terça-feira, março 26, 2013

Manobras políticas

Ao manter o seu compromisso com o memorando, o PS esvazia a sua própria moção de censura, reduzindo-a àquilo que nunca deixou de ser: uma manobra política.
Manobras à esquerda: atrasado seis meses, António José Seguro anunciou a apresentação de uma moção de censura ao governo de Pedro Passos Coelho. Na altura, disse que seria um ponto de partida e não de chegada. Afinal, não será uma coisa nem outra: o PS não chega nem parte para qualquer lado, fica onde está, isto é, fica com o memorando da troika. O PS corta com o governo mas não corta nem com a troika nem com o memorando. Mal anunciou a moção de censura, António José Seguro, primeiro, e o porta voz do PS depois, apressaram-se a sossegar a troika e a srª Merkel: o compromisso do PS com o memorando é para continuar. Esta é a breve história de uma moção de censura que, antes de o ser, já deixara de o ser…
O memorando da troika é o programa do governo e o programa do governo é o memorando. Censurar o governo é condenar o memorando, as políticas que o concretizam e os seus resultados: a austeridade, o aumento de impostos, os cortes nos serviços públicos, as privatizações, o colapso económico, o desemprego. Ao manter o seu compromisso com o memorando, o PS esvazia a sua própria moção de censura, reduzindo-a àquilo que nunca deixou de ser: uma manobra política.
Manobras à direita: altos dirigentes do CDS, contando com o silêncio cúmplice de Paulo Portas, aproveitaram uma noite de sábado, para recomendar ao primeiro ministro e ao PSD, seu parceiro de coligação, uma remodelação ministerial. Mudar umas caras, para que tudo fique na mesma, desde logo a política de empobrecimento generalizado do país, da economia, das famílias. Viciado no tartufismo político, o partido de Paulo Portas procura salvar um governo em adiantado estado de decomposição e com os dias contados. Salvar o governo para salvar o próprio CDS, partido profundamente implicado no desastre que tem sido a política governativa. Não são os problemas do país e muito menos a situação das vítimas da austeridade que motivam os responsáveis do CDS. É a sua sobrevivência política e ambição de poder que fazem correr Paulo Portas e companhia.
Fica por saber que ministros quer o CDS remodelar. Certamente que não será Assunção Cristas, cuja lei das rendas ameaça de despejo muitos milhares de idosos. E muito menos Pedro Mota Soares, o ideólogo da caridade como política do estado e o recordista do corte nos apoios sociais, deixando quase um milhão de desempregados sem qualquer proteção social. Nestes, o CDS não mexe… E bem mereciam!
O governo recusa aumentar o salário mínimo nacional, pretende despedir milhares de funcionários públicos, cortar mais nos subsídios de desemprego. O primeiro ministro e todos os ministros respondem por estas medidas. Por muitos que fossem os remodelados, o primeiro ministro e os novos ministros continuariam as mesmas políticas. O problema está mais nas políticas que nas caras.
Remodelar o governo é uma tentativa – pouco original, pouco imaginativa – de prolongar o mandato de um governo em declínio, um governo que perdeu legitimidade e credibilidade para governar não só porque faz o contrário do que prometeu aos eleitores mas, sobretudo, porque perdeu a sua base política de apoio ao governar contra o país e a maioria das pessoas.
O governo falhou em tudo: nas previsões, nos resultados, nas políticas. O governo não tem emenda, não tem solução. Remodelar é dar mais tempo para a sua agonia, ao mesmo tempo que a crise social e económica se agrava. A urgência da demissão do governo é a urgência de mudar de política, a urgência de tirar o país da crise. Remodelar é adiar a solução que a crise exige e os portugueses reclamam.

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