terça-feira, janeiro 25, 2011

Miguel Portas: “Até quando aguentarão o desemprego?”

Miguel Portas respondeu em directo, no Esquerda.net, a perguntas sobre as presidenciais, sobre o FMI e sobre os despedimentos mais baratos anunciados pelo Governo. Sobre isto Portas lembrou que despedir não é difícil, nem aqui nem em Espanha onde a taxa de desemprego já vai em 20%.
Miguel Portas: “Até quando aguentarão o desemprego?”
Miguel Portas respondeu em directo às questões colocadas pelos leitores do Esquerda.net.
A primeira de muitas questões que chegaram à redacção do Esquerda.net, incidiu sobre o timing e o conteúdo do anúncio feito esta segunda-feira pelo Governo aos parceiros sociais sobre uma redução do valor das indemnizações no caso de despedimento. Miguel Portas respondeu à questão comentando que de facto o timing do anúncio da medida, dia seguinte às eleições presidenciais ganhas pelo candidato da direita Cavaco Silva, é curioso. Mas o anúncio traduz sobretudo a “insensibilidade social do Governo”, disse.
Quanto à medida em concreto o eurodeputado do Bloco lembrou o “flagelo” do desemprego e as declarações da Ministra do Trabalho que disse que o que está em causa é uma medida que colocará o mercado de trabalho português tão competitivo como o da Espanha. Respondendo a isto, Portas referiu que em Espanha não há dificuldades em despedir e que a elevadíssima taxa de desemprego, que subiu de 8 para 20 por cento, é exemplo disso. “Até quando vão aguentar o desemprego?” , perguntou o eurodeputado, sublinhando que em Espanha “eles querem liberalizar os despedimentos ainda mais”. [Com a proposta do Governo] “aqui já sairá 33% mais barato despedir. Onde chegaremos?”
Reiterando que as regras do mundo do trabalho em Espanha não são exemplo a seguir, Portas lembrou uma contradição: “é que em Espanha, ainda assim, um trabalhador despedido ainda tem direito a subsídio de desemprego, mas aqui, temos metade dos desempregados sem qualquer apoio social”.
“Perdemos um combate, não perdemos a guerra”
Questionado sobre o tema das presidenciais, Miguel Portas defendeu que “o sucesso ou o insucesso não se define pelo número de votos”, mas sim pela 2.ª volta. Neste caso, Manuel Alegre falhou porque não conseguiu chegar à 2.ª volta, disse, embora fosse “o mais bem posicionado” para isso. Portas defendeu ainda que o insucesso foi apenas de 3 por cento (Cavaco Silva obteve 53 por cento dos votos) e isso “vale mais do que os 20 por cento de Alegre”, reiterou.
Questionado sobre se o Bloco continuaria a apoiar candidatos independentes no futuro, Miguel Portas afirmou que não há destino para esse formato até porque não é esse o critério. E explicou que o problema para o Bloco é “a construção de frentes o mais alargadas possíveis para o combate de problemas concretos”. Neste caso, a candidatura de Manuel Alegre permitiu alianças “contra a ideia da resolução da dívida do défice à custa da Educação e da Saúde públicas”. “Perdemos um combate, não perdemos a guerra”, afirmou Portas.
Miguel Portas disse também que mesmo que tivesse havido uma convenção extraordinária do Bloco, o apoio a Manuel Alegre seria o escolhido pois continuaria a ser considerado o mais bem posicionado para a disputa de uma 2.ª volta com Cavaco Silva e o candidato que conta “nas questões hoje decisivas “, isto é, “na defesa do estado social”. “Não há derrota das razões políticas que nos levaram a apoiar Manuel Alegre”, defendeu o eurodeputado, acrescentando que o Bloco foi até dos partidos “a melhor manter a sua base eleitoral” e rejeitando a ideia da dissolução do eleitorado bloquista.
Depois destas eleições presidenciais, “Sócrates mal pode esperar” pela ofensiva do Bloco, disse Miguel Portas, afirmando que o Bloco irá continuar o seu combate e “reunir o máximo de forças para bater nas linhas, nas fronteiras que definem a política”, e que hoje se traduzem na luta contra a austeridade.
Além disto, Miguel Portas comentou a elevada abstenção, atribuindo-a sobretudo ao descontentamento crescente na política – “Vivemos tempos em que há realmente uma discrepância entre o que se diz e o que se faz, por isso o descontentamento é compreensível” – e disse que esta ajudou Cavaco Silva, tal como os votos em branco. O que se verifica, defende Portas, é que “ a política enquanto instância de decisão está a falhar como meio de resolução dos problemas das pessoas”.
Cavaco Silva, o “ex-imaculado”
“Se há uma consequência desta eleição foi Cavaco Silva ter passado ao estatuto de ‘ex-imaculado’”, afirmou Miguel Portas que espera que a comunicação social continue a investigação sobre a fuga ao imposto da sisa por parte de Cavaco Silva – “o país não pode ter como Presidente da República alguém que foge aos impostos”. Para Portas, Cavaco Silva terá de se confrontar com esta questão ainda antes do início do seu novo mandato e terá de se explicar inequivocamente, aliás, “o silêncio de Cavaco foi um factor da abstenção” nestas eleições, acrescentou.
“FMI já está e não está aqui”
Respondendo à questão sobre se o Bloco irá causar uma crise política por causa da entrada do FMI no país, Miguel Portas respondeu que o “FMI já está e não está aqui”, porque, segundo o eurodeputado, “as soluções ‘PEC’ já são medidas à FMI”. Aliás, “ se o FMI vier, virá com o PEC IV”, afirmou Miguel Portas, reiterando que as medidas que o FMI obrigará a tomar inscrevem-se nas linhas das medidas de austeridade já aprovadas pelo Governo com o apoio do PSD.
“O FMI traz juros baixos à custa de salários ainda mais baixos e mais despedimentos, diz que o desemprego tem como solução baixar os salários e os baixos salários são condição para ter juros mais baixos” – isto é o esquema do FMI, diz Portas, que o Bloco rejeita. “Recusamos este esquema e é contra ele que queremos juntar forças”.
Esquerda.net

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