quarta-feira, abril 23, 2008

Quarta-feira, 23 de Abril de 2008

Paulo Guinote analisa a entrevista da Ministra ao Correio da Manhã


Os preconceitos que distorcem fatalmente o olhar de MLR, na entrevista ao Correio da manhã, são principalmente dois: o primeiro é contra os professores que considera optarem pela via fácil do «chumbo» dos alunos. Tivesse MLR de justificar a repetência ou bi-repetência de dois ou três alunos por turma, tendo 6, 7 ou 8 turmas e saberia que essa não é a solução fácil. Fácil é passar todos e chutar a bola para o campo adversário. O segundo preconceito é contra os próprios alunos: MLR parece pertencer àquela escola de pensamento que associa o insucesso escolar à vulnerabilidade social e económica. É uma associação tentadora e que até explica parte do insucesso. Mas não explica tudo e acaba por reduzir bastante as metodologias colocadas em campo para o combater. O insucesso não é um determinismo sócio-económico. Em muitos casos é o resultado de uma ausência de valores e oportunidades da sociedade que provoca em muitos alunos uma indiferença pelo seu percurso escolar.
In Paulo Guinote

Comentário meu
Eu criei uma expressão para classificar esta pedagogia e sociologia do coitadinho: construindo a grande mentira. Quando os políticos atacam a escola e os professores, responsabilizando-os pelos males da sociedade, não estão a fazer mais do que a arranjar bodes expiatórios para as asneiras e erros que vêm cometendo há décadas. Quando os cronistas e jornalistas ingnorantes lançam sobre os professores o discurso catastrofista, acusando as escolas públicas e os professores de estarem a falhar, desconhecem o baixíssimo ponto de partida da educação pública portuguesa: em 1974, havia 35% de analfabetos (na Finlândia a taxa de alfabetização já era de 100% no princípio do século XX). Dizer que em Portugal se chumba muito é ignorar a realidade.

In Ramiro Marques

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