segunda-feira, maio 31, 2010

Israel ataca navios com ajuda humanitária para Gaza

Contam-se 19 mortos e dezenas de feridos no ataque israelita à "Frota Liberdade" que transportava para Gaza cerca de 10 toneladas de ajuda humanitária e algumas centenas de militantes pró-palestinianos. O ataque deu-se em plenas águas internacionais.
Israel usa força para travar navios com ajuda humanitária. Foto 
LUSA/EPA.
Soldados israelitas transportam feridos para o hospital em Tel Aviv, após ataque militar de Israel, em águas internacionais, à «Frota Liberdade» que levava ajuda humanitária para Gaza. Foto LUSA/EPA, Roni Schutzer.
De acordo com a AFP, a União Europeia já pediu um inquérito ao incidente e os palestinianos pediram uma reunião urgente na ONU. O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, condenou o ataque, classificando-o de “massacre”.
O conjunto de barcos era liderado por um navio de nacionalidade turca e dirigia-se para a Faixa de Gaza com ajuda humanitária e algumas centenas de pessoas que procuravam furar o bloqueio imposto por Israel àquela região do Médio Oriente.
Detectados pela defesa israelita, três navios lança-mísseis da classe Saar saíram do porto de Haifa e dirigiram-se à frota internacional com a missão de a interceptar e impedir a sua aproximação de território palestiniano.
Era já madrugada quando, esta segunda feira, os três navios de guerra israelita avistaram a "Frota Liberdade". Encontravam-se em águas internacionais, quando as autoridades militares israelitas decidiram agir. Helicópteros israelitas transportaram os comandos que desceram por cordas na abordagem brutal dos navios que transportavam a ajuda humanitária.
"Quinze pessoas foram mortas durante o ataque, na sua maioria cidadãos turcos", afirmou esta manhã, Mohammed Kaya, responsável pela divisão de Gaza da IHH, uma organização turca de defesa dos direitos do Homem, que fazia parte da operação naval.
Algumas embarcações estavam assinaladas com a bandeira turca, país que já fez saber que condena veementemente esta operação militar, classificando-a de inaceitável. “Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o ministro turco dos Negócios Estrangeiros. O embaixador israelita em Ankara já foi chamado pelo governo turco. O vice primeiro-ministro turco que substitui o chefe de governo que está de visita ao Chile convocou uma reunião de emergência com o ministro do Interior e com as chefias das Forças Armadas.
Os responsáveis palestinianos já condenaram o ataque. O chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, condenou aquilo que classificou como um "crime contra uma missão humanitária" e o Presidente da Autoridade Palestiniana, Amhmoud Abbas, apelidou o incidente de "massacre"e decretou três dias de luto nos territórios palestinianos.
Este ataque está, de resto, a provocar uma onda de levantamentos diplomáticos. A União Europeia quer um inquérito completo ao incidente. A Suécia qualificou o incidente de "completamente inaceitável" e já convocou o embaixador israelita em Estocolmo para lhe dizer exactamente isso. A Grécia também já chamou o embaixador israelita em Atenas para saber da situação dos seus cidadãos e interrompeu o exercício militar conjunto a que que levava a cabo com a marinha israelita.
Recordando que diversos países da União Europeia tomaram imediatamente iniciativas diplomáticas muito para além da crítica verbal, como sucedeu com a Espanha que chamou o embaixador de Israel em Madrid para consultas urgentes, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, José Manuel Pureza, já questionou o ministro dos Negócios Estrangeiros.
O deputado do Bloco questionou o Ministro sobre que tipo de “iniciativas pretende o Governo Português realizar junto das autoridades israelitas no sentido de, acompanhando a posição da comunidade internacional, pedir esclarecimentos acerca deste ataque a uma embarcação de ajuda humanitária e reprovar com clareza mais uma violação grosseira do Direito Internacional por Israel”.
Em Portugal, o Comité de Solidariedade com a Palestina divulga no seu blogue um relato desde um dos navios da Frota da Liberdade por Thomas Sommer-Houdeville, coordenador da Campanha internacional para a protecção do povo palestiniano (CCIPP).
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domingo, maio 30, 2010

