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quinta-feira, setembro 16, 2021
quarta-feira, setembro 08, 2021
terça-feira, setembro 07, 2021
domingo, setembro 05, 2021
“Os investimentos e as condições de vida das pessoas têm de ser discutidos a par”
Esta sexta-feira, Catarina Martins foi a convidada do Jornal 2. Questionada sobre se compreende a determinação do governo no sentido de retirar as questões laborais da esfera da negociação orçamental, a coordenadora do Bloco de Esquerda foi perentória: “Julgo que só pode ser um equívoco da senhora ministra do Trabalho e do ministro da Economia”.
Ana Mendes Godinho e Pedro Siza Vieira asseguraram (link is external), em declarações aos jornalistas após uma reunião com sindicatos e patrões, que as propostas da Agenda do Trabalho Digno e da Valorização dos Jovens no Mercado de Trabalho “não têm nada a ver com as negociações do Orçamento do Estado” para 2022.
“Como todos nós sabemos e compreendemos, as questões do Orçamento nunca são questões que possam ser separáveis do concreto das condições de trabalho no país. E não são em nenhuma esfera. Não são sobre o caminho da economia e como é que vamos recuperar, não são, por exemplo, sobre como é que serviços fundamentais, como o Serviço Nacional de Saúde, vão funcionar. Portanto, a afirmação parece-me estranha, extemporânea, e não percebo o alcance que tem”, avançou Catarina Martins.
Para a dirigente bloquista, uma coisa é certa: O governo não pode dizer que a política de recuperação “assenta muito nos fundos do Programa de Recuperação e Resiliência e em investimentos que vai fazer e, ao mesmo tempo, não querer falar das condições de trabalho, que são aquelas que são fundamentais para garantir que os investimentos que são feitos têm alguma coisa a ver com os salários e as condições concretas das vidas das pessoas”.
“Como é óbvio, se estamos a discutir investimentos temos de discutir trabalho”, enfatizou.
Dando o exemplo dos fundos europeus, Catarina Martins afirmou que “não podemos dizer que vamos investir em determinadas áreas sensíveis para o país e, ao mesmo tempo, dizer que gerações mais jovens, e algumas gerações já não tão jovens, têm como solução o outsourcing”.
“Os investimentos e as condições de vida das pessoas têm de ser discutidas a par”, enfatizou, referindo ainda que existem “áreas fundamentais do próprio funcionamento do Estado em que, neste momento, as condições dos trabalhadores são fundamentais para sabermos o que vai acontecer”.
No Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, “onde é preciso um programa de recuperação dos cuidados não-covid”, a coordenadora do Bloco considera que o facto de os enfermeiros e enfermeiras que entraram terem contratos precários “é um obstáculo ao SNS e à prestação de cuidados”.
“Toda a gente compreende que não nos é possível discutir o que é que se faz com o Serviço Nacional de Saúde no Orçamento do Estado sem discutir trabalho. O próprio governo sabe isto”, realçou Catarina Martins.
Sobre as declarações do primeiro-ministro, que anunciou que a sua maneira de acabar com a precariedade das gerações mais novas é garantir uma vinculação com uma empresa de trabalho temporário, a dirigente bloquista apontou que “não podemos dizer às gerações mais novas que a perspetiva de futuro que elas têm no nosso país é trabalharem para intermediários, ou seja, trabalho temporário, outsourcing, externalizações do mais variado tipo que lhes ficam com uma parte do salário, porque é para isso que servem”.
Ao contrário do caminho que o governo aponta, o Bloco quer garantir reformas a quem trabalhou toda uma vida, salários dignos a quem faz as contas à vida e emprego qualificado a uma geração qualificada.
In https://www.esquerda.net/
sábado, setembro 04, 2021
sexta-feira, setembro 03, 2021
Quem está enterrado no cemitério dos impérios?
