Egipto: Mubarak em xeque
Protestos não param nem de noite, apesar das mil prisões e seis mortes. Facebook é principall ferrramente da mobilização. El Baradei diz que vai ao Cairo participar dos protestos. Esquadra de polícia incendiada. EUA pedem calma.
Nem de noite pararam os protestos. Foto Al Jazira, FlckR
As manifestações no Egipto não deram trégua ao governo e, apesar da proibição e das prisões efectuadas pela polícia – terão sido mais de mil pessoas detidas – prosseguiram durante toda a noite e nesta quinta-feira. Pelo menos seis pessoas já morreram devido à repressão da polícia.
Há relatos de confrontos durante a noite em bairros próximos à região central do Cairo, onde se concentram os grandes protestos que exigem a renúncia do presidente, Hosni Mubarak, há 30 anos no poder. Na cidade de Suez, manifestantes incendiaram um posto de polícia.
Os protestos no Egipto começaram na terça-feira e foram inspirados no levante popular na Tunísia que, há duas semanas, derrubou o presidente, que estava no poder havia 23 anos.
A rede social Facebook está a ser a principal ferramenta usada para convocar os protestos. “Filhos do Egipto, tomem as ruas”, é a mensagem que se espalha pela rede, impulsionada pelo grupo Jovens de 6 de Abril. O twitter, outra ferramenta essencial, foi bloqueada pelas autoridades, mas na manhã de quinta já voltou a funcionar.
Baradei diz que apoia manifestações
O opositor egípcio Mohamed El Baradei, ex-director da Agência Internacional de Energia Atómica e Nobel da Paz em 2005, que vive em Viena, afirmou que vai ainda esta quinta-feira juntar-se à vaga de protestos
“Vou voltar ao Cairo e às ruas porque, na verdade, não há eleições. Temos toda esta gente nas ruas e esperamos que as coisas não fiquem feias mas, até agora, parece que o regime não entendeu a mensagem”, afirmou El Baradei em declarações ao site “The Daily Beast”.
El Baradei criou no Egipto em Fevereiro passado a Associação Nacional para a Mudança – uma plataforma política lançada para a campanha presidencial deste ano. Para ele, “muitos egípcios já não toleram mais o Governo actual”, nem mesmo por um período de transição.
Boatos sobre Mubarak
Entretanto, circulam os mais desencontrados boatos sobre o paradeiro do presidente Mubarak, que ainda não foi visto desde o início dos protestos.
O filho do presidente, Gamal Mubarak, de 47 anos, apontado como sucessor do pai Hosni, de 82 anos, foi visto numa reunião partidária no Cairo, não se confirmando a sua fuga. Mas ninguém sabe onde está o presidente – se no Cairo ou na residência de Verão de Sharm el-Sheikh.
Apenas o primeiro-ministro, Ahmed Nazif, apareceu para dizer que o povo pode manifestar-se pacificamente, mas que a polícia intervirá com força para proteger a segurança nacional.
Esperam-se grandes manifestações nesta sexta-feira, depois das orações, que já estão a ser convocadas.
EUA apelam à calma
Em Washington, a secretária de Estado Hillary Clinton, que considera Mubarak um aliado vital no Médio Oriente, apelou à calma e pediu ao governo egípcio que promova reformas que vão no sentido exigido pelos manifestantes.
“Acreditamos que o governo egípcio tem uma importante oportunidade neste momento de implementar reformas políticas, económicas e sociais para responder às legítimas necessidades e interesses do povo egípcio”, disse Clinton.
O Egipto recebe anualmente dos EUA uma ajuda militar de 1.300 milhões de dólares, apenas inferior à que a Casa Branca dá a Israel.
A população do Egipto é de 80 milhões de pessoas, e cresce à razão de 2% ao ano. Dois terços da população têm menos de 30 anos, e é nessa faixa etária que estão 90% dos desempregados. Cerca de 40% da população vive com menos de 2 dólares por dia.
Protestos espalham-se nos países árabes
Nesta quinta-feira também houve manifestações no Iémen, onde milhares de pessoas foram às ruas da capital Sanaa para exigir a renúncia do presidente, Ali Abdullah Saleh, no poder há mais de 30 anos.
Relatos vindos do país dão conta de que há manifestações em quatro diferentes pontos da cidade.
Organizadores convocaram estudantes e a sociedade civil para protestar contra a corrupção e as políticas económicas.
Jordânia e Argélia também vêm enfrentando manifestações, embora em menor escala, reprimidas pelas forças de segurança destes países.
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