Portugal profundo e em crise

A taxa de desemprego é mais de 20 por cento. Viagem a Castelo de Paiva, Mesão Frio e Baião, pelas tascas e mercearias.
Por: Bruno Contreiras Mateus, Correio da Manhã
Segunda-feira, 15 horas: o calor vai alinhando os desempregados na esplanada. Todas as terras têm um Café Central – e Vila Marim, Mesão Frio, não é excepção. Aqui cheira a Douro, o rio corre no vale que se afunda na paisagem. Os montes estão verdes e encarreirados de vinhas.
"Estamos todos desempregados, senão não vínhamos para aqui", insiste Margarida Flor, 45 anos, num tom de voz entre a ironia e a expressão da raiva de uma espera ‘ad aeternum’. Estão ali cinco rebatidos à sombra. O mais novo foi chamado pela buzina de uma carrinha de caixa aberta e regressou passados 20 minutos já ao volante. Vestido estilo praia – calções claros e chinelas, óculos de sol, barba desfeita –, Marcelo Ribeiro, 26, foi (num biscate rápido) montar um portão. "O meu pai é serralheiro e, quando precisa, eu ajudo-o", argumenta. Mesão Frio bateu o recorde de desemprego: 25,8% contra 10,6% da média nacional.
O CAFÉ DA (DES)ESPERA
Apenas duas chávenas de café vazias e uma água sobre as mesas. O jornal roda lentamente pelos presentes. De repente, o silêncio campestre dá lugar à revolta. Isabel Rosende, 49 anos, abre as hostes ao diálogo: "Eu trabalhava no campo, na vinha, com enxada na mão. E não me envergonho". Apenas com a 4ª classe e nascida de uma família pobre desde sempre, perdeu o chão da sua terra quando os campos deixaram de lhe dar o ganha-pão. Voltou-se então para França – o trabalho sazonal na agricultura sempre salvou muitas casas da miséria. Até agora, porque a crise não é produto nacional – é o que se pode chamar um factor global.
"A agricultura está mal", resmunga Isabel. Andava ela na apanha do morango, mas o desgaste das rótulas nos dois joelhos atirou-a para o fundo de desemprego e o governo da sua casa, sendo solteira, lá se faz com módicos 400 euros. Uma boa parte vai para a renda e com quaisquer 50 ou 60 euros enche a despensa. Sopa e arroz ainda vai havendo; carne é que nem sempre. Todos vão tendo um pedaço de terra para colher as batatas e as hortaliças da refeição, acrescenta Ana Maria Marques, um ano mais nova do que Isabel. "E depois partilhamos. A quem tiver a mais, não custa repartir".
No vidro do café está um cartaz com a mensagem "O futuro começa aqui; Escola Profissional da Régua". É o que basta para que Ana Maria se recorde do curso de Cozinha em que andou, "iludida", a tirar até Abril de 2009, pago pelo Centro de Emprego. Diz ela que de lá para cá nada mudou em sua casa: emprego, nem vê-lo, mas, felizmente, o marido mantém-se funcionário da Alfândega.
A conversa deixa Margarida Flor impaciente. Levanta-se e exclama: "Veja lá que a crise é tão grande que eu abro sepulturas para os mortos!" De seguida, bate com a mão no peito e acrescenta: "Ao que cheguei para sobreviver." Por 100 euros. Relança a ironia agora para dizer que já "nem mortos há". Sentado ao lado de Isabel, Guilherme Ribeiro, 38, que foi condutor de gruas na obra do Museu do Douro, riposta: "Eu não me importava de andar aí a cavar valetas". Há um ano e meio que recebe o subsídio de desemprego de 320 euros e, hoje, ainda solteiro e a viver na casa dos pais, como se tivesse acordado de um pesadelo, anuncia que a partir de Junho já não tem direito a ser pago por esta má sorte. "Se não aparecer mais nada, vou para França" – avisa – "mas não me importo: ganha-se bem".
Julho e Agosto ainda vão sendo meses altos em terras francesas e espanholas, onde se aufere até dois mil euros na lavoura.
FIADO É MAIS BARATO
Descendo pelo socalco da paisagem, na povoação de Rede, Vítor Manuel Monteiro, dono do Café Conforto – junto à linha de caminhos-de-ferro – desfia o rosário de quem perdeu metade do negócio. "Há dois ou três anos paravam aqui, a caminho de Espanha, 15 a 20 carrinhas de nove lugares. Hoje, param cinco pessoas que viajam numa única carrinha".
Cruzando a passagem-de-nível avista-se um aviso na montra do minimercado Fonseca que já vai sendo moda: "Por motivos financeiros, pede-se aos clientes que devem há mais de 60 dias, o favor de se aproximarem para liquidarem as dívidas. Caso não cumpram as suas obrigações, serão colocados os seus nomes na montra deste estabelecimento". Ali como na maioria das aldeias, metade da loja é mercearia e a outra metade é café. O mesmo pode significar que a lista de calotes junta o pacote de leite ao maço de tabaco ou à cerveja. "Quando não têm dinheiro vêm ter connosco, pedem-nos as coisas, deixam-nos pô-las em cima do balcão e depois dizem que é para apontar na conta" – relata Elisabete Gomes, 32 anos. "Nós dizemos-lhes que precisamos do dinheiro para pagarmos aos fornecedores. Mas é o mesmo que nada. Temos três mil euros em dívidas que são para esquecer" – lamenta.
Vestida de luto, Donzília Ribeiro, 57 anos, leva na mão 100 gramas de fiambre fatiado. O marido, Fernando da Fonseca Pereira, 61, faz questão de reforçar que pagaram a compra. Também ele não estaria ali, no pico da tarde, se tivesse um emprego. No meio das vassouras penduradas e de sacos de carvão empilhados assume que está pronto para trabalhar nas obras. Os últimos seis anos passou-os na construção civil, em França. Só que a doença da sogra e de um cunhado fizeram o casal voltar. Deixaram lá (no país das oportunidades) os dois filhos, de 30 e 36 anos. Entretanto, os dois familiares da mulher morreram e eles ficaram a braços com outro irmão que está a cegar.
Como nem todos os dias podem beber café, enfiam-se os três no velhinho Renault Clio e vão para casa, em Vale Côvo, a três minutos dali. Donzília tem a casa dividida por duas partes: numa é a sala e os quartos, divididos por paredes cartonadas de dois ou três centímetros de espessura; e, saindo para a rua, entra-se noutra com a cozinha e uma sala de refeições. Junto ao fogão, onde repousa a panela do cozido à portuguesa do dia anterior, domingo, fica o armário das mercearias que não terá mais do que atum, espaguete e uns pacotes semiabertos de sal, açúcar e farinha. Ela observa os tachos e emenda: "cozido não, meio cozido. Tem as couves, a orelheira e uma chouriça; agora, carne de vaca, nem vê-la." Enquanto ela se dedica à casa, o marido desempregado ocupa-se numa arrecadação exígua agarrado a velhos instrumentos da lavoura que transforma em peças de decoração.
A MORTE DA INDÚSTRIA
Baião tem perto de cinco vezes mais população activa do que Mesão Frio. E aqui, o desemprego, atinge os 23,7%. Há quatro anos desempregada, Alice Pinto, 28 anos, passou pelo café A Ceifeira, em Valadares, antes de levar o carro à oficina. Como o pai trabalha na construção civil – embora "esteja na corda bamba" – é a filha que tem tempo para tratar do Seat Ibiza. "Eu era auxiliar de acção educativa num infantário em Baião mas, quando mudámos de presidente da câmara, já não renovei o contrato. Eu e mais 20 colegas". Há mais de um ano que lá trabalhava e este era o emprego que desejava. Ponderada a falar, Alice acrescenta que lá vai trabalhando no quintal, com a mãe.
No minimercado Celeiro, Rosa Gaspar revolta-se com os fiados. "É que se tiverem de levar, levam tudo, não se ficam pelo essencial". Pelo mesmo, Maria de Jesus Pinto, do supermercado Central, em Baião, não escolhe palavras para adjectivar os caloteiros: "Por 7,5 euros perde-se dinheiro e o cliente, por menos até. Depois, fogem de nós. E é vê-los nos cafés a tomar o pequeno-almoço. Essas pessoas nem faltam sequer aos cabeleireiros". Uns devem-lhe 750 euros. E outros até a maltratam. "Sabe o que uma me disse? Até tenho vergonha: ‘queres que te pague? Só se eu for fazer coisas com o teu marido’".
A Taberna Gomes, à entrada de Baião, já teve quatro empregados. Hoje, tem uma. Aos 75 anos, João Gomes Ferreira deve ser o filho da terra mais velho com sotaque brasileiro. Tinha 15 anos quando trocou a lavoura por um futuro incerto do lado de lá do Atlântico. "Fui trabalhar lá por minha conta a vender pão na rua – dava dinheiro. Depois meti-me em camiões de fruta e comprei um restaurante. Estive lá 40 anos". Regressou há 30 anos e tornou-se empresário de sucesso em Baião, até que perdeu o fôlego e alugou todas as lojas. Ficou com a taberna onde desempregados, reformados e homens das obras jogam às cartas.
De carro, chegaram da aldeia do Grilo quatro amigas desempregadas. Quando vão à vila, o principal propósito é assinar a folha de desemprego no posto de atendimento. Duas delas são familiares e vítimas do encerramento de parte da indústria têxtil na região. Maria Alice de Azevedo, 32 anos, recebia 400 euros como operária numa máquina que costurava tiras em batas. O subsídio dela são 420 euros, mas já há dois anos que perdeu o emprego que tinha há mais de oito.
A sobrinha, Maria Helena Oliveira, 30, teve mais azar porque tanto ela como o marido trabalhavam na mesma fábrica que faliu. Ficaram a braços com os dois filhos gémeos para cuidar e a casa para pagar. "Fomos vivendo consoante a gente podia", diz ela, já rotinada neste tipo de resposta. "Olhe, comíamos sopa e massa. Depois, temos criação de frangos, coelhos, patos. Cultivamos batatas, cebolas, feijão. É que mesmo que quiséssemos comprar tudo isto, não dava. O meu medo maior foi sempre o de perder a casa. Mas claro que primeiro estão os meus filhos.
De caminho para Castelo de Paiva, com taxa de desemprego de 20,7%, ressaltam à memória três acontecimentos marcantes dos últimos 16 anos: em 1994, o encerramento das Minas do Pejão, em 2001 a queda da ponte de Entre-os-Rios; e, recentemente, a batalha dos funcionários das empresas de calçado Glovar e Ilpe Ibéria pela manutenção dos postos de trabalho lembra o fecho da C. & J. Clarks.
Maria da Conceição Silva, de 42 anos, vive o drama do marido, que está em lay-off na Ilpe, desde Janeiro. Ela é caixa do supermercado Carvalho & Silva e já se habituou a ver outras famílias a poupar na alimentação para sustentarem a família. As pessoas já não compram tantos sumos e outras bebidas, cortaram no bacalhau, polvo e camarão. Só levam os detergentes mais baratos e procuram todas as promoções. Maria da Conceição sabe de cor o drama destas famílias porque em sua casa já se vive um pouco de cinto apertado.
O filho, de 21 anos, ficou desempregado e sem dinheiro para pagar a prestação do carro. "Esta semana partiu para Espanha, à sorte. Ele tem para lá um amigo e vai tentar encontrar trabalho como soldador" – conta ela, com a voz embargada e o olhar entristecido por ver o filho partir em desespero. "A minha filha, de 15 anos, pede-me umas calças porque as dela já estão rasgadas. E eu tenho que lhe dizer que este mês não posso. Talvez no próximo. Eu penso assim porque nunca quis ficar a dever a ninguém. Temos sempre que pensar que vamos cozinhar o mais barato e agora até conseguimos roupa a dois euros".
FUTURO SEM ESPERANÇA
No café da loja ao lado do supermercado, sentado numa mesa a ler o jornal desportivo e a beber uma cerveja, António Cruz, 27 anos, sente-se triste. A tristeza rouba-lhe as palavras, até a vontade de falar. "Revolta-me o País estar desta maneira, sem ideias para avançar", vai dizendo a custo. "Tenho de andar à procura de trabalho para sobreviver. Mas não tenho força, não tenho reacção. Passo o dia a dormir ou venho ao café beber uma cerveja. Não dá para mais, não tenho dinheiro". António está depressivo. Vive uma fase complicada pela qual todos os desempregados passam: é o choque de ter ficado sem emprego há menos de uma semana. Mais do que isso, está em pânico por não saber como pagar a prestação do carro e as despesas da casa. "Sinto-me frágil. Não quero que me vejam assim", lamenta.
O olhar cabisbaixo não desarma a mágoa. António trabalhou sete meses em Espanha, na construção civil, por 1050 euros. E agora não pode gastar mais do que 5 euros por dia. Difícil para quem foi obrigado a reduzir no tabaco. António mudou-se para casa dos pais da namorada. Dividindo por todos, as despesas sempre ficam mais em conta. Só que isso também o fere no seu orgulho.
A MEMÓRIA DAS MINAS
A paisagem é árida. A vocação de Castelo de Paiva nunca foi a agricultura – apesar do excelente vinho verde – mas sim a indústria do calçado, que tem vindo a desaparecer. Os rios serpenteiam pelos vales. E é quase inevitável, a caminho da adega A Ramadinha, não parar para observar um pescador. Um único pescador, no Douro, ao Sol. José Alberto está alapado nas rochas, de colete verde, chapéu de pescador, com o balde ao lado ainda vazio de pescado. O anzol espera a primeira picada. Como não podia deixar de ser para um homem da sua geração – com 59 anos –, foi mineiro. Trabalhou no fundo da mina durante oito anos, mas por causa da bronquite veio à superfície ocupar-se de outras tarefas no Pejão por mais 12 anos.
"Tenho saudades de andar lá dentro e também daquele convívio. Era como trabalhar numa fábrica". Na altura o desemprego ainda lhe rendeu uma indemnização que o ajudou a pagar por completo a casa. E por isso, hoje, passados tantos anos, ter ficado novamente sem emprego já não lhe rouba o sono. Até Setembro de 2009 foi jardineiro. Sempre tem a ajuda à mesa dos produtos da horta e dos frangos que cria. "E pesco tainhas e como-as. Aqui a tainha é boa" – vai dizendo com a sua pronuncia paivense.
Passando uma ponte que cruza o rio, chega-se à adega A Ramadinha, em Pedorico. A esplanada enche-se de velhos que conversam e bebem uma cerveja gelada. Debaixo de uma sombra, Daniel Duarte faz companhia ao amigo, emigrante na Suíça, que vai petiscando ao sabor do vinho.
Daniel tem apenas 23 anos e passa os dias em casa, no computador a ver carros, por exemplo, ou no café. Gostava de ser camionista, mas não tem carta de pesados e ainda não pensou em tirá-la. Está desempregado, mas não tem vontade de procurar trabalho em Portugal. "Lá fora é outra vida, outra liberdade", justifica. O amigo vai acenando afirmativamente com a cabeça. Daniel esteve em Espanha a trabalhar nas obras e a experiência só o leva a querer repetir. Por agora, os 460 euros do Fundo de Desemprego vão estagnando as águas da procura de melhor vida. Vive em casa dos pais e apesar de ter que se privar de sair tanto quanto gostaria com os amigos, vai aguentando. "O mesmo empreiteiro para quem trabalhei já me telefonou para me chamar, mas não me interessava o ordenado que me oferecia. É bem menos do que o que ganhava antes".
O Interior Norte do País ressente-se com a crise. As indústrias são quase inexistentes nestes três concelhos mais afectados pelo desemprego. E a agricultura é apenas uma solução nos socalcos do Douro. De resto, toda a gente tem um pedaço de terra para manter as reservas alimentares em casa. As mulheres são as mais afectadas pela falta de emprego. Vão apenas debruando esta realidade com trabalho sazonal no estrangeiro. Os homens, ocupados na construção civil, abandonam o País. Às 15 horas os cafés e as mercearias têm gente, desempregada, que já esgotou este País e os outros.  
RADIOGRAFIA DO DESEMPREGO COM TAXA ACIMA DOS 20% CENTRA-SE SÓ NO NORTE
Há quatro concelhos com desemprego acima dos 20%, sendo 10,6% a média nacional, segundo o Instituto Português de Estatística. Mesão Frio bateu o recorde com 25,8%; segue-se Baião, com 23,7%; no litoral, Espinho com 22,8%; e, voltando ao Interior Norte, Castelo de Paiva com 20,7%. A taxa de desemprego nunca esteve tão alta. Há 35 concelhos acima dos 15% e 22,7% dos desempregados são jovens.
O presidente da Câmara de Mesão Frio, Alberto Monteiro Pereira, afirma que "a grande causa deste disparo na taxa de desemprego neste concelho advém do facto de, nos últimos três anos, ter-se promovido cursos de Educação e Formação de Adultos, sendo uma das condições para o acesso a inscrição no Centro de Emprego". Perspectiva que a vereadora Ivone Abreu, da Câmara de Baião, corrobora. Tal como o autarca de Castelo de Paiva, Gonçalo Rocha, que lamenta ainda o fecho da indústria de calçado e os fracos acessos à sua região.
A TRADIÇÃO DE PÔR NA CONTA
Vítor Manuel Monteiro, do Café Conforto, em Mesão Frio, é peremptório em afirmar que o negócio já perdeu 50% com a crise de desemprego que assola o País. Esta é a opinião generalizada um pouco por todos os cafés das regiões mais afectadas por este flagelo. Pior são os calotes nas mercearias.
A maioria dos merceeiros afirma que as pessoas, apesar da crise, não se privam de comprar muitos produtos supérfluos porque ainda têm o facilitismo de mandarem pôr na conta. E quando pagam? Muitos não fazem qualquer previsão. É crise a agravar a crise. 
Comentário:
Importante artigo de Bruno Mateus. Este é o retrato real do Portugal socrático que nos desgoverna há  cerca de 4 anos - até quando? Povo, porque tardas tanto em atirar esta escumalha para o caixote do lixo?

