domingo, fevereiro 28, 2010

CONVERSAS MUDAM DE TOM

APÓS FUGAS DE INFORMAÇÕES

Até 24 de Junho, Sócrates sabia...

28 de Maio
Paulo Penedos (advogado na PT, sob a dependência do administrador executivo Rui Pedro Soares) explica a Américo Thomati, presidente executivo do Taguspark que está curioso
no «que vai dar isto da TVI»: «O Bava já arranjou maneira de, não dizendo que não ao Sócrates, fazer a operação de forma a ele nunca aparecer». Explica que «vão passar uns fundos para Londres».

19 de Junho
Rui Pedro Soares diz a Paulo Penedos (advogado na PT, sob a sua dependência), que vai jantar com José Sócrates. Três horas e meia depois, Soares volta a ligar-lhe: esteve «esteve com o chefe, que estava bem disposto», diz que «têm três ou quatro dias para fecharem isso, só há uma alteração de planos: tem que ser a PT explicitamente a fazer a operação». «Rui Pedro diz que o chefe lhe pediu para ir para lá três meses» [ficando a ideia de que se refere à Prisa]. E ainda: «O Chefe diz que é tudo ou nada e que não pode ficar com fama e ficar sem o proveito».

24 de Junho
Rui Pedro Soares está em Madrid, para fechar o contrato com os espanhóis da Prisa (proprietária da TVI). Ao telefone com Paulo Penedos, logo de manhã, refere que «disse ao Sócrates que tem noção que andam nisto há dez meses e que só nos últimos dias…». Penedos responde: «É verdade, mas enquanto esteve com pessoas de confiança dele, nada se soube». Rui Pedro contrapõe: «O chefe perguntou se não era melhor correrem com o Moniz antes da PT entrar e que lhe respondeu que não, porque têm um grande pára-choques para ele (chefe)».
Às 13h30 Penedos comunica a Rui Pedro que «o Soares Carneiro [administrador da PT] lhe disse que o negócio estava feito, pois ontem à noite o Zapatero [primeiro-ministro espanhol] tinha falado com Sócrates».
Na tarde desse dia, Sócrates nega ter conhecimento do que se estava a passar. À noite, Armando Vara fala com Lopes Barreira. Diz que não viu, mas «já ouviu» alguém dizer que Sócrates mentiu. Lopes Barreira diz que «o Sócrates tem matéria, não se dizia uma coisa dessas». Vara responde: «Ninguém acredita que não soubesse. Diria que foi um erro trágico. Ele tinha de ter dito que não foi oficialmente informado, mas tinha conhecimento. Acha que isto vai correr mal».

... e a partir de 25 de Junho já não sabia

25 de Junho

Às oito da noite, Rui Pedro Soares fala com Paulo Penedos. É um dos telefonemas que o procurador-geral da República (PGR) mais valoriza no seu despacho de arquivamento. O resumo da PJ é o seguinte, com extensas citações: «Rui Pedro diz que parece que fizeram ali uma m... como tu sabes isto esteve para ser feito, para não ser... andou para trás e para a frente durante demasiado tempo… devia ter tido a cautela de falar com o Sócrates… não falei e o gajo não quer o negócio. Era isso que eu temia. Acho que o Henrique não falou com ele… o Zeinal não falou com ele... agora ele está todo f... e com razão». Penedos pergunta: «Mas está fechado?». «Não, não está fechado. Ele não quer mas isto é muito bom para a PT». Rui termina dizendo que está «sem pinta de sangue, que isto está no ar há mais de um ano, para a frente e para trás, parámos ‘n’ tempo, recuperámos há três semanas e entretanto não há ninguém que fale com o gajo». Penedos «não percebe como é que ele está f... com Rui Pedro Soares». Este responde que «já disse: ‘ouve lá Sócrates, eu não tinha a responsabilidade de te dizer isto’».

26 de Junho
Armando Vara fala com alguém não identificado. É outra conversa valorizada pelo PGR. Sobre a PT/TVI, «tanto quanto apurou, estava tudo contra». «Esta era uma operação para tomar conta da TVI e limpar o gajo. Ainda por cima não o podia limpar até às eleições por causa das Autoridades da Concorrência. Era pagar um preço para uma coerência que não fazia sentido nesta altura». E conclui: «Na verdade, em termos formais, ninguém lhe tinha dito nada, assim os gajos a dizer faz de conta que sabe mas não sabe. As coisas do negócio ninguém lhas tinha explicado. Quantas vezes ele manda bocas ao telefone...».

27 de Junho
O telefonema dura 30 minutos. Rui Pedro pergunta a Penedos se tem um papel e uma caneta para escrever, «porque lhe vai contar a cilada que o Moniz fez». Segundo a PJ, então «relata aquilo que parece ser a sua versão dos acontecimentos: em Maio, a Prisa informa que o Moniz vai sair para o Benfica em Outubro. E quer abrir negociações porque está desesperada e tem que fechar até 30 de Junho. Vêm cá a Lisboa e falam com o Zeinal e com ele, pois gostavam muito que a PT entrasse no negócio. Rui Pedro respondeu que isso não podia ser porque se a PT entra no negócio, com o Moniz... em Portugal há uma escandaleira monumental e diz-se que há censura, etc.. Polanco (patrão da Prisa) disse que o Moniz está de acordo e que defende o negócio. Ele quer sair, decidimos que a mulher dele sai do écran a 30 de Junho e que passava para o núcleo de programas». O administrador da PT prossegue recordando como foi a Madrid, mas não assinou o contrato com Polanco porque em Lisboa Zeinal não conseguiu que Moniz assinasse o contrato para sair para consultor. «Conclusão: os tipos da Prisa foram instrumentalizados pelo Moniz que de certeza passou informações pelo menos à Manuela Ferreira Leite. Ele nunca esteve disponível para sair e arranjou esta estrangeirinha para ver se nós caíamos nisto». Em apartes, Rui Pedro ia perguntando a Penedos: «O que te parece isto?». Resposta: «Eh... parece bem... parece que a reconstrução é fidedigna».

In Sol

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