais, estabelecendo metas que jamais podem ser ultrapassadas. No topo das competências estão aqueles senhores que os anglo-saxões denominam «spin-doctors» (que eu traduziria por «doutores da aldrabice»), sempre prontos a apagar fogos, a dar a volta por cima mesmo perante as situações mais embaraçosas. A censura tal como a conhecemos no século passado (e de que maneira…) tem os dias contados. Há uma notícia incómoda para o poder? Algo aconteceu que ameaça o domínio de classe? É preciso que o povo não tenha conhecimento do que se passou? Antigamente amordaçava-se o mensageiro, riscava-se com o lápis azul, ou procedia-se como nada se tivesse passado. Errado. Hoje, com a Net e as redes sociais, os telemóveis, e todas as facilidades de comunicação, esse procedimento tornou-se perigoso e até contraproducente, capaz de pegar fogo a qualquer notícia por menos importante que seja. Aí entram os «spin-doctors» em cena. Em vez da censura artesanal, faz-se a gestão da percepção do público. A notícia é apresentada de maneira que o público não perceba o que ouve, ou então perceba erradamente. Ao falar deste assunto é obrigatório referir George Orwell e o seu controverso romance «1984», onde sintetiza uma fórmula perversa do controlo das mentes que consiste em associar uma ideia a uma medida que é exactamente o seu oposto. Para isso socorre-se de uma nova língua (newspeak) onde as palavras se travestem do seu contrário. Por estranho que pareça, as modernas técnicas de manipulação das mentes socorrem-se deste truque. A newspeak invadiu o nosso mundo, o nosso dia-a-dia, e nós nem demos por isso.
É comum uma miríade de «analistas» aparecerem na TV a debitarem os seus pontos de vista que, sem contraditório, passam por verdades absolutas. Falam com determinação e desembaraço, na certeza de que vão sair vencedores. Lembro por exemplo uma entrevista de Mário Crespo a Patrick Monteiro de Barros há poucos dias. A propósito da energia eléctrica, ficámos a saber que este senhor é um acérrimo defensor da nuclear. Confrontado com o impulso dado à produção das energias renováveis, disse: «A mim, a única coisa que me interessa é o preço a que me chega cada kilovátio». O entrevistador parece ter aceitado sem vacilar a bondade deste argumento, não lhe ocorrendo qualquer comentário, como se as coisas fossem assim tão simples, e não houvesse na opinião pública sérias reservas e legítimas dúvidas acerca daquela afirmação. Barros, na sua qualidade de investidor a nível internacional, afirma que Portugal é um país onde não lhe apetece investir. E não lhe apetece investir por quê? Por uma simples e fundamentada razão: é o único país da União Europeia que tem na sua Constituição a palavra «socialismo». Crespo, com um sorriso meio cúmplice, meio complacente, diz «Oooora!…», acompanhado de um gesto pleno de eloquência, que não deixa dúvidas quanto ao valor que atribui a esse pequeno pormenor. Barros percebeu lindamente a linguagem corporal, essa poderosa ferramenta de comunicação, pelo que retorquiu: «Pois, mas está lá!». Alguém esperaria melhor da dupla Crespo-Barros? Assim vai a comunicação social que temos.
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As legiões romanas ocuparam toda a Gália em sete anos, mas para subjugarem os povos da Península Ibérica gastaram o melhor de dois séculos inteirinhos. Todavia, não obstante a ocupação territorial, permaneceram bolsas de resistência refugiadas nos picos serranos, que se mantiveram activas, com ataques fortuitos. Pois bem, é certo que já passaram mais de dois milénios. Não sei sequer se restam na nossa população descendentes dos celtiberos ou dos lusitanos, mas era bom que os houvesse. Eu sei. «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança», muita coisa muda em dois mil anos. Há que ter em conta a natural evolução das sociedades, a miscigenação, as migrações constantes, enfim, um sem número de factores. Sim, já disse, eu sei. Mas faz-me bem ao «ego» imaginar que a minha terra, aquela onde eu nasci, foi habitada por gente daquela têmpera, com aquela firmeza de carácter, meus irmãos na distância temporal. Nos finais do século XIV ainda restavam alguns, pois foi deles que o Mestre de Avis recebeu o impulso regenerador. E por aí fora sempre houve, nas horas difíceis, alguém capaz de dizer não, e de estar do lado certo das coisas e da vida, contrariando os vendilhões do costume. No início do século XIX também é possível que os houvesse. Pelo menos foi essa a convicção com que ficaram os generais de Napoleão, na fuga corrida para França. Parece que esta disposição das gentes que habitavam este minúsculo rectângulo era do conhecimento dos outros povos da Europa, pois o imperador Carlos V, quando preparava os planos que dariam à sua família o direito de se apresentarem como pretendentes ao trono português, prevendo, com fundamentada razão, que o reinado de D. Sebastião acabaria mal ou sem descendência, confessava francamente que a única coisa que estava atravessada no seu caminho era a paixão pela independência do povo português.