Capitalistas atacam os trabalhadores: salários baixam na Grécia, Portugal e Espanha


Capitalistas atacam os trabalhadores.: salários baixam na Grécia, Portugal e Espanha

Com a actual crise mundial, que se manifestou em 2008 inicialmente nos EUA e que agora se aprofunda na União Europeia, fica claro que o capitalismo não é capaz mais de manter as condições já precárias em que vivem os trabalhadores neste sistema de produção, até mesmo nos países mais privilegiados por uma acumulação anterior.

Nos EUA, na Inglaterra e na Europa em geral, graças à anterior super-exploração colonial dos trabalhadores da América Latina, África e Ásia, conseguiam-se sustentar uma série de vantagens para boa parte da sua classe trabalhadora. Isto fazia com que largas camadas dos trabalhadores desses países se adaptassem ao sistema capitalista e dessem sustentação aos partidos reformistas, trabalhistas ou social-democratas, aliados dos patrões.

Basta observar alguns factos recentes que mostram o rumo desesperado que toma conta da classe trabalhadora à escala mundial. Nos EUA, na economia mais rica do planeta, de 2008 para cá, desapareceram nada menos que 8 milhões de empregos. A chamada breve "recuperação”que foi anunciada como se a crise já houvesse passado, conseguiu criar apenas 500 mil empregos. E antes que o falso optimismo conseguisse crescer e convencer alguém, já se manifestaram as consequências europeias da crise norte-americana que parecem mais devastadoras ainda.

Se no caso norte-americano assistimos à falência apenas de uma série de bancos, na verdade, diversos Estados dos EUA possuem dívidas que já são consideradas gravíssimas, não tendo tomado maiores dimensões graças ao apoio provisório do governo Federal que não permite a decretação de falências estatais. Mas, diversos Estados e cidades norte-americanas assistiram as suas fábricas sendo fechadas sistematicamente, criando zonas semi-desérticas povoadas por desempregados.

