quinta-feira, maio 31, 2012

Utentes da Via do Infante dizem que relatório do TC prova benefício aos concessionários
 
 
 
A comissão de utentes da Via do Infante (A22) considerou hoje que o relatório do Tribunal de Contas (TC) sobre a introdução de portagens nas antigas SCUT «prova o roubo» e o benefício aos concessionários.A auditoria divulgada pelo TC diz que a renegociação dos contratos para a introdução de portagens nas antigas Scut garantiu às concessionárias um «regime de remuneração mais vantajoso».
Para o porta-voz da Comissão de Utentes da Via do Infante (Algarve), a posição do TC «só confirma o que há muito se sabia: os contratos são ruinosos para o Estado, um autêntico desastre económico com benefícios para os concessionários das rodovias».
João Vasconcelos aguarda que o Estado tenha agora «o bom senso de emendar a roubalheira», pondo fim aos contratos, acabando com as portagens nas auto-estradas sem custos para os utilizadores.
O relatório, que analisa os contratos de seis subconcessões rodoviárias (Baixo Alentejo, Litoral Oeste, Algarve Litoral, Baixo Alentejo, Douro Interior e Auto Estrada Transmontana), mostra que houve contratos que fugiram ao visto prévio do TC, que «veio a traduzir-se num agravamento de encargos no valor de 705 milhões de euros».
A instituição acrescenta ainda que o Instituto Nacional de Infra-estruturas Rodoviárias (InIR), que regula o sector, reportou ao TC informação com «omissões» por orientação do anterior Governo.
Lusa/SOL

Auditoria

Contratos paralelos nas estradas agravam despesa pública em 705 milhões

Introdução de portagens não beneficiou Estado nem utentes Introdução de portagens não beneficiou Estado nem utentes (Foto: PÚBLICO)
Os contratos paralelos assinados entre a Estradas de Portugal, as subconcessionárias e os bancos financiadores em seis parcerias público-privadas (PPP), que o Tribunal de Contas diz não lhe terem sido apresentados nos pedidos de visto prévio, representam um agravamento da despesa pública de 705 milhões de euros, revela a auditoria agora publicada pela entidade liderada por Guilherme d"Oliveira Martins.

O relatório em que o Tribunal de Contas analisa o modelo de gestão (disponível aqui, em formato PDF), financiamento e regulação do sector rodoviário já há vários meses que tem sido motivo de um debate político bastante aceso, à medida que em vários órgãos de comunicação social foram sendo revelados excertos das suas versões preliminares. Agora, foi oficialmente divulgado.

No documento, o Tribunal de Contas começa por explicar que, quando, em 2010, a Estradas de Portugal renegociou as seis subconcessões - Baixo Tejo, Litoral Oeste, Algarve Litoral, Baixo Alentejo, Douro Interior e AE Transmontana - começou por apresentar ao Tribunal de Contas pedidos de vistos prévios para os novos contratos que conduziam, no total, a um aumento de 705 milhões de euros dos encargos financeiros a assumir pelas entidades públicas. O Tribunal de Contas acabou por recusar o visto prévio a cinco destas seis concessões, sendo uma das razões apresentadas precisamente o que o Tribunal de Contas defendia ser a deterioração das condições financeiras para o Estado.

O Governo apresentou então novos contratos, que aparentemente resolviam essa situação, tendo conseguido obter os desejados vistos prévios. No entanto, a realizar a auditoria que agora apresenta oficialmente, o Tribunal de Contas diz ter descoberto contratos que não lhe foram apresentados no momento do pedido de visto prévio e em que estavam previstas "compensações contingentes" para os subconcessionários. O relatório de auditoria diz que "o valor actualizado dos encargos previstos com os contratos reformados, acrescidos dos encargos relativos às "compensações contingentes", equivale ao valor actualizado dos encargos decorrentes dos contratos a que o Tribunal de Contas recusou o visto, pelo que o esforço financeiro líquido da EP, SA se manteria o mesmo que o previsto nas versões iniciais dos contratos. Isto é, as "compensações contingentes" corresponderão a 705 milhões de euros.

A Estradas de Portugal defende que foi dado conta ao Tribunal de Contas, logo no pedido de visto prévio aos contratos reformados, da existência destas compensações, alegação que o Tribunal de Contas nega. Pelo contrário, conclui pela "falta de fundamentação legal das referidas "compensações contingentes"", afirmando que, "caso os respectivos pagamentos venham a ocorrer, podem os mesmos constituir infracções financeiras puníveis, a que o Tribunal de Contas estará atento".

A divulgação pelos meios de comunicação social de excertos das versões preliminares deste relatório do Tribunal de Contas levaram a várias reacções políticas. Do lado do PSD, foi apresentado um requerimento no Parlamento para saber se a PGR abriu ou tenciona abrir algum inquérito sobre alegadas irregularidades praticadas pelo anterior Governo. Ontem, o Jornal de Negócios noticiava que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) tem em curso um inquérito sobre esta matéria.

Como resposta, o PS divulgou uma acta em que foi aprovado o relatório de auditoria agora publicado em que um dos nove juízes conselheiros do Tribunal de Contas que assinam o documento apresenta críticas à forma como foi conduzida a auditoria.

Análise negativa ao novo modelo rodoviário

No exercício do contraditório, o ex-secretário de Estado dos Transportes Paulo Campos defendeu que, com as modificações introduzidas pelo novo modelo para o sector rodoviário, os encargos do Estado com as PPP diminuíram 596 milhões de euros para o período entre 2005 e 2011. No entanto, o Tribunal de Contas aponta para várias desvantagens:

- Aumento do nível de endividamento da Estradas de Portugal (EP);

- Aumento do prémio de risco dos contratos de financiamento, com repercussões negativas ao nível dos encargos para o Estado.
Público

