domingo, dezembro 21, 2014

40 anos da UDP - Joana Mortágua Versão para impressão
Joana Mortágua. 40 anos UDP. C GuedesNunca como hoje o marxismo revolucionário foi a palavra de ordem para reiventar o futuro.

intervenção de Joana Mortágua, Presidente da Direção Nacional da UDP

Camaradas

Obrigada a todos por estarem aqui, aos comunistas da UDP e aos bloquistas, companheiros do nosso caminho, camaradas do nosso partido, que quiseram comemorar connosco os 40 anos da UDP.
Quero agradecer também, e em especial, aos convidados do colóquio desta tarde, Xosé Manuel Beiras e Manolo Monereo, e também ao Alberto Matos. É um verdadeiro privilégio reunir tantas e tão boas cabeças para debater os rumos do marxismo, e só por isso este já seria um dia especial.
Acho mesmo que não poderíamos ter encontrado melhor forma de lançar a comemoração deste aniversário da UDP do que continuar a dar vida às ideias que nos formaram, que nos abrem os horizontes do futuro.
É essa a linha com que vamos cosendo as lutas de todos os dias e que nos trouxe até aqui, quase meio século depois, para comemorar os 40 anos da União Democrática Popular.
40 anos de um partido que colocou no nome a sua bandeira. Um partido que fixou a democracia popular como objetivo e por ela juntou milhares de lutadores e lutadoras. Um partido nascido de Abril que propôs à Assembleia Constituinte, pela primeira vez na História portuguesa, a Republica Popular como projeto de Constituição, e que dentro e fora da Assembleia se bateu na luta social por essa alternativa popular.
A UDP votou a Constituição de Abril de 1976. A democracia popular era um projeto de transição para a sociedade socialista. Independentemente das suas interpretações históricas, do leste europeu ao oriente, a democracia popular era já entendida como a transição para socialismo em que o poder dos trabalhadores estabelecia uma aliança com as classes médias do campo e da cidade.
A UDP foi capaz de apresentar este projeto que foi combatido e reprovado pelos outros partidos, mas isso não nos impediu de votar a Constituição de Abril. E mesmo quando houve duvidas, e convém não esquecer que só o CDS votou contra, Diogenes Arruda, o "velho" como sempre ouvi chamar-lhe, não nos deixou falhar.
Vale a pena recordar o que dissemos nesse dia histórico em que pela voz e pelo braço de Afonso Dias votamos e aprovamos a Constituição de 76:
"Ao concluirmos a nossa participação na Assembleia Constituinte estamos firmemente convictos de que defendemos as aspirações e os interesses fundamentais do povo português. A Assembleia Constituinte foi para a UDP uma frente de luta subordinada à verdadeira e decisiva luta que o povo trava diariamente na rua, no local de trabalho e habitação contra os seus opressores e exploradores, pela sociedade justa a que tem direito. Fomos porta-vozes das reivindicações populares, procurámos sempre aproveitar este local para as divulgar e apoiar. Denunciámos as manobras fascistas e de conciliação com o fascismo que aqui tiveram lugar.
O nosso projecto de Constituição foi rejeitado. Mas nem por isso deixámos de lutar para que a Constituição aqui aprovada fosse o mais possível favorável aos trabalhadores. Votamos sempre todas as propostas que pudessem servir a luta do povo, independentemente de quem as apresentasse. Propusemos alterações no sentido de melhorar o conteúdo de muitos artigos e opusémo-nos a todas as propostas ou alterações antipopulares."
Esses anos da brasa de 75 e 76 marcaram a UDP futura, a UDP que partiu das conquistas de Abril para ir mais longe, foi aí que enterramos raízes e é nessa terra que continuamos a por o pé. E por isso a UDP regressa sempre ao seu projeto.
Há 40 anos estava lá tudo, na cabeça e nos corações daqueles jovens marxistas estavam estas ideias que nos juntam ainda hoje. O mundo mudou, o socialismo como o entediamos já não é o mesmo, o capitalismo é mais bárbaro, as guerras são mais destruidoras, a ameaça ecológica é a uma realidade.
A UDP foi capaz de se redefinir num campo de forças mais vasto como é o Bloco de Esquerda e, no entanto, a dialética inicial é aquela que está presente sempre, a mesma tensão entre a defesa das conquistas democráticas e a transição para o socialismo, o campo mais avançado da luta. A mesma tensão presente na Constituição.
Russia, China, Albania, Vietnam, Cuba são referencias do passado. Nunca como hoje o marxismo revolucionário foi a palavra de ordem para reiventar o futuro.
O imperialismo tem novas características e é mais agressivo, o capitalismo procura caminhos da reação política e do autoritarismo.
A UDP que em 75 não se enganou sobre o imperialismo quando dizia que não podíamos defender um imperialismo contra outro, e por isso gritávamos "nem NATO, nem Pacto de Varsóvia", renova esse grito confiando nos povos e só nos povos para enfrentar e derrotar o imperialismo.
A mesma fibra que temos hoje é a que tínhamos há 40 anos: a fibra dos revolucionários, dos que arriscam, dos que aprendem, dos que nunca esquecem onde têm as suas raízes, as mais profundas, as do pensamento.
Como dissemos em 1976 "é a luta do povo e só ela que é decisiva". A memória das lutas operárias e populares é consciência presente. A compreensão da centralidade do trabalho e da luta de classes é ferramenta presente. A ação no Bloco de Esquerda e na luta política atual é experiência renovada, a reivenção é própria dos marxistas, é própria de quem constrói o futuro.
Há 40 anos que escolhemos a via da democracia popular, há 40 anos que lutamos pelo socialismo. A UDP tem a fibra dos construtores de utopias.
é a vós, construtores de utopias, que dedico esta comemoração.

Joana Mortágua, Presidente da Direção Nacional da UDP

imagem: Joana Mortágua. UDP 40 anos de luta. foto de Carlos Guedes

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