sábado, março 21, 2009

Abriu a caça aos professores e ninguém parece incomodado. O novo ECD e o estatuto do aluno criaram o conceito do professor-saco-de-boxe

Sempre me questionei por que razão a opinião pública não se indigna com histórias destas:
"Professora contratada, vive no Porto, tem mestrado, não bolonhês mas dos duros, com tese e tudo, lecciona 3 horas numa escola de Lisboa e compõe o horário com mais 8 horas numa escola de Coimbra. Gasta cinco vezes mais em transportes do que aquilo que ganha com um horário de 11 horas semanais. Apesar disso, aguenta o infortúnio para ganhar tempo de serviço na esperança de conseguir, um ano destes, um horário completo".
"Professor contratado, com doutoramento, lecciona em 4 escolas. Vive em Almada, lecciona 6 horas numa escola de Lisboa, mais 8 horas em duas escolas da Margem Sul e mais 8 horas numa escola do concelho de Sintra".
"Professora contratada, licenciada em ensino do Espanhol, lecciona 4 horas numa escola de Santarém e mais 12 horas numa escola de línguas. Com as novas regras do concurso, vai ficar atrás dos candidatos que têm um curso de Espanhol, nível C, do Instituto Cervantes, porque há muitos docentes com licenciaturas em ensino do inglês, com mais anos de serviço, que a vão ultrapassar na graduação".
E já agora, dêem uma vista de olhos pelos comentários anónimos que enchem as notícias online da destruição de dois carros de professores numa escola do Norte: o regozijo é a norma e as culpas pelo acto terrorista são, como é óbvio, das vítimas. A que se deve este ódio aos professores? O colega Jorge Arriaga ensaia uma resposta que, apesar de crua, me parece retratar bem a realidade: "Se derem uma vista de olhos pelas caixas de comentários dos blogues e jornais, reina grande alegria com estes dois carros incendiados! É a "justiça" a ser feita! Os professores, esses malandros, são a raíz de todos os males da Sociedade! Ganho mal? Sou maltratado pelo patrão? A minha mulher não me respeita? Os filhos andam metidos no cavalo? Não estudei porque era um burro e um calão? De quem é a culpa? Dos professores, claro! Toca a incendiar-lhes os carros! Mata! Mata!"
ProfAvaliação

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