sexta-feira, junho 15, 2012

Grécia. Apelo da edição alemã do Financial Times ao voto na direita suscita indignação

Por Agência Lusa
Os principais líderes políticos gregos condenaram hoje em uníssono, por motivos diversos, a "provocação" da edição alemã do diário económico Financial Times, que em editorial apelou ao voto nos conservadores, contra a esquerda radical grega.
Num duplo editorial redigido em alemão e em grego, e publicado na primeira página, o Financial Times Deutschland (FTD) explica que decidiu "fazer uma exceção" e fornecer uma indicação de voto aos gregos contra a Coligação da esquerda radical (Syriza), acusada "de demagogia", e após recordar que as eleições legislativas antecipadas de domingo "são decisivas".
"O FTD e a maioria dos gregos têm um interesse comum: o seu país deve permanecer no euro", considera o jornal, que já manifestou o seu apoio a organizações políticas durante eleições, mas apenas na Alemanha.
"O vosso país apenas poderá manter-se na zona euro com os partidos que aceitam as condições dos credores de fundos internacionais", sublinha o periódico.
"Resistam à demagogia de Alexis Tsipras e da sua Syriza. Não confiem nas promessas pelas quais é simplesmente possível pôr termo aos acordos, sem consequências", frisa.
Em comunicado, a Syriza denunciou uma "intervenção grave e sem precedentes, que ofende a dignidade nacional e procura sabotar a democracia" na Grécia.
"A única coisa que ainda pode acontecer após esta intervenção provocatória e provocadora" seria assistir à vinda da chanceler alemã e do seu ministro das Finanças "para distribuírem no domingo boletins de voto favoráveis à direita", ironizou um dos seus dirigentes, Dimitris Papadimoulis, citado pela agência noticiosa AFP.
A Nova Democracia (ND, direita), que segundo as intenções de voto disputa com a Syriza o primeiro lugar no escrutínio de domingo, e os socialistas moderados do Pasok, também reagiram com indignação, mas acusaram o FTD de pretender beneficiar a esquerda.
"Somos um povo orgulhoso (...) não precisamos de indicações (...) não pretendemos provocações ou maquinações", declarou um porta-voz da ND.
Por sua vez, a dirigente do Pasok, Anna Diamantopoulou, deplorou uma "detestável inconveniência política" e acusou o FTD de funcionar como "um suplemento do Avghi", o jornal diário da Syriza. Criticou ainda "círculos alemães" de pretenderem que a Grécia entre em incumprimento "para a conduzir para fora da zona euro".
Apesar de defender a rejeição do atual memorando, o plano dos credores internacionais (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional), que impôs ao país fortes medidas de austeridade destinadas ao saneamento económico, a Syriza tem afirmado que deseja a manutenção do país na zona euro, à semelhança da maioria dos gregos.
No entanto, diversos setores da liderança europeia receiam que a eventual vitória da esquerda alternativa grega agrave a crise que envolve a moeda única.
Assim, o FT-Deutschland apela no editorial a um voto conservador na ND. "Não é uma decisão fácil", sublinha o jornal, ao reconhecer que este partido "promoveu uma má política durante décadas".
Mas "o vosso país ficará melhor com uma coligação liderada por Antonis Samaras [o líder da ND] que por Tsipras, que quer voltar para atrás e glorifica um mundo que não existe", considera.
No entanto, o governo alemão assegurou hoje que "não vai emitir qualquer indicação de voto para as eleições na Grécia", com um porta-voz da chanceler Angela Merkel a garantir que Berlim "está preparado para trabalhar com qualquer governo de um país parceiro que resulte do voto".

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