quarta-feira, outubro 01, 2008

A inutilidade dos objectivos individuais. Ensinar sim, massacrar não!

1. É inacreditável o que se está a passar com a classe docente. Como é possível um professor chegar à escola com ânimo e boa disposição, para cumprir a sua verdadeira tarefa de ensinar, após passar quase toda a noite a consumir papéis e a destruir a sua mente que devia ser poupada para poder desenvolver, com êxito, todo o processo de ensino/aprendizagem num local tão nobre que é a sala de aula? Ao que nós chegamos! O tempo já não chega para preparar as aulas, mesmo trabalhando domingos e feriados! Por este caminho vamos parar todos ao “manicómio”.
2. Parece impossível! Afinal o que é a avaliação de desempenho? Estou a ficar baralhado e sabem porquê? Estou a presenciar, vivendo também esta azáfama, toda a classe docente, neste momento, na fase das confissões, pois nos seus objectivos individuais têm que a priori expressar todos os seus sentimentos em relação à meta a alcançar. Os professores estão a ter ainda um primeiro contacto, mal conhecendo o nível das capacidades e aprendizagens dos alunos e já se apontam resultados a atingir nos seus vários parâmetros!
3. O saber agora fabrica-se com papéis? É um saber dedutivo, partindo do dossiê para o resultado? Não acham que é isso, quando o professor, nos seus objectivos individuais, começa logo pela melhoria dos resultados numa altura em que se encontra ainda no diagnóstico da turma? Como podemos, neste momento, saber a percentagem de cada nível a atribuir no final do ano lectivo? Devo estar já muito baralhado da minha cabeça com tantos papéis que vejo à minha frente, pois estas decisões são tomadas por intelectuais, alguns que nunca ensinaram, mas com grandes capacidades para idealizarem teorias que não consigo perceber!
4. Há três tipos de avaliação que sempre tivemos em conta: a diagnóstica, a formativa e a sumativa. Perante esta realidade, os professores vão avaliando os alunos, usando todos os meios possíveis para que eles consigam perceber e atingir os melhores resultados. O nível deve corresponder sempre àquilo que o aluno conseguiu aprender ao longo do ano lectivo, sendo sempre um processo indutivo e imprevisível. Então se o docente fez tudo o que estava ao seu alcance para que o aluno superasse as suas dificuldades e não conseguiu, o que vai ser feito perante os objectivos traçados? Acham que os alunos devem passar por decreto ou pelo seu próprio mérito? Como é possível afirmar-se que, por exemplo, o 9º ano vai ter 100% de sucesso ainda antes do início das actividades lectivas? Se me dissessem, vamos fazer tudo por tudo para que os alunos trabalhem, cumpram o seu dever e se esforcem para que consigam atingir (com rigor e não com facilitismos!) o sucesso desejado, apoiava plenamente e acho que deve ser o dever de cada um de nós, mas o que ouço e leio é precisamente ir ao encontro de resultados e não de competências.
5. Parem de massacrar os professores com papéis e burocracias que não levam a lado nenhum. Deixem-nos trabalhar com os alunos. Conservem-lhes uma mente sã para que possam fazer dos alunos autênticos cidadãos competentes, podendo continuar a construir uma sociedade capaz e útil para todos nós e para os nossos vindouros. Dêem ânimo aos professores, façam com que eles readquirem aquela força e alegria que sempre tiveram no desempenho das suas funções! Com todos os colegas que contacto, dificilmente encontro alguém satisfeito com o que se está a passar. Exigir sim, massacrar não! Quem perde com tudo isso?

Salvador de Sousa - Professor da Escola Monsenhor Elísio de Araújo – Vila Verde
ProfAvaliação

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