Tsipras: "Temos o apoio do povo, mas não o do parlamento"
As conversações para a formação de apoio parlamentar a um governo de esquerda duraram um dia e não tiveram resultado. Alexis Tsipras, líder da coligação Syriza, diz que esta é "uma grande oportunidade para a Grécia e a Europa derrotarem os programas de austeridade", se os partidos derrotados nas eleições renunciarem ao memorando da troika. O cenário de novas eleições aproxima-se.
Tsipras recebeu o mandato do presidente grego Karolos Papoulias para formar governo, apesar do sistema eleitoral ter tornado o país ingovernável ao atribuir um bónus de 50 deputados aos partidos da troika.
"Obrigámos a Europa inteira a olhar para o voto dos gregos", afirmou Tsipras na declaração no fim da ronda de conversações com os partidos, lembrando que "o voto popular é pelo fim imediato do programa de austeridade", embora o sistema eleitoral grego distorça os resultados ao atribuir 50 deputados ao partido mais votado. "Se tivéssemos ido com a Esquerda Democrática [que cindiu com a Syriza e foi agora o único partido a apoiar a sua proposta do governo de esquerda para denunciar o memorando da troika], hoje seríamos o primeiro partido", afirmou Tsipras, citado pelo blog Keep Talking Greece, fazendo as contas a 121 deputados num parlamento com 300: os 52 deputados da Syriza com os 19 daquela força e os 50 do tal "bónus" que beneficiou no domingo a Nova Democracia.
À falta de uma maioria clara de governar, com os partidos da troika sem maioria no parlamento e com a recusa do partido mais votado em formar Governo, foi a vez do Syriza tentar ganhar apoio para um governo de esquerda. Os contactos com os Gregos Independentes [cisão da Nova Democracia contra o memorando da troika] resultaram apenas num apelo conjunto aos líderes da Nova Democracia e do PASOK para retirarem a sua assinatura do memorando e comprometerem-se com um novo programa político para salvar o país da ruína da austeridade.
A reunião posterior com o PASOK acabou por ser decisiva para o desfecho negativo das negociações. "Tentámos evitar novas eleições, mas Venizelos [líder do PASOK] pôs-nos perante o dilema: ou implementação do programa de resgate ou novas eleições", explicou Tsipras aos jornalistas, acrescentando que o antigo ministro das Finanças de Papandreou se disponibilizou "para dar um voto de tolerância a um Governo Syriza-Esquerda Democrática, mas um governo que cumprisse a agenda dele".
Tsipras acusou ainda Venizelos e Samaras [líder da Nova Democracia] de terem assinado o memorando da troika para salvaguardarem o interesse dos seus partidos e o deles próprios e não o interesse do povo grego. A Nova Democracia e o PASOK perderam mais de 3,3 milhões de votos nestas eleições e representam agora menos de um terço dos votantes do passado domingo.
"A nossa proposta tem forte apoio popular", declarou o líder da Syriza, insatisfeito por não poder concretizar "o nosso sonho de um governo de esquerda". Fora da ronda de conversações ficou o KKE [PC grego], que defende a saída da Grécia da União Europeia e se auto-excluiu de qualquer solução governativa a partir do resultado expresso nas urnas.
O processo de formação de governo irá continuar esta quinta-feira, desta vez com Venizelos a procurar o apoio da Nova Democracia e da Esquerda Democrática, embora poucos acreditem na possibilidade destes últimos virem a apoiar um governo que será encarado como mais um governo da troika para aplicar um programa de austeridade que foi esmagado pela vontade democrática nas urnas. Caso falhe ainda uma eventual tentativa de formação de um governo presidencial, a solução poderá mesmo passar por voltar a clarificar as escolhas dos gregos, com novas eleições já no mês que vem.
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