terça-feira, julho 29, 2008

Um não claro à energia nuclear!

É certo que a questão da energia nuclear, trazida à discussão nos últimos tempos, não faz parte da agenda política do Bloco de Esquerda.

As nossas preocupações estão voltadas para o estudo, aproveitamento e exploração das energias alternativas limpas e para a implementação do Plano de Eficiência Energética, que pode permitir uma enorme poupança na energia.

Por outro lado, importa separar claramente a questão da produção de energia eléctrica e o consumo de combustíveis fósseis, nomeadamente nos transportes.

No que se refere aos transportes é necessária a alteração do actual paradigma, que privilegia o transporte rodoviário sobre o ferroviário. Só assim será possível abrandar a dependência brutal face à gasolina e ao gasóleo.

Infelizmente, tem-se assistido a um investimento enorme na construção de auto-estradas e ao desinvestimento na rede ferroviária, excluindo, agora, a loucura de novoriquismo que é o TGV.

Mas não é possível esquecer que os grandes grupos económicos e financeiros, com testas-de-ferro como Patrick Monteiro dos Santos e com lobbys que integram as organizações patronais e que estendem os seus braços até insuspeitas personalidades da cena política portuguesa, estão de olho na implantação de centrais nucleares em Portugal. Foram eles que relançaram agora a questão.

Com a crise energética que vivemos, mais provocada pela extrema ganância da especulação financeira do que por qualquer outra razão, a falsa alternativa nuclear pode fazer caminho entre os cidadãos acossados pelo preço dos combustíveis.

Como sempre, já está em construção um discurso largamente falacioso e eivado de mentiras e “não verdades” sobre a utilização do nuclear na produção de energia eléctrica.

É indispensável responder com uma campanha que explique claramente os terríveis inconvenientes da utilização da energia nuclear, pondo em causa os seus elevados custos de construção, a dependência da tecnologia e a questão da deposição dos resíduos.

  • 1ª falácia: O nuclear permitiria a Portugal uma maior independência face ao custo do petróleo. E as centrais nucleares são “oferecidas” por quem? Ficamos dependentes de que fornecedores da tecnologia? Quanto custa o armazenamento dos resíduos para os quais não existe solução credível? Quanto custa o desmantelamento da central após o prazo de vida?
  • 2ª falácia: Hoje, a tecnologia nuclear é muitíssimo segura. Já não falando dos acidentes gigantescos ocorridos quer na antiga URSS, em Chernobyl, quer nos Estados Unidos, em Three Miles Island, só nos últimos meses ocorreram vários acidentes em França (Tricastin), na Alemanha (Ass), Espanha (Tarragona) e na Suécia (Forsmark). São acidentes demais para uma tecnologia segura.
  • 3ª falácia: Tem havido um tabu sobre o nuclear em Portugal. A memória destes senhores é muito curta porque decorreu, entre 1978 e 1984, a discussão para o Plano Energético Nacional e a questão do nuclear foi claramente rejeitada, quer pelas entidades envolvidas, quer pela população portuguesa.
  • 4ª falácia: É necessário estar em paralelo com a Espanha na produção de energia. Para além de ser de estranhar que os dirigentes patronais nunca se preocupem em estar em paralelo com a Espanha em termos de salários, convém saber que o governo do Estado Espanhol declarou estar interessado em repensar a política nuclear em todo o Estado. Mas isso não convém aos “senhoritos” radioactivos comentar.

Com algumas razões aduzidas aqui e tantas outras, quer de carácter político, quer de carácter técnico, que se opõem à utilização do nuclear para a produção de energia eléctrica, impõe-se defender alternativas respeitadoras do ambiente e ainda por explorar para a produção de energia. As eólicas ainda podem aumentar a produção, bem como a energia das marés, que está em quase completa hibernação, num país com os dias de sol que Portugal tem o aproveitamento da energia do sol é menos que residual.

Mas é no Plano de Eficiência Energética que será necessário fazer uma aposta firme, com vista a uma poupança nada negligenciável, tendo em conta que algumas das medidas a implementar possam não ser de aceitação imediata muito fácil.

Aos portugueses cabe exigir dos partidos políticos uma definição precisa nos seus programas para as próximas campanhas eleitorais sobre a sua posição face à energia nuclear.

Esquerda Nova

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