“O dia em que nasc[eu] morra e pereça” |
A
muito tardia morte da Margareth Taetcher, que os nossos plumitivos
situacionistas adoram chamar "Dama de Ferro" enquanto se babam, veio dar
relevo à necessidade de «interpretação autêntica», ou seja sustentada
na realidade material da história e não nas inspirações ideológicas que a
moldaram, dos anos em que governou de mão dada com o seu verdadeiro
par, no outro lado do Atlântico, Ronald Reagan. Tal tem sido feito com
grande profusão de textos de inegável qualidade. Artigo de Mário Tomé ... "Não o queira jamais o tempo dar;/Não torne mais ao Mundo, e, se tornar,/Eclipse nesse passo o Sol padeça/" A muito tardia morte da Margareth Taetcher, que os nossos plumitivos situacionistas adoram chamar "Dama de Ferro" enquanto se babam, veio dar relevo à necessidade de «interpretação autêntica», ou seja sustentada na realidade material da história e não nas inspirações ideológicas que a moldaram, dos anos em que governou de mão dada com o seu verdadeiro par, no outro lado do Atlântico, Ronald Reagan. Tal tem sido feito com grande profusão de textos de inegável qualidade. Ao mesmo tempo os argumentadores ideológicos do mundo que nasceu, cresceu, medrou e se estampa - com danos colaterais absolutamente imprevisíveis e catastróficos - sob a orientação do neoliberalismo taetcheriano inspirado nas doutrinas que criaram as tragédias chilena (em setembro de 1973) e argentina (1976), estrebucham no alto do poder que Deus lhes deu e a custo mantém, para conseguirem convencer-nos que a realidade é criada pela força do mercado financeiro e dos exércitos e polícias dos Estados conglomerados no G-8 ,na Trilateral,no clube de Bildeberg ou preparados no grupo dos «Scull and Bones» de Harvard. Como diria Taetcher, aquelas personalidades responsáveis não devem ceder ao ulular da populaça que nem sequer percebe que a liberdade política só tem garantia jurídica, de resto tem de conformar-se à realidade imposta pelo capital esteja na sua pujança ou no seu estertor. A luta de classes, segundo Taetcher e os seus ex-súbditos, é uma monstruosa deformação inventada para separar violentamente aquilo que nasceu para estar unido, os povos de cada nação, e no concerto das nações. O Estado de Direito é um operador interessante e respeitável, mas deverá estar sempre pronto a ceder à "realidade material", ou seja ao poder de facto, das forças do mercado, afinal e ainda, apesar do desprestígio actual do neoliberalismo, a "garantia última da democracia" como preconizaram Hayek e Freadman e se congratularam os nossos fantoches de serviço desde os anos oitenta. O capital financeiro, já há muito divorciado totalmente das razões económicas da gestão da produção e da distribuição nas sociedades compostas por pessoas, por cidadãos e cidadãs a quem é teoricamente reconhecida a soberania primordial e a capacidade de decisão sobre os detinos da sociedade, desistiu de alardear a sua independência relativamente aos Estados (uma falsidade já que contava com eles para assegurar as privatizações – já só falta privatizar o ar, aliás - e a repressão ) para os subjugar de forma directa através da dívida chamada soberana. . Como todos sabem essa dívida tem sido o meio usado para dinamizar os negócios, o mercado e tem sido nomeadamente a base de criação de dinheiro mesmo que cada vez mais virtual e sem correspondência na economia. Daí também as contradiçõs surgidas entre os sectores capitalistas virados para a produção e a dinâmica da finança. A crise actual, para quem não percbe nada de economia como é o meu caso, decorre da supremacia total e sem travão da especulação financeira, a economia de casino, arrasando tudo e estiolando tudo à sua passagem. A maioria dos produtores de teoria económica fazem-no sob orientação , aliciamento, e pagamento dos grandes bancos. Basta ver o "Inside Jobs". O ataque ao Tribunal Constitucional insere-se pois na programação ideológica de que a Constituição, ou seja a garantia do respeito da democracia pelo Estado, não pode opor-se à realidade, ou seja