domingo, outubro 02, 2011

“Quem ficou com o dinheiro na Madeira?”

Quem viveu acima das possibilidades não foi o povo da Madeira, diz Francisco Louçã. Foram os comparsas do Ali Babá, os que viveram à volta daquele governo e daquele regime. O coordenador do Bloco diz que as contas do ministro das Finanças não batem certo porque se esquecem de três parcerias público privadas nas rodovias que disparam a dívida da Madeira para 8.328 milhões de euros.
Louçã: Vítor Gonçalves esqueceu-se de três parcerias público privadas que disparam para 8.328 milhões de euros o valor total da dívida da Madeira. Foto de Paulete Matos
Durante sessão pública na noite de sexta-feira no Porto, Francisco Louçã disse que a conta da dívida da região autónoma da Madeira apresentada pelo ministro das Finanças não bate muito certo, porque Vítor Gonçalves “se esqueceu de três parcerias público privadas nas rodovias” que disparam para “8.328 milhões de euros” o valor total. Mas isso ainda não é tudo, porque ainda há que ter em conta o impacto do ‘off-shore’ da Madeira.
“A Madeira não recebe nada de impostos das empresas situadas no offshore, que são fantasmas, mas o produto é contabilisticamente inflacionado. De forma que a Madeira perde todos os anos fundos comunitários a que teria direito em função do nível de vida real, das madeirenses e dos madeirenses, porque há uma falsificação sistemática das contas por existência da zona franca”, apontou.
Assim, segundo o coordenador do Bloco de Esquerda, “a Madeira perde, no quadro comunitário actual, 900 milhões de euros a que teria direito de fundos de apoio ao desenvolvimento e de apoio social, só porque regista nas suas contas uma zona franca, de empresas fantasmas, de branqueamento de capitais e de fuga aos impostos”.
Para Louçã, é evidente que, na Madeira, “quem viveu acima das possibilidades dos outros foram os comparsas do Ali Babá, quem viveu à volta daquele governo e daquele regime, que tinham tudo e não deram nada”.
“O que é preciso que nos digam é quem é que ficou com dinheiro”, disse, acrescentando que este “está, naturalmente, à volta dos comparsas todos que viveram da facilidade, do amiguismo, dos contratos, das concessões, dos ajustes, das inaugurações ao longo de todos estes anos”.
Revisão em alta do défice
Sobre a revisão em alta do défice anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística, o coordenador do Bloco de Esquerda disse que “o registo de que o défice é maior do que se esperava desencadeou imediatamente duas reações”.
“A primeira do PSD e do CDS a dizer que a culpa é do PS”, sublinhou, recordando, porém, que “nenhuma das medidas que cavou esta sepultura da economia portuguesa deixou de ter o apoio do PSD e depois chegou o acordo da troika, mais uma vez com o apoio de Passos Coelho e de Paulo Portas”.
Mas houve outra resposta: “Um secretário de Estado do Ministério das Finanças foi à tarde dizer: sim senhor, medidas extraordinárias. Lá deve ter recebido um SMS e depois saiu a dizer: 'não, na verdade as medidas extraordinárias são como a pescada, antes de o ser já o eram?. Nós estamos sempre em medidas extraordinárias”, disse Louçã, em tom irónico, acrescentando que o governo ainda “não percebeu que quanto maiores os impostos, maior a dificuldade de ter receitas tributárias porque mais pequena é a economia”.
Para Louçã, “toda a política e estratégia do governo é a velha estratégia dos feiticeiros da idade média que achavam que se alguém tinha algum sintoma de doença, na dúvida, abre-se uma veia. É preciso é sangrar o doente. Se o sangrarem bem ele vai ficar bom. Ora se o sangrarem ele morre. Feitiçaria não dá”, afirmou.

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