terça-feira, julho 29, 2008

Luta sindical no aeroporto: negociação ou capitulação???

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No inicio deste Verão de 2008, os trabalhadores do aeroporto demonstravam uma firme disposição para lutar. Vários sectores eram (e ainda são) os atingidos pelas violações do Acordo de Empresa, desrespeito dos descansos mínimos e da pausa para pequeno almoço, horários violentíssimos e completamente desumanizados, falta de condições de trabalho (como por exemplo o simples acesso a água para quem trabalha exposto aos caprichos do clima), salários de miséria, pressão constante das chefias, etc. Assim, os trabalhadores de terra do Grupo TAP, os trabalhadores da Iberlim lutando pelo mais que justo aumento salarial (para 490 €!!!), contando ainda com a solidariedade dos trabalhadores do ar (Pessoal de Cabine e Pilotos) para com as lutas dos seus companheiros, conjugavam-se para que alguma justiça laboral se viesse a verificar, através da única linguagem que as administrações entendem: paralisação da operação e demonstração de força por parte de quem trabalha.

As notícias eram animadoras... Pela primeira vez, os 5 sindicatos estavam unidos na convocatória de uma greve na Groundforce - nome de marketing da TAP SPdH (Serviços Portugueses de Handling) após a privatização em 2003. STHA, SITAVA, SIMA, SINTAC e SQAC reuniram conjuntamente e aprovaram formas de luta comuns. A mais importante era a greve de 24 horas no dia 19 de Julho na Groundforce e uma Concentração/Greve de todos trabalhadores do Grupo TAP no dia 16 de Julho em frente ao edifício da administração.

No entanto a negociação de cúpulas sindicais, administrativas e governativas vingou, para já... Com um protocolo de entendimento entre a administração e os sindicatos desconvocaram-se todas as formas de luta. Democracia dos trabalhadores nas empresas e sindicatos e especialmente na decisão e convocação/desconvocação das formas de luta, é coisa que as organizações sindicais só invocam e respeitam quando bem entendem.

Ora, o protocolo de entendimento que selou a paz social no Grupo TAP, consubstancia o congelamento de salários para 2008 (é de perguntar se a administração também vai congelar os seus!!!) e nada mais nada menos do que uma declaração de boas intenções, um punhado de promessas, que a administração sabe perfeitamente que não vai cumprir. Para isso, a chantagem da crise, o fantasma dos prejuízos, o papão dos “postos de trabalho em risco”, o uso e abuso do terrorismo psicológico sobre os trabalhadores, a imposição do medo como discurso oficial, enfim tudo servirá para manter os salários e privilégios dos administradores, enquanto se aperta o garrote sobre a vida de quem, com o seu trabalho permite lucros, compras de aviões, planos de investimento, aumento de rotas, aumento de passageiros, etc (ou uma companhia que não tem lucros pode-se dar ao luxo de viver acima das suas possibilidades?). A histórica unidade sindical em torno de uma greve foi trocada por uma mão cheia de nada. Mais, a ofensiva passou a estar do lado de Fernando Pinto (que segundo notícia do jornal SOL aumentou em 5 vezes o seu salário desde 2001!).

Ainda a tinta das assinaturas do protocolo de entendimento secava e já a administração da TAP anunciava, sem nenhum pudor, aos sindicatos e à imprensa que não iria cumprir o Acordo de Empresa. Propunha a suspensão do Acordo de Empresa durante um ano, a “suspensão do pagamento do trabalho extraordinário, das férias compensatórias dos feriados e da contagem do tempo para efeitos de progressão salarial”, assim como a “diminuição do vencimento líquido de cerca de 20 por cento”. Que é como quem diz, Fernando Pinto quer apresentar lucros à custa dos trabalhadores. Quer atingir os seus objectivos de gestão (quem sabe não terá mais um prémio de gestão de alguns milhões de euros à sua espera) à custa da miséria de quem lhe dá esses “resultados”.

Não são só os aviões que gastam combustível! A crise afecta o dia a dia da vida de quem trabalha. Os gastos nos transportes para o seu local de trabalho (o aeroporto), o aumento dos preços dos bens essenciais, das prestações ao banco, etc, estrangulam e deixam à beira do desespero quem não tem mais do que a sua força de trabalho. Todos os trabalhadores merecem um aumento salarial de emergência. Estes sim são gestores exímios de um salário que estica cada vez mais para chegar ao fim do mês. Quem faz os possíveis e impossíveis com um salário que cada vez mais é comido pela inflação é que é digno de “um prémio de gestão”. O aumento real dos salários em 2008 não é negociável!

Como bem nota a Comissão de Trabalhadores da SpdH (Groundforce) em 22 de Julho, parece que o protocolo de entendimento afinal só serviu para ludibriar os trabalhadores. A boa fé negocial não é coisa que as administrações agradeçam ou respeitem. Essa boa fé negocial dos sindicatos só servirá para que os ataques do Governo Sócrates e acessores (Mário Lino, Vieira da Silva e outros capatazes) se abatam mais violentamente ainda sobre os ombros dos trabalhadores, pela via das administrações das empresas. Seja com “propostas” de suspensão do A.E., ou pela imposição real do “banco de horas” (Trabalha mais, recebe menos, ou a lenga lenga de mais uma crise que “todos” temos que pagar!).

A luta é a única saída. A união das organizações sindicais é fundamental, seja qual for a forma de luta decidida pelos trabalhadores. Que seja quem trabalha a decidir como lutar é a chave do sucesso de qualquer processo reivindicativo. Responder à letra ao senhor Fernando Pinto, Mário Lino, Vieira da Silva e Sócrates implica necessariamente falar o idioma deles. E esse, está demonstrado, é linguagem numérica, mede-se em lucros e resultados, em salários de luxo e privilégios obscenos para alguns afortunados, migalhas e sacrifícios para todos os outros.

Se só percebem a linguagem dos números, que façam as contas a quanto lhes custará uma greve (cada vez mais inevitável) de todos os sectores em Agosto, no pico de actividade da aviação nacional. Talvez assim entendam que os trabalhadores são gente e não são só mais uma roda dentada da máquina de fazer milhões e comprar aviões. Aos sindicatos exige-se que não usem do argumentário da administração; que não comprem o discurso do coitadinho e que lutem com lealdade, combatividade e democracia lado a lado com os trabalhadores. Só assim se alcançarão vitórias. A indispensável justiça laboral e salarial é condição primeira e fundamental para qualquer outro tipo plano de crescimento.

Ruptura

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