PROFESSORES SENTEM-SE "TRAÍDOS"
Contratados repartem culpas entre ministério e sindicatos por utilização da avaliação nas candidaturas
A contagem da avaliação de desempenho nos concursos de contratação não está só a gerar descontentamento com o Ministério da Educação. Os professores contratados ouvidos pelo DN sentem-se também "revoltados" e "traídos" pelos sindicatos, que acusam de não terem actuado.
Em causa está um critério - a valorização das avaliações de "muito bom" e "excelente" - que aumenta até dois pontos a nota de candidatura a um lugar nas escolas (ver P&R). O suficiente para gerar "centenas" de ultrapassagens de professores, com mais currículo e experiência, por colegas que ficaram à sua frente numa avaliação muito contestada.
Gonçalo Valente, 35 anos, docente de Informática do Agrupamento de Escolas D. Duarte I, de Sintra, é um destes contratados que agora se arriscam a perder terreno. Por "discordar do modelo" de avaliação que estava a ser aplicado e "apoiar a luta" dos sindicatos, decidiu não pedir aulas assistidas na avaliação - ficando, desde logo, impossibilitado de chegar às notas mais altas.
Acabou com um "bom" e, apesar dos seis anos de profissão, não se sente seguro no posto de trabalho: "Há muitos contratados que vão ser prejudicados, e sentem-se traídos", diz. "Do ministério, já esperava tudo. Mas sendo sindicalizado, sinto que os sindicatos não têm feito um bom trabalho a defender os nossos interesses."
Em rigor, os sindicatos vêm alertando há muito para esta situação. Mas, para a os professores ouvidos pelo DN, a ideia que estava a passar era que tudo seria resolvido.
"[Os sindicatos] fizeram sessões de esclarecimento. Eu fui a várias. Esta foi uma das questões colocadas e disseram-nos para ter calma, que isto nem sequer ia ser ponderado" conta ao DN Marília Costa, 33 anos, professora de Educação Visual na EBI da Mexilhoeira Grande. "Vão negociar agora? Como? A primeira fase do concurso termina no fim desta semana."
Tal como muitos colegas, Marília também não pediu aulas assistidas. Porém, a sua situação é diferente: na menção qualitativa da avaliação teve um "bom", mas, na quantitativa, a escola decidiu atribuir-lhe nove valores, o que já equivale ao "Muito Bom".
"A aplicação informática dos concursos não aceitou estes dados. A minha escola contactou a direcção regional de Educação do Algarve, que disse que o que contaria seria a menção quantitativa. Por isso, para poder concorrer, fui obrigada a mentir na minha candidatura, baixando a nota para 7,9", conta.
"Sinto-me defraudada com toda a conduta dos sindicatos desde o início da luta", desabafa Marta Ascensão, também com 33 anos, docente de Biologia na Secundária do Cacém. "A unidade que tanto nos pediram foi conseguida, e andaram a negociar pequenas vírgulas e não o essencial".
Com um "bom" e nota 7, a professora há 10 anos já dá como "certa" e "definitiva" a ultrapassagem por muitos colegas: "O muito bom que não tive o ano passado nunca mais me será dado", explica.
Igualmente críticos da postura dos sindicatos são alguns movimentos de professores: "Sempre fomos contra o acordo de Janeiro, e uma das questões que suscitámos foi esta da utilização das avaliações", lembra Ricardo Silva, da APEDE (Professores e Educadores em Defesa do Ensino).
"Mas quando o professor Mário Nogueira, da Fenprof, disse logo em Janeiro que esta questão seria ultrapassada ficámos descansados", explica. "Não sei que compromissos tiveram do ministério, mas sabe-se que agora que nada ficou escrito".
O DN teve conhecimento de outros casos, como o de um professor de Sintra que pediu observação de aulas, teve uma nota equivalente ao Muito Bom (8) mas, ainda assim, acabou com um "bom", por força das quotas para as notas mais altas.
Contactado pelo DN, o Ministério da Educação disse que, a partir de hoje, a qualificação quantitativa real "poderá ser inscrita na plataforma do concurso", podendo os docentes concorrer à hipótese de rectificar os dados.