O Presidente dos EUA Joe Biden invocou a alcunha histórica do Afeganistão como "cemitério de impérios" para justificar a sua decisão de acelerar a retirada das tropas americanas deste pobre país. Afirmava assim que as tentativas de assegurar o controlo sobre o Afeganistão estão condenadas ao fracasso, ao mesmo tempo que atribuiu a culpa ao governo afegão que tinha sido estabelecido pela própria ocupação norte-americana. As trágicas imagens do colapso do governo afegão juntamente com o seu estado e o pânico que se instalou numa grande franja da sociedade, especialmente nas áreas urbanas e sobretudo na capital Cabul, levaram a reações divididas entre dois pólos opostos: enquanto um pólo culpou Biden por ter avaliado mal a situação e por não ter feito o que deveria ter sido feito para garantir que o governo pró-ocidental afegão prosseguisse, o outro pólo regozijou-se e celebrou a dimensão da derrota sofrida pelos planos dos EUA, comparando o que se passou em Cabul nestes últimos dias com o que aconteceu em Saigão, capital do Vietname do Sul, quando foi tomada pelas forças comunistas em 1975, dois anos após a retirada das tropas americanas. É difícil decidir qual destas duas reações é mais míope; ambas ignoram factos básicos.
Consideremos primeiro as censuras feitas a Biden pelo seu juízo errado (por outras palavras, o juízo errado dos seus serviços de inteligência) sobre a capacidade do governo afegão para resistir à ofensiva dos talibãs. É verdadeiramente extraordinário que alguém pudesse acreditar que o fracasso de vinte anos de ocupação na construção das fundações de um Estado com credibilidade e apoio popular suficientes para se erguer sem ser protegido por tropas estrangeiras, que esse fracasso poderia ter sido compensado prolongando a presença das tropas da NATO por alguns meses! A afirmação é tanto mais extraordinária quanto nenhum dos críticos é capaz de explicar o que a ocupação dos EUA poderia ter feito durante mais alguns meses do que não tinha feito durante duas décadas.
Na realidade, o destino do governo afegão é apenas o mais recente de uma longa lista de casos de entidades fantoche criadas por uma ocupação estrangeira que se desmoronam quando essa ocupação termina. Ashraf Ghani foi precedido neste mesmo caminho por Mohammad Najibullah, que tinha sido nomeado presidente do Afeganistão pelos governantes da URSS em substituição de Babrak Karmal, a quem tinham instalado no poder quando as suas tropas invadiram o país, da mesma forma que Ghani foi nomeado por Washington em substituição de Hamid Karzai, a quem as forças norte-americanas instalaram no poder quando invadiram o país. Isto remete-nos para o facto óbvio de que a ocupação norte-americana do Afeganistão, na sequência dos ataques de 11 de Setembro de 2001, não foi uma "libertação" daquele país, tal como não o foi a ocupação do Iraque menos de dois anos depois. Foi uma captura do país por razões relacionadas com a estratégia imperial americana na Ásia Central e em relação à Rússia e à China, revestida com o pretexto de libertar os afegãos, as mulheres em particular, do jugo obscurantista dos talibãs, aquele mesmo jugo que Washington e os seus aliados regionais tinham desempenhado um papel fundamental para ajudar a apoderar-se do país.
Aqueles que saúdam os talibãs a partir de um ponto de vista que se reclama de esquerda ou "anti-imperialista" devem ser lembrados de que apenas quatro governos reconheceram diplomaticamente o regime talibã depois de este ter assumido o controlo do Afeganistão em 1996, e esses não eram Cuba, Vietname, China ou mesmo Irão, mas sim o Paquistão, Turquemenistão, o reino Saudita e os Emirados Árabes Unidos! Acrescente-se a isto que é bem conhecido que por detrás dos talibãs estavam, e continuam a estar, os serviços secretos militares do Paquistão, o que aumenta a ansiedade dos países vizinhos, a começar pelo Irão.