Porém, por outro lado, o que vem ocorrendo na Europa? Estados como a Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha mostram-se em situações gravíssimas, com dívidas enormes em relação à totalidade do que esses países produzem, o seu PIB (Produto Interno Bruto). No caso da Europa, existe a União Europeia, que seria uma espécie de nação européia única composta hoje por 27 Estados membros. Trata-se de um sonho que começou a ser elaborado um pouco após a Segunda Grande Guerra, em 1951, que visava, pouco a pouco, superar os Estados Nacionais e, sobretudo, os conflitos nacionalistas económicos-políticos catastróficos que levaram à morte de pelo menos 30 milhões de pessoas, claro que, em geral, vindas da classe operária.

No entanto, como se retornássemos no tempo, longe de uma verdadeira solidariedade, vemos a União Europeia reproduzir dentro de si os conflitos pré-Segunda Guerra. Os países com forças produtivas mais desenvolvidas foram massacrando as economias mais frágeis, quebrando os seus sistemas produtivos graças à abertura dos mercados e, agora, aqueles que estão à beira da falência são socorridos parcialmente, mas, ao mesmo tempo, ameaçados de expulsão caso não obedeçam a programas de severa “austeridade”.

Evidentemente, a chamada “austeridade” exigida pelos países mais poderosos recai directamente sobre a classe trabalhadora dos países semi-falidos. Em troca das ajudas que serão concedidas, Grécia, Portugal e Espanha, assim como os outros, terão que fazer cortes nas aplicações orçamentárias destinadas a finalidades sociais. Além disso, claro, entre as medidas exigidas, as principais são sempre reduzir aposentadorias e baixar os salários, fora que com os cortes orçamentários vem sempre o aumento do desemprego.

Na última semana de Maio , destacam-se as medidas a serem tomadas pela Espanha. A situação da Espanha, como se sabe, já é gravíssima, com um desemprego que chega a 20%, um déficit fiscal de 11,2 % e uma dívida pública de 53,2 %, ambos em relação ao PIB produzido durante o ano de 2009. Ora, estando nessas condições péssimas, tinha uma previsão de crescimento de apenas 1,8% em 2010, índice totalmente insuficiente para sair da crise. Porém, com as medidas que o país foi obrigado a tomar, o PIB deve crescer ainda menos este ano, prevendo-se somente o índice de 1,3%.

Entre as medidas propostas já aprovadas na Espanha estão a redução de 5% nos salários do funcionalismo, congelamento em 2011, suspensão de reajustes nas aposentadorias, fim das aposentadorias parciais e outras medidas directamente voltadas contra os trabalhadores. Curiosamente, o governo dito “socialista” do primeiro ministro Rodriguez Zapatero, pressionado pelo sector mais à esquerda do seu partido, diz que pretende aprovar também um novo imposto para quem possui ganhos anuais acima de 1 milhão de euros, mas, esta proposta não foi ainda confirmada, sendo adiada provisoriamente.

Como já ocorreu e continua a ocorrer na Grécia, os protestos dos trabalhadores começaram a tomar conta das ruas da Espanha e tendem a se generalizar por toda a Europa. Mesmo os países credores que realizam os empréstimos, tais como a Alemanha, sofrem grandes pressões da população e dos trabalhadores, pois, afinal os empréstimos nada mais são do que mais-valia extraída também do suor da classe trabalhadora dos países exploradores.

Diante dessas situações que vivem os trabalhadores europeus e norte-americanos, mais do que nunca é possível objectivamente a construção da unidade mundial da classe trabalhadora. Ao contrário do que ocorria há algumas décadas atrás, quando sectores da classe operária mundial possuíam maiores diferenças em seus níveis de vida, hoje os problemas se aproximam e a uniformidade programática se universaliza mais concretamente.

Os ataques que os companheiros norte-americanos, portugueses, gregos, espanhóis hoje recebem nos seus salários, nos seus direitos mínimos, na sua garantia a um emprego digno, são os mesmos ataques sistemáticos que os trabalhadores brasileiros e latino-americanos já conhecem há muito tempo. Objectivamente, hoje, mais do que nunca, é possível a construção da unidade mundial dos trabalhadores de todo o mundo em defesa dos seus salários e em defesa dos seus empregos.

http://www.movimentonn.org/

Direita "retirará o tapete" a Sócrates em 2011, diz Louçã

O dirigente bloquista acusa o PSD de fazer "jogo político" e diz que o “cinismo de provocar a crise política depois de criada a crise económica é profundamente prejudicial”.
Louçã criticou propostas neoliberais do PSD para a Constituição. 
Foto Paulete Matos
Louçã criticou propostas neoliberais do PSD para a Constituição. Foto Paulete Matos
Numa tertúlia organizada em Coimbra pelo semanário Campeão das Províncias, o coordenador da Comissão Política do Bloco acusou a actual direcção do PSD de estar agora a dar a mão ao governo para o fazer cair no próximo ano. “É uma estratégia, a meu ver, profundamente prejudicial em relação ao país, pela razão que está a fazer jogo político quando era preciso soluções e as soluções que apresenta são as que agravam a crise porque o acordo de Passos com Sócrates é de políticas recessivas”, sublinhou Louçã.
“O grande debate que há hoje na esquerda e no país inteiro é saber onde estão as soluções alternativas para qualificar o investimento público, para melhorar a criação de emprego e para termos prioridades”, acrescentou o dirigente do Bloco, para quem "o PS não tem sido uma solução alternativa e é por isso que, nas questões financeiras e económicas, se vira tão facilmente para compromissos à direita".
Louçã criticou ainda a proposta de revisão constitucional do PSD, que no seu entender se destina a “abrir portas a uma nova economia” neoliberal. “A ideia do cheque saúde ou cheque educação quer dizer que o Estado se desobriga de criar um serviço que garanta a prestação de um cuidado e, não estando a isso obrigado, vai financiar dificuldades dos colégios privados ou da saúde privada”, comentou o deputado bloquista.
“A minha leitura como economista é que há uma única razão para esta medida. É que a saúde e o ensino privado, salvo raríssimos pólos de exceção, são um fracasso económico em Portugal, não respondem às necessidades, não criam confiança e, portanto, não têm doentes, nem utentes, nem clientes”, acrescentou, lembrando que este modelo "não resultou em lado nenhum” e degradou os sistemas de ensino público.
Para Louçã, a proposta de revisão da Constituição nestes termos “é um subterfúgio para ganhar tempo, é um entretenimento da política orientada para generalizar as dificuldades económicas da população mais carenciada na saúde ou na educação, em vez de responder aos problemas imediatos que temos”.

CGTP pôs 300 mil na rua 

A manifestação contra o PEC levou hoje à baixa lisboeta "mais de 300 mil pessoas", segundo números avançados por Carvalho da Silva, secretário-geral da CGTP que ainda não anunciou a greve-geral, mas que deixou o aviso: "o nosso compromisso é o de adoptar todas as formas de luta que a constituição consagra, e não excluímos nenhuma". 

