domingo, maio 18, 2014

Que se Lixe a Troika: "Saída limpa, a grande fraude"

O movimento Que se Lixe a Troika (QSLT) ilustra, num vídeo divulgado este domingo na sua página de facebook, o que significou para Portugal três anos de austeridade. Segundo João Camargo, um dos representantes deste movimento, o anúncio da saída limpa é “uma farsa” com caráter “eleitoralista”, classificando de “destruição histórica” o efeito do programa de ajustamento em Portugal.
“Dia 17 de maio, governo, FMI, BCE e Comissão Europeia aliaram-se aos poucos vencedores da crise para comemorar a 'Saída' da Troika. Explicamos aqui brevemente o que significou para Portugal três anos de austeridade. Para a semana já cá estão. Sabemos que não se vão. Nem eles, nem as suas políticas, nem os seus capatazes locais. A luta continua. Que Se Lixe a Troika!”, avança o movimento.
No vídeo, o QSLT lembra que, três anos depois ,“a dívida pública está maior do que nunca", passando de 97,4% para mais de 130% do PIB. Segundo a troika, a dívida não subiria acima dos 108,6% em 2013, tendo a mesma ultrapassado esse valor logo em 2011. O QSLT refere ainda as discrepâncias entre as estimativas sobre o défice avançadas pela troika e a realidade, assinalando que o défice de 2013 só foi cumprido depois de duas revisões. Por outro lado, para que o défice se fixasse nos 4,9%, o PIB sofreu uma redução de 2,58%.
O movimento questiona ainda o chamado “milagre económico”, assinalando que, na realidade, não se verificou um aumento exponencial e inesperado das exportações, mas sim um decréscimo significativo das importações. Na realidade, as “maiores exportações” são outras: a exportação de pessoas, com as políticas de austeridade a “expulsar” 350 mil pessoas do país, e a fuga de capitais.
O vídeo aponta ainda que o número de multimilionários em Portugal tem vindo a aumentar, e que 870 pessoas concentram nas suas mãos mais de 75 mil milhões de euros. Muitas destas fortunas foram alimentadas pelos investimentos nas Parcerias Público Privadas e pela privatização de setores estratégicos e rentáveis como a EDP, ANA, REN e CTT.
“O que não se podia cortar nos juros, tinha de se cortar no Estado Social”, frisa o QSLT, lembrando que a Educação sofreu cortes de 500 milhões e a Saúde de 1630 milhões, e que os cortes nos salários e nas pensões equivalem a 50% do valor total de todas as medidas de austeridade.
“Portugal é o país com os salários mais baixos da zona Euro”, assinalam.
Para além dos cortes, foi promovida a flexibilização, ainda maior, do mercado de trabalho, que se traduziu no aumento desmesurado do desemprego, com a perda de quase 400 mil postos de trabalho. 300 mil pessoas deixaram, entretanto, de ser contabilizadas como população ativa.
“Esta situação criou uma nova miséria histórica”, avança o QSLT, sublinhando que, em janeiro de 2013, 72% dos portugueses não conseguiam pagar as suas contas e que 2 milhões de portugueses vivem com menos de 409 euros por mês.
“E, talvez mais grave, o significado das palavras mudou”, lamenta o movimento, referindo-se ao facto de, perante as sucessivas mentiras do governo e dos credores internacionais, já nada ter qualquer validade ou credibilidade.
“Depois de três anos de mentira, só mesmo uma fraude épica serviria”, remata o QSLT, em alusão à tão propalada “saída limpa".
A 'saída limpa' é “uma farsa” e “uma ficção”
No final de uma conferência de imprensa, promovida este sábado, sobre a saída da troika, o representante do QSLT João Camargo afirmou, em declarações à Lusa, que esta partida é “uma farsa” e “uma ficção”.
“A troika estará cá a partir da próxima semana e, nas visitas regulares que continuará a fazer, agora de seis em seis meses e não de três em três, como até então”, frisou.
Segundo o ativista, estamos perante “uma manobra eleitoral”, já que, “na prática, não há qualquer saída da troika”.
Sobre o programa de ajustamento aplicado a Portugal, João Camargo afirmou que este se traduziu numa “destruição histórica e catastrófica que se cifra na maior migração de que há registo e na maior taxa de desemprego”.
“Esta saída, não só não é uma saída como, a ser, seria tudo menos uma limpa, já que se traduziu na maior transferência da riqueza do país, pelo menos da sua história recente, E tudo isto enquanto aumentaram as grandes fortunas”, vincou.
Esquerda.net

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