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terça-feira, abril 13, 2010

                                               Subordinar a política à  organização

        ou a organização à política?

Alguns companheiros já teceram algumas considerações sobre o programa da lista “Alternativa socialista para o Algarve” – concordo com algumas e discordo de outras. Diz o João Brandão que “o principal defeito da CCD actual é organizativo” e avança com algumas justificações, como o pouco apoio ou coordenação da Distrital e que a principal limitação se encontra neste órgão. Mas, mais à frente, parece que entra em contradição quando reconhece que há “um problema de definição de uma política regional”. No fundo, acha que os principais problemas do Bloco na região são de natureza organizativa.

Discordo totalmente deste ponto de vista e por uma razão muito simples: os desafios que se colocam ao Bloco, no Algarve ou em qualquer ponto do país são acima de tudo políticos (e também ideológicos, embora em menor grau, por enquanto). O que não quer dizer que se ponha de parte a organização, mas esta terá de se subordinar totalmente à política e não a política subordinar-se à organização! Aliás, esta tem sido a matriz e o êxito do Bloco. O que não quer dizer que não haja lacunas, e muitas e que é necessário aperfeiçoar o trabalho. “Urge fazer política”, como diz o camarada José Moreira, mas fazer política alternativa, com determinação e eficácia, apresentando propostas e indo ao encontro das necessidades e reivindicações mais sentidas pelas populações, seja nos órgãos eleitos e outras estruturas, nos movimentos sociais ou nas acções de rua.

Afirmar decisivamente o Bloco no Algarve, lutando por uma alternativa socialista e popular ao modelo de desenvolvimento que tem existido na região – é o que diz o primeiro ponto do nosso programa e estou plenamente de acordo. Mas como se conseguirá este desiderato? Com o máximo de política e com uma organização apenas q. b.

Em primeiro lugar, combater com todas as forças ao nosso alcance a actual crise e as políticas neo-liberais do governo socrático (ou de qualquer outro governo ou do poder local), consubstanciadas no famigerado PEC (Plano de Empobrecimento Colectivo, como alguém já lhe chamou): o desemprego, a precariedade, a injustiça e exclusão social, a destruição ambiental, a degradação e destruição dos serviços públicos.

 Em segundo lugar, dando o exemplo na acção e na luta, pugnando pela transparência absoluta, contra a corrupção e contra a conciliação.

Em terceiro lugar, afirmar as nossas opções socialistas de esquerda (sem nos confundirmos com o reformismo do PS e do PCP) – aqui vou de encontro às teses defendidas por José Moreira – embora, sem exagero. E porquê? Porque hoje o nosso combate central situa-se em torno da política, como disse, e não em torno da ideologia, ou da organização – aqui a minha discordância. Em grande parte, isto tem a ver com o actual estado de consciência das populações – estado ainda recuado, de pouca resistência ao neo-liberalismo e ainda pouco propício às grandes mobilizações e acções de luta. Mas virá o tempo – assim o espero – em que o Bloco terá de colocar a ideologia em primeiro plano, ou pelo menos a par da política.

De que serve criar muitos grupos de trabalho para as áreas mais diversificadas se depois não há força nem vocação para operacionalizar, para colocar no terreno de forma consistente e continuada esses grupos? E as áreas seriam muitas, sem dúvida – desemprego, precariedade e exclusão social, ambiente, educação, saúde, mobilidade/ferrovia, agricultura e desenvolvimento rural, turismo, pesca, juventude, regionalização, frente autárquica… Primeiro há que definir os temas/acções prioritárias a implementar no tempo de vigência da próxima Coordenadora Distrital e em função disso promover a criação dos grupos de trabalho – grupos de trabalho para, em articulação com a Distrital e o Secretariado, levar a efeito, concretizar essas acções. Acções de discussão e mobilização política que congregue vontades e dinâmicas de grupo, sem coarctar as propostas e iniciativas de índole individual. Antes, valorizando-as e projectando-as ao serviço do colectivo.

É necessário colocar o Bloco de Esquerda no centro da vida política do Algarve e isto só se faz subordinando os esquemas organizativos - pesados, maçudos, enfadonhos e que não mobilizam ninguém – à centralidade da política, como por exemplo, o combate ao PEC da fome e da miséria, a luta contra a chaga social do desemprego, ou contra as teias mafiosas da corrupção. O Bloco é uma organização de aderentes voluntários e não uma qualquer empresa com organigramas rígidos, logo há que ter em conta essas características.

É necessário captar os mais jovens e enquadrar os novos aderentes de forma atractiva, com propostas mobilizadoras e alheias a esquemas pré-concebidos. Quando for necessário, adequado e desde que se justifique, há que assumir radicalidade nas propostas e acções e não ter receio de protagonizar rupturas – afinal esta também é a matriz do Bloco. Só assim estaremos a fazer o percurso, com passos seguros, em direcção a uma sociedade alternativa, socialista e popular.