quarta-feira, maio 30, 2012

A alternativa à tirania do governo da troika é um governo de esquerda Versão para impressão
feminismo_cravo
As crises do capitalismo geram sempre mudanças, na sociedade, na economia, na cultura e na política, umas mais profundas do que outras. Sempre foi assim ao longo da sua História. Algumas dessas crises desembocaram em revoluções, outras em contra-revoluções. Umas favoráveis aos povos, outras contra os povos, dependendo das circunstâncias e das relações de força de cada momento.
A primeira grande crise do capitalismo nos anos 30 do século passado, também conhecida como a Grande Depressão, provocou terríveis e trágicas consequências para a Humanidade, cujo expoente máximo foi uma destrutiva e criminosa guerra mundial com mais de 50 milhões de mortos, milhões de feridos e um sofrimento inaudito para os povos, incluindo os povos europeus, com destruição de cidades, vilas e infra-estruturas. De permeio, a crise consolidou o fascismo italiano, provocou a ascensão do nazismo hitleriano e do expansionismo japonês, reforçou o “Estado Novo” salazarista e conduziu à guerra civil espanhola e à vitória nacionalista de Franco. Nos anos 30 quase toda a Europa mergulhou em ditaduras de extrema-direita, também por receio do comunismo soviético. Além dos países referidos, temos os regimes ditatoriais de Pilsudski na Polónia, Voldemaras na Lituânia, Dolfuss na Áustria, o rei Boris III na Bulgária, Ulmanis na Letónia, Stojadinovic na Jugoslávia, Metaxas na Grécia, o rei Carol na Roménia.
Além das ditaduras fascistas e nazi, a crise  fomentou o nacionalismo e o racismo extremistas e, também, a pobreza extrema e mais de 30 milhões de desempregados só nos E. U. A. e na Europa. Também originou o New Deal e o Keynesianismo, as Frentes Populares na Espanha e em França e diversos confrontos entre a esquerda e a direita na Europa, na América e um pouco por todo o mundo. De toda esta confrontação, de um modo geral a esquerda perdeu e a direita e extrema-direita saíram vencedoras. Mas podia ter sido outro o rumo da História, precisamente o seu contrário.
Agora o mundo e, particularmente a Europa, estão a viver a segunda maior crise do capitalismo. Poderá não acontecer uma nova guerra mundial que seria terrivelmente devastadora para o planeta. A globalização neo-liberal e a financeirização da economia já provocaram dezenas de milhões de desempregados, a pobreza avança por todo o lado como uma bola de neve, a xenofobia, o racismo e os partidos de extrema-direita crescem na Europa a olhos vistos.
O austeritarismo é agora a regra na Europa. O autoritarismo e a austeridade são o alfa e o ómega dos governos europeus, muitos deles submetidos aos governos da troika, como Portugal, Grécia e Irlanda. Mas esta crise também está a provocar uma outra novidade – uma alternativa, de esquerda, à tirania da troika e dos seus governos. Uma possibilidade, bem real, de formação de governos de esquerda por toda a Europa. Governos de esquerda fruto das lutas de resistência dos povos, das lutas dos povos contra o FMI, o BCE e a troika. O povo grego e a Syriza são exemplos bem concretos e reais dessas lutas de resistência. O que também terá de suceder em Portugal com o Bloco de Esquerda, desde que este se mantenha fiel à sua matriz. Desde que seja capaz de construir uma ampla maioria social de esquerda a caminho do socialismo do século XXI.
O problema candente que se coloca nos dias de hoje é o refundar da Europa e derrotar o poder financeiro, incluindo em Portugal. “Esse poder – conforme assinalou Alexis Tsipras há uns dias atrás – é o grande inimigo dos povos, não governa mas decide sobre todas as coisas”. Mais disse ainda que “estamos vivendo uma guerra entre as forças do trabalho e as forças invisíveis da finança e dos bancos”, e que “a cadeia de resignação e de servidão que unia os povos europeus está a romper-se”.
A Europa, incluindo Portugal, está a viver uma nova encruzilhada. Tal como disse o compositor e político grego Mikis Theodorakis: “ou os povos se levantam, ou os bancos trarão de volta o fascismo”. Também Ignacio Ramonet avisa que “se não sairmos do atoleiro dos mercados, vamos ter uma Europa de extrema-direita”.
Em Portugal e por toda a Europa os povos têm de se erguer, têm de correr com as troikas, os banqueiros, os agiotas e os governos seus lacaios, incluindo o social-liberalismo lacaio travestido de social-democracia. E a solução, a alternativa, só com governos de esquerda – também no nosso país. Um governo de esquerda que, entre outras medidas, implemente as seguintes:
a. Cancelar imediatamente o Memorando com a troika e devolver os salários e pensões por completo aos cidadãos;
b. Uma auditoria pública à dívida procedendo à sua renegociação e recusar o pagamento da dívida ilegítima, ou odiosa;
c. Revogar imediatamente o vergonhoso pacote laboral e instituir legislação favorável aos trabalhadores e aos jovens, permitindo o combate à precariedade e ao desemprego;
d. O controlo pelo Estado do sistema financeiro e a nacionalização da banca e dos sectores básicos da economia. Os bancos devem ser colocados ao serviço da economia e não da especulação e da agiotagem;
e. A defesa intransigente dos serviços públicos, de um efectivo Serviço Nacional de Saúde, revogando as taxas moderadoras, de uma Escola Pública de qualidade, abolindo todo o tipo de propinas, e uma Segurança Social ao serviço das pessoas;
f. Combate sem tréguas à corrupção política, económica e financeira, e à evasão fiscal;
g. Um imposto progressivo sobre as grandes fortunas e desmantelamento do offshore da Madeira.

Mas não nos iludamos: a burguesia vai responder com todas as armas que tiver ao seu alcance contra as lutas dos povos - já começou a sua famigerada campanha contra a Syriza e o povo grego. Precisamos de estar alerta, pois são de esperar novos desenvolvimentos nos próximos capítulos.

João Vasconcelos
A Comuna

terça-feira, maio 29, 2012

A 1ª REPÚBLICA E A GREVE GERAL DE 1912 Versão para impressão
grevistas_apropriam-se_de_um_elctrico_greve_geral_1912A greve geral de 1912 marcou o ponto culminante da agitação social que se seguiu à proclamação de República, em 5 de outubro de 1910.
Logo nos momentos posteriores à revolução, ainda em 1910, eclodiram inúmeras greves. Esses conflitos demonstraram que o operariado e o movimento sindicalista não se dispunham a esquecer as penosas condições de vida dos sectores mais desfavorecidos da população portuguesa.
Todavia, não era essa a opção da grande maioria dos dirigentes republicanos que assumiram o poder após o 5 de outubro. A sua intenção não era realizar ou dar cobertura a uma revolução de carácter social, mas apenas a uma mudança nos órgãos e no regime político.
Logo após o 5 de outubro, mesmo nos dias e meses posteriores à revolução, um movimento grevista eclode especialmente na zona de Lisboa e Setúbal. Os carroceiros a 24 de outubro, os ferroviários a 5 e a Carris a 15 de novembro, são alguns exemplos de um vasto movimento social. A contestação aos termos em que o Governo Provisório legaliza o direito à greve, apelidado pelos sindicalistas de "Decreto-Burla", em dezembro de 1910, é outro momento de fricção entre o operariado e o novo regime.
O operariado encara a proclamação da República como o momento ideal para conseguir a satisfação das suas aspirações de liberdade e igualdade, de melhoria de um quotidiano de privações e miséria.
A República era o seu regime, proclamado graças ao seu sangue, já que tinham sido os civis (Carbonários ou outros) a aguentar firme em 4 e 5 de Outubro nas ruas de Lisboa, quando os chefes militares ou os dirigentes do Partido Republicano partiam em debandada, julgando a revolução perdida.
Em 1911, a conflitualidade social vai acentuar-se, estendendo-se a muitas classes e ultrapassando o âmbito geográfico do eixo Lisboa - Setúbal.
Alguns conflitos foram particularmente importantes como a greve da CUF em março, opondo os trabalhadores ao industrial Alfredo da Silva, chefe de fila do patronato que não aceita os princípios democráticos inerentes ao regime republicano.
Porém, a história social desse ano foi marcada pela greve das conserveiras de Setúbal e pela morte de dois operários pelas balas da recém – formada Guarda Republicana em 13 de Março. Os "fuzilamentos de Setúbal" ou "assassinatos de Setúbal", como então ficaram conhecidos por todo o país, ocupando as primeiras páginas dos jornais, indignaram quem considerava a República também como o seu regime. Uma Guarda, qualificada de Republicana, não podia disparar contra aqueles que tinham sido decisivos na luta travada em 4 e 5 de outubro, pela implantação da República. O caso motivou, de imediato, a marcação de uma paralisação geral de trabalho, convocada pela Comissão Executiva do Congresso Sindicalista. Pela primeira vez, em Portugal, se falou em Greve Geral.
Em 1911 eclodiram igualmente greves rurais no Alentejo que vão ter estreita ligação com os acontecimentos que vão levar à Greve Geral de 1912. A greve de junho de 1911, com especial incidência em Évora, mas abrangendo inúmeros concelhos alentejanos e ribatejanos, terminou com uma vitória dos assalariados rurais em matérias como salários e horários de trabalho.