A série de trapalhadas levadas a cabo ou permitidas por este Governo, o clientelismo desbragado, o tráfico de influências, os cambalachos e outras malfeitorias avulsas fazem prever o pior. No que toca a privatizações, a sensação que fica é que os senhores gerentes do País, que mais parece uma loja de venda a retalho, abriram a época dos saldos. Só falta afixar na montra um aviso: «Liquidação total da existência por mudança de ramo». Até tremo, só de pensar qual seja.
Esta gente, que tanto criticou Sócrates, está fazer algo que até há pouco tempo, a alguns, parecia impossível – fazer ainda pior. Todas as medidas vão no sentido de apertar o garrote a quem trabalha ou já trabalhou. É mais uma sangria que, num doente com anemia grave, ensombra o prognóstico. Aos fautores, anima-os o mesmo «espírito científico» daqueles facultativos que «para adivinhações, campavam de ter bom tino», que conhecemos dos versos pícaros do Bocage.
Para encerramento deste leve discretear, talvez não seja desajustada esta citação do antigo presidente dos EUA, Thomas Jefferson (1743-1826): «Actos isolados de tirania podem atribuir-se a uma simples opinião acidental e momentânea; mas uma série de opressões, começadas num período distinto e prosseguidas sem alterações, não obstante as mudanças dos governos, provam à exaustão a existência de um plano sistemático e deliberado de nos reduzir à escravatura».
Já agora, uma curiosidade acerca deste homem notável. Quando o presidente John F. Kennedy recebeu 49 vencedores do prémio Nobel na sua residência oficial em 1962, declarou: «Acredito que esta é a maior e a mais extraordinária reunião de talento e conhecimento humano que já teve lugar na Casa Branca – com a possível excepção de quando Thomas Jefferson jantava aqui sozinho».
(A pedido do autor, este artigo não respeita, por razões de higiene mental, as normas do Acordo Ortográfico).
O Diário

Quatro anos de prisão por apelarem à desordem no Facebook

A notícia não vem da Síria nem do Irão: são os tribunais ingleses que acabam de condenar dois jovens a quatro anos de prisão por criarem um evento e uma página no Facebook sobre os motins na sua área de residência, mesmo apesar de ninguém ter comparecido no local à hora marcada.
Um dos condenados criou um evento no Facebook, mas só a polícia é que apareceu...
Um dos condenados criou um evento no Facebook, mas só a polícia é que apareceu... Foto Elfaen/Flickr
Quando Jordan Blackshaw criou um "evento" na rede social Facebook intitulado "Smash Down in Norwich Town" para a noite de 8 de Agosto, com ponto de encontro marcado para a porta do McDonalds, certamente não estaria à espera que o único convidado a aparecer fosse a polícia. E muito menos que essa iniciativa lhe valesse agora uma pena de quatro anos de prisão, o que está a indignar grupo de direitos civis e pode mesmo ter consequências políticas no interior da coligação do governo.
Outro dos condenados a quatro anos de prisão, pena considerada "desproporcionada" pelas associações de direitos civis, resolveu numa noite criar uma página na mesma rede social sobre os motins na sua cidade, apropriadamente intitulada "The Warrington Riots". Quando acordou na manhã seguinte arrependeu-se  de ter feito a página e apagou-a, mas nada pôde fazer às 400 mensagens distribuidas aos seus contactos no Facebook. Mas não houve nenhum motim por causa disso.
Estes dois jovens, de 20 e 22 anos, estão a ser o centro das atenções no debate sobre as penas aplicadas a quem esteve envolvido nos saques às lojas de várias cidades inglesas. "Se eles tivessem cometido o mesmo crime na véspera dos motins, não teriam recebido uma sentença deste tipo, disse Tom Brake, um porta-voz dos liberais-democratas, que partilham responsabilidades governativas com os conservadores, citado pelo Guardian.
"Parece haver uma ausência completa de proporcionalidade nalgumas das sentenças. Elas fazem pouco da proporcionalidade, que é um princípio-chave do sistema de justiça", acusou Andrew Neilson, da Howard League for Penal Reform. Já Sally Ireland, da ONG Justice, já antevê a vaga de recursos que serão entregues nos tribunais ingleses em muitos destes casos, "mas quando forem tidos em conta, já muitas penas terão sido cumpridas".
As organizações de direitos civis criticam as orientações dadas aos juízes para que ignorem a jurisprudência e apliquem penas mais pesadas aos envolvidos nos motins que abalaram as zonas comerciais de algumas cidades inglesas, na sequência do assassinato policial de um jovem e da forma como a polícia tratou o caso.
Outro caso de sentença polémica é o do estudante apanhado pelas cameras de vigilância a roubar uma garrafa de água num supermercado Lidl durante os motins, o que lhe valeu seis meses de prisão e inúmeras comparações com o destino dos banqueiros que causaram prejuízos milhões de vezes superiores aos cofres públicos britânicos.
Esquerda.net
Comentário: Tal é o ponto a que chegou a democracia liberal - completamente apodrecida e que em muitos casos nada fica a dever a ferozes ditaduras, como a Síria, o Irão ou a Arábia Saudita. De facto, a democracia está a transformar-se em ditadura liberal.