CGTP pôs 300
 mil na rua (vídeo)

Depois da concentração na Av. 5 de Outubro, junto ao Ministério da Educação (foto), milhares de professores oriundos de todas as regiões do País - Norte, Centro, Grande Lisboa, Sul, Açores e Madeira -,  deslocaram-se em direcção ao Marquês de Pombal, a fim de se juntarem à Administração Pública (que teve uma pré-concentração na esquina da Rua da Artilharia Um com a Rua Joaquim António Aguiar). Entretanto, nas Picoas, tinham-se concentrado os trabalhadores do sector privado. Assim, a partir do Marquês de Pombal a manifestação da CGTP-IN arrancou, em força, descendo a Avenida da Liberdade, rumo aos Restauradores, com largos milhares de participantes - um mar de gente, que de forma determinada deu eco ao lema da manifestação:  "Contra o desemprego, emprego com direitos, melhores salários para todos". A intervenção de Manuel Carvalho da Silva, Secretário Geral da CGTP-IN, encerrou esta expressiva acção de protesto e luta dos trabalhadores portugueses. Como foi reafirmado neste grande protesto em Lisboa, a CGTP-IN considera inaceitáveis e injustos: a redução dos salários e o agravamento da sua tributação em IRS; o aumento do IVA que proporcionalmente penaliza mais os que menos ganham; a baixa do poder de compra das pensões; a diminuição do subsídio de desemprego; e o ataque aos beneficiários de prestações não contributivas, incluindo a parte mais pobre abrangida pelo rendimento social de inserção. / JPO
Fenprof

Manif junta mais de 300 mil em Lisboa

O protesto geral convocado pela CGTP encheu o centro da capital com palavras de ordem contra as políticas de austeridade, o desemprego e o aumento dos impostos.
Mais de 300 mil em protesto contra as política de austeridade. 
Foto LUSA
Mais de 300 mil em protesto contra as política de austeridade. Foto LUSA
Quando a primeira linha da manifestação chegou à Praça dos Restauradores, a organização informou que a coluna dos funcionários públicos estava ainda a entrar na manifestação antes do Parque Eduardo VII.
Em declarações ao esquerda.net, que transmitiu em directo a manifestação, Carvalho da Silva manifestou "grande satisfação" com a adesão a este protesto geral e afirmou que a partir deste protesto geral, "a CGTP está preparada para apoiar todas as formas de luta".
"Participaram nesta manifestação mais de 300 mil pessoas. Os trabalhadores e o povo português estão de parabéns", disse o secretário geral da CGTP já no discurso de encerramento, com a Avenida da Liberdade cheia e o fim da manifestação ainda antes do Marquês de Pombal.
"Os salários pagos à entrada do mercado de trabalho diminuíram 30 a 40% em relação a 2005. Isto é inqualificável, é um atentado à juventude e uma das armas que o neoliberalismo tem usado para atingir os seus objectivos: destruir a solidariedade entre gerações", afirmou o líder sindical.
Carvalho da Silva criticou também o cancelamento pelo governo das medidas de protecção aos desempregados, antes aprovadas para responder à crise. "Então a crise não está aí, com tendência a agravar-se? Que cinismo é este, quando se reduz o subsídio de desemprego, sabendo eles que mais de 50% dos desempregados têm como subsídio até 419 euros e três quartos dos desempregados recebem até 428 euros. Afinal, quem são os privilegiados?".
O líder da CGTP prometeu lutar "pelo fim dos paraísos fiscais e pela tributação das grandes fortunas". "Vamos ampliar e diversificar a luta social em Portugal" com o "compromisso de apoiar todas as formas de luta que forem necessárias", consoante a avaliação da evolução da situação económica e política do país. "Não excluímos nenhuma forma de luta", concluíu Carvalho da Silva.
Francisco Louçã também esteve presente na manifestação e explicou algumas das razões para dar força a este protesto. “Quando há crise o Governo retira medidas, como por exemplo na quinta feira, quando retirou medidas de apoio a 187 mil desempregados”, recordou o dirigente bloquista. “Mas na sexta feira decidiu aumentar o apoio ao sistema financeiro que tem estrangulado a economia com juros altíssimos para as pessoas”, acrescentou.
Para Louçã, o Governo “beneficia e premeia a especulação, prejudica os desempregados” e “por isso é tão importante que a CGTP tenha organizado esta manifestação, para as pessoas dizerem de sua justiça” e protestarem contra a aliança “Passos Coelho - Sócrates” que são “irresponsáveis”.

quinta-feira, maio 27, 2010

onda nacional de protesto em Lisboa
A FENPROF apela a todos os Professores e Educadores que no próximo dia 29 de Maio (sábado), com a sua indignação, dêem mais força à onda de protesto que inundará Lisboa, numa enorme Manifestação que unirá todos os trabalhadores portugueses. Os Professores e Educadores concentrar-se-ão junto ao Ministério da Educação, pelas 14.00 horas. Após uma intervenção específica, sobre os problemas que se arrastam no sector da Educação, os docentes manifestar-se-ão, convergindo com os restantes trabalhadores, tanto do sector público, como privado, reforçando, com a sua indignação, a onda de protesto que invadirá Lisboa.

20 DE MAIO: 9ª GREVE GERAL EM TODA A GRÉCIA


A notícia está em http://fr.kke.gr/news/2010news/2010-05-20-strikepame


Clique a imagem para aceder ao folheto.

Por fim, uma coisa absolutamente necessária. Nada será como antes!




Não nos resignemos

De cada vez que surge uma desilusão futebolística para as cores nacionais, quer a nível de clubes quer de selecções, lá se renova uma esperança, cada vez mais ténue, de que, finalmente, os portugueses esqueçam o futebol e se virem para a resolução das agruras do dia-a-dia, colocando de lado as lamúrias, a acomodação, a indiferença e a resignação perante os problemas criados, muitas vezes, por aqueles que escolhemos para gerir os nossos destinos colectivos. Aos olhos de muitos de nós cria-se com demasiada frequência a ideia de que assim tem de ser e que não vale a pena exigirmos mais.
O texto seguinte é um excerto de um artigo de opinião do deputado do PSD Emídio Guerreiro, intitulado “Fado, Futebol e Portugal”, publicado hoje no “Diário de Coimbra”.

“O fado, o destino, marca-nos, a nós Portugueses, mais do que aos outros povos. Pelo menos gostamos de assim pensar. A Saudade é um conceito nosso, não é sequer traduzível em outras línguas. E nós dizemos estas coisas aos estrangeiros que conhecemos e/ou nos visitam, com um misto de resignação e orgulho.
Esta forma de estar na vida tem os seus custos. A resignação, o deixar andar e a pouca exigência que fazemos a quem nos governa é um reflexo disso. Questionamos, “refilamos”, mas depois aceitamos com o “lá tem de ser”… E assim continuam os Portugueses a aceitar tantas vezes soluções gastas, alguns dirigentes políticos gastos e, até, pouco recomendados, sem procurar e sem apostar em alternativas. Em síntese, no que toca à escolha dos líderes, quer nacionais quer locais, arriscamos pouco e resignamo-nos demais.”

Desconhecemos se este deputado, quando se refere à fraca qualidade de “alguns dirigentes políticos”, o que é pura verdade, estava a pensar nos do seu partido que também têm largas culpas na má governação do país, a vários níveis, e beneficiaram largamente do “lá tem de ser” dos portugueses.
Mas, neste momento, o importante é que nos consciencializemos de que as medidas gravosas, que têm sido tomadas e que ainda vão piorar mais, têm alternativas menos penosas para a maioria da população mas, principalmente para as camadas com menores recursos. Não nos podemos resignar nem sermos pouco exigentes relativamente a quem nos governa. È que estão em causa imensas conquistas de ordem social como as pensões de reforma, o subsidio de desemprego, o abono de família, ou o apoio na doença, para mencionarmos, apenas, as situações mais badaladas. Atrás dos anéis podem ir os dedos.
In Amar Abril

