Entre 1995 e 2000, 52,4% dos agregados familiares viveram pelo menos um ano numa situação vulnerável à pobreza. O estudo coordenado por Alfredo Bruto da Costa, a publicar em Junho, diz ainda que mais de metade desta população em risco viveu na pobreza durante três ou mais anos e que metade das famílias pobres tinha o trabalho como principal fonte de rendimento. O estudo acompanhou o fenómeno da pobreza durante seis anos e aponta o dedo à ineficácia dos programas que a combatem. A investigação de Bruto da Costa e do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS) define pobreza como "situação de privação resultante da falta de recursos" e o valor de referência no rendimento é de 388 euros por mês (em 12 meses). O coordenador do estudo explica: "Quando se pensa em pobreza, pensa-se em miséria ou sem-abrigo. O pobre, na definição adoptada no estudo, é alguém que não consegue satisfazer de forma regular todas as necessidades básicas, assim consideradas numa sociedade como a nossa. Miséria é uma parte disso", diz Bruto da Costa em entrevista ao "Público".
Os baixos salários dos portugueses ajudam a explicar esta "resistência da pobreza" aos esforços e recursos aplicados nos últimos 20 anos em programas de apoio social. "Os pobres que estão empregados, por conta própria ou por conta de outrém - [é um problema que] não se resolve com política social, é um problema económico. É fundamentalmente um problema de salário", diz o autor do estudo que aponta os desempregados como uma pequena parte (4,7%) do conjunto dos pobres.
Para Bruto da Costa, a entrada de Portugal na CEE não teve o efeito esperado quanto à redução da pobreza; "Durante este período de 20 anos, andámos à volta dos 20%. A pobreza em Portugal ou se manteve estrável ou teve uma redução sem proporção com o esforço feito desde que o pais entrou na UE".
E a atitude do país face à pobreza também não é elogiada pelos autores do estudo: "A sociedade portuguesa não está preparada para apoiar as medidas necessárias para um verdadeiro combate à pobreza", já que a opinião pública entende que a pobreza resulta do "enfraquecimento da responsabilidade individual", do fatalismo da pobreza e da "preguiça" dos pobres. Os portugueses preocupam-se mais com "a fraude dos obres do que com o combate à pobreza" e tudo isto ajuda, segundo este estudo, à ineficácia da luta contra a pobreza. Esquerda.net
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