Bloco promove discussão sobre “Os Novos Caminhos da Esquerda em Portugal”
A sessão de abertura do Fórum “Novas Ideias para a Esquerda – Socialismo 2011” foi subordinada ao tema “Os Novos Caminhos da Esquerda em Portugal” e contou com as intervenções dos dirigentes do Bloco José Manuel Pureza e Fernando Rosas e também com as de Alfredo Barroso e Manuel Carvalho da Silva.
Sessão de abertura do “Novas Ideias para a Esquerda – Socialismo 2011” subordinou-se ao tema “Os Novos Caminhos da Esquerda em Portugal”. Foto de esquerda.net.
José Manuel Pureza frisou o “tempo de esmagamento de várias tipologias de direitos” que estamos a viver actualmente, e que abrange não só os direitos sociais como também “os direitos civis e as liberdades básicas”, e a necessidade de responder à “radicalização deste retrocesso” pelas mãos da direita no poder.
O dirigente bloquista denunciou também “a estratégia de branqueamento das responsabilidades” de quem determinou a entrada em funções desta direita radical, que nos quer convencer que, afinal, deveríamos aceitar o “mal menor”.
Perante a descaracterização da democracia e a descaracterização do Estado Social, o Bloco pretende, com este fórum, e segundo esclareceu José Manuel Pureza, “criar todas as reflexões com vozes muito plurais, com encontros e desencontros de argumentos para criar condições de uma esquerda que reganhe iniciativa, reganhe capacidade de apresentar programa para transformar a vida das pessoas”.
A crise da social democracia
Alfredo Barroso falou sobre a crise da social democracia e sobre “a ausência de uma estratégia política e económica alternativa, genuinamente social democrata ou socialista”, por parte do Partido Socialista, no caso português, mas também da maioria, senão de todos os partidos sociais democratas, a nível europeu.
“A maioria dos partidos da internacional socialista foi-se tornando, paulatinamente, sobretudo a partir da última década do século passado, numa variante social democrata do neoliberalismo”, sublinhou Alfredo Barroso, acrescentando que a social democracia “contribuiu para a colonização da sociedade civil por uma espécie de senso comum neoliberal”, uma “hegemonia cultural que a direita conseguiu impor e consolidar para melhor exercer o poder político em democracia”.
Os partidos sociais democratas renderam-se, segundo Alfredo Barroso, ao centrismo, sendo que o centro do centro é o “território propício a todas as renúncias ideológicas e a todas as abdicações políticas”.
Para Alfredo Barroso a alavancagem para sair desta situação deve passar, entre outros, pelo aumento salarial, pela aplicação de impostos sobre os rendimentos e pela taxa Tobin sobre as transacções financeiras.
Portugal necessita de “reformas efectivas e rupturas inadiáveis”
O dirigente da intersindical CGTP, Carvalho da Silva, salientou a necessidade de levar a cabo um “esforço redobrado na construção de propostas e caminhos alternativos” para contrariar o “destino de retrocesso para onde estamos a ser conduzidos”, sendo que são necessárias, no nosso país, “reformas efectivas e rupturas inadiáveis”.
Carvalho da Silva lembrou o ataque feroz que tem sido perpetuado contra os sindicatos, e que é bem retratado nas recentes declarações de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas que se referiram àqueles que quereriam incendiar as ruas e aos perigos de uma “onda de greves sistemáticas”, respectivamente.
Carvalho da Silva aponta quatro grandes desafios para a esquerda. Um deles passa pela reconstrução do lugar do trabalho na economia e na sociedade, o que implica, entre outros, um combate implacável contra o desemprego, que constitui um poderoso instrumento usado para baixar os patamares sociais e civilizacionais.
Para o dirigente sindical, o segundo grande tema para as esquerdas será “o Estado Social associado a três coisas”: o Estado e a Economia; o conceito de serviço público e os direitos sociais; e a cidadania.
Outro desafio passará, segundo Carvalho da Silva, por um forte combate ideológico que aposte na desconstrução, reconstrução e criação de novos conceitos contra a manipulação levada a cabo pela direita.
Como quarto desafio, o líder da CGTP refere a resposta às grandes mudanças que se operam na sociedade. As esquerdas têm que saber responder ao aumento da esperança de vida, aos processos migratórios, à maior participação das mulheres em diversos sectores da sociedade, avança Carvalho da Silva.
É necessário um “sobressalto da esquerda”
Fernando Rosas fechou as intervenções referindo-se às características desta segunda crise histórica do Estado Liberal, marcada por uma profunda ofensiva contra os custos do trabalho, por uma evolução do capital produtivo para o capital especulativo, pela liquidação do Estado Social, pela privatização de sectores estratégicos da economia, pelo “relançamento de um novo colonialismo imperial através das guerras internacionais”.
Para atingir estes cinco objectivos, o dirigente bloquista afirma que é utilizado o recurso a uma “economia da violência”, que passa, a nível laboral, pelo esvaziamento dos sindicatos e a nível do Estado democrático parlamentar pela centralização anti democrática do poder.
Para contrariar esta contra revolução neoliberal e a ideologia da inevitabilidade que nos tem sido imposta, é necessário, segundo defende Fernando Rosas, um “sobressalto da esquerda”.
Para resistir e transformar, é necessário “ter a sabedoria, a humildade e a coragem de trabalhar” com várias forças de esquerda a nível nacional e internacional, sendo que “a esquerda hoje são todas as forças sociais que se opõem ao programa do neoliberalismo”, e o “divisor de águas em Portugal é o memorando da troika”.
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