terça-feira, maio 25, 2010

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BRISA: BLOCO CRITICA GOVERNO POR NADA FAZER

O Bloco de Esquerda questionou esta segunda-feira o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações sobre o eventual fim dos portageiros da Brisa, criticando a passividade do Governo face à decisão de uma empresa que teve avultados lucros em 2009.
«Queremos saber por que razão é que o Governo continua a assistir passiva e silenciosamente a um despedimento colectivo que é provavelmente um dos mais significativos dos últimos anos em Portugal», declarou o deputado Heitor de Sousa à agência Lusa.
Brisa nega despedimento e fala em rescisões por mútuo acordo
O deputado bloquista referia-se à rescisão de contratos que «a Brisa - concessionária de um serviço público de auto-estradas - pretende levar a cabo e que está em preparação pelo menos desde o ano passado, quando os portageiros se reuniram num encontro nacional e alertaram o Governo».
Sublinhando que serão «mais de 1200 os trabalhadores afectados» por aquela eventual medida da Brisa, Heitor de Sousa considerou-a «um despedimento encapotado de acordo de rescisão«, uma vez que «os trabalhadores quase não têm a possibilidade de dizer que não».
Os bloquistas contestam ainda que a introdução da nova tecnologia que a Brisa pretende fazer na rede de que é concessionária torne essa rede «dependente de uma empresa que vai ter uma posição monopolista na gestão dessa tecnologia face à concessionária e, como tal, face ao serviço público de auto-estradas em Portugal».
Entre as desvantagens da medida está ainda o facto de «os utilizadores das auto-estradas deixarem de poder pagá-las com dinheiro ou de contar com os portageiros para obterem indicações sobre o percurso».
Para Heitor de Sousa, a decisão é «injustificável» também porque, «em plena crise económica e financeira do país, a Brisa atingiu lucros de 160 milhões de euros no exercício do ano passado, lucros dos mais significativos da sua história».
«Numa actividade concessionada pelo Estado, este é parte directamente interessada na forma como essa gestão é realizada e não pode aceitar que uma empresa com estes lucros astronómicos atinja o direito das pessoas ao emprego a coberto de uma alteração tecnológica», reforçou.
Assinalando que «a responsabilidade social de uma empresa é garantir os empregos das pessoas, reconvertendo as suas qualificações», o parlamentar afirmou que «a introdução de novas tecnologias pode significar um acréscimo de postos noutras actividades que estão a montante ou a jusante delas».
In Iol

Bloco de Esquerda apresenta programa de reabilitação urbana

O programa de reabilitação urbana que o Bloco de Esquerda vai apresentar esta semana no Parlamento tem um custo de cinco mil milhões de euros, mas que «pode ser recuperado cêntimo a cêntimo num período curto».

«É mais dinheiro que o TGV, mas ao contrário de outras obras públicas nesta todo o investimento pode ser recuperado cêntimo a cêntimo num período curto», explicou Francisco Louçã, de acordo com a TSF.

«Este programa responde ao problema do desemprego, da vida urbana e da exclusão de um parte da importante da população das cidades médias e grandes e responde também ao problema do crescimento do endividamento», garantiu.

O projecto de lei prevê que os proprietários que paguem um IMI pesado (até cinco por cento), caso não queiram fazer obras em casa, e que o Estado pague a reabilitação, quando os proprietários estão descapitalizados, ficando com direitos sobre a casa.

Neste último caso, o Bloco de Esquerda admite que o Estado explore os imóveis – através do arrendamento – durante um período que pode ir até aos dez anos. Quando o investimento for coberto, os proprietários recuperam os imóveis.
In A Bola

segunda-feira, maio 24, 2010

Exigiu-se em Bruxelas: "FMI, go home!" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
Produzido por Helena de Carvalho   
bruxgrecia04
Helena de Carvalho

Bruxelas assistiu quinta-feira, 20 de Maio, à maior manifestação já realizada de apoio e solidariedade com os trabalhadores gregos vítimas das medidas anti-sociais impostas pelo Fundo Monetário Internacional e pelos meios financeiros internacionais. A esquerda unitária no Parlamento Europeu, GUE/NGL, apoiou a manifestação: “que sejam os super-ricos, os grandes negócios e os grandes bancos a pagar a crise que provocaram”, lê-se no comunicado de solidariedade.
Ler Mais..

LUTAR CONTRA O PEC D@ TANG@
A ofensiva do governo com o PEC e com o mais recente acordo da dupla Sócrates/Passos Coelho agrava ainda mais a vida das pessoas pobres, precárias e desempregadas.
Uma acção de resposta está marcada pela CGTP, com todo o apoio do BE, para o dia 29 de Maio, em Lisboa.
Todos somos necessários para transformar as fraquezas em forças. Quantos camaradas e militantes vamos organizar, para ir a Lisboa? Muitos de certeza, o momento é de luta na rua.
Apelamos a todos em Vila Real, Tavira, Olhão, Faro, Loulé, Quarteira, Albufeira, Armação, Lagoa, Silves, Algoz, Portimão, Lagos, Vila do Bispo e Aljezur. E a outros camaradas que por todo o Algarve vão defendendo a política do Bloco.
Camaradas, não estamos a propor virem a reuniões, mas não é possível viver assim no Portugal do 25 de Abril.

Os banqueiros, as seguradoras, os off shores, os administradores, que paguem a crise. Estes já repartiram muita riqueza entre si. Os desempregados, os precários, as camadas trabalhadoras em geral só repartem pobreza e os governantes dão-lhes cada vez mais responsabilidades nas dívidas do país. BASTA!
Preparemos muitas bandeiras negras e vermelhas, vamos provar que somos gente livre, que sabe o que quer e para onde quer ir.
Repetimos mais uma vez, não estamos a propor que venhas a uma reunião. Vamos para a rua lutar.
Todos à manifestação dia 29, em Lisboa!

Nota – O BE do Algarve vai alugar autocarro(s) para a deslocação gratuita de aderentes e simpatizantes. Inscreve-te até quarta-feira, dia 26, no núcleo da tua localidade, ou através mail faro@blocoalgarve.org, ou pelo telefone 961 401 512.

O Grupo de luta contra o PEC
Do BE/Algarve

domingo, maio 23, 2010

Mobilizar, mobilizar, mobilizar. PDF Imprimir e-mail

Hoje podíamos escrever sobre a polémica que vai na Europa e algumas posições “regulamentadoras” que parecem fazer caminho na União Europeia, nomeadamente sobre a validade concreta dos comités sectoriais e suas tarefas de vigiar a finança europeia e mundial.
Hoje podíamos falar do aborrecimento de alguns mafiosos (parece que lhe chamam especuladores, investidores, uma coisa assim…) e de um “rapaz” recentemente investido no lugar de primeiro-ministro inglês contra a senhora Merkel por causa desta ter proibido a venda de produtos financeiros que o próprio vendedor não tem, uma coisa que por cá se chama burla mas que é normal nos mercados financeiros.
Hoje podíamos escrever sobre a crise inter-estados que saltou nos EUA tendo como princípio as leis de imigração e que chegam ao ponto de ameaçar com cortes de energia.
Hoje até poderíamos escrever sobre a vitória do Inter, de como Mourinho parece usar a dialéctica aplicada ao jogo. Mas esta crónica de hoje trata a posição do Bloco sobre as lutas sociais e em particular sobre a manif. da CGTP do próximo dia 29 de Maio.
O Bloco assumiu, no parlamento, uma atitude muito activa de oposição às medidas do PEC. Mas a atitude do Bloco não ficou por aí. Assumiu a realização de debates políticos plenários em inúmeras concelhias e distritais. Assumiu a sua parte na oposição de rua e está a realizar comícios do Alandroal a Torres Vedras, a lugares onde a presença destas acções é uma novidade.
O Bloco convocou um comício de rua para Lisboa dia 27. Um comício internacionalista, porque a resposta em Portugal é a resposta na Europa. O Bloco está a organizar autocarros em vários pontos do país para ajudar à mobilização para a manifestação da CGTP e deverá alcançar uma das suas maiores mobilizações de sempre.
Algumas pessoas, de esquerda, ficaram agora surpreendidas porque o Bloco está a fazer um esforço acrescido para a manif. da CGTP. O Bloco não só está a mobilizar nas empresas para que os trabalhadores participem nos autocarros e na mobilização dos sindicatos como se dispõe a uma mobilização própria para reforçar a luta dispondo os seus próprios meios e energias para dar mais força à manifestação do próximo dia 29 de Maio.
Alguns que só pensam nos movimentos como “correias de transmissão” poderão ter dificuldade em perceber esta posição do Bloco; aqueles que pensam na imensa opressão e medo social, na necessidade de mobilizar a imensa mole não sindicalizada e precarizada, aqueles que se preocupam com a mobilização da juventude, aqueles que pensam na unidade da classe contra o capital, aqueles que pensam na unidade como a confluência da diversidade, percebem e valorizam o esforço do Bloco e dos seus activistas.
É preciso aumentar a luta contra o governo, mas a mobilização é muito difícil - a possibilidade de uma divisão da classe trabalhadora existe e tem estado patente em várias empresas. O populismo grassa ampliado pelos média e pelas cedências do PS à extrema-direita. São precisos novos factores de confiança à esquerda.
Está na hora de fazer a luta "toda".
Victor Franco

