terça-feira, novembro 09, 2010

Leitura obrigatória – 1

 
Este livro deveria ser de leitura obrigatória para todos os que se preocupam em compreender o estado actual do país.
O facto de os seus autores estarem bem conotados politicamente não deve suscitar dúvidas sobre a seriedade da obra. Este livro assenta numa investigação sólida, extensa, inédita – que só peca por tardia - e todos os seus argumentos são empiricamente fundamentados.
E o que ele revela é, tão-só, as raízes básicas do nosso atraso económico e social, bem como a origem de muitas das distorções que afectam o nosso sistema político e que minam a mera possibilidade de uma democracia digna desse nome.
Algumas das conclusões a que o livro chega são impressionantes. Vale a pena sintetizá-las:
1.º – Há mais de cem anos que Portugal anda a ser chupado, sugado, explorado (chamem-lhe como quiserem) por quatro ou cinco famílias, que ainda por cima têm reforçado o seu poder através de laços matrimoniais, numa estratégia verdadeiramente endogâmica (à maneira das famílias reais europeias). São elas os Espírito Santo, os Champalimaud, os Mellos (que estão no centro de todos esses cruzamentos), os Ulrich e os Pinto Basto, com um ou outro acrescento lateral.
2.º – Esta burguesia tem-se governado, à nossa custa, com o apoio nunca regateado dos governos de todos os regimes – Regeneração, 1.ª República, Estado Novo e 2.ª República. Desde o tempo dos nossos bisavós que os governantes portugueses andam com estas famílias ao colo, proporcionando-lhes negócios de mão beijada, cedendo-lhes monopólios de lucro garantido e protegendo-os da concorrência.
3.º – Esta burguesia nunca apostou verdadeiramente na modernização do país, nem no investimento de risco – nomeadamente no sector da produção de bens transaccionáveis, exposto à concorrência dos mercados internacionais. Trata-se de uma burguesia essencialmente dedicada ao mercado da banca, das seguradoras e ao controlo de monopólios em áreas bem resguardadas da competição, nomeadamente no domínio das energias e das telecomunicações, sempre à espreita de negócios assegurados pelo Estado, que aparece assim como o principal garante da acumulação da sua riqueza e da perpetuação do seu poder.
Da conjugação destes três aspectos, acrescidos das dependências que esta burguesia foi tecendo na sua relação com o capital estrangeiro, resulta a pobreza essencial do nosso país, um padrão de distribuição da riqueza profundamente desigualitário e a estagnação do nosso tecido produtivo.
Ou seja: do domínio permanente desta alta burguesia provém o essencial dos males que explicam a crise estrutural portuguesa, aquela crise que se vai manter mesmo depois de removidos (se o forem) os factores hoje associados à crise internacional.
Em relação a tais famiglias apetece fazer a pergunta que figurava no título de uma famosa peça baseada em textos de Karl Valentim:
«E não se pode exterminá-las?»
Apede

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