Greve histórica no Reino Unido
Mais de três milhões de trabalhadores britânicos do sector público estão em greve nesta quarta-feira contra o violento ataque do governo ao sistema de pensões, ao emprego, aos salários e aos serviços públicos, em nome da austeridade. Escolas, hospitais, transportes, portos, serviços governamentais e aeroportos revelam os sinais da intensidade da luta, considerada a maior mobilização laboral desde a greve geral de 1926.
Marcha em Londres - Foto de TUC (Day of Action 30 November) / flickr
A histórica jornada de luta representa a primeira mobilização para as mais jovens gerações depois dos ataques fortíssimos à organização sindical e de desmantelamento do sector público iniciados nos governos de Thatcher, prolongados nos governos do Partido Trabalhista – entretanto convertido ao neoliberalismo – e prosseguidos agora pelo executivo conservador-liberal de David Cameron.
Os primeiros dados revelados pelos meios de comunicação social, incluindo os mais conservadores, reconhecem a força do movimento. Em 20 mil escolas não chegaram a abrir três mil e pela primeira vez, nos seus 114 anos de história, o Sindicato dos Diretores de Escolas aderiu a uma greve. O primeiro ministro, perante a evidência, dirigiu-se especialmente aos empresários pedindo-lhes que deixem os pais levar os filhos para os seus locais de trabalho.
Portos, transportes, serviços de controlo fronteiriço e hospitais – onde foram canceladas dezenas de milhar de consultas – demonstram igualmente o grau de mobilização do sector público do Reino Unido e Irlanda do Norte. Embora no início do dia as autoridades aeroportuárias se tenham apressado a informar que não havia atrasos significativos nos voos a confusão foi-se instalando nos aeroportos durante o dia e algumas horas depois tornara-se impossível disfarçar os efeitos da greve através de comunicados.
Estão previstas mais de mil manifestações em todo o país contra as medidas de austeridade previstas pelo governo para o sector público, sem qualquer negociação com os sindicatos. Aumentos de contribuições para o sistema social com redução de pensões, alongamento gradual da idade de reforma até aos 68 anos, congelamento dos salários, despedimentos em massa, continuação do desmantelamento do sector público e eliminação de serviços sociais, de ensino e saúde são as linhas programáticas governamentais.
Muitos trabalhadores do sector privado juntaram-se à jornada de luta, prevendo-se sobretudo a sua participação nas manifestações, porque o ataque ao sector público terá efeitos no desemprego no sector privado, onde desde os governos de Thatcher os trabalhadores estão submetidos a uma segurança social privatizada dependente do funcionamento das bolsas de valores através dos Fundos de Pensões.
O governo pretende que o sector público pague, através da austeridade, a crise económica que tombou sobre o Reino Unido, onde a economia está praticamente estagnada e não deverá crescer mais de 0,7 por cento em 2012, contra os 2,5 por cento previstos.
A dívida pública disparou igualmente e excede agora em 125 mil milhões de euros os limites inicialmente previstos, sobretudo devido à ajuda à banca e aos investimentos na guerra da Líbia. “Estão a tirar-nos tudo para dar aos banqueiros e para matar gente na Líbia e no Afeganistão”, declarou Pearl, enfermeira, membro de um piquete de greve quarta-feira de manhã em Londres, citada por agência internacionais.
A primeira resposta do governo é de vingança contra o movimento laboral. George Osborne, ministro da Economia, afirmou que além dos 150 mil despedimentos já efetuados haverá ainda mais 700 mil e não os 400 mil inicialmente previstos; os salários continuarão congelados até finais de 2012 e serão aumentados apenas um por cento em 2013 e outro tanto em 2014.
Os sindicatos, embora reconhecendo que vêm de um período longo em que procuraram recuperar dos ataques dos anos oitenta e noventa, salientam que o espírito desta greve demonstra uma combatividade que permitirá responder “à arrogância do ministro” e preparar desde já novas jornadas integradas de luta para o início do ano.
Artigo publicado no portal do Bloco de Esquerda no Parlamento Europeu
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