segunda-feira, fevereiro 16, 2009


Intervenção na VI CONVENÇÃO NACIONAL DO BLOCO DE ESQUERDA

Companheir@ e amig@s,

Como refere a Moção A, “para o Bloco, a estratégia é clara: para derrotar a desigualdade, é preciso construir uma esquerda popular para a luta com novas energias e movimentos sociais fortes. (…). O Bloco é hoje mais forte para responder à sua obrigação: constituir uma alternativa política para o país”.

Sócrates tem sido a ponta de lança e o principal arquitecto do liberalismo embusteiro que, antes da actual crise eclodir, já tinha mergulhado o nosso país numa profunda crise agravando as assimetrias e as desigualdades económicas, sociais e ambientais. Desde que chegaram ao poder, Sócrates e o PS fizeram sucessivas declarações de guerra aos trabalhadores, aos cidadãos, aos mais pobres deste país:

- mais de meio milhão de desempregados, 2 milhões de pobres, mais de um milhão de precários;
- a imposição do famigerado Código do Trabalho;
- o ataque inaudito ao Serviço Nacional de Saúde e à Escola Pública;
- o aviltamento e a humilhação dos professores;
- o ataque à segurança social e o aumento da idade da reforma;
- o esbulho dos cidadãos a pretexto da obsessão do défice;
- a corrupção a alastrar como mancha de óleo;
- a podridão a grassar nas altas esferas do poder.

Por outro lado, temos a defesa dos banqueiros, especuladores e grandes empresários, o enriquecimento ilícito de uns quantos através dos paraísos fiscais dos ofshores; a salvação dos banqueiros vigaristas à custa do dinheiro dos contribuintes – só no BPN são já 1 400 milhões de euros injectados.

Agora aí temos a crise e só está a começar – porventura uma nova crise do capitalismo bem mais avassaladora do que a Grande Depressão dos anos 30. Uma crise de superprodução onde a financeirização da economia e a especulação bolsista e parasitária foram levadas aos limites extremos.

A Depressão do século passado provocou cerca de 30 milhões de desempregados, esta segundo os dados mais pessimistas da OIT poderá acarretar no final deste ano mais 40 milhões de desempregados, passando a haver 230 milhões de pessoas sem trabalho a nível mundial. Outros 200 milhões poderão ser atirados para situações de pobreza extrema.

Esta crise é única porque é a primeira crise própria de uma economia globalizada, de uma economia de casino à escala mundial que apostou no capital rentista, virtual e volátil.

Além da terrível chaga do desemprego, será que, tal como nos anos 30, vamos assistir a outras consequências sociais devastadoras?

- à ruína e falência da classe média e à sua proletarização? Parece que sim!
- ao alastramento da criminalidade e da exclusão social? Parece que sim!
- ao crescimento de novo da xenofobia, das ideias nacionalistas e do racismo? Os últimos acontecimentos em Inglaterra são deveras preocupantes, com manifestações de trabalhadores contra os imigrantes portugueses e italianos.

Vamos assistir à emergência e recrudescimento de forças populistas de direita com apoio nas largas massas populares e trabalhadoras? Corre-se seriamente este perigo! Vamos assistir a choques violentos e a novos ventos de guerra? É bem possível!

E, como se constata, Portugal, porque tem Sócrates e com este governo, é um dos elos mais fracos da crise. Só no passado mês de Janeiro verificaram-se 299 falências de empresas – 10 por dia – e foram mais de 10 mil desempregados – a uma média de 360 por dia, ou seja, são mais 15 novos desempregados a cada hora que passa, dia e noite. É este o resultado chocante das políticas liberais de Sócrates e do capitalismo.
Torna-se imperioso derrotar esta desigualdade construindo uma esquerda popular e socialista, cada vez mais abrangente, enérgica e mobilizadora, protagonizada pelo Bloco de Esquerda. Com propostas alternativas, construindo novos diálogos, juntando novas forças.

O Bloco nasceu há 10 anos e hoje está mais forte, muito mais forte. O seu objectivo foi a refundação e a recomposição da esquerda na luta para a constituição de uma alternativa política em Portugal. Não queremos ser a 3ª força política, nem tão pouco a 2ª – queremos ser a 1ª força política nacional, e para isso, há que juntar forças camaradas.

O Bloco quer e será poder em Portugal quando chegar o momento. Agora, o momento é de juntar, ampliar e mobilizar forças, mobilizar toda a luta para as batalhas que se aproximam. O poder socialista não se decreta – abrem-se, rasgam-se cada vez novos caminhos para a sua construção. Há que aprender com o passado, com o movimento popular e revolucionário do passado, extirpando os pontos negativos e valorizando os aspectos positivos.

A História ensina-nos a construir as etapas para a sociedade alternativa, socialista, traçando os seus alicerces no presente de forma sustentada, sólida e eficaz. Dá mais trabalho, mas é mais consistente. Leva mais tempo, mas é o verdadeiro caminho para a convergência das esquerdas.

Camaradas,

Juntar Forças, é a luta que o Bloco tem feito e vai continuar a fazer. É a defesa intransigente e a luta pela melhoria dos serviços públicos – o SNS, a Escola Pública, a segurança social, a luta pelo emprego e contra a precariedade, contra a NATO, a guerra e os ofshores, é o combate contra a pobreza e a exclusão, a luta por um ambiente sustentável, pela nacionalização dos bancos e da energia, contra a privatização da água, a luta pela transparência absoluta e contra a corrupção, contra o Código do Trabalho, a luta e o apoio às justas reivindicações dos professores contra a brutal avaliação de desempenho, é o apoio sem tibiezas às reivindicações dos agricultores, pescadores e outros trabalhadores do país.

O Bloco de Esquerda quer ser o porta-voz de milhões na luta por melhores condições de vida, sem exclusões, quer tirar a maioria absoluta a um PS que, no governo, tem praticado uma política de desastre nacional.

A alternativa política vai continuar a construir-se no Parlamento e fora dele, nas autarquias, nos sindicatos, nos movimentos sociais, nas empresas, nas escolas, nos bairros, mas também nos Teatros da Trindade e nas Aulas Magnas. Queremos aprofundar a modificação do mapa político do país. Com ousadia e determinação, com energia e recorrendo à imaginação.

Segundo o saudoso Eduardo Prado Coelho, o Bloco, quando surgiu há 10 anos atrás, nas suas palavras, “foi aquela novidade essencial”. Agora, o Bloco é e será, terá de ser a força essencial, a Esquerda de Confiança para a construção de uma sociedade alternativa, mais justa e solidária, popular e socialista.

Viva o Bloco de Esquerda!

João Vasconcelos

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