Os melhores dias da nossa luta são aqueles que ainda não chegaram!
5_conf_udp.jpgGanhar os jovens para o debate sobre o papel do Estado significa a radicalização da luta e a superação de muitas das debilidades que as forças revolucionárias enfrentam desde a queda do socialismo real. Tornar atraente uma alternativa de ideal exige um contínuo aprofundamento e constante actualização do pensamento marxista.
Intervenção de encerramento da Conferência pela nova presidente, Joana Mortágua.
Ler mais... In A Comuna

Saiba o que é o capitalismo



Atilio A. Boron [*]
O capitalismo tem legiões de apologistas. Muitos o são de boa fé, produto de sua ignorância e pelo fato de que, como dizia Marx, o sistema é opaco e sua natureza exploradora e predatória não é evidente aos olhos de mulheres e homens.
Outros o defendem porque são seus grandes beneficiários e amealham enormes fortunas graças às suas injustiças e iniquidades. Há ainda outros (‘gurus’ financeiros, ‘opinólogos’ e ‘jornalistas especializados’, acadêmicos ‘pensantes’ e os diversos expoentes desse "pensamento único") que conhecem perfeitamente bem os custos sociais que o sistema impõe em termos de degradação humana e ambiental. Mas esses são muito bem pagos para enganar as pessoas e prosseguem incansavelmente com seu trabalho.
Para contra-atacar a proliferação de versões idílicas acerca do capitalismo e sua capacidade de promover o bem-estar geral, examinemos alguns dados obtidos de documentos oficiais do sistema das Nações Unidas. Isso é extremamente didático quando se escuta, ainda mais no contexto da crise atual, que a solução dos problemas do capitalismo se consegue com mais capitalismo; ou que o G-20, o FMI, a Organização Mundial do Comércio e o Banco Mundial, arrependidos de seus erros passados, poderão resolver os problemas que asfixiam a humanidade.
Todas essas instituições são incorrigíveis e irreformáveis, e qualquer esperança de mudança não é nada mais que ilusão. Seguem propondo o mesmo, mas com um discurso diferente e uma estratégia de "relações públicas" desenhada para ocultar suas verdadeiras intenções. Quem tiver duvidas, olhe o que estão propondo para "solucionar" a crise na Grécia: as mesmas receitas que aplicaram e continuam aplicando na América Latina e na África desde os anos 80!

A seguir, alguns dados (com suas respectivas fontes) recentemente sistematizados pelo CROP, o Programa Internacional de Estudos Comparativos sobre a Pobreza, radicado na Universidade de Bergen, Noruega. O CROP está fazendo um grande esforço para, desde uma perspectiva crítica, combater o discurso oficial sobre a pobreza, elaborado há mais de 30 anos pelo Banco Mundial e reproduzido incansavelmente pelos grandes meios de comunicação, autoridades governamentais, acadêmicos e "especialistas" vários.
População mundial: 6.800 bilhões, dos quais...

• 1,020 bilhão são desnutridos crônicos (FAO, 2009)

• 2 bilhões não possuem acesso a medicamentos (http://www.fic.nih.gov/)

• 884 milhões não têm acesso à água potável (OMS/UNICEF, 2008)

• 924 milhões estão "sem teto" ou em moradias precárias (UN Habitat, 2003)

• 1,6 bilhão não têm eletricidade (UN HABITAT, "Urban Energy")

• 2,5 bilhões não têm sistemas de drenagens ou saneamento (OMS/UNICEF, 2008)

• 774 milhões de adultos são analfabetos (http://www.uis.unesco.org/)

• 18 milhões de mortes por ano devido à pobreza, a maioria de crianças menores de 5 anos
(OMS).
• 218 milhões de crianças, entre 5 e 17 anos, trabalham precariamente em condições de escravidão e em tarefas perigosas ou humilhantes, como soldados, prostitutas, serventes, na agricultura, na construção ou indústria têxtil (OIT: A eliminação do trabalho infantil: um objetivo ao nosso alcance, 2006).
Entre 1988 e 2002, os 25% mais pobres da população mundial reduziram sua participação na renda global de 1,16% para 0,92%, enquanto os opulentos 10% mais ricos acrescentaram mais às suas fortunas, passando de dispor de 64,7% para 71,1% da riqueza mundial. O enriquecimento de uns poucos tem como seu reverso o empobrecimento de muitos.

Somente esse 6,4% de aumento da riqueza dos mais ricos seria suficiente para duplicar a renda de 70% da população mundial, salvando inumeráveis vidas e reduzindo as penúrias e sofrimentos dos mais pobres. Entenda-se bem: tal coisa se conseguiria se simplesmente fosse possível redistribuir o enriquecimento adicional produzido entre 1988 e 2002 dos 10% mais ricos. Mas nem sequer algo tão elementar como isso é aceitável para as classes dominantes do capitalismo mundial.

CONCLUSÃO: se não se combate a pobreza (que nem se fale de erradicá-la sob o capitalismo) é porque o sistema obedece a uma lógica implacável centrada na obtenção do lucro, o que concentra riqueza e aumenta incessantemente a pobreza e a desigualdade socioeconômica.
Depois de cinco séculos de existência eis o que o capitalismo tem a oferecer. O que estamos esperando para mudar o sistema? Se a humanidade tem futuro, será claramente socialista. Com o capitalismo, em compensação, não haverá futuro para ninguém. Nem para os ricos e nem para os pobres. A frase de Friedrich Engels e também de Rosa Luxemburgo, "socialismo ou barbárie", é hoje mais actual e vigente do que nunca. Nenhuma sociedade sobrevive quando seu impulso vital reside na busca incessante do lucro e seu motor é a ganância. Mais cedo que tarde provoca a desintegração da vida social, a destruição do meio ambiente, a decadência política e uma crise moral. Ainda temos tempo, mas já não tanto.
12 de Maio de 2010
[*] Atilio A. Boron é diretor do PLED, Programa Latinoamericano de Educación a Distancia em Ciências Sociais, Buenos Aires, Argentina
Sítio: www.atilioboron.com/
Traduzido por Gabriel Brito, jornalista
Reproduzido de Correio da Cidadania
Esta página encontra-se em http://www.cecac.org.br/

Apontamentos da Grécia: Greve Geral de 20 de Maio

Apontamentos da Grécia: Greve Geral de 20 de Maio

1. A primeira questão que fica claro para quem chega de longe a Atenas neste dia 20 de Maio é que de facto houve uma verdadeira greve geral. Os transportes totalmente parados, não circularam nem um metro e nem um autocarro. Há até quem diga que terá sido um erro este sector da classe trabalhadora parar totalmente. Com efeito, na última greve geral, a 5 de Maio, estes transportes funcionaram durant...