AS GREVES RURAIS DE ÉVORA
No Verão de 1911, o primeiro após a revolução republicana, é visto como o momento propício para lançar um movimento reivindicativo nos campos alentejanos. É na época das ceifas que a premência das tarefas agrícolas, dá mais força aos trabalhadores rurais e a possíveis greves.
Assim no fim de maio e inícios de junho as greves alastram. Em 31 de maio, a Associação dos Trabalhadores Rurais de Évora convoca a greve[1]. Os grevistas dos campos em redor de Évora acorrem à cidade e acampam no Rossio de São Brás cerca de 8000 trabalhadores.
Mas é a 3 de junho que na Praça de Touros se realiza um comício decisivo. Estiveram presentes cerca de 16000 grevistas, o dobro do dia anterior. Perante tal mobilização os lavradores presentes, temendo que a greve degenerasse para uma revolta generalizada, cederam perante as reivindicações dos sindicalistas. É aprovada a chamada "Tabela de Évora", consagrando um conjunto de direitos até então negados aos assalariados.
Esta "Tabela de Évora", vai ser usada como estandarte reivindicativo pelos rurais dos outros concelhos alentejanos, nas greves que se vão desencadear no mês de Junho de 1911.
Os direitos conquistados pelos assalariados nas greves de Maio – Junho de 1911, nunca mereceram uma verdadeira concordância patronal. Obrigados a ceder no Verão, devido à necessidade imperiosa de contratar mão-de-obra para as tarefas próprias daquele momento, esperaram que o Inverno invertesse a situação.
Terminado o Verão a situação invertia-se. Começava a tradicional crise de trabalho do Inverno. O Inverno era para os assalariados rurais alentejanos sinónimo de falta de trabalho. A crise estendia-se a toda a província; era a época da fome, dos bandos de desempregados que pediam ou roubavam comida, da caridade que nada modificava. O tempo da espera pelos meses de Primavera, quando os braços seriam novamente necessários e os homens e mulheres poderiam, até ao Outono, contar com trabalho certo, cujo salário apenas daria para não morrerem de fome.
Era o momento esperado para os lavradores imporem as suas posições. Nos últimos meses de 1911 sucedem-se os conflitos motivados pela recusa patronal em cumprir as tabelas acordadas, nomeadamente os 400 réis da "Tabela de Évora".
A ofensiva dos grandes proprietários no sentido de rasgar os acordos do Verão de 1911, terminou inevitavelmente por provocar uma resposta dos assalariados.
Curiosamente é o Governador Civil a iniciar as hostilidades, tomando uma atitude “preventiva” face à esperada resposta dos trabalhadores através da greve. A 10 de janeiro de 1912 divulga toma posição contra as greves, ameaçando os grevistas com penas de prisão até seis meses e multas.[2]
Perante tal atitude a resposta da Associação dos Trabalhadores Rurais, sublinha a justas razões da luta. Destacam a necessidade de cumprimento das tabelas assinadas no Verão de 1911, com o salário de 400 réis e o fim da crise de trabalho. Pretendem acabar com as ”vinganças e vilanias exercidas por parte dos proprietários” e declaram estar disponíveis para ”empunhar armas para defender a República”.
O manifesto dos trabalhadores rurais verbera com particular destaque o Governador Civil, dizendo que “S. Ex.ª ou qualquer outro capitalista por certo não gastarão menos de 800 réis e querem SS. Ex.ª que o pobre trabalhador coma, vista, calce e sustente a família ganhando 300 réis”.[3]
Em 16 de janeiro, 4000 trabalhadores entram em Évora.[4]
Os republicanos radicais (Evaristo Cutileiro e jornal O Carbonário) apoiam os grevistas. O Governador Civil manda dispersar grevistas que iam esperar comissão republicana radical.
A greve atinge outras localidades do distrito: Azaruja, Évora-Monte, Escoural, Estremoz, Montemor-o-Novo, Monte Trigo, Montoito, S. Manços, S. Miguel de Machede, Graça do Divor, Vale de Pereiro, Torre de Coelheiros, Vendas Novas, Vendinha, Viana do Alentejo…[5]
A 24 de janeiro registam-se os confrontos mais graves. A Guarda Republicana ocupa o centro de Évora. Expulsa grevistas da Praça do Geraldo. Há um morto e vários feridos.

