Juros das dívidas de Itália e Espanha batem recordes
Mercados confirmam que os alvos da especulação agora são Itália e Espanha. Comentador do Financial Times considera que as hipóteses de colapso da zona euro são de 50 por cento.
Esta é uma crise sistémica de uma união monetária que se recusa a ser uma união orçamental”, escreve Münchau. Imagem de Olivier H.
“Psicologicamente falando, o ataque à Itália leva esta crise a todo um novo nível”, disse o analista Nicholas Spiro, do Spiro Sovereign Strategy, ao Financial Times, observando que aumenta também significativamente a pressão sobre a Espanha. “No espaço de pouco mais de uma semana, a pressão dos mercados deixou de abranger cerca de 6 por cento do PIB da Zona Euro para se transformar em preocupações sobre a credibilidade de mais de um terço da produção do bloco”. Itália e Espanha são respectivamente a terceira e quarta economias da Zona Euro.
Portugal também bateu recordes, mas nos títulos a dois anos, cujas taxas de juros bateram pela primeira vez a barreira impensável dos 20%. Já na semana passada, a barreira dos 20% fora quebrada nos juros das obrigações a três anos. Nos títulos a dez anos, os juros são mais baixos, mas mesmo assim muito superiores aos cobrados a Espanha e Itália: 12,666%.
Abecedário de planos
A fúria especulativa é incentivada pelas crescentes incertezas em relação às medidas que a União Europeia irá tomar para combater a crise. Wolfgang Münchau, um dos principais comentadores do Financial Times, considera na sua coluna desta segunda-feira que as hipóteses de colapso da Zona Euro são, neste momento, de 50 por cento, considerando que a União Europeia tem reagido demasiado tarde aos sucessivos problemas: primeiro a Grécia, depois a Irlanda e Portugal e, agora, a necessidade de travar o contágio à Itália e a Espanha.
“A liderança política europeia tem cometido um erro de abordagem. Esta não é uma crise de pequenos países periféricos do euro. Não é uma crise provocada por agências de rating e especuladores. É uma crise sistémica de uma união monetária que se recusa a ser uma união orçamental”, escreve Münchau.
O comentador defende que a União já deveria ter duplicado ou triplicado a dimensão do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e deveria tê-lo tornado mais flexível, permitindo que comprasse títulos de dívida no mercado secundário. Considera também que o Conselho Europeu devia ter forçado já um encerramento do debate sobre o que fazer com os investidores privados que compraram dívida pública grega. Foi a demora da reacção da Europa que fez com que a crise se estendesse à Itália, diz.
“Nas últimas semanas, moveu-se de um plano A para um plano B, e a Alemanha prepara um plano C. O plano A era austeridade. O plano B envolve a necessidade de aliviar o fardo da dívida, através de uma combinação de transferências orçamentais e da contribuição dos detentores de dívida. O plano C iria alargar o raio de acção do FEEF para torná-lo suficientemente grande para abrigar a Espanha e a Itália”, escreve o comentador. Agora, pode não haver alternativa a um plano D, de desvalorização ou default (incumprimento).
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