domingo, fevereiro 13, 2011

Diplomados precários mais do que duplicaram nos últimos dez anos

Na última década, o número de diplomados com vínculos precários - contratos a termo, recibos verdes ou trabalho temporário, sem contar com os estágios não remunerados e os bolseiros - mais do que duplicou.
Diplomados precários mais do que duplicaram nos últimos dez anos
É entre os que saem das universidades e dos institutos politécnicos que os contratos a termo ou os recibos verdes mais têm crescido – 129%. Foto MaydayLisboa/Flickr.
Segundo o jornal Público, eram 83 mil no final do terceiro trimestre de 2000 e no final de Setembro do ano passado chegavam já aos 190 mil.
Fazendo parte da já chamada geração «à rasca», os licenciados surgem cada vez mais no mercado de trabalho, mas o seu bilhete de entrada para o "maravilhoso" mundo dos que conseguem emprego tem sido pago, sobretudo, à custa da precariedade.
É a muitos destes - e a muitos dos que engrossam os números do desemprego - que a canção dos Deolinda “Parva que sou” assentou que nem uma luva. Nas redes sociais, nas escolas, nas universidades, os mais jovens reviram-se naquele público que, quando há duas semanas nos coliseus do Porto e de Lisboa ouviu "Já é uma sorte eu poder estagiar", aplaudiu de pé a voz de Ana Bacalhau.
A precarização do trabalho não é um problema exclusivo dos que têm formação superior, é aliás a proposta neoliberal global que se vai impondo em todos os sectores e faixas etárias. É, portanto, um problema dos jovens e dos que entraram no mundo do trabalho nos últimos anos, incluindo os que regressam do desemprego. Mas os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) não deixam margem para dúvidas: é entre os que saem das universidades e dos institutos politécnicos que os contratos a termo ou os recibos verdes mais têm crescido — 129 por cento - em comparação com o crescimento de 5,8 por cento verificado entre os que não foram além do ensino básico ou secundário, informa o jornal Público.
Segundo um estudo do INE, em 2009, dois anos após terem terminado o ensino, mais de 40 por cento dos jovens com o básico ainda procuravam emprego e apenas 25 por cento dos licenciados permaneciam nessa situação.
A canção dos Deolinda "é um grito de revolta contra a ideologia da precarização", diz António Nóvoa
Nas palavras do reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, citadas pelo mesmo jornal, a canção dos Deolinda é "um grito de revolta". "É um grito contra duas ideologias muito marcantes nos últimos anos em Portugal: a ideologia do capital humano, que trouxe aquilo a que designamos a armadilha do diploma, como se o facto de ter um fosse, por si só, um factor de sucesso e emprego. E hoje as pessoas percebem que não é, e passam de um diploma para outro diploma. Mas também contra a ideologia da precarização - deste manter as pessoas numa zona cinzenta, do recibo verde, do estágio, da bolsa, sem que lhes seja dada uma oportunidade de carreira."
António Nóvoa defende que a desadequação entre o que o sistema de ensino produziu e o que o mercado absorveu não é culpa da educação. "Houve foi economia a menos."
Na última década, as fornadas de jovens que saíram do ensino superior mudaram a estrutura do emprego. O peso dos diplomados no total de trabalhadores por conta de outrém passou de 11,2 por cento em 2000 para os 18,5 por cento no ano passado. No mesmo período, os não licenciados - a esmagadora maioria dos que trabalham para um patrão - diminuíram 2,1 por cento). O problema está em saber se estes jovens qualificados que entram no mercado de trabalho vão ou não desempenhar funções compatíveis com a sua formação.
Francisco Lima, economista do Instituto Superior Técnico, lembra, em declarações ao Público, que o problema da dualidade do mercado de trabalho não afecta apenas os jovens e os diplomados. É também um problema dos mais velhos que perderam o emprego ou das mulheres. E não acredita que seja a mudança das leis laborais - tornando mais fáceis e baratos os despedimentos - que irá resolver o problema. "Numa situação de crise como a que Portugal atravessa, as empresas procuram formas mais flexíveis de contratação, mas uma empresa que queira ser competitiva não tem interesse numa grande rotatividade de mão-de-obra." E explica o sucesso da música de que se fala: "Se o país estivesse a crescer, a música seria um hino para uma franja reduzida da população. Mas ela aparece precisamente numa situação de crescimento nulo e de elevadas taxas de desemprego..."
Há também o problema da estrutura empresarial. "A qualificação dos nossos empresários é pior do que a dos operários. E com este tipo de empresários não criamos empregos para diplomados com ensino superior", acrescenta Alberto Amaral, da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior.
Esquerda.net

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