A GREVE GERAL EM LISBOA
Em 28 de janeiro de 1912 proclamava-se a greve geral em solidariedade com os rurais alentejanos vítimas de dura repressão em Évora.
“Pode dizer-se que Lisboa, durante os dias 29 e 30 de janeiro, esteve nas mãos da classe operária, quase inteiramente paralisada”, refere Alexandre Vieira, destacado dirigente sindicalista.
O governo suspende as garantias e forças militares e policiais cercam, na madrugada de dia 31, a Casa Sindical situada na rua do Século no Bairro Alto.
Sob a ameaça das armas (incluindo artilharia) perto das 4 horas da madrugada, da Casa Sindical cerca de 700 pessoas começaram a sair para a rua debaixo de chuva. Metidos entre soldados da Guarda Republicana, em sucessivas levas e cantando A Internacional, são levados sob prisão para o Arsenal da Marinha. Dali foram embarcados para o navio Pero de Alenquer e para a fragata D. Fernando, prisões ancoradas no meio do Tejo.
“A bordo do Pero de Alenquer, que não tinha condições para alojar 100 pessoas, estiveram durante alguns dias 500, transitando as restantes dos outros navios de guerra para a Penitenciária e por fim para o Limoeiro, onde cinco dos mais conhecidos militantes foram conservados além de 100 dias.”[6]
A Greve Geral de 1912 marcará o momento de maior tensão entre o operariado e o regime republicano, no período anterior à Grande Guerra. Depois das mortes de Setúbal de 1911, constituirá um momento de rotura quase definitivo, entre o operariado organizado pelo movimento sindicalista e a República.
Tornava-se evidente que o poder republicano não esperava uma tal profusão de conflitos sociais. De alguma forma, a elite republicana esperava que os trabalhadores lhe permitissem viver um alargado momento de estado de graça, após o derrube da Monarquia. A realidade era bem diferente. Os trabalhadores, não estavam dispostos a esperar mais pelo reconhecimento dos seus direitos básicos. Queriam que a República avançasse com medidas sociais básicas para modificar as suas condições de vida. Esperavam que o seu empenho patriótico nos combates para derrubar a Monarquia fosse recompensado.
Como Afonso Costa reconheceu em 1929, numa carta a Teixeira Gomes, com um conhecimento proporcionado pelo exílio e pela derrota, o estado de guerra com as classes trabalhadoras, deu um contributo decisivo para tornar a República incapaz de resistir aos seus opositores e impedir a sua queda.
Álvaro Arranja


[1] O Sindicalista, 04.06.1911
[2] Notícias de Évora, 12.01.1912
[3] O Carbonário, 14.01.1912
[4] O Mundo 17.1.1912
[5] O Sindicalista 28.1.1912
[6] Vieira, Alexandre, Almanaque de A Batalha para 1926, Lisboa, A Batalha, 1926.
A Comuna

Somos Tod@s Greg@s! Versão para impressão
Angela-nazi

Tudo em aberto para a Syriza, até a disputa do primeiro lugar nas eleições de 17 de Junho. Obviamente, já começaram as pressões do FMI, do G8, dos EUA, da UE e até dum sujeitinho que dá pelo nome Durão Barroso que, se tivesse um pingo de vergonha, teria desaparecido numa fumarola dos Açores…

Artigo de Alberto Matos

Angela-nazi
Olhando os títulos dos jornais e os noticiários, no rescaldo das eleições gregas e da tentativa falhada de constituição de governo, parece que um novo fantasma percorre a Europa: a Syriza.
Vale a pena desvendar o mistério por trás deste nome estranho, já que as sondagens para as próximas eleições de 17 de Junho assinalam uma notável subida da Syriza, acima dos 20% e em disputa cerrada pela vitória com o partido da “Nova Democracia”, ou seja, a velha direita.
Não deixam de ser curiosos a surpresa e o empertigamento contra a “ameaça da esquerda radical”, por parte dos mesmos analistas e comentadores que ignoraram ou escarneceram do sofrimento imposto ao povo grego nos últimos três anos. É a ignorância de quem acha normal e inevitável a austeridade, os cortes radicais de salários e pensões, um desemprego radical acima dos 20%, o programa radical de privatizações, a espiral da pobreza e da dívida que conduziu ao segundo resgate.
Para quem nunca vislumbra alternativas, não serviram de alerta mais de uma dúzia de greves gerais. Quando muito, reduziam o descontentamento dos gregos a agitadores violentos e isolados. Daí a estupefação perante a estrondosa derrota dos partidos da troika que estiveram juntos no governo.
Chamado a formar governo após o falhanço do partido mais votado, o que propôs a coligação de esquerda Syriza? Obviamente, um governo de esquerda tendo como eixo do programa o rompimento com a austeridade e as imposições da troika, a prioridade ao emprego, ao crescimento económico e à justiça social.
Esta proposta, dirigida aos restantes partidos de esquerda, foi infelizmente rejeitada: desde logo pelo PASOK que continua amarrado aos dois resgates que assinou; mas também pelo KKE que defende a saída da UE e do euro de forma tão abrupta que nem o PCP preconiza para Portugal.
Depois desta atitude responsável e pró-ativa, a Syriza manteve a firmeza e a lucidez de recusar tentativas de última hora para impor um governo de “salada russa” e da confiança da troika, mantendo-se fiel aos seus compromissos com o eleitorado.
E agora? Tudo em aberto para a Syriza, até a disputa do primeiro lugar nas eleições de 17 de Junho. Obviamente, já começaram as pressões do FMI, do G8, dos EUA, da UE e até dum sujeitinho que dá pelo nome Durão Barroso que, se tivesse um pingo de vergonha, teria desaparecido numa fumarola dos Açores…
O que mais lhes dói é que a Syriza não defende o isolamento da Grécia e a saída da UE, nem sequer do euro. Pelo contrário, coloca-se na dianteira da luta dos povos por uma outra Europa, já que o capitalismo nos levou à beira do precipício.
Do povo português e dos povos europeus espera-se uma solidariedade ativa com a democracia grega. O centro financeiro da Alemanha, em Frankfurt, foi ocupado por manifestantes que afirmam “somos todos gregos” e se propõem “criar uma, duas, três, muitas Grécias” para cercar os especuladores e os seus representantes nos governos e nas instituições europeias.
Alberto Matos
A Comuna

domingo, maio 27, 2012

Enterre-se o personagem


«O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares diz-se "pressionado" pelo jornal Público. "Tenho o direito, devo exigir que me seja dado mais de 30 minutos para responder a uma questão que me é colocada por uma jornalista, 24 horas depois de ter estado no Parlamento. Senti-me pressionado e foi nessa base que me insurgi. Não falei com a jornalista em causa. Não houve acusações, é algo que repudio em democracia".»A maioria PSD e CDS-PP chumbou os pedidos feitos pelo PS e pelos Verdes para ouvir o ministro Miguel Relvas e os restantes envolvidos no caso da alegada pressão sobre uma jornalista do Público.

Este homem já é um cadáver politico por mais que o tentem segurar. Faça-se o funeral.

