terça-feira, novembro 09, 2010

Leitura obrigatória – 2

Este livro

faz outras revelações essenciais para percebermos bem as linhas com que nos cosemos (ou com que nos coseram).
Nas suas páginas finais, dedica-se a analisar (e a ilustrar abundantemente) a promiscuidade entre os partidos do centrão – PS e PSD, com algumas sobras para o CDS/PP – e os donos do poder económico em Portugal (as tais quatro ou cinco famílias da alta burguesia que mencionámos no “post” anterior).
O retrato que resulta dessa análise é, ao mesmo tempo, revelador e deprimente.
Ficamos a saber que os cargos ministeriais que contam, pela influência que podem exercer as decisões aí tomadas, têm sido ocupados, em governos do PS, do PSD ou do PSD/CDS, por duas categorias de pessoas: as que transitam temporariamente para o Governo, vindo de grandes empresas ou grupos económicos, e que no cargo de ministros ou secretários de Estado se encarregam de servir os interesses dos sectores empresariais de onde saíram; e as que, tendo estado no Governo a servir os mesmíssimos interesses acima referidos, são depois premiadas com empregos de luxo nas empresas cujos interesses promoveram  ou protegeram enquanto governantes. Empregos esses onde, de resto, farão frutificar toda a rede de influências e as carteiras de contactos privilegiados que foram construindo nas suas carreiras de ministros e secretários de Estado.
Estamos a falar de qudros técnicos, de professores universitários ou de meros funcionários de partido.
Estamos a falar de gente que, em muitos casos, chegou à vida política “com uma mão atrás e outra à frente” e que, passados uns aninhos de edificação de carreiras assentes no favorecimento objectivo dos interesses do grande capital financeiro e empresarial, passam a subir vertiginosamente na vida como compensação pelos serviços prestados.
Estamos a falar de indivíduos que mostraram, com notável frequência, não possuir o mínimo brilho intelectual ou os mais elementares dotes de governantes, mas que, mesmo assim, se vêem promovidos a uma ascensão social meteórica apenas por se terem revelado úteis aos detentores do poder económico-financeiro neste país.
Estamos a falar de criaturas como esta:
Pina Moura, conhecido por várias inépcias na sua qualidade de ministro dos governos de Guterres, pressionou, nessa sua função, para que a participação da Petrocontrol na GALP fosse vendida à ENI e à Iberdrola e, por sua decisão, as mais-valias da venda das acções dessa holding foram isentas de imposto. Resultado: o país não ficou a ganhar, mas Pina Moura sim, visto que mais tarde a Iberdrola o contratou para ser presidente da sua filial portuguesa.
Este outro cavalheiro,
 Joaquim Ferreira do Amaral, enquanto ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações num dos governos de Cavaco Silva (entre 1990 e 1995), negociou o contrato da Lusoponte em termos tais que o país ficou refém dessa empresa para as próximas décadas. Em 2005, chegou o momento de a Lusoponte lhe agradecer, dando-lhe o cargo de presidente da mesma.
Outros casos igualmente obscenos são por demais conhecidos:
      







E o mais preocupante nem sequer são as suspeitas de envolvimento de alguns destes senhores em negociatas obscuras: é a própria legalidade com que tudo isto é feito; é o facto de a promiscuidade entre a política e os grandes interesses privados ser absolutamente tolerada por leis feitas à medida deste jogo iníquo. É o facto de ser letra morta a independência do poder político em relação à rapacidade dos «donos de Portugal».
Imprescindível é a leitura das páginas 345 a 381 do livro que estamos a citar. Aí se publica a lista de 115 políticos, quase todos oriundos do PS e do PSD, que passaram pelos governos em posições chave, como ministros das Finanças, da Economia ou de pastas como os Transportes, o Turismo, e as Obras Públicas, e que desempenharam ou desempenham funções relevantes em grandes empresas, muitas vezes sentados nos seus conselhos de administração ou como seus prestimosos consultores.
Muito são “reputados” economistas, como este:
ou este:

que têm feito carreiras sentados à mesa do BES, do BCP, da PT, da Siemens.
Até este:

está bem instalado na Fundação Oriente, que não é exactamente uma instituição destinada à promoção desinteressada da cultura chinesa…
Não esqueçamos que são todos estes senhores que hoje colonizam o espaço público, com a ajuda de uma comunicação social subserviente (ela mesma dominada pelo poder económico), matraqueando até à náusea a ideia de que o português comum tem de se habituar a uma vida de empobrecimento acelerado (desde que não sejam eles os afectados), de cortes salariais maciços (desde que as suas contas bancárias permaneçam seguras), de contracção nas despesas e no endividamento (desde que os negócios chorudos dos grupos económicos que os empregam permaneçam intocados).
Facilmente se percebe que, com esse discurso de intoxicação mental, é mais um serviço que eles prestam a quem sempre soube colocá-los no lugar certo.
E de novo nos lembramos daquele título da peça de teatro que, em tempos, a Cornucópia levou à cena:
E não se pode exterminá-los?
Apede

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