terça-feira, maio 22, 2012

Ontem em Berlim, mais um plano para destruir a Grécia

Ontem, em Berlim, o Deutsche Bank, um dos maiores bancos europeus, anunciou em conferência de imprensa o seu plano para a Grécia.
 Por Francisco Louçã
Segundo o banco, se a esquerda ganhar as eleições, deve ser oferecido ao novo governo o seguinte ultimato: para ficarem no euro, têm de criar uma nova moeda provisória, o "G-euro", sob a forma de notas promissórias de nova dívida pública, que circule em vez do euro. Os financiamentos europeus serviriam exclusivamente para pagar aos credores internacionais (ou seja, ao Deutsche Bank e a outros bancos) e, com a desvalorização do G-euro, o turismo seria beneficiado, as outras exportações também e, claro, os salários continuariam a baixar. Seria até o novo governo fazer baixar ainda mais os salários e acelerar os cortes nas despesas públicas, esclarece o banco alemão.
O projeto é alucinante. Como respondeu Alexis Tsipras às últimas chantagens de Merkel, querem fazer da Grécia um palco de experiências liberais, que estão a conduzir o país a uma crise humanitária.
O plano do Deutsche Bank é mais uma experiência neste laboratório enlouquecido. Porque o resultado é muito fácil de antecipar: as pessoas levantariam todos os euros que pudessem e o euro continuaria a ser a moeda em circulação paralela, com os preços a dispararem. Por outro lado, o que o banco exige a um governo de esquerda é que, com a desvalorização, atinja o mais possível e o mais depressa possível os salários - esse é de facto um dos principais efeitos imediatos da desvalorização.
Mas este plano demonstra também como é importante a vitória de um governo de esquerda unida contra a troika e que rejeite o memorando. Porque é a única via para vencer a austeridade e a bancarrota, recusando a continuação das cedências e da capitulação. Ao combinar claramente a recusa da chantagem da saída do euro com a denúncia do memorando da troika, a Syriza tem crescido, tem-se aproximado de constituir uma alternativa, tem dado uma lição a toda a esquerda europeia e em particular aos sectários de todas as cores, e tem mobilizado o povo grego para a confrontação e vitória sobre a tirania da dívida.

Sobre o autor

Francisco Louçã
Deputado, dirigente do Bloco de Esquerda, professor universitário.
Esquerda.net

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