quarta-feira, janeiro 19, 2011

Tunísia: A lógica da revolução

por Dyab Abou Jahjah [*]
Manifestação em Marselha. A revolução tunisina continua a ditar a sua própria lógica a todos os níveis... Após tentativas de remanescentes do regime de difundirem através de várias técnicas (carros em movimento nas ruas a dispararem aleatoriamente sobre pessoas e casas, destruição de infraestrutura, etc), o povo tunisino organizou-se em comités que se disseminam por todo o país, em todo bairro e em toda cidade, começando a patrulhar as ruas e a proteger o povo. Comités populares perseguiram mesmo as milícias do velho regime e em um caso, numa troca de tiros, um deles caiu como mártir enquanto dois homens da milícia foram executados pelo povo.

Há relatos de actividade israelense na Tunísia em apoio da contra-revolução e também de infiltrados enviados da Líbia para sabotagem. Ainda não é claro se isto é um padrão ou são casos isolados.

A nível político, os remanescentes do velho regime ainda estão oficialmente no poder e estão a negociar com a falsa oposição que sempre serviu ao regime como decoração. Contudo, os comités populares, a central sindical e a oposição real estão a trabalhar para mudar isto e traduzir a revolução em efeitos políticos. Acredito que não levará muito tempo até ser traçado um caminho político rumo à preparação de eleições. É importante notar que eleições feitas em conformidade com o velho regime não produzirão mudança, de modo que a oposição real e o povo estão a exigir primeiro a mudança da constituição e então ir para eleições.

Os regimes árabes estão a ser sacudidos e os povos árabes estão eufóricos mesmo em lugares como o Oman e os Emirados. No Twitter, a juventude saudita também está a mostrar apoio à revolução tunisina e a exprimir vergonha pelo seu país tolerar a tirania. O regime egípcio adiou medidas planeadas para revogar o subsídio do estado a alguns bens de consumo básicos. Quanto a Qadafi, exprimiu o seu lamento e disse que os tunisinos deveriam ter mantido Ben Ali para sempre. Qadafi está claramente nervoso acerca de uma revolução real na fronteira líbia contrária à sua própria falsa revolução. A outro nível, a oposição egípcia agora está mais convencidas de que a resposta está na rua e nada mais. Este reviver do ideal revolucionário é universal sobre todo o mundo árabe. Na Argélia há relatos de três casos de cidadãos a atearem-se fogo, um deles confirmadamente morto. O Egipto e a Argélia parecem ser os dois países árabes em que mais repercute o que aconteceu na Tunísia.

O Hezbollah saudou a revolução tunisina e pediu a todos os líderes árabes que retirassem conclusões da mesma.

Internacionalmente, os franceses e os americanos emitiram declarações que revelam um alto nível de hipocrisia. Eles sempre apoiarem o velho regime, sabendo muito bem da sua natureza como revelou o WikLeaks , e agora não podem nos vender o seu chamado apoio às opções do povo. Eles não gostam de ver revoluções a menos que sejam orquestradas pela CIA e pelas ONGs financiadas pela CIA, como na Ucrânia, Geórgia e Líbano. Isto é uma revolução real e portanto sentem-se inquietos acerca dela.
16/Janeiro/2011

Ver também:

  • Mulher de Ben Ali pode ter levado 1,5 t de ouro da Tunísia

  • The Lesson of the Tunisian Revolution , de Hassan Nasrallah

  • http://angryarab.blogspot.com/

  • Detenido el jefe de seguridad de Ben Alí cerca de la frontera con Libia

  • Manifestation à Tunis pour exiger la dissolution du parti de Ben Ali

  • Parti communiste des ouvriers de Tunisie

  • Appel du parti communiste des ouvriers de Tunisie à l’attention du peuple tunisien et ses forces démocratiques

  • Revolta no Magrebe

    [*] Fundador e antigo presidente da Arab European League .

    O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2011/jahjah160111.html e em Abou Jahjah comments


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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