É objetivo assumido a concretização do velho sonho da direita de privatizar a educação e desmantelar a escola pública de qualidade
Rever
a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) é um dos objetivos da
coligação PSD-CDS para a próxima legislatura. Para ocultar os seus
verdadeiros propósitos, o programa refere-se sempre a “atualização”, mas
basta ler o que se pretende “atualizar” para confirmar que não é disso
que se trata. O desenvolvimento da política de “contratos de
associação”, o incentivo ao desenvolvimento de escolas independentes no
quadro da “diversificação da natureza institucional das escolas” que
“garantam o serviço público” ou a valorização da chamada liberdade de
escolha e a diferenciação dos percursos escolares (adivinhando-se no que
se transformariam as escolas públicas), são alguns dos objetivos
enunciados no programa daquela coligação.
Porém,
o seu programa não se limita à revisão da LBSE, ele confirma a intenção
de prosseguir algumas das medidas mais negativas e contestadas impostas
pelo atual governo ao longo da legislatura:
- Municipalização da educação;
- Privatização do ensino, com o recurso aos mais variados contratos – simples, de desenvolvimento e de associação – sempre em nome do falso princípio da liberdade de escolha, sob o qual se esconde a verdadeira intenção de privatizar;
- Universalização da educação pré-escolar a partir dos 3 anos, essencialmente com o recurso ao setor privado e ao aumento do número de contratos de desenvolvimento;
- Reafirmação das chamadas metas e manutenção dos exames, desde o primeiro ciclo de escolaridade, como referencial dos designados “resultados escolares reais”;
- Insistência na desvalorização de disciplinas em relação a outras consideradas mais importantes;
- Alargamento, a outras línguas, de processos do tipo “Cambridge”, imposto para o Inglês;
- Entrega da formação artística a autarquias e instituições privadas;
- Alargamento das respostas ditas vocacionais e profissionais de caráter dual, sendo requisito para o seu funcionamento que tal aconteça no âmbito do processo de municipalização;
- Reforço das chamadas lideranças unipessoais nas escolas, com referência à existência de uma carreira de gestor escolar;
- Manutenção da PACC como requisito para ingresso na profissão;
- Definição de critérios mais apertados para referência dos alunos com necessidades educativas especiais, isto é, privar mais alguns milhares dos apoios que necessitam, e reforço das designadas parcerias com privados para a promoção dos apoios educativos e terapêuticos indispensáveis;
- Manutenção dos CQEP como alternativa para jovens ainda em idade escolar;
- Aprofundamento do sistema binário de ensino superior, reservando para os politécnicos um papel menor, em que pontificam os cursos TeSP;
- Reforço das restrições à investigação científica, acentuando critérios que relevam um caráter estritamente utilitário.
No
programa desta coligação nada se refere em relação às carreiras dos
docentes, tanto da educação pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário, como do ensino superior, e da investigação científica,
nomeadamente no que se refere ao desbloqueamento das progressões, como
nada diz sobre matérias relacionadas com o ingresso nos quadros, os
horários de trabalho e sua organização ou a aposentação dos professores.
Refere-se, a certa altura, a necessidade de desburocratizar o exercício
profissional docente tal como, aliás, já afirmava no programa de 2011.
Concluída a Legislatura, porém, o problema agravou-se.
Os
quatro anos da Legislatura que agora termina foram de chumbo para a
Educação. Tecnicamente incompetente, mas politicamente capaz de levar
por diante a missão de desvalorização da Escola Pública, o governo que
sai também não deixa saudades no setor.
As escolas perderam muitos recursos, o que resultou diretamente do corte de mais de 3 000 Milhões de euros na Educação, o desemprego docente cresceu como nunca acontecera, a instabilidade do corpo docente das escolas acentuou-se com a eliminação de mais de 40.000 postos de trabalho, as carreiras mantiveram-se bloqueadas e os salários com cortes, os currículos foram empobrecidos, o privado ganhou espaço e a municipalização avançou, cerca de metade das unidades de investigação perderam quase todos os seus recursos financeiros e muitos investigadores com contratos a prazo foram lançados no desemprego ou tiveram de emigrar e reduziram-se substancialmente as bolsas de doutoramento.
A tudo isso se juntou um tremendo desrespeito pelas leis, o que se tornou prática ministerial que valeu milhares de processos em tribunal contra o MEC. Com tudo isto, o insucesso escolar no ensino básico aumentou e o abandono anterior à conclusão do secundário só não conheceu o mesmo caminho, devido ao alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, tendo, o ano que terminou, sido o último da sua concretização.
As escolas perderam muitos recursos, o que resultou diretamente do corte de mais de 3 000 Milhões de euros na Educação, o desemprego docente cresceu como nunca acontecera, a instabilidade do corpo docente das escolas acentuou-se com a eliminação de mais de 40.000 postos de trabalho, as carreiras mantiveram-se bloqueadas e os salários com cortes, os currículos foram empobrecidos, o privado ganhou espaço e a municipalização avançou, cerca de metade das unidades de investigação perderam quase todos os seus recursos financeiros e muitos investigadores com contratos a prazo foram lançados no desemprego ou tiveram de emigrar e reduziram-se substancialmente as bolsas de doutoramento.
A tudo isso se juntou um tremendo desrespeito pelas leis, o que se tornou prática ministerial que valeu milhares de processos em tribunal contra o MEC. Com tudo isto, o insucesso escolar no ensino básico aumentou e o abandono anterior à conclusão do secundário só não conheceu o mesmo caminho, devido ao alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos, tendo, o ano que terminou, sido o último da sua concretização.
Pelo
programa que apresenta para os próximos quatro anos, a coligação que
ainda governa pretende manter e reforçar as políticas que têm sido
desenvolvidas para prosseguir a sua agenda de privatização na Educação e
de desvalorização da Escola Pública, desmantelando a sua matriz
democrática que é sinónimo de ensino de qualidade para todos.
Mudar
de políticas também na educação e na ciência, passa por infringir uma
inequívoca derrota à coligação que governou o país nos últimos quatro
anos. Ainda que essa não seja condição suficiente, é, no entanto,
condição necessária. E basta ler o programa dessa coligação para
confirmar tal necessidade.
O Secretariado Nacional
2015.08.19
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