Algumas considerações finais. A actual Distrital, ainda em funções, tem sido alvo de diversas críticas, muitas delas justas, sem dúvida, outras nem tanto. Houve muitos erros, insuficiências e limitações no seu trabalho e de direcção política. No entanto, para sermos justos há que reconhecer que foi durante o seu mandato que o Bloco mais cresceu no Algarve. Comparativamente a outras regiões do país, o Algarve foi uma das que mais cresceu e onde se atingiram os resultados mais significativos nas eleições europeias, legislativas e até autárquicas. Conseguimos eleger uma deputada e estivemos próximos de uma segunda representação no Parlamento. O Bloco concorreu em 11 concelhos (incluindo a participação na lista unitária de Vila do Bispo) e passou de 13 autarcas (incluindo 1 elemento na Assembleia Metropolitana) para mais do dobro, para 28 autarcas (onde se destaca a conquista de um vereador em Olhão, 2 elementos na lista unitária de Vila do Bispo e 2 elementos para a Assembleia Intermunicipal do Algarve). Por outro lado, foram criados mais 3 Núcleos na região – Lagos, Olhão e Lagoa e, Albufeira, está à beira de formalizar o novo núcleo. Quanto ao número de aderentes, não quero exagerar, mas talvez tenha duplicado. E com uma Distrital apenas com 13 membros, um Secretariado com 3 elementos e sem qualquer tipo de funcionário. A próxima Distrital, com 20 membros – o que acho exagerado – terá obrigação de fazer mais e melhor.

João Vasconcelos - Portimão

quinta-feira, junho 19, 2008

A FALTA QUE FAZ UMA ALTERNATIVA SOCIALISTA INTERNACIONAL!

Fixe-se a crise energética, fixe-se também as alterações das leis laborais no sentido da sua liberalização. São dois exemplos que motivam a seguinte questão: será que é possível manter alguma luta consequente no plano estritamente nacional?



O que aconteceria se (aqui está uma hipotese que é mesmo ... hipotese!) o governo português resolvesse nacionalizar a Petrogal e rejeitar, pura e simplesmente, a liberalização das leis laborais, passando a priveligiar um sistema onde os sindicatos e as comissões de trabalhadores voltassem a ter protagonismo em matéria de gestão das empresas?


O que aconteceria quanto às consequências políticas e económicas que a liberal União Europeia imporia a Portugal?


Certamente que os sinos tocariam a rebate lá para os lados da comissão europeia e/ou dos governos do chamado "arco liberal" (que inclui também, infelizmente, os que são assegurados por partidos da dita Internacional "Socialista" ...) ...


Coloca-se, no entanto, outra questão importantíssima: qual seria a capacidade de resposta das esquerdas europeias? Isso mesmo, no plural, as esquerdas europeias ... a dos partidos comunistas, a dos partidos próximos do nosso BE, a dos movimentos sociais ... isto porque, não seria de esperar uma reacção conjunta ou convergente da parte de esquerdas que estão muito presas a jogos politiqueiros e parlamentares mais próprios das democracias liberais!


É claro que é muito importante "pensar global e agir localmente", mas torna-se cada vez mais urgente uma acção global, i.e. internacional que acompanhe o tal pensar global. Cada vez mais, a resolução dos problemas concretos, a afirmação de uma alternativa política e social, tem de passar de uma dimensão nacional para uma dimensão internacional, conseguindo-se articular eficazmente as duas dimensões!


As esquerdas deveriam ter a capacidade para voltarem a equacionar e concretizar uma forma de organização internacional que se possa afirmar como uma alternativa aos planos do G8, do FMI e do Banco Mundial que acabam por ser as únicas entidades globais que aparecem com respostas globais.


Uma organização internacional socialista não tem de reproduzir esquemas caducos do tipo I, II, III e/ou IV internacionais ... esquemas que contribuiram muito para algumas derrotas à esquerda que a História regista e para o perpetuar de sectarismos, vanguardismos e esquerdismos que não levam a nada.

Uma organização internacional socialista não deve ser uma espécie de denominador comum dos mínimos políticos à esquerda ... deve ser antes a consequência de uma discussão séria dos pontos divergentes entre quem fala e identifica o socialismo como a alternativa ao capitalismo globalizado.


Não se sugere uma discussão à força ou obsecada com a tentativa de reunir tudo e todos. A discussão de pontos divergentes sobre o socialismo e a alternativa internacional que esse programa deve assumir reune as correntes que a aceitam livre e voluntáriamente. Reune também quem está disposto a intervir no concreto sem tentativas de hegemonias.


No plano europeu há divergências que deveriam ser o ponto de partida para uma discussão aberta e convergente:
  • a esquerda deve intervir (como? com que organização e com que programa?) em todas as eleições directas que se realizam no espaço europeu, como as eleições para o Parlamento Europeu, assumindo-as como uma área de intervenção estratégicamente tão importante quanto as eleições nacionais;
  • a esquerda deve ser afirmativa quanto à Europa que quer, por alternativa à Europa liberal e à antiga do período da chamada guerra fria. Como dar continuidade ao movimento europeu, surgido no pós-guerra, impulsionado por sectores da esquerda socialista e denominado "Movimento pelos Estados Unidos Socialistas da Europa" .

Da discussão destes pontos, de certeza que surgirão outros que merecem trabalho para a possibilidade de uma convergência. Mas o mais importante, é a possibilidade da(s) esquerda(s) demonstrar vontade política para conseguir uma organização internacional que produza um programa de democracia e de socialismo alternativo ao liberalismo globalizado e a qualquer forma de totalitarismo.

Tribuna Socialista