quarta-feira, setembro 01, 2010

CRÓNICAS SOBRE PARIS
A lei da sobrevivência

A caminho da Torre Eiffel, uma das maiores atracções da cidade, situada no imenso Champ de Mars, passei pela praça e jardins do Trocadéro, onde se destaca o imponente Palais de Chaillot, desenhado em estilo Neoclássico para a Exposição de Paris de 1937 e acolhendo neste momento os Museus do Homem e da Marinha. Do terraço frontal do palácio desfruta-se de uma vista esplêndida sobre o Sena, a Torre Eiffel e os jardins do Trocadéro. Por baixo da Torre filas enormes de turistas esperam pacientemente a sua vez para subir aos andares superiores (o topo, incluindo antenas, fica a 324 metros de altura e são necessárias 60 toneladas de tinta para pintar a Torre Eiffel). Não subi ao topo porque já o tinha feito aquando da primeira visita com um grupo de alunos).
Apreciando a agitação e o bulício do público que gravitava à minha volta, observei diversos vendedores ambulantes (magrebinos, senegaleses, etc.) que vendiam e expunham no local diversos artigos, principalmente miniaturas de Torres Eiffel. Estes artigos eram colocados sobre panos com 4 pontas para mais fácil transporte, pensava eu. Mas não! É que os vendedores não têm autorização para ali estar e sempre que viam ou desconfiavam da presença da polícia, ala paquete! Num ápice pegavam nas 4 pontas com os artigos lá dentro e fugiam, não sem deixarem caír diversas Torres Eiffel pelo caminho. Assisti a algumas cenas destas. Muitos destes desgraçados -sempre os mais pobres - sujeitam-se a este tipo de sobrevivência, tipo do gato e do rato. Se são apanhados pela polícia ficam sem os artigos e terão de pagar multas, no mínimo. Que espectáculo degradante este, também em Paris, capital do "reino sarkoziano". Tudo isto seria facilmente resolvido se o governo, ou a Câmara Municipal passassem licenças de venda ambulante a esta gente, que muito provavelmente, não terá outros meios de sobrevivência. Mas o que impera é a força da discriminação e a pressão dos comerciantes das lojas.
Lembrei-me imediatamente que em Portimão passa-se exactamente a mesma coisa. Muitos vendedores ambulantes (negros, marroquinos, etc.) não obtêm licenças e são impedidos de vender os seus artigos na zona ribeirinha. Não digo que não haja alguns artigos contrafeitos e ilegais, mas nem todos os vendedores são malfeitores, sendo tratados como tal. Como não têm outros meios de sobrevivência sujeitam-se à multa  e a ficarem sem os artigos, além de se assistir com frequência a espectáculos degradantes com a polícia armada até aos dentes, de metralhadoras em punho e a cercar toda a zona. Um autêntico estado de sítio e que não devia acontecer na nossa cidade. Mas a culpa é da Câmara Municipal de Portimão que não passa licenças de venda ambulante em número adequado e a tempo e horas. E cede sempre a outros interesses que não os dos excluídos. Por outro lado sempre vai amealhando mais uns cobres em multas, o que não deixa de dar um jeitaço, tendo em conta a situação de quase bancarrota financeira da responsabilidade desta Câmara PS.
Em Paris tal como em Portimão - os excluídos lutam pela sobrevivência e os poderosos aprenderam pela mesma cartilha.
João Vasconcelos

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