A luta é o caminho para aprofundar o combate à austeridade
A luta é o caminho a seguir
para aprofundar o combate efetivo à austeridade, para a recuperação de
rendimentos e a defesa do estado social!
2 de Janeiro, 2017 - 13:27h
Passou
já mais de um ano de “geringonça”, foram aprovados dois Orçamentos de
Estado e ela continua a aguentar-se. Tivemos 4 anos de austeridade
violenta com o governo PSD/CDS, tivemos os negros anos da troika com
políticas destrutivas contra os mais fracos e que não esquecemos. Nas
eleições de 2015 a direita perdeu a maioria absoluta e foi derrotada.
Formou-se um novo governo – do Partido Socialista – assente numa nova
maioria parlamentar, à esquerda e, para tal, a ação do Bloco de Esquerda
foi crucial.
Os principais objetivos dessa maioria e desse governo,
além de afastar a direita do poder, foi o de parar o ciclo de
empobrecimento do país, minimizar a austeridade e recuperar rendimentos
para as famílias.
No anterior Orçamento de Estado e durante um ano, muito
foi conseguido e com a marca do Bloco. Para dar alguns exemplos, há a
destacar: a reversão de cortes nos salários, pensões e subsídios; o
aumento do RSI, CSI e subsídio social de desemprego; a reposição de 35
horas na administração pública, embora ainda não totalmente cumprida; a
reposição de feriados; o arrendamento social apoiado para 100 mil
famílias; a proibição de novas privatizações e concessões; a eliminação
da obrigatoriedade de apresentação quinzenal dos desempregados; o
alargamento da Televisão Digital Terrestre com novos canais; a proibição
de trabalho forçado; a eliminação da sobretaxa para 90% dos
contribuintes; a reposição da lei sobre a interrupção voluntária da
gravidez; a aprovação de leis sobre adoção; a aprovação da Procriação
Medicamente Assistida; a proposta que protege os docentes, vítimas de
doença incapacitante; o alargamento da tarifa social de eletricidade a
cerca de 800 mil famílias; a aprovação do desassoreamento da barra da
Fuseta.
Muitas outras situações positivas foram conseguidas, mas
o saldo tornou-se muito insuficiente. Muitas propostas bloquistas foram
e continuam a ser rejeitadas pelo governo e pelo PS (e pela direita).
Foi rejeitada a proposta para a reforma completa com 40 anos de
descontos, assim como estender o horário semanal de trabalho de 35 horas
para todos, incluindo os privados. Também foi chumbada uma nova
proposta para a dissolução do Centro Hospitalar do Algarve, dotando os
Hospitais de Faro e de Portimão de autonomia administrativa e
financeira, melhorando as condições de saúde com novos profissionais
(agora, embora tardiamente, parece que estão a dar razão ao Bloco de
Esquerda). Ainda não foi possível anular os contratos das concessões
petrolíferas, mas o caminho parece apontar no sentido positivo.
Igualmente, voltaram a ser reprovadas as propostas bloquistas para a
eliminação das injustas e arbitrárias portagens na Via do Infante e este
ano já foram três vezes.
O Orçamento de Estado para 2017 vai permitir a
continuação da recuperação de rendimentos que atinge quase 1.000 milhões
de euros. Verifica-se uma recuperação significativa das prestações
sociais no abono de família, no RSI, CSI e as pensões tiveram o maior
aumento da década, embora não leve ninguém a sair da situação de pobreza
em que se encontra. O salário mínimo mensal subirá para 557 euros, mas
aquém dos 600 euros preconizados pelo Bloco. Também será lançado um
imposto sobre o património de luxo, pois é de elementar justiça que
aqueles que mais têm, possam contribuir um pouco mais.
Diga-se no entanto, que o PS e o seu governo no
Orçamento para 2017 e nos últimos dias, com tomadas de posição
insensatas e perigosas, fizeram tremer os alicerces da “geringonça”.
Voltaram a chumbar a eliminação das mortíferas portagens na Via do
Infante, vão reduzir a TSU para o patronato agravando as dificuldades da
Segurança Social, tarda a aparecer um plano efetivo de combate à
precariedade, que só no Estado atinge mais de 100 mil pessoas, e o país
já não vai ter a promessa de reposição de freguesias nas eleições
autárquicas de 2017, gorando-se assim as expectativas de populações e de
autarcas.
E vamos continuar a ter um grave problema em 2017.
Continuará a faltar dinheiro para o SNS, para a Escola Pública, para a
proteção da Natureza, o ordenamento do território e para o investimento,
o estado social continuará muito vulnerável, a corrupção não irá parar,
os mais ricos praticamente não serão beliscados, a pobreza irá
continuar e o governo não terá coragem para atacar as PPP’s rodoviárias e
as rendas na saúde e na energia.
A solução terá de passar pela reestruturação da dívida
que está a levar ao país mais de 8 mil milhões só em juros da dívida.
Terá de haver um confronto inevitável com a União Europeia e o governo
não estará disposto a fazer tal confronto.
Não há recuperação sustentada dos rendimentos sem um
efetivo combate à austeridade. Os juros da dívida são um garrote
insustentável. Torna-se imperioso desobedecer à Europa, o que não aponta
o Orçamento para 2017.
Quer o governo queira, quer não queira, no ano que vai
começar a luta é o caminho a seguir para aprofundar o combate efetivo à
austeridade, para a continuação da recuparação de rendimentos e a defesa
do estado social. O Algarve tem sido um exemplo de luta dos movimentos
sociais e assim deverá continuar.
Torna-se imperioso intensificar as ações dos movimentos
sociais na região, por exemplo, na luta pela abolição das portagens,
pela requalificação total da EN 125, pela anulação de todos os contratos
com as petrolíferas, pela defesa da Escola Pública e do Serviço
Nacional de Saúde, e pela sobrevivêncioa da pesca artesanal que se
encontra numa situação insustentável pela ameaça das concessões
aquícolas e pelo crescente assoreamento de portos e barras. Estas e
outras lutas poderão contar com o apoio do Bloco de Esquerda.
Artigo publicado no Jornal do Algarve, em 29 de dezembro de 2016.
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