11 mil estudantes já recorreram a crédito para pagar estudos
A situação vai-se agravar, pois cerca de 20.000 bolseiros vão perder ou ver reduzido o apoio. Uma petição pela igualdade no ensino superior já recolheu mais de 3.000 assinaturas.
De acordo com o estudo do CIES, “86,3% dos estudantes declaram destinar os empréstimos principalmente ao pagamento de propinas”. Foto de Paulete Matos
“Os empréstimos não estão a ser captados apenas por estudantes oriundos de classes baixas, com menos recursos escolares e económicos, mas, em termos gerais, por inquiridos com origens sociais diversificadas”, revela um estudo realizado no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES), do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), sobre a “Linha de Crédito para Estudantes do Ensino Superior com Garantia Mútua”.
“Há alunos oriundos de famílias com inserções profissionais mais remuneradas e qualificadas, mas também estudantes com pais e mães com baixos recursos escolares e económicos”, refere o estudo.
Se este programa não existisse, “o financiamento dos percursos de muitos estudantes pelo ensino superior poderia ficar comprometido”, alertam os investigadores.
De acordo com o estudo do CIES, “os estudantes declaram destinar os empréstimos principalmente ao pagamento de propinas (86,3 por cento)”. O dinheiro serve ainda para cobrir despesas básicas do quotidiano como transportes (48,4 por cento), alimentação (46,7 por cento) e alojamento (39,6 por cento).
No total, o crédito contratado nos últimos três anos ultrapassa os 28 milhões de euros, o que corresponde a um valor médio por aluno de cerca de 11 500 euros.
Para as famílias de classe média baixa, o empréstimo pode ser visto como “um instrumento de apoio financeiro a aspirações de mobilidade social ascendente”, para os de classe média alta será um meio de “potenciar a autonomia pessoal e opções de estilo de vida”.
Dois em cada três empréstimos são concedidos a alunos que frequentam o ensino superior público, refere por seu turno o relatório da comissão de acompanhamento da “linha de crédito para estudantes do ensino superior com garantia mútua”.
De acordo com o programa de empréstimos, os estudantes terão de começar a pagar o crédito quando terminarem os cursos e entrarem no mercado de trabalho. No entanto, 12,2 por cento dos alunos inquiridos defendem a necessidade de prolongar o período de pagamento, referindo as eventuais e esperadas dificuldades de inserção profissional.
De acordo com o relatório da comissão de acompanhamento da “linha de crédito”, a 31 de Dezembro do ano passado 11 108 alunos tinham já recorrido a este programa nos últimos três anos, quando foi criado, e as estimativas apontam para que em Agosto os empréstimos possam chegar aos 11 500 estudantes.
No cimo da lista dos cursos onde mais alunos recorrem a este tipo de apoio surgem enfermagem e direito: 590 futuros enfermeiros e 507 potenciais advogados pediram, em média, 13 500 euros.
A maior parte dos empréstimos foi feita a alunos que estudavam na zona de Lisboa (2649), Porto (1830), Coimbra (799) e Braga (611).
Seis em cada dez estudantes que recorreram a estes empréstimos frequentam universidades e institutos politécnicos públicos, mas são os colegas do privado quem pede os valores mais altos.
Mas nem todos os créditos solicitados foram autorizados: nestes três anos 572 pedidos foram recusados.
O estado actual do Ensino Superior é, de facto, preocupante, no que diz respeito às condições de acesso. Na verdade, nunca a igualdade e a democraticidade do acesso esteve tão em causa, uma vez que já se sabe também que cerca de 20 mil estudantes vão perder a bolsa de acção social a que tinham direito ou vão baixar de escalão, devido aos cortes na Acção Social e às novas regras de cálculo.
Por isso, activistas estudantis de mais de 30 instituições de ensino de 13 distritos do país, entre os quais dirigentes de várias associações de estudantes, lançaram uma petição pela igualdade no ensino superior, dirigida ao governo e à Assembleia da República, sugerindo medidas para "garantir o ensino como um direito constitucionalmente consagrado".
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