O DN tentou, sem sucesso, contactar o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira.
In Diário de Notícias
A contagem da avaliação de desempenho nos concursos de contratação não está só a gerar descontentamento com o Ministério da Educação. Os professores contratados ouvidos pelo DN sentem-se também "revoltados" e "traídos" pelos sindicatos, que acusam de não terem actuado.
Em causa está um critério - a valorização das avaliações de "muito bom" e "excelente" - que aumenta até dois pontos a nota de candidatura a um lugar nas escolas (ver P&R). O suficiente para gerar "centenas" de ultrapassagens de professores, com mais currículo e experiência, por colegas que ficaram à sua frente numa avaliação muito contestada.
Gonçalo Valente, 35 anos, docente de Informática do Agrupamento de Escolas D. Duarte I, de Sintra, é um destes contratados que agora se arriscam a perder terreno. Por "discordar do modelo" de avaliação que estava a ser aplicado e "apoiar a luta" dos sindicatos, decidiu não pedir aulas assistidas na avaliação - ficando, desde logo, impossibilitado de chegar às notas mais altas.
Acabou com um "bom" e, apesar dos seis anos de profissão, não se sente seguro no posto de trabalho: "Há muitos contratados que vão ser prejudicados, e sentem-se traídos", diz. "Do ministério, já esperava tudo. Mas sendo sindicalizado, sinto que os sindicatos não têm feito um bom trabalho a defender os nossos interesses."
Em rigor, os sindicatos vêm alertando há muito para esta situação. Mas, para a os professores ouvidos pelo DN, a ideia que estava a passar era que tudo seria resolvido.
"[Os sindicatos] fizeram sessões de esclarecimento. Eu fui a várias. Esta foi uma das questões colocadas e disseram-nos para ter calma, que isto nem sequer ia ser ponderado" conta ao DN Marília Costa, 33 anos, professora de Educação Visual na EBI da Mexilhoeira Grande. "Vão negociar agora? Como? A primeira fase do concurso termina no fim desta semana."
Tal como muitos colegas, Marília também não pediu aulas assistidas. Porém, a sua situação é diferente: na menção qualitativa da avaliação teve um "bom", mas, na quantitativa, a escola decidiu atribuir-lhe nove valores, o que já equivale ao "Muito Bom".
"A aplicação informática dos concursos não aceitou estes dados. A minha escola contactou a direcção regional de Educação do Algarve, que disse que o que contaria seria a menção quantitativa. Por isso, para poder concorrer, fui obrigada a mentir na minha candidatura, baixando a nota para 7,9", conta.
"Sinto-me defraudada com toda a conduta dos sindicatos desde o início da luta", desabafa Marta Ascensão, também com 33 anos, docente de Biologia na Secundária do Cacém. "A unidade que tanto nos pediram foi conseguida, e andaram a negociar pequenas vírgulas e não o essencial".
Com um "bom" e nota 7, a professora há 10 anos já dá como "certa" e "definitiva" a ultrapassagem por muitos colegas: "O muito bom que não tive o ano passado nunca mais me será dado", explica.
Igualmente críticos da postura dos sindicatos são alguns movimentos de professores: "Sempre fomos contra o acordo de Janeiro, e uma das questões que suscitámos foi esta da utilização das avaliações", lembra Ricardo Silva, da APEDE (Professores e Educadores em Defesa do Ensino).
"Mas quando o professor Mário Nogueira, da Fenprof, disse logo em Janeiro que esta questão seria ultrapassada ficámos descansados", explica. "Não sei que compromissos tiveram do ministério, mas sabe-se que agora que nada ficou escrito".
O DN teve conhecimento de outros casos, como o de um professor de Sintra que pediu observação de aulas, teve uma nota equivalente ao Muito Bom (8) mas, ainda assim, acabou com um "bom", por força das quotas para as notas mais altas.
Contactado pelo DN, o Ministério da Educação disse que, a partir de hoje, a qualificação quantitativa real "poderá ser inscrita na plataforma do concurso", podendo os docentes concorrer à hipótese de rectificar os dados.
O DN tentou, sem sucesso, contactar o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira.
In Diário de Notícias
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