Um modelo injusto, perverso e desumano
(cartoon de Antero Valério, ligeiramente adaptado)
A maioria dos cidadãos não entende como, numa época de tantas crises, os professores parecem apenas interessar-se pelo seu umbigo. Não compreende, também, por que teimam em não aceitar as sucessivas simplificações que o Ministério tem feito ao modelo de avaliação, persistindo numa atitude que parece radical, de corporativismo e defesa de direitos adquiridos.
Não é verdade!
Muitas vezes os professores têm acatado directrizes do Ministério com as quais não concordam. A falta de autonomia das Escolas torna-nos meros executantes de políticas educativas que pouco têm ajudado a melhorar a escola pública.
Nesta fase, o que nos tem unido de uma forma tão sentida tem sido a teimosia do ME em obrigar-nos a aceitar a divisão da nossa carreira em 2 categorias: titulares e professores, atribuindo aos primeiros a competência de avaliar os segundos.
Passo a falar do meu caso, um entre muitos, que esta lotaria tornou possível.
Sou professora há 27 anos. Do meu curriculum consta: Orientadora de estágio de Lingua Portuguesa, Coordenadora de Equipa de Educação Especial, Coordenadora do Departamento de Línguas, Cooordenadora de Projecto de Curriculo Alternativo, Directora de Turma. ( terei esquecido algum?). Para além dos cargos, e, para mim, o mais importante, muitos anos de dedicação aos meus alunos, dos quais guardo, em casa, várias "declarações de amor", que espero que eles sintam que foi e será sempre retribuído.
Não sou professora titular porque, no célebre concurso para ascender a esse "título", apenas foram contemplados 7 anos do currículo docente. Desde há alguns anos que tenho optado pelo cargo de Directora de Turma , por ser aquele que mais me gratifica, pela proximidade na relação com os alunos. Em concurso, este era o cargo menos pontuado.
A colega que passou a titular e que tem actualmente a função de me avaliar tem seguramente o mesmo mérito que eu, mas desempenhava o cargo de Coordenadora do Departamento de Línguas aquando do concurso.
Caso este modelo fosse aplicado na minha escola, ela seria avaliada apenas na compoente funcional ( assiduidade, projectos da escola) e eu seria avaliada, por ela, na componente científico-pedagógica ( porque sou professora e, aparentemente, ela não o é, embora dê aulas tal como eu) além da dita componente funcional.
Poderá pensar-se que eu gostaria de ser titular e avaliar colegas. Nada de mais errado! No meio desta balbúrdia, prefiro não ter que estar no lugar, imerecido, de contribuir, através da minha nota, para uma mais ou menos rápida progressão da carreira de colegas que estão ao mesmo nível que eu!
Dentro de mim, há uma rejeição total deste sistema de avaliação. Acho-o injusto, perverso e desumano. Cria, entre colegas, um clima inaceitável porque todos, avaliadores e avaliados, sabemos que foi uma questão de "lotaria" a divisão que nos foi imposta.
Tenho princípios, regulo-me por eles, cresci num país civilizado, habituei-me a ter direitos e deveres como cidadã, aprendi a respeitar para ser respeitada.
Se esta divisão da carreira se mantivesse, se este modelo de avalação fosse imposto, algo morreria dentro de mim.
Não sei se a palavra é DIGNIDADE... talvez seja. É uma questão que ultrapassa o profissional. É pessoal!
Helena Bastos
MEP
A maioria dos cidadãos não entende como, numa época de tantas crises, os professores parecem apenas interessar-se pelo seu umbigo. Não compreende, também, por que teimam em não aceitar as sucessivas simplificações que o Ministério tem feito ao modelo de avaliação, persistindo numa atitude que parece radical, de corporativismo e defesa de direitos adquiridos.
Não é verdade!
Muitas vezes os professores têm acatado directrizes do Ministério com as quais não concordam. A falta de autonomia das Escolas torna-nos meros executantes de políticas educativas que pouco têm ajudado a melhorar a escola pública.
Nesta fase, o que nos tem unido de uma forma tão sentida tem sido a teimosia do ME em obrigar-nos a aceitar a divisão da nossa carreira em 2 categorias: titulares e professores, atribuindo aos primeiros a competência de avaliar os segundos.
Passo a falar do meu caso, um entre muitos, que esta lotaria tornou possível.
Sou professora há 27 anos. Do meu curriculum consta: Orientadora de estágio de Lingua Portuguesa, Coordenadora de Equipa de Educação Especial, Coordenadora do Departamento de Línguas, Cooordenadora de Projecto de Curriculo Alternativo, Directora de Turma. ( terei esquecido algum?). Para além dos cargos, e, para mim, o mais importante, muitos anos de dedicação aos meus alunos, dos quais guardo, em casa, várias "declarações de amor", que espero que eles sintam que foi e será sempre retribuído.
Não sou professora titular porque, no célebre concurso para ascender a esse "título", apenas foram contemplados 7 anos do currículo docente. Desde há alguns anos que tenho optado pelo cargo de Directora de Turma , por ser aquele que mais me gratifica, pela proximidade na relação com os alunos. Em concurso, este era o cargo menos pontuado.
A colega que passou a titular e que tem actualmente a função de me avaliar tem seguramente o mesmo mérito que eu, mas desempenhava o cargo de Coordenadora do Departamento de Línguas aquando do concurso.
Caso este modelo fosse aplicado na minha escola, ela seria avaliada apenas na compoente funcional ( assiduidade, projectos da escola) e eu seria avaliada, por ela, na componente científico-pedagógica ( porque sou professora e, aparentemente, ela não o é, embora dê aulas tal como eu) além da dita componente funcional.
Poderá pensar-se que eu gostaria de ser titular e avaliar colegas. Nada de mais errado! No meio desta balbúrdia, prefiro não ter que estar no lugar, imerecido, de contribuir, através da minha nota, para uma mais ou menos rápida progressão da carreira de colegas que estão ao mesmo nível que eu!
Dentro de mim, há uma rejeição total deste sistema de avaliação. Acho-o injusto, perverso e desumano. Cria, entre colegas, um clima inaceitável porque todos, avaliadores e avaliados, sabemos que foi uma questão de "lotaria" a divisão que nos foi imposta.
Tenho princípios, regulo-me por eles, cresci num país civilizado, habituei-me a ter direitos e deveres como cidadã, aprendi a respeitar para ser respeitada.
Se esta divisão da carreira se mantivesse, se este modelo de avalação fosse imposto, algo morreria dentro de mim.
Não sei se a palavra é DIGNIDADE... talvez seja. É uma questão que ultrapassa o profissional. É pessoal!
Helena Bastos
MEP
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