“Os investimentos e as condições de vida das pessoas têm de ser discutidos a par”
Esta sexta-feira, Catarina Martins foi a convidada do Jornal 2. Questionada sobre se compreende a determinação do governo no sentido de retirar as questões laborais da esfera da negociação orçamental, a coordenadora do Bloco de Esquerda foi perentória: “Julgo que só pode ser um equívoco da senhora ministra do Trabalho e do ministro da Economia”.
Ana Mendes Godinho e Pedro Siza Vieira asseguraram (link is external), em declarações aos jornalistas após uma reunião com sindicatos e patrões, que as propostas da Agenda do Trabalho Digno e da Valorização dos Jovens no Mercado de Trabalho “não têm nada a ver com as negociações do Orçamento do Estado” para 2022.
“Como todos nós sabemos e compreendemos, as questões do Orçamento nunca são questões que possam ser separáveis do concreto das condições de trabalho no país. E não são em nenhuma esfera. Não são sobre o caminho da economia e como é que vamos recuperar, não são, por exemplo, sobre como é que serviços fundamentais, como o Serviço Nacional de Saúde, vão funcionar. Portanto, a afirmação parece-me estranha, extemporânea, e não percebo o alcance que tem”, avançou Catarina Martins.
Para a dirigente bloquista, uma coisa é certa: O governo não pode dizer que a política de recuperação “assenta muito nos fundos do Programa de Recuperação e Resiliência e em investimentos que vai fazer e, ao mesmo tempo, não querer falar das condições de trabalho, que são aquelas que são fundamentais para garantir que os investimentos que são feitos têm alguma coisa a ver com os salários e as condições concretas das vidas das pessoas”.
“Como é óbvio, se estamos a discutir investimentos temos de discutir trabalho”, enfatizou.
Dando o exemplo dos fundos europeus, Catarina Martins afirmou que “não podemos dizer que vamos investir em determinadas áreas sensíveis para o país e, ao mesmo tempo, dizer que gerações mais jovens, e algumas gerações já não tão jovens, têm como solução o outsourcing”.
“Os investimentos e as condições de vida das pessoas têm de ser discutidas a par”, enfatizou, referindo ainda que existem “áreas fundamentais do próprio funcionamento do Estado em que, neste momento, as condições dos trabalhadores são fundamentais para sabermos o que vai acontecer”.
No Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, “onde é preciso um programa de recuperação dos cuidados não-covid”, a coordenadora do Bloco considera que o facto de os enfermeiros e enfermeiras que entraram terem contratos precários “é um obstáculo ao SNS e à prestação de cuidados”.
“Toda a gente compreende que não nos é possível discutir o que é que se faz com o Serviço Nacional de Saúde no Orçamento do Estado sem discutir trabalho. O próprio governo sabe isto”, realçou Catarina Martins.
Sobre as declarações do primeiro-ministro, que anunciou que a sua maneira de acabar com a precariedade das gerações mais novas é garantir uma vinculação com uma empresa de trabalho temporário, a dirigente bloquista apontou que “não podemos dizer às gerações mais novas que a perspetiva de futuro que elas têm no nosso país é trabalharem para intermediários, ou seja, trabalho temporário, outsourcing, externalizações do mais variado tipo que lhes ficam com uma parte do salário, porque é para isso que servem”.
Ao contrário do caminho que o governo aponta, o Bloco quer garantir reformas a quem trabalhou toda uma vida, salários dignos a quem faz as contas à vida e emprego qualificado a uma geração qualificada.
In https://www.esquerda.net/
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