Grécia

Criada página no Facebook de protesto contra Lagarde

por LusaHoje
Criada página no Facebook de protesto contra Lagarde
Utilizadores gregos da rede social Facebook criaram hoje uma página de protesto contra a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, depois de a responsável acusar o povo helénico de não pagar os impostos.
Os criadores da página "Greeks are against Lagarde" ('Os gregos estão contra Lagarde') apresentam-na como "uma página através da qual mostram o desagrado [da Grécia] como nação em relação a Lagarde".
Os gregos acusam Lagarde de menosprezar o seu sofrimento mediante uma crise económica que já obrigou a cortes nos salários e nas pensões, numa altura em que a recessão vai já no quinto ano consecutivo.
Numa entrevista publicada no sábado pelo diário britânico The Guardian, Lagarde afirmou que os gregos deviam "começar por se ajudar coletivamente" pagando os seus impostos e disse-se menos preocupada com as crianças gregas do que com as da África subsaariana.
No sábado à noite, depois da polémica causada pelas suas declarações, Christine Lagarde publicou uma mensagem na sua página do Facebook em que se diz "compreensiva com a situação dos gregos" e afirma que "parte importante" do esforço para ultrapassar a crise é "que todos partilhem equitativamente o fardo, especialmente os mais privilegiados e, especialmente, pagando os seus impostos".
Ntavos Paok, um utilizador do Facebook, escreveu na página "Greeks are against Lagarde": "Deviam dizer isso aos familiares dos 3.000 gregos que cometeram suicídio, ao milhão de pessoas que estão desempregadas."

NÃO OBSTANTE AS CRÍTICAS E SEM LEI QUE A SUPORTE
CONFIRMA-SE: EXTINGUIR HORÁRIOS DE TRABALHO É OBJETIVO PRINCIPAL DESTA “REVISÃO”!
Depois dos mega-agrupamentos que, afinal, parecem não ser assim tão consensuais, foi agora a vez da “matriz” de organização das cargas horárias das diversas disciplinas, com aplicação em 2012/13. É lamentável que estas orientações cheguem às escolas sem que haja cobertura legal para elas, pois não teve lugar a publicação de qualquer diploma que consagre uma revisão da estrutura curricular.
Ver aqui "Matriz” de organização das cargas horárias das diversas disciplinas, com aplicação em 2012/13
Fenprof

Tsipras responde à diretora do FMI: “Os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”

“Os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”, que são muito pesados e mesmo “insuportáveis”, respondeu Alexis Tsipras, líder da Syriza, a Christine Lagarde, diretora-geral do FMI, que neste sábado fez um ataque xenófobo ao povo grego. Entretanto, muitas vozes criticaram Lagarde, Jean-Luc Mélenchon afirmou que se “houvesse moral política”, ela “devia demitir-se do cargo que ocupa”.
“Os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”, que são muito pesados e mesmo “insuportáveis”, respondeu Alexis Tsipras a Christine Lagarde
Christine Lagarde, diretora-geral do FMI e antiga ministra das Finanças de Sarkozy, lançou neste sábado um violento ataque xenófobo contra o povo grego, declarando que "no que se refere a Atenas, penso em todas as pessoas que evitam os impostos o tempo todo. (...) Penso que deviam ajudar-se coletivamente, pagando os seus impostos" e jogando as crianças da África subsaariana, sempre prejudicadas pelas decisões do FMI, contra o povo grego, afirmou despudoradamente: “Tenho-as sempre na minha mente, porque acho que precisam mais de ajuda do que as pessoas em Atenas.”
Neste domingo, muitas vozes se levantaram contra as bárbaras declarações de Christine Lagarde.
Alexis Tsipras, em comunicado, declarou que a “última coisa que se procura na Grécia é a simpatia” de Christine Lagarde. Sublinhando que “os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”, pesados e “mesmo insuportáveis”, Tsipras afirma: “Em relação à evasão fiscal, ela devia virar-se para o Pasok e para a Nova Democracia para que eles lhe expliquem porque é que, nos últimos dois anos, nunca tocaram no grande capital e perseguiram os trabalhadores”.
Jean-Luc Mélenchon, líder da Front de Gauche de França, considerou que as propostas da diretora-geral do FMI são “indignas”, que “se houvesse moral política” ela “devia demitir-se do cargo que ocupa” e questionou-a: “Porque não diz: (…) que os capitalistas deviam pagar os seus impostos e não o fazem?”
Também o governo francês veio a público criticar a diretora-geral do FMI e antiga ministra de Sarkozy. Najat Vallaud-Belkacem, porta-voz do governo de França, considerou as declarações simplistas e estereotipadas e afirmou: "Penso que, neste momento, não temos de dar lições à Grécia". Najat Vallaud-Belkacem acrescentou ainda que uma hipotética saída da Grécia do euro “seria um mau sinal, sem dúvida uma má escolha, para o conjunto dos parceiros europeus e para o resto do mundo".
Também a página do facebook de Christine Lagarde se encheu de comentários críticos, de tal forma que sábado à noite ela publicou um comentário hipócrita onde diz que está "compadecida com a situação dos gregos" e afirma que "parte importante" do esforço para ultrapassar a crise é "que todos partilhem equitativamente o fardo, especialmente os mais privilegiados e, especialmente, pagando os seus impostos".
Até Evangelos Venizelos, atual líder do Pasok, que se tem destacado pela subserviência face à troika e pela defesa das suas ruinosas exigências, declarou: "Ninguém pode humilhar o povo grego durante a crise, e dirijo-me hoje em particular à senhora Lagarde (...), que com a sua posição insultou os gregos".
Subscreva o manifesto de apoio à Syriza.

“Se não sairmos do atoleiro dos mercados, vamos ter uma Europa de extrema direita”

