O ALGARVE NO PARLAMENTO: Os pecados capitais do Governo PS no Algarve
O governo anterior do PSD/CDS, devido às suas
políticas neoliberais austeritárias, às ordens da troika estrangeira, em
“guerra permanente” contra os trabalhadores, os jovens, a terceira
idade, contra as populações, quase iam destruindo o Algarve (e todo o
país), cujas consequências negativas ainda hoje se fazem sentir. Por
isso, a direita foi derrotada nas eleições legislativas e foi formado um
novo governo, do PS, suportado pelos partidos da esquerda parlamentar,
onde se inclui o Bloco de Esquerda.
Sem dúvida que se conseguiram vários avanços, várias
medidas da troika foram revertidas, as famílias recuperaram alguns
rendimentos, as privatizações cessaram e parou, até certo ponto, o ciclo
de empobrecimento do país. Mas havia a esperança que este governo fosse
mais longe – e tinha todas as condições para isso. No entanto, a
desilusão começa a instalar-se.
Olhando para o Algarve, são quatro os pecados
capitais que envolvem o atual governo. Neste artigo iremos falar apenas
de dois desses pecados. No próximo artigo serão enunciados os outros
dois.
Comecemos pelo Serviço Nacional de Saúde. O governo
anterior, com a criação do Centro Hospitalar do Algarve, em 2013, à
revelia de utentes, profissionais e populações, desferiu um dos maiores
ataques a uma das maiores conquistas da Revolução de abril, o SNS. No
Centro Hospitalar degradaram-se valências, serviços, faltaram
medicamentos e material cirúrgicos e a norma passou a ser a carência
grave de médicos, enfermeiros, técnicos e outros profissionais de saúde.
A constituição do Centro Hospitalar do Algarve
revelou-se um erro crasso e só não foi mais grave devido aos protestos
dos profissionais e das populações. Erro denunciado na altura pelo Bloco
de Esquerda e que o atual Ministro da Saúde já reconheceu. Quem mais
sofreu com esta situação foram os utentes que viram posto em causa um
dos direitos básicos consagrados constitucionalmente – o direito à
proteção na saúde.
O atual governo tomou algumas medidas para resolver a
situação, todavia revelaram-se claramente insuficientes. Graves
problemas continuam a afetar o CHA, com muita falta de médicos e outros
profissionais, a produtividade decresceu, o recurso a privados tem
aumentado, os tempos de espera para as consultas continuam longos,
esperam-se muitas horas nas urgências, os investimentos tardam. O Centro
de Medicina Física e de Reabilitação de S. Brás de Alportel funciona
apenas a 50%.
Este é um dos erros capitais do atual governo no
Algarve – ainda não deu a devida atenção ao SNS na região. Tem de
resolver, quanto antes, as graves dificuldades que continuam a grassar
no Centro Hospitalar e também a nível dos cuidados de saúde primários.
Um dos outros erros capitais do governo PS, e bem
grande, prende-se com as portagens na Via do Infante. As portagens,
impostas pelo anterior governo, têm provocado consequências trágicas na
região. Além dos graves prejuízos provocados à economia e à mobilidade
na região, a maior tragédia tem a ver com a dimensão dos acidentes
rodoviários ocorridos, grande parte da EN125, uma “rua urbana” e que
voltou a ser considerada a estrada mais mortífera do país, ou seja, a
“estrada da morte”, devido às inúmeras vítimas mortais e feridos graves
que têm acontecido.
Só no ano de 2016 tiveram lugar no Algarve mais de
10.000 acidentes rodoviários, mais precisamente 10.241 (grande parte na
EN125)! O Distrito de Faro ficou em 4.º lugar a nível nacional, apenas
sendo ultrapassado por Lisboa, Porto e Braga. No ano passado foram mais
751 acidentes do que em 2015 e mais 1.903 do que em 2014, com 31 vítimas
mortais e 158 feridos graves.
Em 5 anos de portagens registaram-se na região cerca
de 50.000 acidentes, com quase 200 vítimas mortais e quase 1.000 feridos
graves, a maioria na EN125. Uma tragédia e uma espécie de “guerra não
declarada” no Algarve! Certamente que nem todos os acidentes e vítimas
se devem à introdução das portagens, mas uma grande percentagem desta
injustiça e arbitrariedade resulta desse erro gritante que foi a
imposição e portagens.
Toda esta vergonha e estes crimes acontecem na
principal região turística do país, uma região sem vias alternativas,
com uma EN125 longe de se encontrar totalmente requalificada (mesmo
requalificada nunca será alternativa), e uma ferrovia regional mais
própria do século XIX.
Por outro lado, o contrato com a PPP da Via do
Infante continua a ser bastante ruinosa para o país, com um prejuízo
anual acima dos 30 milhões de euros. Ainda não houve coragem para
denunciar e tocar nos privilégios da concessionária, que continua a
engordar. Em nome da transparência devem ser tornados públicos todos os
interesses obscuros que envolvem essa PPP.
Perante a realidade de tais factos esperava-se que o
governo do Partido Socialista fosse diferente do governo do PSD/CDS e
abolisse as portagens no Algarve. Não só não acabou com as portagens,
como os seus deputados votaram contra todas as propostas apresentadas na
Assembleia da República para a sua eliminação. Nesta legislatura o
Bloco de Esquerda já apresentou três vezes essa proposta (2 vezes na
discussão dos Orçamentos de Estado e em maio de 2017). Também nesta
matéria este governo revelou-se uma desilusão.
No próximo dia 30 de março será discutido no
Parlamento mais um Projeto de Resolução do Bloco para a eliminação das
portagens no Algarve. Os deputados do PSD, do CDS e do PS voltam a ter a
oportunidade de acabar com a calamidade das portagens que grassam no
Algarve há mais de 5 anos. E o PS tem a “chave do jogo nas mãos”, pois
depende de si acabar com tal tragédia. Depois, se persistirem no erro,
tanto uns e outros, não venham dizer que se sentem ofendidos se forem
acusados de terem “as mãos sujas de sangue” das vítimas tombadas devido
às portagens.
Será mais um erro capital deste governo se teimar em
manter as portagens no Algarve. E certamente que a luta pela sua
abolição irá continuar – já no dia 17 de abril, a partir das 15 horas,
com uma marcha lenta de viaturas pela EN125, entre as Quatro Estradas
(Quarteira) e Lagoa.
João Vasconcelos*(Deputado do BE na Assembleia da República)
0 comentários:
Enviar um comentário