A verdade é que Washington não teve muitas ilusões sobre o destino do Afeganistão, mas sabia pela derrota da URSS naquele país e pela sua própria experiência vietnamita que controlar o Afeganistão é impossível por várias razões, incluindo a geografia do país e a força dos antigos laços tribais e étnicos que ainda ali prevalecem. É por isso que a estratégia de Washington no Afeganistão foi desde o início qualitativamente diferente da sua estratégia no Iraque: enquanto que o seu objetivo era exercer o controlo total sobre o Iraque e destacar para lá forças adequadas a esse fim (na opinião do Secretário da Defesa Donald Rumsfeld, apesar das advertências das altas patentes que a sua estimativa do número adequado de tropas era altamente otimista), Washington apenas destacou um número limitado de tropas no Afeganistão, ao mesmo tempo que contava com a Aliança do Norte anti-talibã para assumir o controlo do país e exercer pressão sobre os seus aliados da NATO para que enviassem tropas, de modo a que os EUA não precisassem de destacar mais.
Os objetivos estratégicos da ocupação americana do Afeganistão, ou mais precisamente de partes do território afegão, consistiam antes de mais na construção de bases aéreas norte-americanas neste país de localização estratégica altamente privilegiada e na extensão da influência dos EUA às repúblicas da Ásia Central que anteriormente faziam parte da URSS. Com o tempo, Washington chegou à conclusão de que o custo da sua presença contínua no Afeganistão já não era proporcional a estes benefícios estratégicos que tinham entretanto diminuído, e sobretudo que a ofensiva dos talibãs e a sua capacidade de controlar áreas cada vez mais vastas do país indicavam que o Afeganistão estava a caminho de confrontar Washington com um dilema semelhante ao do Vietname, entre a escalada interminável e a retirada.
Dito isto, a situação mais próxima do que está a ocorrer no Afeganistão não é, de facto, o Vietname: as forças sul-vietnamitas eram muito mais fortes do que as forças do governo afegão, e conseguiram impor-se durante dois anos contra forças comunistas que os próprios EUA tinham sido incapazes de derrotar e que gozavam de um apoio internacional e regional muito maior do que os talibãs alguma vez tiveram. A situação mais próxima do que aconteceu no Afeganistão é a que aconteceu às tropas do exército iraquiano que Washington tinha construído e que desabou vergonhosamente face à ofensiva lançada pelo chamado Estado Islâmico no Verão de 2014, da mesma forma que as forças do governo de Cabul caíram em frente à ofensiva dos talibãs. Escusado será dizer que a semelhança entre o Estado Islâmico e os talibãs só é igualada pela enorme diferença entre os dois grupos jihadistas, por um lado, e as forças comunistas vietnamitas, por outro.
In https://www.esquerda.net/
quinta-feira, setembro 02, 2021
Mulheres afegãs apelam a ação global a 25 de setembro
A Revolutionary Association of the Women of Afghanistan - RAWA (link is external), que se apresenta como a mais antiga organização feminista anti-fundamentalista do Afeganistão, que luta pelos direitos das mulheres, democracia, liberdade e justiça social desde 1977, lança um apelo a todos os que “amam a justiça, progressistas e afins em todo o mundo” no sentido de participarem numa ação a realizar a 25 de setembro, sábado.
A mensagem para esta ação é: “As mulheres do mundo e os nossos aliados estão com as mulheres - e todos os grupos vulneráveis - do Afeganistão contra o imperialismo, o militarismo, o fundamentalismo e o fascismo”.
“Nenhum/a de nós é livre até que as mulheres do Afeganistão sejam livres”, frisa a RAWA.
A organização exorta os governos, o Conselho de Segurança da ONU e as entidades regionais a recusarem reconhecer um governo talibã, “que não tem legitimidade além da força brutal que comanda e que aterroriza o povo do Afeganistão, meninas e mulheres em particular”, e a acabarem com todas as formas de apoio aos talibãs, “incluindo financiamento, fornecimento de armas e conhecimento técnico”.
A RAWA reivindica o fim do imperialismo, militarismo, fascismo e fundamentalismo religioso e apela a que as entidades supra-mencionadas parem e impeçam “a manipulação dos direitos das mulheres para fins comerciais e outros interesses”.