A política de austeridade e de precarização do emprego capitaneada por Angela Merkel levou a um desespero social que alimenta as tendências mais radicais. Ou a Europa reage agora ou será tarde. Ignacio Ramonet, em entrevista feita por Ana Tudela Flores, crê que reagirá.
Ignacio Ramonet: “Penso que assistiremos a uma mobilização popular em França para que Hollande não repita os erros dos sociais-democratas de Grécia, Portugal e Espanha”.
O otimismo transparece na voz de Ignacio Ramonet e viaja até este lado do telefone. O diretor do “Le Monde Diplomatique” em espanhol, que há 14 anos advertiu que a globalização financeira estava a criar o seu próprio Estado e a gerar sociedades sem poder, sonha com esperança. Precisamente agora, quando se estão a cumprir um após outro os maus augúrios daquele seu editorial, “Desarmar os mercados financeiros”, que foi semente do movimento Attac. A política de austeridade e de precarização do emprego capitaneada por Angela Merkel levou a um desespero social que alimenta as tendências mais radicais. Ou a Europa reage agora ou será tarde. Ramonet crê que reagirá.
Reorientar a Europa para o desemprego, o futuro e o crescimento”. As palavras de Hollande, recentemente eleito presidente da França, falam de uma mudança de rumo que parecia impossível. Há vida para além dos mercados?
A proposta de Hollande chega num bom momento. Se tivesse dito há um ano que não apoiava o pacto fiscal (promovido por Merkel), não teria funcionado. Hollande não fala do crescimento que Draghi (presidente do BCE) defende, baseado na precarização do emprego para ganhar competitividade e nas curas de austeridade. Hollande defende o crescimento com estímulo por parte da União Europeia. É o momento, porque há países submetidos a duras reformas extraordinárias com os governos a viver nos limites dessas políticas. Os próprios mercados veem que só austeridade não serve. Por isso, houve tanto apoio, ativo ou passivo, a Hollande. Prova disso é o caso do Governo espanhol, que desejava a vitória do socialista porque lhe dará oxigénio para pagar a dívida em mais anos sem asfixiar a economia.
Como se financia o crescimento?
Os Estados estão endividados e não podem endividar-se mais. Mas a UE como tal, não. Pode endividar-se e emprestar aos Estados ou financiar obras que criem emprego.
A banca está falida. Se lhe injetam dinheiro a 1% a partir do BCE e com ele compra dívida de países com rentabilidade maior, paga-se com impostos. É sustentável?
A diferença entre o 1% que a banca paga pelo dinheiro e os 6% que recebe pela dívida da Espanha, por exemplo, leva a uma situação na qual não se poderá pagar essa dívida, que se converterá na principal questão do orçamento. Creio que há cada vez mais consenso para que o BCE empreste diretamente aos Estados. Os Estatutos do banco central não lhe permitem, e nisso apoiam-se os alemães, mas encontramo-nos numa situação de exceção e há que impor uma decisão política. Os Estatutos são pura burocracia.
Porque vão ceder se se negaram até agora?
Porque já há sociedades que se estão a sublevar. Na Grécia disparou o voto extremo. Em França temos cerca de 28% do eleitorado a votar numa extrema direita que recusa a Europa e o euro. O respeito das normas está a levar a uma situação insustentável. Victor Hugo dizia que não há nada mais poderoso que uma ideia para a qual chegou o momento.
Está a Alemanha nesse momento?
A Alemanha prevê crescer este ano a 1% e começa a temer que, se as economias europeias não compram os seus produtos, a sua situação vai piorar. Os sindicatos lançaram uma ofensiva para pedir um aumento de salários. O trabalho alemão, que já é o mais caro da Europa, será ainda mais caro e terá mais dificuldade em vender os seus produtos. Os próprios dirigentes vão juntar-se à petição de crescimento.
Draghi advertiu que o país que reduzir a austeridade será imediatamente castigado pelo mercado. Hollande aguentará?
Eu penso que assistiremos a uma mobilização popular em França para que Hollande não repita os erros dos sociais-democratas de Grécia, Portugal e Espanha. O problema já não é só económico, mas sim político. Se não sairmos do atoleiro dos mercados, vamos ter uma Europa de extrema direita daqui a cinco anos.
Também há movimentos de mudança como o 15-M.
O que vimos no ano passado como o 15-M foi muito emocionante, toda uma geração a protestar com uma conceção muito exigente e pura da política e da democracia. É lamentável que essa gigantesca energia, por desconfiança para com a política, não tenha encontrado um modo de permanecer como movimento reconhecível, com organização e liderança. Na minha opinião, o sentimento de asco para com a política de muitos jovens conduziu-os a um erro tático, por não se organizarem como formação, e a outro estratégico, porque não têm ferramenta, nem direta nem indireta, de conquista de poder.
Que solução vê para o desemprego juvenil?
Está a perder-se uma geração inteira, apesar de ser a melhor formada da história dos nossos países. É um tremendo desperdício humano e é urgente encontrar soluções com imaginação, lançar planos de reindustrialização e de relocalização, um grande plano Marshall de emprego para a juventude. A Europa está socialmente destruída, como o esteve materialmente após a II Guerra Mundial.
Perde-se a geração melhor formada e força-se a que a próxima já não o seja. Porquê?
Todos os movimentos neoliberais cortaram na educação. É a renúncia a um dos fundamentos da democracia, a igualdade de oportunidades, e isso é insuportável. A classe média está-se a desclassificar, um fenómeno que não conhecíamos. Deixa-se de pertencer a uma classe à qual se chegou com gerações de esforços.
Quanto vai custar recuperar esse caminho?
Há que refletir porque, pouco a pouco e de forma silenciosa, foram-nos encerrando numa estrutura política em que as decisões são muito limitadas, na qual uma mudança de Governo não muda grande coisa porque se aplicam regras que não se podem modificar. Assistimos a uma redução da democracia e a uma preponderância do poder financeiro sobre o político. O Mecanismo Europeu de Estabilidade, que é uma prisão jurídica, está a ser ratificado sem debate.
Não foi mudado nada do sistema financeiro.
Se não se controlar os mercados, não sairemos disto. Há que regulamentá-los, dissociar a banca de poupança da especulativa, impor impostos sobre os rendimentos de capital como existem sobre o trabalho e dotar-se de um sistema que permita aos políticos pôr limites ao mercado. Ou acontece isso ou passaremos a uma nova estrutura política desconhecida até agora.
Publicado em Más Público.org, tradução de Carlos Santos para esquerda.net

quinta-feira, maio 24, 2012

BE repudia estacionamento a pagar no hospital de Portimão

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A concelhia de Portimão do Bloco de Esquerda (BE) manifestou-se contra a intenção da administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio de passar a cobrar estacionamento no Hospital de Portimão.
“A abertura de um concurso público para a concessão da exploração dos 1200 lugares dos parques de estacionamento do hospital visa favorecer interesses privados à custa do interesse público e dos bolsos dos utentes da saúde”, protestam os bloquistas, frisando que se trata de mais uma taxa a juntar-se a muitas outras introduzidas pelo atual governo do PSD/CDS.
“Não é desta forma, ultrajante e sempre a sacar quem menos pode, que a administração vai resolver os problemas de financiamento dos serviços. Se tem falta de verbas para o hospital, a administração que reclame junto do governo, ou então que se demita se não conseguir obtê-las. Agora não castigue os mais desfavorecidos e os que menos têm – os utentes do Serviço Nacional de Saúde”, refere a nota do BE.
No mesmo comunicado, o Bloco de Esquerda considera que a implementação do estacionamento pago no hospital de Portimão “trata-se da mercantilização do estacionamento nos espaços do Serviço Nacional de Saúde, o qual funcionará como fonte de financiamento para entidades públicas e privadas, à custa da doença e da urgência dos doentes”.
A situação já foi colocada a nível parlamentar, tendo o deputado bloquista, João Semedo, questionado na semana passada o Governo para que “esclareça qual a sua posição relativamente à obrigatoriedade de pagar o estacionamento nos hospitais da rede do SNS e que imponha medidas que acautelem as necessidades das pessoas que se desloquem aos hospitais em situação de urgência, mais ainda quando o Provedor de Justiça já se pronunciou negativamente sobre os preços exorbitantes praticados no estacionamento hospitalar”.
Além desta iniciativa, a concelhia do BE/Portimão irá promover um abaixo-assinado de denúncia e contra o estacionamento a pagar no hospital de Portimão, a enviar à administração, ao governo e a outras entidades responsáveis.
Uma outra ação de protesto contra o pagamento do estacionamento terá lugar no próximo dia 9 de junho (sábado), pelas 10h00, frente ao hospital.
Jornal do Algarve

quarta-feira, maio 23, 2012


Tsipras: "Refundar a Europa e derrotar o poder financeiro"

