segunda-feira, outubro 17, 2011

D. Manuel Martins: «Isto vai mesmo rebentar»

Bispo emérito de Setúbal avisa que medidas de austeridade vão fazer «escorrer muito sangue»

Pobreza
O bispo emérito de Setúbal Manuel Martins considerou hoje que as medidas anunciadas quinta-feira pelo Governo vão fazer «escorrer muito sangue» e assumiu-se como «derrotado» ao fim de 84 anos de vida a lutar contra a fome.

Em entrevista à Agência Lusa a propósito das medidas do Orçamento de Estado para 2012, que passam, entre outras, pela eliminação do subsídio de férias e de natal para alguns trabalhadores, Manuel Martins disse que as mesmas vão provocar «uma desgraça muito grande» em Portugal.

«Isto vai rebentar», afirmou, receando que as manifestações de indignação da população sejam «o mínimo» ou «o começo» de algo «muito mais grave».

Para o bispo que tantas vezes denunciou a fome que afligia o povo da sua diocese de Setúbal, «as manifestações são o mínimo que pode acontecer» numa situação que «poderá resultar em violência».

«Não sei se o povo terá forças para ir para a rua, mas muitas coisas graves poderão acontecer», sublinhou.

«Há medidas que nos tocam nas telhas da casa, no automóvel ou nas férias, mas estas entram-nos na casa e na cozinha. Entram-nos no estômago, na saúde», disse.

Manuel Martins alertou para o cada vez maior número de famílias «sem possibilidade alguma de viver que já batem às portas a pedir e outras que vivem com a certeza que o terão de fazer».

«Estou imensamente triste, desanimado, derrotado», assumiu, lamentando as «lágrimas de sangue» que irão resultar destas medidas.

Por esta razão, o bispo considera que o Governo deveria «protelar a dívida, os juros» porque «isto vai mesmo rebentar».

Manuel Martins considera que as famílias tiveram «uma culpa inconsciente», pois foram «lisonjeiras» e deixaram-se enganar pelo «futuro apregoado pelos bancos».

O prelado direcciona as culpas para quem «governou o país com cem, quando só podia ir até dez», acrescentando que «a culpa não é apenas internacional», mas também do «compadrio e do amiguismo».

O bispo recorda que «ainda Portugal vivia tempos anunciados como prósperos e já existiam milhares de pessoas com fome».

Agora, com as medidas anunciadas pelo Governo, os que passarão fome «não vão ter conta».

Manuel Martins, que ficou conhecido como «o bispo vermelho» por causa das suas bandeiras sociais, diz que é hoje «um homem desanimado». «Estamos perdidos», rematou.
TVI 24

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