Apoiar a resistência das mulheres contra os talibãs no Afeganistão; respeitar e apoiar as mulheres e o povo afegãos no exercício dos seus direitos democráticos e humanos, incluindo o seu direito à autodeterminação; garantir a evacuação de mulheres e homens, defensores dos direitos humanos, jornalistas, policias, funcionários públicos, atletas e LGBTI + que desejem deixar o país e garantir a sua passagem segura também fazem parte das suas prioridades.
A RAWA quer ainda ver criado um corpo independente de observadores, composto por uma maioria de mulheres, com histórico de promoção dos direitos humanos das mulheres para acompanhar a situação no Afeganistão.
Em causa está também o acolhimento de refugiados, com a exigência de que os EUA e os seus aliados assumam a responsabilidade de financiar o custo do reassentamento dos deslocados do Afeganistão; a abertura imediata de corredores humanitários para apoiar o povo afegão; e o fim das políticas de comércio de armas e o complexo industrial militar, que se beneficia das guerras em curso no Afeganistão e em outras partes do mundo.
In esquerda.net
sábado, agosto 28, 2021
sexta-feira, agosto 13, 2021
Fórum Socialismo regressa a 28 e 29 de agosto, em Braga e Almada
O Fórum Socialismo é um espaço aberto de discussão e de ideias, que junta ativistas, militantes, investigadores e representantes de lutas diversas e causas centrais para o país e para o mundo. Repartidos entre Braga (dia 28) e Almada (dia 29), são dois dias de plenários e sessões sobre economia, história, serviços públicos, cultura e política. O Fórum Socialismo é organizado de forma a respeitar todas as regras de segurança sanitária.
As aberturas do evento estarão a cargo das deputadas Alexandra Vieira (Braga) e Joana Mortágua (Almada), apresentando as propostas e programas para cidades que se mobilizem pelo direito à habitação, a justiça climática e uma urgente resposta à crise.
Em Braga, na Escola Secundária D. Maria II, os trabalhos contarão com a participação, entre outros, da eurodeputada Marisa Matias, numa sessão sobre a atual política europeia, do médico psiquiatra e professor da Universidade do Minho, Pedro Morgado, que abordará os modelos públicos para o tratamento da saúde mental, e do ex-diretor da Biblioteca Pública de Braga, Henrique Barreto Nunes, numa sessão dedicada à vida e obra do combatente antifascista Víctor de Sá. O dia encerra com uma sessão plenária intitulada “como nos preparamos para as novas pandemias”, que contará com a participação do deputado Moisés Ferreira e do médico epidemiologista e diretor do Instituto de Saúde Pública do Porto, Henrique Barros.
Os trabalhos prosseguem no domingo, em Almada, na Escola Secundária de Cacilhas-
Neste último dia, a coordenadora nacional do Bloco, Catarina Martins, fará o encerramento do Fórum Socialismo 2021, a partir das 17h30.
O Fórum Socialismo 2021 conta com intervenções de inúmeros outros dirigentes bloquistas, investigadores e ativistas, versando diversos temas, entre os quais: José Soeiro (como travar os despedimentos?), Mariana Carneiro (o que está a acontecer em Cabo Delgado?), Mafalda Araújo (trabalho reprodutivo), Isabel Pires e Ricardo Moreira (o futuro do clima decide-se nas ruas das cidades), Manuel Grilo e Deolinda Martin (desconstruir a municipalização das escolas), Maria José Araújo e Hugo Monteiro (uma educação emancipatória), Carolina Gomes e Beatriz Realinho (políticas para o interior), Nelson Peralta (lítio, o que fazer?), José Gusmão (plano de recuperação, para quê e para quem?), Fabíola Cardoso (lutas LGBTI+), José Maria Cardoso e Filipa Gonçalves (as autarquias na resposta à crise), Ricardo Vicente (política agrícolas e soberania alimentar), Luís Fazenda (mundo pós-trumpismo), Maria Manuel Rola e Vasco Barata (direito à habitação), Francisco Louçã (é tempo de parar Zuckerberg), Luís Leiria (América Latina).
Consulta aqui o programa do Fórum Socialismo e inscreve-te aqui (link is external).
