Meia hora para tanta falsidade
A entrevista da ministra da educação à TVI, nesta semana, mostrou como é possível em apenas 30 minutos fazer um tão grande número de afirmações que não ligam à realidade:“As escolas aderiram naturalmente ao processo de avaliação de professores apresentado pelo ministério”
Onde é que a senhora ministra estava no dia 8 de Março?
“Estamos a fazer uma política de investimento na escola pública para aumentar a qualidade do ensino”.
Cortando nos apoios dos serviços sociais escolares, que não têm um cêntimo sequer para apoiar um único aluno numa visita de estudo? Mantendo na penúria as escolas, que não têm dinheiro para reparar as salas, os equipamentos? Que encara as crianças e jovens como se fossem um fardo que as suas famílias terão que pagar sozinhas, livros, almoços, materiais e despesas escolares essenciais às aprendizagens no século 21? Mantendo os professores contratados na corda-bamba anos a fio, sem os direitos dos colegas e a possibilidade de aumentos? Pagando miseravelmente e a recibos verdes ao pessoal das actividades de enriquecimento curricular, ainda por cima dando uma maquia a entidades privadas que os contratam? Pagando salários que roçam a pobreza aos trabalhadores auxiliares? Deixando uma parte deles, em cada Verão, na angústia do desemprego, numa sádica dependência do ministério? E se passarmos para o ensino superior? Propinas nas públicas que nos envergonham, empurrando os mais carenciados ainda para as privadas, que beneficiam de todos os favores?
“Estamos a envolver pais, autarquias”
Refere-se ao presidente da CONFAP?
“Queremos o ensino básico acessível a todos”
Onde está o pessoal especializado necessário para apoiar os que têm deficiência? E os equipamentos especiais de que necessitam? E os que não podem pagar explicações? E os que não têm apoio em casa ou não o podem ter? Onde é que existe um assistente social? E os que têm necessidades educativas especiais, que agora vêem retirados os apoios?
“O combate à elevada taxa de retenções passa pela diversificação das ofertas de ensino”
Estamos a falar do ensino básico obrigatório, 9º ano? Mas em que outro país europeu se chegou à triste “solução” de constituir turmas de segunda categoria (os CEFs) neste escalão de idades, em que todos e todas deveriam ter as mesmas oportunidades num mundo tão complexo e tão exigente em termos de cultura geral, humanística e científica? Porquê retirar história, geografia, físico-química, ciências naturais a esses alunos?
“Vão-se intensificar as horas de trabalho com os alunos em dificuldades, os alunos com mais de 3 faltas terão mais acompanhamento da escola"
Horas de trabalho de quem? Horas extras, não pagas?
“O estatuto remuneratório dos professores ficou intocável. Queremos a profissão docente valorizada social e economicamente”
Reduzindo brutalmente ( cerca de 40%) os salários dos professores e professoras, se o seu plano for para a frente? Impedindo 100.000 profissionais (dois terços!) de acederem a um salário com o mínimo de dignidade, compatível com a sua extrema responsabilidade e exposição pública?
“A avaliação que queremos serve para distinguir, diferenciar os melhores professores”
Retirando uma larga fatia ao salário dos restantes? Que conceito de escola pública de qualidade é este que se compraz com a ideia esquizofrénica de ter uma maioria de profissionais administrativamente considerados “piores” e sem hipótese de melhorar? A sociedade poderá suportar tamanha discriminação? Os seus filhos ficam à responsabilidade de 4 “bons” e 10 “maus” professores, se pensarmos no 2º e 3º ciclos? Ou os “bons” irão para as “boas” turmas? E os outros? E as outras turmas?
Jaime Pinho
Blog Movimento Escola Pública
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