Em visita a Paris, onde se reuniu com Jean-Luc Mélenchon, o líder da esquerda radical grega, Alexis Tsipras, fez duras críticas à política europeia conduzida pela chanceler alemã Ângela Merkel e ao setor financeiro. "Esse poder é o grande inimigo dos povos, não governa mas decide sobre todas as coisas", afirmou. Tsipras acusou Merkel de “estar levando a Europa a uma espécie de suicídio coletivo”. As últimas pesquisas dão ao partido de esquerda radical 28% dos votos, a frente da direita da Nova Democracia, que apresenta 24%. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.

Paris - O homem que colocou em xeque o mega plano de austeridade que o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia impuseram a Grécia enviou, desde Paris, uma mensagem muito clara: Alexis Tsipras, o líder da esquerda radical grega, Syriza, disse na capital francesa que era urgente “refundar a Europa e derrotar o poder financeiro. Esse poder é o grande inimigo dos povos, não governa mas decide sobre todas as coisas”.

Alex Tsipras veio a Paris para se encontrar com Jean-Luc Mélenchon, o líder da Frente de Esquerda francesa, candidato nas eleições presidenciais de abril e maio e, hoje, adversário direto da líder da extrema-direita, Marine Le Pen, nas eleições legislativas de 10 e 17 de junho.

Tsipras chegou na França em posição de força. A Grécia volta a realizar eleições legislativas no próximo dia 17 de junho e as sondagens indicam a vitória de seu partido, o que faria dele o próximo primeiro ministro. Dirigindo-se diretamente à chanceler alemã Angela Merkel, o homem que faz tremer a Europa fustigou com paixão e virulência os programas de austeridade e ajustes promovidos por Berlim, ao mesmo tempo em que desqualificou aqueles que não deixam a Atenas outra alternativa além de aceitar a austeridade ou morrer: “não se negocia com o inferno”, disse o responsável da Syriza. Quanto a Merkel, Alexis Tsipras acusou a chanceler alemã de “estar levando a Europa a uma espécie de suicídio coletivo”.

Para este político de 37 anos que surgiu no primeiro plano em plena hecatombe, o que está ocorrendo na Grécia não é uma crise passageira acompanhada por um enésimo plano de austeridade, mas sim um experimento que pretende ser ampliado: “não se trata de um simples programa de austeridade, mas sim de um experimento neoliberal de choque que conduz a Grécia a uma crise humanitária que, logo em seguida, deverá ser exportado a toda Europa”. O diagnóstico que Tsipras formulou em Paris é claro e combativo: “estamos vivendo uma guerra entre as forças do trabalho e as forças invisíveis da finança e os bancos”, disse ele junto a Mélenchon, que completou a mensagem dizendo que “a cadeia de resignação e de servidão que unia os povos europeus está se rompendo”.

O panorama eleitoral do partido Syriza tem contornos favoráveis para mudar as regras do jogo impostas pelo mundo financeiro. Esse “inimigo”, disse Tsipras, pode “cair” graças às eleições legislativas de 17 de junho. Segundo ele, a consulta eleitoral não será “um pseudo dilema entre o euro e o dracma – a antiga moeda grega -, mas sim uma escolha entre o memorando de austeridade e a esperança. Longe de ser um inimigo do euro, Tsipras se apresentou em Paris como um “partidário” da moeda única mas, ao mesmo tempo, como um adversário da “chantagem praticada pelos partidários da austeridade”. Os argumentos do Syriza ganharam muitos eleitores na Grécia. As últimas pesquisas dão ao partido de esquerda 28% dos votos, a frente da direita da Nova Democracia, que apresenta 24%.

O crescimento do Syryiza tem sido espetacular. Desde as eleições legislativas realizadas no último 6 de maio, quando surgiu como a segunda força política do país, o partido ganhou 16 pontos em intenções de voto.

Comparativamente, nas eleições de 2009, o Syriza havia obtido só 4%. Alexis Tsipras deixou bem claro em Paris que, em caso de vitória nas eleições de junho, não aceitará nenhuma negociação sobre o pacote de austeridade que a UE e o Fundo Monetário Internacional impuseram a Grécia em troca dos 130 bilhões de euros de resgate financeiro. Neste sentido, Tsipras defendeu os argumentos do presidente francês, o socialista François Hollande, a favor do crescimento como estratégia para sair da crise. “Se seguirmos como estamos agora, em seis meses será preciso aprovar um terceiro plano de ajuda e uma segunda reestruturação da dívida. Os governos europeus devem deixar de pedir aos contribuintes que sigam colocando seu dinheiro em um poço sem fundo. Sem crescimento, jamais poderemos pagar o dinheiro que nos emprestarem”.

Os cerca de 200 jornalistas credenciados na Assembleia Nacional nunca tinham escutado um discurso tão cirúrgico contra o sistema financeiro pronunciado dentro do sacrossanto recinto parlamentar. Tsipras definiu o plano de austeridade aplicado a Grécia como um “desastre humanitário”, como um “ato de barbárie ineficaz”. Tanto Tsipras como Mélenchon fustigaram a Europa por sua conduta em relação a Grécia e a condenação coletiva de Atenas no que diz respeito à crise. Ambos pediram uma “solução comum para um problema comum” porque, senão, a tragédia grega alcançará inevitavelmente outros países. “Ameaçar a Grécia é ameaçar a nós mesmos”, disse Mélenchon que, de passagem, recordou que 60% da dívida grega está em cofres públicos.

Apoiados pela brisa de uma mudança, Tsipras e Mélenchon defenderam uma associação completa da esquerda europeia destinada à “refundação da Europa baseada na coesão social e na solidariedade”. A linguagem juvenil e combativa de Alexis Tsipras não é angelical. O líder do Syriza sabe que, mesmo com a vitória política nas urnas, a estrada será árdua: “formar um governo não equivale a ter o poder. Se conseguirmos ser majoritários nas urnas teremos contra nós os bancos, os meios de comunicação e uma parte do Estado”, disse Tsipras.

