Quatro razões para a renegociação da dívida
Num comício em Guimarães, em que intervieram também Carla Carvalho e o deputado Pedro Soares, Francisco Louçã considerou que “renegociar a dívida é proteger a economia” e apresentou quatro razões da sua importância: o exemplo da Grécia, a necessidade de uma auditoria da dívida, a razão social, ter sensatez no sistema financeiro.
Comício do Bloco em Guimarães - Foto de Paulete Matos
O coordenador da comissão política do Bloco apresentou depois quatro razões para a importância da renegociação da dívida, “agora sem perder tempo”.
A primeira, o exemplo da Grécia, que um ano depois de ter “um plano de intervenção externo com um empréstimo muito maior que o português” e com as duras condições que lhe foram impostas, tem como resultado que a dívida, o défice, o desemprego são maiores do que antes”as dificuldades da economia são todas maiores que antes”, “a Grécia está pior que antes”.
“A primeira razão para renegociar a dívida é proteger a economia e evitar que ela fique cada vez pior” afirmou Louçã, salientando que “renegociar agora é muito melhor, porque o país tem força”. E lembrou que “a Grécia agora, desesperada, com uma economia mais pobre está a começar a renegociar essa dívida, já conseguiu aliás um juro mais pequeno do que aquele que Portugal vai ter”.
A segunda, uma auditoria para saber o que é a dívida.
O dirigente do Bloco começou por referir que o Bloco de Esquerda propôs uma auditoria à dívida “e criou-se um clamor imenso contra, de Marcelo a Pedro Passos Coelho, José Sócrates e Paulo Portas”.
E criticou ironicamente: “Saber o que vamos pagar? Nunca. Pagamos e não perguntamos o que vamos pagar. Pagamos tudo o que nos disserem, com os juros que nos impuserem”.
Francisco Louçã apontou depois o paradoxo entre esta atitude de recusa de Passos Coelho e Paulo Portas e as propostas que vêm defendendo “ Passos Coelho propôs hoje uma auditoria ao programa 'Novas Oportunidades'”, “Paulo Portas propõe a renegociação da tabela do IRS, a renegociação da política agrícola comum”. E concluiu: “Em todas as questões que têm que tratar propõem auditorias ou renegociações, excepto na questão da dívida”.
O dirigente do Bloco sublinhou então que “o que é sensato é renegociar sabendo o que é a dívida”, e referiu que “a dívida que mais cresceu é a dívida privada e não é a pública”, que “a dívida pública é imensa, aumentou 100 mil milhões de euros na última década”, mas “nós ainda não sabemos para onde foi o dinheiro”, que “a dívida privada é aproximadamente o dobro da dívida pública”, que “a banca portuguesa deve mais do que o Estado português”, concluindo que uma ”auditoria permitiria pôr as contas certas”.
A terceira razão, a razão social: “Combater a política do calote contra os pobres”.
Francisco Louçã afirmou que “a renegociação da dívida protege os salários, protege o Estado Social, traz responsabilidade”, porque “o calote que está a ser imposto em Portugal” é o “calote contra os salários que vão ser cortados, contra as pensões que vão ser congeladas” e concluiu: “A esquerda levanta-se contra a política do calote em nome da dignidade de um país que paga o que tem a pagar, que luta pelos seus, que quer uma economia decente, uma economia com emprego”.
A quarta razão: ter sensatez no sistema financeiro.
Francisco Louçã lembrou que no final da tarde desta segunda feira o Banco Espírito Santo anunciou que vai pedir emprestados 1.200 milhões de euros com garantia do Estado e afirmou: “se a garantia for accionada, ou seja se o banco pregar um calote, o Estado tem que entrar no capital desse banco e quatro dias depois das eleições esse banco vai fazer uma assembleia de accionistas para mudar os seus estatutos para que comece a nacionalização dos seus prejuízos: temos já, neste caso, meio BPN garantido de uma só vez”.
Louçã vincou ainda que “vamos pagar muito mais porque este acordo [da troika] garante 12.000 milhões para a banca e 35.000 milhões para garantir qualquer estrutura de pedido de empréstimo e de garantias de avales que qualquer elemento deste sistema financeiro venha a exigir”. E concluiu: “Aqui têm uma quarta razão, renegociar a dívida para impor condições que defendam a economia e que exijam responsabilidades aos accionistas que preferiram dividendos a ter empresas sólidas nos seus bancos”.
A finalizar Francisco Louçã defendeu: “Temos que voltar ao essencial e o essencial são as pessoas”.
Carla Carvalho, arquitecta de Guimarães e candidata à AR por Braga, destacou na sua intervenção que Guimarães é um “concelho empobrecido com duas realidades distintas”: Por um lado, “gente trabalhadora que nunca pôde prosseguir os estudos, que nunca pôde obter mais formação, que foi cedo para o mercado de trabalho, que só conheceu um emprego, uma função”, a grande maioria destas pessoas trabalhava no sector têxtil e “são agora muitos deles lançados no desemprego, sem preparação para se enquadrarem noutra área profissional, gente em quem as empresas não querem investir, porque são demasiado velhos”. E, por outro lado, “jovens muito bem preparados, a sair das universidades”, “uma grande massa de conhecimento e potencial de desenvolvimento”, mas “para estes também não há trabalho”. “Uns e outros são vítimas das políticas que nos querem impor”, concluiu Carla Carvalho.
Pedro Soares, deputado eleito por Braga, sublinhou que “o Bloco de Esquerda apresentou um plano de emergência económica e social para o distrito em 2009”, mas “a resposta do ministro Vieira da Silva na AR foi dizer que não era preciso plano nenhum”, porque o Governo tinha tomado medidas suficientes para o distrito de Braga.
“Estamos em 2011, sabemos que era mentira, que o que aconteceu foi agravamento do desemprego, da pobreza e isto só demonstra uma coisa, uma grande insensibilidade social face ao sofrimento das pessoas mas também demonstra irresponsabilidade deste Governo face à crise e ao agravamento das condições de vida das pessoas”, concluiu Pedro Soares.
Esquerda.net
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