O candidato silenciado

Na semana em que a imprensa portuguesa ajoelhou obedientemente perante o chefe da hierarquia da ICAR, o governo aproveitou para acordar com o PSD as condições do brutal assalto em curso às classes trabalhadoras. A esquerda vai preparando a sua resposta, que terá certamente um ponto muito alto na manifestação convocada pela CGTP para 29 de Maio: o Bloco apoia a manif e prepara-a com a CGTP, o PCP convocou um comício para a semana anterior e outros movimentos e cidadãos se vão mobilizando para mostrar a sua mais que justa indignação e protesto. Entretanto, que faz o candidato presidencial que se afirma como "o único" que pode mobilizar toda a esquerda? Cala-se perante o aumento de impostos sobre o trabalho e apela à "compreensão" face ao pacote de medidas de austeridade negociado entre a direcção do seu partido e o PSD. O secretariado do PS marcou para dia 29 a reunião onde decidirá do seu apoio a Alegre, o que por acaso coincide com a data da grande manifestação promovida pela CGTP. Enquanto a esquerda se mobiliza para estar na rua em protesto, Alegre estará silencioso ou a apelar à compreensão, refém da direcção do seu partido. Não é assim que se mobiliza a esquerda para alguma alternativa de política ou de sociedade.
In Almareios

quinta-feira, maio 20, 2010

Manif. em Bruxelas: "FMI, go home!" PDF Versão para impressão Enviar por E-mail
bruxgrecia04
Helena de Carvalho

Bruxelas assistiu quinta-feira à maior manifestação já realizada de apoio e solidariedade com os trabalhadores gregos vítimas das medidas anti-sociais impostas pelo Fundo Monetário Internacional e pelos meios financeiros internacionais. Os manifestantes deslocaram-se das instalações da Comissão Europeia à Representação Permanente da Grécia no dia em que os gregos respeitaram nova greve geral, declarando a sua solidariedade “com a Grécia que resiste”. “FMI, go home”, proclamaram.
A iniciativa partiu de grupos de cidadãos gregos imigrados na Bélgica, apoiados por cidadãos europeus de várias outras nacionalidades conscientes de que as chamadas medidas de “combate à crise” provocada pelos défices de Estados-membros estão a avançar contra outros povos do continente e até de outros continentes.
A convocatória da manifestação denunciou e condenou a “violência do Estado grego”, demonstrada através de “invasões bárbaras da polícia a casas e lugares de reunião de militantes” e também da actuação de “agentes provocadores para-estatais, ou mesmo da polícia que se misturam com as multidões nas manifestações de modo a denegrir as suas lutas”. Neste contexto, os manifestantes de Bruxelas declararam o seu “horror” pela morte de três pessoas no dia da anterior greve geral, 5 de Maio, denunciando que os “autores continuam desconhecidos” e o “desrespeito das normas de segurança” da agência bancária onde os crimes foram cometidos.
Os participantes na manifestação de Bruxelas afirmaram que existe alternativa para combater a crise, designadamente a renegociação da dívida “de modo a conter a degradação do tecido social na Grécia e na Europa”, o pagamento da dívida pelos que a provocaram, como “os bancos privados, hoje muito mais ricos do que antes da crise”, e também “o controlo democrático dos bancos”e “da política monetária e da soberania monetária”.
A convocatória da manifestação de Bruxelas faz uma abordagem genérica das situações sociais chocantes provocadas pelas medidas impostas pelo FMI e pelas instituições que estabelecem a política da União Europeia, sublinhando a taxa de desemprego de 12 por cento e que atinge os 40 por cento entre os jovens, o corte dos rendimentos anuais dos funcionários públicos mais experientes de 23 mil para 19 mil euros, o aumento do IVA para 21 por cento, eventualmente para 23 por cento, o congelamento generalizado dos salários e das pensões sociais, a subida dos preços em flecha, os salários em atraso há vários meses em áreas dos serviços públicos e privados, a intenção de abolir as convenções colectivas.
Além dos cortes drásticos na saúde e na educação, as medidas impostas pelo FMI vão aumentar a dívida externa grega entre 125 e 150 por cento, revela o documento divulgado em Bruxelas, além de desmantelarem estruturas de serviços públicos essenciais e provocarem a estagnação da economia durante muitos anos.
As medidas do FMI e das instituições europeias impostas à Grécia “não são apoio, mas sim usura”, sublinharam os manifestantes, solidários com os povos de outros países já atingidos entre os quais citaram a Espanha, Portugal, a Hungria e a Roménia.

Grécia: "Ladrões! Ladrões!"
Manifestantes gregos. Foto de tom.tziros, FlickRQuinta greve geral realizada este ano paralisa o país. Mais de 20 mil manifestam-se em Atenas e denunciam que o plano de austeridade vai agravar o desemprego, que já está em 12%.
Ler mais e comentar... ESquerda.net  

Destaques

Diz-se muitas vezes que já não há distinção entre esquerda e direita. Não é verdade. Vê-se, frequentemente, a direita chorar lágrimas de crocodilo pela situação dos mais pobres e desfavorecidos mas, quando se trata de tomar decisões em que se tem de fazer uma opção clara, é evidente que a direita opta pela defesa dos interesses dos ricos e poderosos. É para isso que eles lá estão. Lamentavelmente o Partido de Sócrates envereda pelo mesmo caminho. No texto seguinte inserido hoje num jornal de Coimbra, José Manuel Pureza, deputado do BE, coloca o dedo na ferida desta situação, com muita oportunidade.
Pobres

Sócrates e Passos Coelho decidiram que a primeira medida é cortar no subsídio de desemprego. O PSD quer que os titulares de subsídio de desemprego e de RSI deixem de o ser se não trabalharem gratuitamente como contrapartida. O CDS insiste na qualificação do RSI como campo de fraudes em série.
Em aperto de cinto, a direita faz, dos mais pobres, alvo preferencial. Sempre o fez. Que o governo a acompanhe, é uma escolha de altíssimo significado político.
Primeiro, porque o subsídio de desemprego não é um favor, é um direito de quem descontou ao longo da vida. Alguém imagina que, tendo sempre pago o seguro automóvel, a seguradora lhe exija, num momento de fazer uso do seguro, que precisa de trabalhar três dias para ter o seguro a que.,.. tem direito? Acusar os empregados de não serem senão madraços, instalados no apoio do Estado, é pura expressão de racismo social, assente na mistificação que destrói os fundamentos do Estado social.
Depois, porque o RSI é a prestação mais vigiada do país. Os beneficiários são fiscalizados pelas comissões de acompanhamento, inseridos em programas de reinserção no mercado de trabalho e têm até as suas contas bancárias subtraídas ao regime sacrossanto do sigilo bancário.
Esta cruzada da Direita é hoje o maior dos desafios da nossa democracia. Por ele passa a definição de campos na política. Com toda a clareza. 
In Amar Abril

Desempregado igual a mandrião?
No suplemento de Economia da última edição do “Expresso”, um dito reputado economista afirma que em Portugal “40% dos desempregados não voltam ao mercado de trabalho” e atribui essa situação ao facto de o subsídio português ser “um dos mais generosos da OCDE”, o que contribui para que “os desempregados fiquem mais tempo sem trabalhar”.
Nesta altura, com uma taxa de desemprego de 10,6%, culpar os desempregados de falta de vontade de trabalhar parece humor negro ou então é uma brincadeira de mau gosto.
Diz o povo que é mais cego o que não quer ver do que aquele que não vê. Só não vê a realidade quem não quer, pois quase todos os dias se dá conta nos meios de comunicação social – nomeadamente na televisão – do desespero em que ficam os trabalhadores das empresas que encerram em virtude da perda dos seus postos de trabalho. É óbvio que eles não ficam contentes, por passarem à inactividade e receberem o subsídio de desemprego. Às vezes são os dois elementos do casal atingidos ao mesmo tempo. Como é possível atribuir a pessoas na casa dos 40 ou 50 anos o gosto de permanecerem na inactividade, à sombra de um parco subsídio de sobrevivência que a curto prazo vai terminar, sendo conhecida a dificuldade de alguém encontrar trabalho, mesmo jovem?
Nos casos em que existem abusos, há que recorrer à lei para punir os prevaricadores e não aproveitar as excepções para retirar direitos, a todos, de forma deliberada.
Para o economista que defende estas teorias, é da “actual arquitectura do sistema de subsídio de desemprego” a responsabilidade de tão elevado número de pessoas não terem trabalho e não o estado calamitoso a que chegou a nossa economia com o sistemático encerramento de empresas.
É claro que a ideia que defende que “o essencial na determinação da taxa de desemprego está nos salários, não é na economia” pretende atingir objectivos que assentam como uma luva na tendência actual: liberalizar os despedimentos, baixar os salários e pensões e diminuir substancialmente os apoios sociais em situação de desemprego.
Se quisermos encontrar um exemplo típico do que é a aplicação prática das teorias neoliberais, ele está aqui.

P.S. Neste momento a taxa de desemprego real pode estar perto dos 13% com 729 mil pessoas sem trabalho. 
In Amar Abril