às ordens da finança. A democracia só é boa se tiver em conta a "realidade". É comovedor o materialismo destes macacos. A Taetcher até confessou a Pinochet que tinha que fazer o que ele fez mas de forma mais lenta e cuidadosa, dado que os ingleses estavam habituados à democracia e o nazismo ainda era uma lembrança dolorosa em Inglaterra e não se podia agir à bruta; ou seja arrasar o movimento sindical inglês e os serviços públicos sem meter nisso o exército, só com a bestialidade policial. O exército, esse, era para os domingos sangrentos na Irlanda do Norte, onde a democracia se adaptou à realidade para assassinar Boby Sands e alguns dos seus companheiros em greves de fome que mostraram a convicção e firmeza de Taetcher. A resposta do Bloco à ofensiva do Governo e da Merkel tem sido boa e tem respondido no essencial às propostas e exigências do movimento social. Mas penso que é chegado o momento de ir além do que o protesto, a indignação e a revolta explícita impõem. É tempo de lembrar que os democratas do sistema só se importam com o sofrimento do povo como alegação eleitoral. Quanto pior melhor. E sempre fazem figura, desde a abstenção violenta à não contemplação com mais austeridade, basta a que temos para mostrar como somos veementes no protesto, pensam eles. Aliás sempre foi assim É tempo martelar e argumentar sistematicamente que o Governo não é incompetente, mas que a sua política obedece ardentemente ao programa de desarticulação social e de transferência nunca vista dos rendimentos do trabalho para o capital financeiro e de criar condições de dumping social equivalentes às da China. Para já não falar da Alemanha que permite que os imigrantes da Roménia e Hungria e Bulgária sejam tratados como escravos ao ponto de empresas polacas transferirem secções inteiras para a Alemanha para beneficiarem das condições medievais de trabalho consentidas pela senhora Merkel. É tempo de dizer que se a democracia foi violada por Cavaco e Soares quando se exigia o referendo ao Tratado de Maastricht e por Cavaco e Sócrates quando se exigia o referendo ao Tratado de Lisboa, as consequências dessa violação grosseira do direito do povo exigem, nas actuais condições respostas à altura. E que valia mais ter pago a multa de 160 milhões de euros e não ter aceite "a regra de ouro" do pacto orçamental que limitou drasticamente a já pouca soberania do estado português na UE. Ou seja é tempo de deixar claro que a exigência da renegociação da dívida legítima é a proposta mínima que, se não for aceite, obrigará o povo português a assumir directamente a sua soberania se o Estado continuar a alijar a sua responsabilidade constitucional. Na União Europeia a relação entre Estados, para resolver a crise, deverá ser substituída na relação entre os povos e os trabalhadores, que imponham as regras da democracia e da boa gestão dos recursos materiais e financeiros, recuperando a credibilidade e a legitimidade dos Estados alienadas pelos que os assaltaram através da fraude e da mentira. A soberania é dos povos. A dos Estados é delegada. O dinheiro que o Governo extorque a quem trabalha para obedecer às mafias financeiras e pagar a dívida que a banca e a especulação "offshoriana" consentida provocaram e que, em última racio é sua, faz falta para o povo português preservar a sua dignidade e o seu futuro. Não é o povo que está em dívida, são os que estão a exigir o seu pagamento que estão em dívida para o povo. Se não se colocar a crise nestes termos, creio que pouco vamos adiantar. E a luta, mesmo a muito veemente e entusiástica, "dissolve-se no ar" se for para encanar a perna à rã. E não há nada como os democratóides e as terceiras vias para conseguir isso. Há batalhões de lacaios a trabalhar na propaganda do status quo, da inevitabilidade da obediência e da honestidade imanente do Estado. Só o rugido da rua, que mostre que já percebemos tudo e não há mais ilusões nem contemplações, lhes incutirá o medo com que tentam paralisar-nos. A Comuna |
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