sábado, maio 11, 2013

“É falso que o Estado português seja um Estado gordo”, diz Semedo

O coordenador do Bloco de Esquerda considera que o Governo deve “ler com atenção” algumas conclusões do relatório da OCDE e salienta “a brutal carga fiscal” e a falsidade “que o Estado português seja um Estado gordo” e “perdulário”. O coordenador do Bloco realça “que o descontentamento popular e o protesto social vão acabar por condenar este Governo à sua demissão”.
O coordenador do Bloco realça “que o descontentamento popular e o protesto social vão acabar por condenar este Governo à sua demissão” - Foto de Paulete Matos
João Semedo esteve na manhã deste sábado em contacto com a população no mercado de Benfica em Lisboa, divulgando as propostas do Plano de Emergência Social apresentado pelo Bloco de Esquerda, e prestou declarações à agência Lusa.
O coordenador do Bloco comentou: “Imagine-se como é que se sentem estas pessoas ao vir ao mercado ao sábado para fazer as compras para toda a semana. São vidas difíceis. Isto é o país real”. E salientou: “É natural que as pessoas exprimam a sua vontade em correr com o Governo. Isto já não se aguenta, é uma frase que se ouve muitas vezes”.
Questionado sobre as conclusões do relatório da OCDE divulgadas neste sábado pelo jornal “Expresso”, Semedo afirmou: “O relatório diz algumas coisas importantes que o Governo devia ler com atenção. Desde logo, a brutal carga fiscal que tem duas consequências, ambas muito negativas: a primeira é uma depressão no poder de compra e uma redução do consumo interno do mercado. Estas contribuem para o colapso da economia, que é a segunda consequência”.
“Nós estamos em recessão, e muita dessa recessão resulta de não haver poder de compra, pelo que não há consumo, logo, as empresas não vendem o que produzem e vão à falência. Isto é um ciclo vicioso. Uma pescadinha de rabo na boca”, frisou João Semedo.
O coordenador do Bloco afirmou também: “Outro aspeto importante do relatório é que chama a atenção para um facto que é inegável e sobre o qual tem havido por parte do Governo muita mentira e muita mistificação. É falso que o Estado português seja um Estado gordo e um Estado excessivo, um Estado do desperdício e perdulário”.
João Semedo lembrou que “o peso dos salários dos funcionários públicos em termos da percentagem do PIB [Produto Interno Bruto] é inferior à média dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico], da União Europeia e da Zona Euro”, sublinhando que “o que nós gastamos em Saúde, no SNS [Serviço Nacional de Saúde], o que gastamos na escola pública, e no sistema de reformas e pensões, os três pilares do Estado Social, é inferior à média dos países da OCDE”.
Frisando que “não há nenhuma razão para dizer que a dificuldade do equilíbrio das contas públicas e da consolidação orçamental está num Estado que gasta demasiado para as nossas capacidades”, o deputado bloquista disse que atualmente as dificuldades do país “incidem nos juros e na dívida que são incompatíveis com a capacidade da economia portuguesa”, pelo que “o desequilíbrio das contas públicas decorre do peso excessivo dos juros da dívida que o Governo teima em pagar, fazendo aquilo que os credores lhe impõem”.
Para o coordenador do Bloco “ou se corta nos juros, ou se corta no valor da dívida, podendo libertar recursos financeiros para apoiar a economia, para sustentar o Estado social e para acudir à situação de urgência social em que milhares e milhares de famílias portuguesas estão mergulhadas, ou então não há alternativa ao que o Governo propõe e que vai acabar inevitavelmente num segundo resgate”.
João Semedo disse ainda que o Bloco está “muito confiante e muito otimista que o descontentamento popular e o protesto social que é hoje tão generalizado vão acabar por condenar este Governo à sua demissão”.
“Se olharmos para as vozes que dentro do próprio PSD contestam a política de austeridade e se Paulo Portas fizer no Governo aquilo que diz cá fora, vemos que esta é uma coligação condenada ao falhanço e à demissão do Governo”, salientou Semedo, realçando que “não basta o apoio do Presidente da República para o Governo continuar a governar”.
“Para mudar de política, ter outra atitude perante a dívida, e abrir um caminho para que o país possa sair da crise, é necessário mudar de política e isso implica mudar de Governo. O povo deve ser ouvido, devem realizar-se eleições, como é próprio da democracia e rasgar um caminho novo para o país e é isso que nós propomos”, concluiu o coordenador do Bloco.

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