Clube de Bilderberg profetiza mais crise e mais guerras
O Clube de Bilderberg, frequentemente qualificado como o “governo mundial” e que funciona como a “rede global dos maiores cartéis mundiais”, esteve reunido durante o fim de semana em St Moritz, na Suíça.
A reunião anual do Clube de Bilderberg contou este ano com três portugueses
A reunião anual do Clube de Bilderberg junta personalidades de países e instituições da Europa e dos Estados Unidos numa perspectiva já qualificada como a da “Única Empresa Mundial Lda.”, de acordo com os analistas mais referenciados na matéria. Assistem os membros habituais do Clube e também convidados que vão variando de ano para ano. A lista de participantes deste ano incluiu três portugueses: o habitual Francisco Pinto Balsemão, Clara Ferreira Alves, apresentada como CEO de Claref Lda., uma sociedade unipessoal, e António Nogueira Leite, administrador da José de Mello Investimentos Lda. As decisões são adoptadas por consenso em plenário mas são verdadeiramente discutidas e tomadas em grupos restritos durante reuniões especiais.
De acordo com o que se passou na reunião – que celebrou os 97 anos do banqueiro Rotschild – a guerra da Líbia é para continuar. O tom foi dado pelo histórico estratego Henri Kissinger, que defendeu num discurso que proferiu pela terceira vez em duas semanas o envolvimento directo das tropas dos Estados Unidos na invasão terrestre que, em seu entender, deverá seguir-se. Kissinger, um dos ideólogos da criação dos grupos de mercenários radicais islâmicos no Afeganistão, lamentou que alguma comunicação social internacional faça eco da colaboração entre membros da Al Qaida, a NATO e os rebeldes líbios contra Khaddafi, afirmando que a divulgação dessa realidade torna mais difícil “vender” a invasão terrestre à opinião pública.
A situação económica e financeira foi um dos temas centrais da reunião do clube em St Moritz. Entre as conclusões avultam as de que “a Grécia está morta” e será absolutamente incapaz de pagar a dívida soberana e os “Estados Unidos estão na bancarrota” com uma dívida de 14 300 biliões de dólares (triliões no conceito anglo-saxónico) e mais de um bilião de défice (um trilião) em cada um dos últimos três anos. Participantes norte-americanos notaram que o dólar perdeu 12 por cento num ano e que a China – outro dos assuntos mais ventilados na reunião – está a proceder à venda de títulos do tesouro dos Estados Unidos. A economista norte-americana Dambisa Maya profetizou que se os Estados Unidos não procederem a mudanças urgentes dentro de décadas serão “um país socialista”.
O Clube de Bildeberg apoia a estratégia da União Europeia de transferir a gestão da política económico-financeira em vários países dos governos eleitos para entidades financeiras externas, o conceito de protectorado exercido na prática, neste caso, através do Banco Central Europeu e do Deutsche Bank.
Num quadro em que as estatísticas de desemprego na Europa em poder do clube são bastante mais elevadas que as oficiais (por exemplo 15 por cento actualmente na Irlanda e 25 por cento na Grécia em 2012), o Clube de Bildeberg prevê como inevitável a renegociação da dívida grega mas na perspectiva dos credores, de modo a que estes sofram os menores danos possíveis, o que não deixará de proporcionar “turbulências” nos mercados. Além disso, a Irlanda voltará à crise bancária extrema e os problemas da dívida soberana tornar-se-ão extensivos pelo menos à Itália. A saída da Grécia do euro está já em cima da mesa.
A China preocupa o Clube de Bilderberg. Participantes sublinharam que o papel actual de Pequim em África deve ser considerado “neocolonial”, repetindo uma declaração que a senhora Clinton fez também durante o fim de semana numa entrevista na Zâmbia. Além disso, também os laços estabelecidos entre a China e os novos governos do Egipto e da Tunísia, associados ao apoio de Pequim a Khaddafi, devem merecer especial atenção, segundo o Clube.
O aprofundamento recente das relações entre a China e o Paquistão foi outro tema em destaque criando preocupações aos membros do clube quanto aos equilíbrios estratégicos regionais que além do Afeganistão envolvem ainda a Rússia e a Índia. Foi sublinhado que a construção pela China do porto paquistanês de Gwadar, nas proximidades do Estreito de Ormuz, poderá proporcionar a Pequim uma nova posição estratégica no Mar Arábico.
No Clube de Bilderberg não existem dúvidas: as revoltas populares nos países do Golfo Árabe-Pérsico devem ser reprimidas e a Arábia Saudita será um parceiro imprescindível do Ocidente para concretizar esse objectivo. As guerras que eventualmente venham a desenvolver-se na região deverão poupar Israel, adverte o clube.
O Clube de Bilderberg vê com bons olhos que prossigam os esforços em curso, realizados através dos Estados Unidos e dos militares no poder do Egipto, para transformar a Irmandade Muçulmana num parceiro do Ocidente, tanto na Síria como no Egipto.
A situação no Médio Oriente e o papel da Arábia Saudita poderá elevar o preço do petróleo aos 150/180 dólares por barril, de acordo com os membros do clube, ainda que isso seja trágico sobretudo para a Europa. Embora a informação possa parecer excessiva, Daniel Estulín, especialista nas actividades de Bilderberg e autor de vários livros sobre o assunto, recorda que as previsões de altas de preços feitas na reunião de 2005 se confirmaram em 2008 quando o barril atingiu 147 dólares por barril.
Embora a Europa atravesse uma fase que pode por em causa a própria “sobrevivência da União”, a prevista ultrapassagem dos Estados Unido pela China como maior potência económica mundial em 2016 é “a questão mais relevante do nosso tempo”, segundo o Clube de Bilderberg.
Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu
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