segunda-feira, janeiro 26, 2009

Um contributo para o debate do próximo sábado


O sistema enaltecido pela retórica de inclusão através do consumo, da competição, dos rankings, da meritocracia e do cheque é, arrasadoramente, o sistema das desigualdades, da discriminação, da exclusão programada.
Este é o cenário da escola pública.

A reconfiguração política é um novo mandato para a educação.
As recomendações patronais e empresariais são luminosas.
A educação como um “artigo” de primeira necessidade, não mais como um direito fundamental é princípio renovador e consensual da cartilha neoliberal, do capitalismo financeiro e feroz que está deitando o dente à nossa escola pública.
A escola que os estados, os poderes têm a obrigação e o dever de preservar como património inalienável das comunidades, de gerir como bem colectivo e não como um seu próprio bem que pode ser desregulado, usurpado, alienado a seu belo prazer e proveito.

Finalmente, que pensamento temos (cada um de nós) sobre a escola? Que escola queremos?

A do artigo de primeira necessidade e descartável ou a do bem universal, humano e multi-cidadão?
A nossa opção é clara. Ultrapassando o enunciado eufemístico de resistência, o nosso lado é o da promoção da responsabilidade, num processo determinado de repensar e renovar a escola no espaço público, contrariando a sua desescolarização. A nossa escolha é a de ajudar a recolocar, recentrar o debate no essencial.

E o essencial é que o admirável mundo novo que a narrativa moderna pretende oferecer à escola e aos jovens não existe (só nos paraísos dos pretensos senhores da “aldeia global”). As promessas de empregabilidade são enganosas, os índices são os de milhões de desempregados e do aumento de pobreza e de precariedade no trabalho.

No quadro estratégico da política liberal, a educação, a pedagogia (mercantil) não trazem respostas para as necessidades humanas. O panorama político/económico actual é antes uma ameaça, configura uma crise permanente que afecta as relações e o equilíbrio das sociedades.

O desafio que ousamos apresentar é o de tentar compreender tudo contra a inevitabilidade, os determinismos políticos, religiosos, culturais…
É o de colocar sempre à mão os valores e os direitos humanos, como matéria curricular, que deverá ter tanta importância na escola como tem a matemática e as línguas.

É o de aprender e ensinar que as culturas humanas, a salvaguarda das condições vitais de existência, a prevenção do planeta; a água, a água doce, o ar, os oceanos e todas as fontes de energia e de vida…são bens comuns patrimoniais da humanidade.

O desafio é uma emergência.
Educar para a igualdade de oportunidades e pela justiça distributiva, para que “o mundo se liberte da realidade obscena de milhões de escravos da pobreza”, como disse Nelson Mandela.

Fernanda Queirós, (..do Simpósio Maputo – Nov 2008)

Vê aqui mais informação sobre o debate do próximo dia 31 de Janeiro
MEP

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