Anexo | Tamanho |
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programa_forum_socialismo_v5_web.pdf | 309.99 KB |
sábado, novembro 09, 2019
Chile: 13ª jornada de levantamento popular: Piñera range
Do mesmo modo, o peso desvaloriza-se verticalmente em relação ao dólar e as acções das empresas cotadas nos casinos bolsistas despencam diariamente. O contestatário retorno do Chile à América Latina, em todos os sentidos, mas sobretudo financeiro e económico, adiantam o desenvolvimento da crise mundial em curso, cujo pico era prognosticado para o próximo ano. A imagem do país e sua atractividade para o investimento capitalista desapareceu em menos de duas semanas. A paz social exigida pelo grande empresariado para sua reprodução e lucro começa a extinguir-se. Piñera e sua administração torna-se um escolho para os grandes grupos económicos. Mas os ricos não têm amigos e sim interesses. Portanto, se Piñera, ainda que lhes pertencendo, põe em risco seu lucros, mudam-no.
As causas da crise social e a exposição nítida da luta de classes situaram-se genericamente na desigualdade social e na ausência de direitos sociais e humanos garantidos. A respeito, o académico marxista argentino Rolando Astarita, num artigo recente assinala que "o crescimento capitalista no Chile gera riqueza e, em relação a essa riqueza, a pobreza aumentou. É que a pobreza se define em relação à riqueza geral da sociedade. E, em particular, em relação à riqueza concentrada na classe dominante".
No mesmo texto Astarista cita Marx quando o filósofo fala de períodos nos quais aumenta o capital produtivo: "Uma casa pode ser grande ou pequena e, enquanto as casas circundantes forem igualmente pequenas, a mesma satisfaz todos os requisitos sociais que se coloca a uma habitação. Mas se se ergue um palácio junto à casinha, esta se reduz até converter-se numa choça".
A explicação aplica-se a alguns segmentos médios da sociedade chilena que, certamente, não pagam o salário mínimo, nem a média nacional dos salários que é apenas um pouco superior ao mínimo. A respeito, devido ao liberalismo ortodoxo imposto desde a segunda parte do anos 70 do século XX, no Chile as mercadorias em forma de bens e serviços saturam todas as relações sociais existentes. Tudo tem valor de troca ou deve ser comprado ou vendido. Em consequência, é o próprio povo no seu auto-movimento quem deve conquistar esses direitos sociais, sem que tenham de ser custeados pelos salários ou rendimentos (a relação entre trabalho sob a relação de dependência e o trabalho informal é praticamente meio a meio), os quais já estão deprimidos significativamente pela dívida interna.
Sempre no campo das causas do levantamento popular e a hegemonia da juventude na mesma, ao menos convém deixar explícito que o regime capitalista específico do país, ao sustentar-se, tanto por feito como premeditadamente, sobre uma alienação e disciplinamento social altamente refinado e repressivo, produz a sua própria negação. A juventude observa-se a si própria carente de futuro, distópica, muito longe da épica que alimentou a geração de jovens que lutaram contra a ditadura. Desta vez trata-se de menores de 30 anos que chegaram à consciência em meio de uma crise civilizatória e de sentido de horizonte. Amanheceram existencialmente sequestrados pelo aquecimento global; pela guerra armamentista atómica e pela mais feroz incerteza; pelo seu tratamento como segmento de mercado; pela sua condição de super-explorado.
Por outro lado, para além de considerar que as assembleias constituintes são processos que se implementam a seguir à resolução do problema do poder (como ilustra a história, tanto na América Latina como no mundo), qualquer transformação estrutural para conquistar parcialmente o bem-estar das grandes maiorias tem como condição a queda do regime de Piñera.
Enquanto isso, a humanidade desarmada dos povo do Chile está convocada a procurar para si própria sua mais rápida auto-organização e auto-defesa racional básica.
É insuportável o cheiro do sangue de tanto pobre assassinado, torturado, violado, desaparecido, baleado, zarolho e mal ferido pelas munições do monopólio das armas do Estado.
A resistência continua e o final é aberto.
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