O político grego se comprometeu em Paris a tomar uma série de medidas imediatas em caso de ganhar as eleições de junho: “um governo de esquerda – explicou – colocará fim imediatamente as medidas mais insustentáveis como a diminuição dos salários e das aposentadorias”. Tsipras reconheceu que para tirar a Grécia do marasmo será preciso fazer “sacrifícios”, mas também esclareceu que “do mesmo modo que todos os povos da Europa os gregos querem ter o sentimento de que seus sacrifícios são úteis e que os mais pobres não serão os únicos a pagar a conta”.
Carta Maior

terça-feira, maio 22, 2012


Comunicado da Concelhia BE/Portimão
À atenção da comunicação social

Assunto: Bloco de Esquerda repudia estacionamento a pagar no hospital de Portimão

A concelhia local de Portimão do Bloco de Esquerda repudia, veementemente, a intenção da administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio de passar a cobrar estacionamento no Hospital de Portimão.

A abertura de um concurso público para a concessão da exploração dos 1200 lugares dos parques de estacionamento do Hospital visa favorecer interesses privados à custa do interesse público e dos bolsos dos utentes da saúde. Não basta as elevadas taxas moderadoras introduzidas pelo actual governo do PSD/CDS, os cidadãos, ao deslocarem-se ao hospital, a uma consulta ou aos serviços de urgência, terão de pagar outra taxa acrescida pelo estacionamento, caso o utilizem através da viatura. Não é desta forma, ultrajante e sempre a sacar quem menos pode, que a administração vai resolver os problemas de financiamento dos serviços. Se tem falta de verbas para o hospital, a administração que reclame junto do governo, ou então que se demita se não conseguir obtê-las. Agora não castigue os mais desfavorecidos e os que menos têm – os utentes do Serviço Nacional de Saúde.

A implementação do estacionamento pago no Hospital de Portimão trata-se da mercantilização do estacionamento nos espaços do Serviço Nacional de Saúde, o qual funcionará como fonte de financiamento para entidades públicas e privadas, à custa da doença e da urgência dos doentes.

Por intervenção do Bloco local, a situação já foi colocada a nível parlamentar, tendo o deputado bloquista, João Semedo, questionado na semana passada o Governo para que «esclareça qual a sua posição relativamente à obrigatoriedade de pagar o estacionamento nos hospitais da rede do SNS e que imponha medidas que acautelem as necessidades das pessoas que se desloquem aos hospitais em situação de urgência, mais ainda quando o Provedor de Justiça já se pronunciou negativamente sobre os preços exorbitantes praticados no estacionamento hospitalar».
Além desta iniciativa, a concelhia do BE/Portimão irá promover um abaixo-assinado de denúncia e contra o estacionamento a pagar no Hospital de Portimão, a enviar à administração, ao governo e a outras entidades responsáveis.

Uma outra acção, de protesto e repúdio, contra o pagamento do estacionamento terá lugar no próximo dia 9 de junho (sábado), pelas 10.00 h, frente ao Hospital de Portimão, convidando-se toda a população a participar na mesma.

Desde já se agradece a divulgação deste comunicado de imprensa nos v/órgãos de comunicação social.

Com os nossos cumprimentos.

A Coordenadora Concelhia
Bloco de Esquerda/Portimão

Algarvios pedalaram este domingo contra as portagens na Via do Infante

Várias dezenas de pessoas participaram na iniciativa "Pedalar Contra as Portagens", organizada pela Comissão de Utentes da Via do Infante. Para o próximo mês de junho já estão previstas novas iniciativas, entre as quais uma marcha lenta automóvel" na Ponte Internacional do Guadiana.

A iniciativa teve início pelas 9h e ocorreu ao longo da EN 125, com vários pontos de concentração e partidas, terminando nas Quatro Estradas, em Loulé.
Segundo João Vasconcelos, um dos elementos da comissão de Utentes da Via do Infante, esta foi “mais uma ação simbólica de protesto contra a cobrança de portagens na A22".
Este ativista sublinhou que já estão previstas outras ações de protesto, entre as quais "uma marcha lenta automóvel" na Ponte Internacional do Guadiana, no próximo mês de junho.
"Estamos a organizar em conjunto com algumas organizações espanholas uma marcha onde esperamos reunir milhares de pessoas dos dois países", frisou João Vasconcelos.
O representante da comissão de Utentes da Via do Infante alertou para o facto de a cobrança de portagens na Via do Infante “apenas servir para prejudicar a economia do Algarve, região que regista a taxa mais alta de desemprego do país".
"É uma imposição que tem prejudicado seriamente a sustentabilidade da economia do Algarve, levando ao fecho de muitas empresas, já de si penalizadas pela crise que o país atravessa", sublinhou João Vasconcelos.
Esquerda.net

Ontem em Berlim, mais um plano para destruir a Grécia

Ontem, em Berlim, o Deutsche Bank, um dos maiores bancos europeus, anunciou em conferência de imprensa o seu plano para a Grécia.
 Por Francisco Louçã
Segundo o banco, se a esquerda ganhar as eleições, deve ser oferecido ao novo governo o seguinte ultimato: para ficarem no euro, têm de criar uma nova moeda provisória, o "G-euro", sob a forma de notas promissórias de nova dívida pública, que circule em vez do euro. Os financiamentos europeus serviriam exclusivamente para pagar aos credores internacionais (ou seja, ao Deutsche Bank e a outros bancos) e, com a desvalorização do G-euro, o turismo seria beneficiado, as outras exportações também e, claro, os salários continuariam a baixar. Seria até o novo governo fazer baixar ainda mais os salários e acelerar os cortes nas despesas públicas, esclarece o banco alemão.
O projeto é alucinante. Como respondeu Alexis Tsipras às últimas chantagens de Merkel, querem fazer da Grécia um palco de experiências liberais, que estão a conduzir o país a uma crise humanitária.
O plano do Deutsche Bank é mais uma experiência neste laboratório enlouquecido. Porque o resultado é muito fácil de antecipar: as pessoas levantariam todos os euros que pudessem e o euro continuaria a ser a moeda em circulação paralela, com os preços a dispararem. Por outro lado, o que o banco exige a um governo de esquerda é que, com a desvalorização, atinja o mais possível e o mais depressa possível os salários - esse é de facto um dos principais efeitos imediatos da desvalorização.
Mas este plano demonstra também como é importante a vitória de um governo de esquerda unida contra a troika e que rejeite o memorando. Porque é a única via para vencer a austeridade e a bancarrota, recusando a continuação das cedências e da capitulação. Ao combinar claramente a recusa da chantagem da saída do euro com a denúncia do memorando da troika, a Syriza tem crescido, tem-se aproximado de constituir uma alternativa, tem dado uma lição a toda a esquerda europeia e em particular aos sectários de todas as cores, e tem mobilizado o povo grego para a confrontação e vitória sobre a tirania da dívida.

Sobre o autor

Francisco Louçã
Deputado, dirigente do Bloco de Esquerda, professor universitário.
Esquerda.net