Abril na fronteira
A seguir ao 25 de Abril, em Vila Real de Santo António sucediam-se as manifestações contra a ditadura franquista, junto à fronteira com a cidade espanhola de Ayamonte
Crónica para a RDP - Sul em Março de 2008
Nas terras de fronteira contam-se muitas histórias obscuras e clandestinas de relações entre países e a fronteira do algarve com a andaluzia é rica nessas histórias: os contrabandos e os comércios clandestinos alimentaram - e alimentam - famílias portuguesas e espanholas das margens do Rio Guadiana e à margem da legalidade oficial.
Mas nem só de contrabandos vivem essas histórias da marginalidade transfonteiriça: outros casos houve, na nossa história recente, em que as fronteiras algarvias mereceram lugar de destaque. Vila Real de Santo António é uma dessas terras, em frente à cidade espanhola de Ayamonte, perto da foz do Guadiana.
O contrabando, clandestino mas conhecido, marcou a vida dessas duas cidades separadas pelo Rio, mas outros casos de clandestinidade marcaram a história de Vila Real de Santo António na sua relação com a Espanha.
Até ao 25 de Abril, durante o período da guerra colonial portuguesa, muita gente, de todo o país, usou o Guadiana para escapar à mobilização militar, emigrando para a Europa.
Nesses tempos em que era precário o abastecimento de electricidade, não era difícil sabotar, em algum ponto vulnerável, a rede de distribuição de energia eléctrica. Às quatro horas da manhã, quando se fazia a rendição do vigilante da zelosa guarda do rio, a distribuição eléctrica era sabotada e a vila mergulhava na escuridão.
Esse era o momento preciso para o salto: aproveitando a escuridão e a troca do guarda (e com a solidariedade dos pescadores, que deixavam no interior dos botes os remos necessários à travessia) muitos cidadãos portugueses tiveram a coragem de largar a sua terra, os seus amigos, as suas raízes, para defender o país de uma guerra desnecessária e inútil.
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