sexta-feira, setembro 07, 2012

O grande assalto aos bancos - onde estão os ativos? Versão para impressão

assalto_bpn
"AVISO: Por razões de segurança, os cofres deste banco estão sujeitos a sistema de abertura retardada": É um aviso habitual nas agências bancárias. Supostamente para evitar assaltos do exterior. Mas se a subtração de valores é feita por dentro, decidido pelos acionistas e seus administradores?
A banca está no centro da atual crise. Mas há por aí opiniões, com ar de seriedade, que apresentam os bancos como “vítimas” da crise: não podem conceder crédito às empresas, “porque foram forçados a comprar muita dívida pública portuguesa” …
Estas posições escondem as verdadeiras razões dos cortes no crédito à economia (mais de 9 mil milhões de euros em 2011..) e das escolhas desastrosas nos investimentos financeiros da banca.
Bancos – uma das instituições de crédito. Segundo o artº 2º do Dec.Lei nº 201/2002, são “empresas cuja atividade consiste em receber do público depósitos ou outros fundos reembolsáveis, a fim de os aplicarem por conta própria mediante a concessão de crédito”. Ou dito doutra forma, recebem  poupanças canalizando-as para investimento e consumo, incrementando o valor das aplicações dos depositantes. Fazem parte, com as seguradoras, fundos de pensões e outros,  dos investidores institucionais.
Os bancos utilizam dinheiro que não é dos seus acionistas, mas dos depositantes (os capitais próprios não chegam a 6% do total de balanço e 42% do financiamento dos bancos são depósitos de clientes, valor aliás muito acima dos 33% da zona euro). E por tal motivo devem cumprir regras específicas, prudenciais, de funcionamento e adotar contabilidade própria (com encargos e rendimentos e não custos e proveitos).
Com esta apresentação queremos realçar as escolhas mais que temerárias dos donos dos bancos. Quanto ao crédito concedido, ainda hoje o valor total dos empréstimos para habitação (119 mil milhões de euros) é superior ao crédito às empresas (115. mil milhões). E ao privilegiarem a compra de ações e obrigações de empresas privadas nos  investimentos financeiros geraram imparidades (perdas) brutais, já que muitos destes títulos de dívida privada ou não têm notação ou têm-na muito baixa ,  são autênticos ativos tóxicos.
Se a escolha dos donos dos bancos quanto à concessão de crédito, está a provocar um grande aperto no financiamento das empresas, o que resultou das escolhas na vertente dos investimentos financeiros? Dos 113 mil milhões de euros de investimentos financeiros em 2010, menos de 20 mil milhões dizem respeito a dívida pública portuguesa. E este valor já correspondeu a um aumento significativo deste tipo de ativos: razão, utilizar os títulos de dívida pública portuguesa como colateral (garantia) às operações de financiamento junto do BCE (40 mil milhões de euros).
Os outros investimentos financeiros, as outras escolhas dos administradores dos bancos, foram: mais de 64 mil milhões em obrigações de empresas privadas, quase 6 mil milhões em ações, mais de 8 mil milhões de derivados…
Dívida pública portuguesa ( 151 mil milhões em 2010, 174 mM€ em 2011):  quem detém os títulos (2010: 19 mM BT, 106 mM OT, 15 mM CAf,)?


Investidores institucionais           
Bancos/Seguradoras/FP                   FEFSS        CGA      Particulares           Estrangeiros
17 mM /    6 mM                                 5 mM           5 mM          15mM                  100mM


Mas  7%  de títulos de dívida pública no ativo total do sistema bancário português não será demasiado investimento, como insistem algumas vozes? Até o BdP (Relatório de Estabilidade Financeira-Maio de 2011-pág.61) refere: “Quando comparados com outras instituições monetárias da área do euro, os bancos portugueses continuam a apresentar uma menor exposição dos respetivos balanços a títulos de dívida pública”.
Estas escolhas dos acionistas e administradores dos bancos quanto à não-compra de títulos da dívida pública empurraram o país para os braços da troika (financeirização da política após a financeirização da economia). E quanto à compra de obrigações e ações de empresas  privadas, essas escolhas geraram perdas brutais, destruíram valor das poupanças dos depositantes, desperdiçaram ativos (só na primeira metade de 2011 a redução atingiu quase 10 mil milhões de euros), um autêntico assalto aos bancos …
Conclusão: Crise do endividamento dos Estados (como alguns repetem) ou crise do sistema financeiro (como a esquerda e os povos dizem)?
José Castro
A Comuna

0 comentários: